segunda-feira, junho 25, 2012

Farejando Watergate - RUY CASTRO


FOLHA DE SP - 25/06

RIO DE JANEIRO - Certa vez, trabalhei com um homem que sabia tudo: R. (Raimundo) Magalhães Jr.. Foi na "Manchete", de 1970 a 1973. Além de jornalista, Raimundo era autor de livros sobre a vida e obra de Machado, Alencar, Bilac, Augusto dos Anjos, João do Rio -mais obra do que vida- e de "Rui, o Homem e o Mito", que demolia Rui Barbosa. E era também da Academia Brasileira de Letras. Normal, naquele tempo, a Redação da "Manchete" contar com um sólido acadêmico.

Quando entrei lá, tinha 22 anos e Raimundo, 63, mas me acolheu como um igual. Sem perceber, eu e Carlos Heitor Cony, que nos sentávamos às suas costas, o fumigávamos de 9 às 6 com nossos cigarros, para suplício de Raimundo, que acabara de encerrar sua carreira de 50 anos como fumante. Ele gostava de contar como, trabalhando em NY na Segunda Guerra, visitara Marlene Dietrich, que se orgulhava mais de seu macarrão do que de ter filmado "O Anjo Azul". Raimundo provou o macarrão de Marlene e concordou.

Numa Redação de grandes nomes, era a ele que eu recorria quando não sabia quem era alguém ou o significado de algo em inglês, como "the real McCoy". Raimundo ensinava e dizia que a expressão nascera de uma peça americana do século 19, em que havia um verdadeiro e um falso McCoy. E ainda dava a ficha da peça.

Até chegar o dia, nessa exata época do ano, em 1972, em que uma pergunta minha o embatucou. Eu traduzia as crônicas de Art Buchwald na "Manchete" e, numa dessas, Art fez uma vaga referência a Watergate. Deu-me um branco. Fui a Raimundo. E ele também não sabia.

Na verdade, quase ninguém sabia. O próprio Buchwald apenas ouvira falar de um arrombamento na sede do Partido Democrata, no edifício Watergate, em Washington, no dia 17 de junho, e farejara um rato. Logo todo.

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