A fotografia de Lula ao lado de Maluf despertou indignação. Ela justapôs o ex-presidente em cujo mandato vicejou o maior escândalo de corrupção da história recente do Brasil ao ex-governador de São Paulo na lista dos procurados por lavagem de dinheiro pela Interpol. Diante de uma imagem dessas, é natural que o brasileiro sinta desânimo diante da política e dos nossos homens públicos. Isso é bom. Revela que nosso país está incomodado com a corrupção.
Os corruptos estão presentes não apenas nos gabinetes de Brasília ou nas antessalas do poder. Eles aparecem em todos os modelos, tamanhos e classes sociais - de gerentes de compras a manobristas; de colunistas sociais a médicos da rede pública. "Há tanta corrupção que a gente nem tem mais consciência que é" escreve Walcyr Carrasco em sua coluna na página 96. "Já vi cliente dar gorjeta ao açougueiro do supermercado para garantir um filé melhor."
Por causa desse traço cultural, os escândalos de corrupção acabam dominando a cobertura política na imprensa brasileira. Tal cobertura é fundamental para o fortalecimento das nossas instituições, uma vez que é preciso conhecer quem são e como agem os corruptos para poder combatê-los. O maior exemplo recente disso resultou na CPI que investiga os braços da organização criminosa montada pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira. Hoje, a CPI se debruça sobre as contas da empreiteira Delta, que irrigava o esquema de Cachoeira com o dinheiro que recebia de contratos públicos. A reportagem da página 36 revela novas suspeitas que comprometem ainda mais a Delta com Cachoeira.
A tolerância com as transgressões é, segundo nosso articulista Roberto DaMatta, um traço cultural do brasileiro (leia seu artigo na página 14). Praticamos, nas palavras dele, "um individualismo que se curva diante das relações, dos parentes e dos amigos". A tolerância tem um lado positivo, pois fez do Brasil um país mais aberto em questões étnicas ou religiosas. Mas ela também cobra seu preço. Na tolerância com os delitos está a raiz da impunidade. Isso precisa mudar."Não dá mais para, com os amigos e partidários, furtar o dinheiro de todos", escreve DaMatta. Espera-se que os parlamentares da CPI do Cachoeira não sucumbam ao lado nefasto da nossa tolerância e sejam rigorosos na apuração dos desvios de dinheiro. O país já cansou de Lulas e Malufs.
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