segunda-feira, junho 25, 2012

A batalha do meio - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 25/06

O PMDB é como aquele vulcão ainda ativo que, volta e meia, entra em erupção. Desta vez, a fumaça mais forte vem do Senado


Passada a ressaca da Rio+20, tudo volta ao normal. Lá vem a CPI, a votação da cassação de Demóstenes Torres, a guerra armada entre aliados governistas na formatação dos palanques e um governo correndo para fechar o semestre e esfriar o Parlamento a fim de se dedicar ao assunto que realmente interessa à presidente Dilma Rousseff, a economia.

O problema que tem nuances maiores do que se possa imaginar é o retorno da guerra interna do PMDB, um partido visto como aquele sujeito bipolar que ninguém sabe direito para onde aponta a sua bússola. Mas algumas premissas básicas dessa disputa subterrânea o governo já conseguiu detectar.

A primeira delas está diretamente relacionada ao líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM). Os aliados dele dentro do Planalto acham que as brigas com a presidente Dilma Rousseff não chegam a ser o tsunami que muitos tentam vender. Há quem diga que por trás das versões de insatisfação generalizada por parte do Planalto a respeito do líder está a crescente queda de braço dentro do PMDB.

Os peemedebistas estão novamente na guerra de bastidores pela troca de comando. Apenas para situar quem não se recorda, no início desta Legislatura, em 2011, houve a tentativa de se formar um bloco de senadores dentro do PMDB, alguns novos, caso de Eduardo Braga, e outros de retorno ao Legislativo, por exemplo, ex-governador Luiz Henrique, de Santa Catarina.

O G8 (Luiz Henrique, Braga, Waldemir Moka, Ricardo Ferraço, Vital do Rêgo, Pedro Simon, Jarbas Vasconcelos e Roberto Requião) tentou demonstrar algum poder de fogo, mas terminou diluído diante dos movimentos de José Sarney, de Renan Calheiros e de Romero Jucá. Agora, entretanto, esse grupo volta à cena com a subida de Braga para a liderança do governo.

Por falar em liderança...

A amigos, Eduardo Braga não tem escondido seu desconforto com o grupo antigo de peemedebistas que hoje não tem mais tanto poder de fogo perante a presidente da República. Há quem diga que o grupo de Sarney, embora com menos musculatura política do que nos tempos de Lula, ainda quer sustentar todos os halteres pesados dentro do Congresso, como o caso das lideranças de governo e de partido e postos-chaves nas comissões técnicas.

Em meio às disputas normais em plenário e dentro da CPI, é essa chamada “batalha do meio” que viveremos nos próximos dias. Eduardo Braga, em não sendo candidato a prefeito de Manaus, tende a permanecer no cargo e a se fortalecer perante aqueles que tentaram apeá-lo do poder. E ainda que saia da liderança, uma hipótese remota hoje, se o substituto no papel for Waldemir Moka, do PMDB sul-matogrossense, também estará caracterizada a permanência do G8 numa vaga que já pertenceu ao grupo de Renan Calheiros, quando o líder era Jucá. Ou seja, muda o personagem, mas o enredo é o mesmo: dois grupos dentro do PMDB em plena disputa de poder.

Por falar em poder...

A diferença agora é que há uma CPI em funcionamento cada vez mais inclinada a investigar as obras do governo. E, nesse contexto, querendo ou não, o grupo de Renan e Sarney tem sua importância. Não dá para deixar de mencionar que eles quebraram um pouco o G8 quando fizeram de Vital do Rêgo presidente da CPI e deram visibilidade a Ricardo Ferraço entregando-lhe relatorias importantes.

Mas é fato que o G8 começa a renovar o fôlego. Basta ver a posição de Ferraço, autor de uma ação no Senado para ter o direito de declarar o voto na cassação e Demóstenes — algo que, embora Sarney tenha colocado em pauta, não faz parte dos projetos prioritários de seu partido. Se essa guerra será para valer ou apenas mais uma das rusgas peemedebistas, o tempo dirá.

Por falar em guerra...

Quem estava no Rio de Janeiro ontem era o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. A amigos, ele disse estar em contagem regressiva para o julgamento do mensalão. “Agora, falta pouco para acabar isso. Estou preparado para a guerra.”

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