sexta-feira, março 29, 2013

Derrota do verde - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 29/03

Na semana em que Liszt Vieira é homenageado com o prêmio Faz Diferença pela sua luta contra a privatização do espaço público do Jardim Botânico, o governo federal vai apressar sua substituição.
A ministra Izabella Teixeira escolheu para o cargo a carioca Samyra Crespo, atual secretária de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental do Ministério do Meio Ambiente.

Pacote de abril...
O governo pretende anunciar a substituição de Liszt em abril com um pacote que afaga a Deus e ao diabo.
A ideia é remover apenas metade dos moradores que ocupam o Jardim Botânico. Também seria demolido o prédio do Serpro, outro invasor do paraíso botânico carioca.

Dedo na tomada
O presidente da Light, Paulo Roberto Pinto, está apreensivo com a regulação do decreto que trata do ressarcimento às empresas, pela Aneel, dos custos de acionamento das térmicas.
Teme perder uns R$ 600 milhões com a parte não coberta.

Segue...
Isto é, mais ou menos, o dinheiro que a empresa pretende guardar para atender aos grandes eventos do Rio até 2015.

Colega de turma
Angelo Oswaldo, novo presidente do Instituto Brasileiro de Museus, foi colega de colégio de Dilma Rousseff.
O ex-prefeito de Ouro Preto é ligado ao PMDB.

Livre no Rio
A americana Cheryl Strayed vem ao Rio para a Bienal do Livro, em agosto.
“Livre”, que sai aqui pela Objetiva, ficou entre os mais vendidos de 2012 nos EUA e vai virar filme.

Chávez de saia
Gente que entende do assunto acredita que, se Cristina Kirchner, nas eleições legislativas na Argentina, em outubro, conseguir eleger maioria de dois terços no Congresso, irá apresentar emenda para ter direito a um terceiro mandato presidencial.

Aliás...
Para uma turma do nosso Itamaraty, as eleições presidenciais, este ano, na Venezuela, no Paraguai e no Chile deverão ser vencidas,respectivamente, por Nicolás Maduro, Horácio Cartes e Michelle Bachelet.
A conferir.

Derico, 35 anos
Derico Sciotti, músico do Sexteto, grupo do programa do nosso Jô Soares, prepara um evento musical em Curitiba para festejar seus 35 anos de carreira. O MinC o autorizou a captar R$ 814.900.

Faltam cem dias
Uma vigília na Catedral do Rio, dia 12 agora, às 22h, vai marcar o início da contagem regressiva de cem dias para a Jornada Mundial da Juventude.

Arma na cabeça
Maycon Lack está inconsolável. Roubaram sua flauta Muramatsunúmero de série 15649 (veja o artista e e a flauta na foto), sábado passado, no Centro do Rio. Quatro caras armados renderam o músico, que estava indo tocar em um casamento.

Nos trilhos
O Metrô do Rio é mesmo um grande negócio. Para os controladores — os fundos de pensão estatais (Previ, Petros e Funcef), que detêm70% do capital, e a empreiteira OAS.
Segundo o balanço de 2012, faturou R$ 526 milhões na boca do guichê. E fechou o ano com uma margem de lucro de 34% sobre a receita operacional líquida — coisa com a qual muita gente grande, da indústria e dos bancos, vive sonhando.


Agora...
Só falta melhorar a vida dos passageiros.

Efeito Kiss
A festa Boho, que deve reunir mais de duas mil pessoas, não será realizada hoje na Estação Leopoldina.
É que o Corpo de Bombeiros interditou o local para eventos. A festa foi transferida para o Espaço Rampa, em Botafogo.

Galã na Copa
Tom Cruise, logo depois da entrevista exclusiva que deu ontem para o Telecine, já com a câmera desligada, confidenciou à equipe do canal que já tem data para voltar ao Rio:
— Vocês imaginam como vai ser a Copa do Mundo aqui? Vai ser fantástico! Decidi hoje que vou dar um jeito de vir.

Rumo ao brejo - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 29/03

RIO DE JANEIRO - A princesa beijou o sapo para fazê-lo reverter à condição de príncipe -e foi ela, ao contrário, quem se transformou em sapa. Uma variante dessa antifábula é a do homem de terno e gravata que chegou à farmácia com um enorme sapo verde e de olhos esbugalhados como um prolongamento de sua cabeça. O farmacêutico perguntou, atônito: "Mas o que foi isso, meu amigo???". E o sapo, com voz grave: "Não sei. Acordei com dor de barriga e esse sujeito apareceu debaixo de mim".

Foi o que aconteceu ao futebol brasileiro quando ele deixou de se bastar como mercado e se especializou em produzir matéria-prima -jogadores- para vender à Europa.

Com a multidão de brasileiros em gramados europeus, era inevitável que os gringos absorvessem nossas virtudes -o domínio de bola, a capacidade de driblar, as tabelinhas em alta velocidade. Em contrapartida, em vez de acrescentarmos às nossas as virtudes deles -a disciplina tática, a marcação rígida, o preparo físico-, incorporamos o que eles tinham de pior e estavam abandonando: o jogo "viril", os chuveirinhos sobre a área e a falta de criatividade individual. É o que temos hoje por aqui.

A cronologia mostra bem. Na esteira da Copa de 1970, nenhum dos tricampeões mundiais foi vendido para a Europa -e olhe que, entre eles, estavam Pelé, Carlos Alberto, Gerson, Tostão, Jairzinho, Rivelino e Clodoaldo (somente os dois primeiros saíram, mas em fim de carreira, e para os EUA). Já a realidade pós-Copa de 1982 foi outra: os italianos nos bateram às portas e levaram metade daquele time -Zico, Junior, Sócrates e Cerezo (Falcão já estava lá). A partir daí, não houve jogador brasileiro que não tivesse como objetivo exclusivo atuar na Europa.

Se a princesa virou sapa, nada mais natural que só lhe restasse o brejo -que é para onde o nosso futebol caminha.

Jovens, vão às ruas! - MILTON HATOUM

O Estado de S.Paulo - 29/03

Desconfio dos machos empertigados que pregam contra homossexuais e também contra africanos e seus descendentes. Esses porta-vozes de um puritanismo doentio usam a religião como arma moral.

Nem de longe são religiosos que dão bons conselhos, como aquele famoso Pero Pérez, padre de uma aldeia espanhola e um dos amigos do Engenhoso Fidalgo dom Quixote de la Mancha. Tampouco são figuras acossadas por dilemas morais, políticos ou ideológicos, seres que estão vivos em romances de Eça de Queirós, Antônio Callado e tantos outros.

Padre Nando, protagonista do romance Quarup, tem as qualidades de um grande personagem atormentado. No romance Luz de Agosto, William Faulkner também construiu uma figura inesquecível: o jovem pastor Gail Hightower, também conhecido como Done Damned - totalmente possuído ou danado -, um louco de pedra que pregava numa igreja de Jefferson, usando palavras da Bíblia como se estivesse num sonho vertiginoso ou à beira de uma catástrofe.

Mas há também incríveis personagens do rebanho. Logo me lembro de um conto memorável de Jorge Luis Borges: O Evangelho Segundo São Marcos.

Baltasar Espinosa, jovem estudante portenho, passa uns dias numa estância perto de Junín e lê a Bíblia à família do capataz - os Gutre -, de origem irlandesa. Os Gutre haviam esquecido o idioma inglês e falavam com dificuldade o castelhano. "Para se exercitar na tradução e talvez para ver se entendiam algo", Espinosa lê parábolas do livro sagrado para essa família.

Não convém resumir nem revelar o desfecho desse conto, uma obra-prima do livro O Informe de Brodie (Companhia das Letras, tradução de Davi Arrigucci Jr.). Basta dizer que os Gutre escutam com atenção as parábolas lidas por Espinosa e as entendem literalmente. O narrador assinala que os peões "careciam de fé, mas em seu sangue perduravam, como rastros obscuros, o duro fanatismo do calvinista e as superstições do pampa".

Essa leitura rasa e tosca do texto sagrado - uma leitura sem mediações, sem qualquer reflexão sobre o significado e alcance simbólico das parábolas - aconteceu em 1928 numa estância Argentina. Mas, fora da ficção, a leitura ao pé da letra do Alcorão e da Bíblia vem acontecendo há séculos, e não poucas vezes com consequências nefastas ou trágicas. Agora mesmo essa leitura está acontecendo no Brasil e em muitos outros lugares dos dois hemisférios.

Ler e assimilar um texto sagrado ao pé da letra é uma temeridade. O duro fanatismo e seus rastros obscuros não se limitam ao calvinista do conto argentino: corre no sangue de muitos crentes das três religiões monoteístas. A Cruzada das Crianças, livro de contos de Marcel Schwob, narra a loucura de crianças europeias que, na Idade Média, marcharam para a reconquista de Jerusalém. Oito século depois, a parte árabe da "cidade santa" está sendo invadida e ocupada por colonos judeus fanáticos, com a cumplicidade de um governo apoiado pela extrema-direita religiosa, igualmente fanática.

Grandes personagens de romances e contos são mais complexos e densos que as pessoas que conhecemos, justamente porque não conhecemos profundamente essas pessoas.

Claro que as declarações do presidente da Comissão de Direitos Humanos se amoldam a personagens bastante vulgares e caricaturais, e olhe lá. Não inspiram sequer o esboço de uma figura complexa. O problema é que esse pastor não é apenas um sujeito caricato e histriônico, à semelhança de tantos políticos. Ele e outros deputados - alguns réus em ação penal - foram vergonhosamente eleitos para presidir comissões relevantes. Isso desmoraliza ainda mais o Poder Legislativo, onde só uns poucos políticos podem ser considerados éticos. Infelizmente a reserva ética tende a zero.

Quanta desfaçatez: uma Comissão de Direitos Humanos de um Estado laico ser presidida por um membro de um partido religioso. Essa aberração e os discursos preconceituosos e claramente racistas desse pastor político merecem o repúdio e o protesto dos brasileiros, religiosos ou agnósticos.

As manifestações dos jovens em Brasília e em outras cidades têm um forte conteúdo político. No fundo, são atos pela liberdade: mobilizações necessárias e urgentes contra forças retrógradas e obscuras.

Formas de matar um escritor - MICHEL LAUB

FOLHA DE SP - 29/03

A boa ficção usa mentiras para dizer a verdade, e as citações malfeitas são o contrário


Exemplo de frase atribuída a Clarice Lispector na internet: "Ainda bem que sempre existe outro dia, e outros sonhos, e outros risos, e outras pessoas, e outras coisas". Outro exemplo: "Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome".

Ambas estão num site que, reagindo ao que o mundo virtual faz contra autores como Luis Fernando Verissimo e Caio Fernando Abreu, dispõe-se a conferir a autenticidade de citações. Tarefa digna, embora eu fique em dúvida sobre o que é pior: a Clarice falsa (sonhos e pessoas) ou a verdadeira (desejo sem nome).

Quer dizer, a Clarice transformada em autoajuda ou a tirada de contexto, numa vulgarização do registro original. A segunda frase é o ponto de vista de uma personagem -a protagonista de "Perto do Coração Selvagem"-, e fora do ambiente claustrofóbico e idiossincrático do romance vira apenas banalidade.

Há muitas formas de matar um escritor, e a mais segura talvez seja botá-lo num pedestal, escondendo as falhas e oscilações que o tornam humano -e, portanto, próximo do que a literatura deve ser. Acontece quando o transformamos num oráculo, com verdades a revelar sobre temas que pouco ou nada têm a ver com os seus.

Caso dramático é o de ficcionistas cujo mérito maior não é a capacidade de síntese, ou mesmo as ideias. "Grande Sertão: Veredas" é um clássico por vários motivos, um deles o acúmulo caudaloso e virtuoso de termos raros e palavras inventadas por Guimarães Rosa, num ritmo e ambientação a serviço de uma grande narrativa de aventura.

É um efeito que só se potencializa por causa desse fluxo -ao qual o leitor precisa dedicar tempo, paciência e atenção diversos do que exige uma simples frase. Destacar do romance uma fala como "pão ou pães, é questão de opiniães", do jagunço Riobaldo, é escolher (e indiretamente apontar como essência) apenas o que Rosa tem de diluído -uma celebração algo ingênua, ou algo demagógica, de uma suposta sabedoria popular.

Se a fala até pode ser charmosa pela sintaxe, sonoridade e empatia que evoca no contexto de "Grande Sertão", na vida real equivale a uma criança dizendo espertezas diante de adultos. "Viver é muito perigoso", outra máxima conhecida do livro, não é uma tolice, ok, mas repita-a sem a muleta de um medalhão das letras, em tom compenetrado, numa festa ou reunião de trabalho, e saboreie o efeito que causará.

Claro que citar é inevitável. Há autores talhados para isso, de frasistas como Nelson Rodrigues e Paulo Francis a romancistas cujos diálogos valem de maneira autônoma. Isso ocorre quando os personagens estão no mesmo nível do criador, sem que o último precise se rebaixar ou distanciar -com ironia, crueldade, paternalismo ou condescendência- para exprimir a voz dos primeiros.

Também quando não emprestamos às frases uma filosofia moral adaptada a conveniências. Transformar Rubem Braga num militante da ecologia, como fez um programa recente de TV por causa de um trecho sobre passarinhos, é alistar o cronista numa batalha que não era a sua, ao menos nos termos ideológicos de hoje. E trair o que ele tinha de particular, sua melancolia cética e nunca açucarada, na contramão de qualquer bom sentimento da moda.

Da mesma forma, "o que desejo ainda não tem nome" talvez diga algo de "Perto do Coração Selvagem", mas usar isso em confissões de Facebook -como se houvesse grande transcendência nos anseios indizíveis do eu feminino- é puxar para si uma sugestão de mistério, profundidade, alma complexa. Um egocentrismo tão contemporâneo e distante do que o texto de Clarice significou, inclusive em risco de incompreensão e fracasso, à época em que foi escrito (1943).

A boa ficção usa mentiras para dizer a verdade, e as citações malfeitas são o contrário: usam verdades (trechos reais) para mentir (atribuir ao livro um sentido que ele não quer ter). Ao contrário do que pensa quem as promove, é um desserviço à literatura. Apenas mais um, num tempo em que pouca gente tem disposição para abrir um romance -ou pensar qualquer coisa- e ir além de meia dúzia de slogans.

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Na coluna passada, que tratava justamente de imprecisões na divulgação de dados, a área da cidade de São Paulo saiu errada. Segundo o IBGE, o correto é 1.521 km².

Ueba! Papa argentino libera bife! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 29/03


E o Palmeiras conseguiu uma façanha! Nem a Volkswagen consegue fazer seis gols em 45 minutos!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!

Mudanças na Sexta-Feira Santa! Como o papa é argentino, no lugar do bacalhau vai ter: bife de chorizo. E vinho Malbec. Oba! Papa argentino libera o bife de chorizo! E esse ano não vai ter vinho na Santa Ceia por causa da Lei Seca!

E o Palmeiras? O Palmeiras comemora Páscoa antecipada e leva um chocolate! O Palmeiras conseguiu uma façanha: levou seis gols do Mirassol. Em 45 minutos! Nem a Volkswagen consegue fazer seis gols em 45 minutos! Chocolate!

Não é mais ovo de Páscoa, é ovo de porco! E um amigo postou no Twitter que o Mirassol vai mudar de nome pra Miraporco! Rarará!

E o Feliciano? A pessoa mais bem quista do país! O Namoradinho do Brasil! Com aquela juba de Lassie! Lassie de chapinha! Rarará. Como disse o Will Gomes: "Se o Marco Feliciano conseguir mandar prender um manifestante por dia, vai levar uns 30 anos pra ele presidir uma reunião sossegado". Rarará!

Feriadão de Páscoa! Foi todo mundo viajar! Não sobrou ninguém pra dar uma coelhada rápida!

E oba! Hoje é dia de contar todas aquelas piadas de Santa Ceia. Santa Ceia é aquele quadro pendurado na sala de jantar da casa da avó!

E sabe o que Cristo falou pros apóstolos na Santa Ceia? "E de sobremesa vamos ter quindim". E os apóstolos: "Mas não era brigadeiro?". Rarará!

E sabe o que o garçom falou pra Cristo? "O senhor vai pagar a conta toda ou cada um paga a sua?". E tinha garçom na Santa Ceia? Claro, você acha que era self-service?

Por quilo? Quilão! E sabe porque não tinha japonês na Santa Ceia? Porque ele tava tirando a foto. A foto dos "apóstrofos", como dizia o Lula.

E sabe o que Cristo falou pro crucificado da direita? "Chega mais perto pra sair no santinho!".

E eu blasfemo mas sou católico apostólico baiano. Acredito em tudo! E sou devoto do Nosso Senhor do Bonfim! É mole? É mole mas sobe!

O Brasil é Lúdico! Um pescador botou a seguinte placa na porta da casa dele: "VEDE PEXE". E como gritava aquele feirante em Salvador: "Aqui até o peixe espada é fresco". Rarara! E vida de peixe é dura: te pegam pelo rabo, te sacodem e ainda gritam: "é fresco?". Rarara. Nóis sofre mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Retrocesso paulistano MARCELO CARDINALE BRANCO

O GLOBO - 29/03

A Lei de Mudanças Climáticas, proposta e promulgada pela Prefeitura de São Paulo em 2009, foi pioneira no Brasil ao propor a substituição progressiva de combustíveis fósseis por renováveis na frota de ônibus municipais. Até 2012, 1.800 ônibus da frota de 15 mil já utilizavam combustíveis menos poluentes, como etanol, diesel de cana-de-açúcar e biodiesel.

Como resultado, houve uma redução de 9,5% na emissão de poluentes pelos ônibus, que atingem diretamente a saúde da população, e de 7% na de C02, que afeta a camada de ozônio. Isso significa menos 8 mil toneladas mensais de C02 jogadas no ar de São Paulo.

Com esse olhar para o futuro, São Paulo foi o primeiro município do país a implantar a Inspeção Veicular Ambiental, que já apresenta resultados positivos na preservação da vida. Conforme a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), foram evitadas 1.515 internações hospitalares e 584 mortes por problemas respiratórios, resultando em uma economia estimada em mais de US$ 79 milhões ao sistema público de saúde. Isso considerando-se apenas os veículos a diesel que fizeram a inspeção em 2011 na cidade.

Projeto de Lei aprovado na quarta-feira (20/3) na Câmara de São Paulo mostra a alarmante falta de compromisso da Prefeitura com as questões ambientais. A discussão deu-se acerca da taxa da inspeção, das isenções desse ou daquele carro (procurando isentar os proprietários de veículos mais novos), mas nenhuma linha sobre o objetivo principal da inspeção, ou seja, a redução do volume de poluentes atirado na atmosfera pelos carros.

Sabe-se que a lei proposta levará ao aumento das emissões, pois os veículos com até três anos de uso são responsáveis por 25% do volume total de emissões, e a execução da inspeção a cada dois anos permite que a manutenção dos veículos também seja feita somente a cada dois anos.

O volume extra de poluentes é calculável pelos dados que o próprio município possui com as estatísticas do Programa de Inspeção Veicular. Não há como se imaginar (e, aí, a total falta de compromisso do Executivo com as questões ambientais) que a redução no rigor da inspeção possa levar à melhoria na qualidade do ar.

A lei aprovada vai na contramão da legislação federal. A Lei federal 8.723 impede que modificações no Programa de Inspeção o tornem menos restritivo, menos rígido do que a inspeção já existente; a mudança de periodicidade conflita com as resoluções do Conama que disciplinam a questão, e que determinam que as inspeções sejam anuais e em linhas de inspeção instaladas especificamente para esse fim.

A Prefeitura de São Paulo promove o maior retrocesso ambiental das últimas décadas. E a Secretaria de Meio Ambiente do Estado, o Conama e o Ibama, até o momento, não disseram uma só palavra.

Bacalhau Indigesto - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 29/03

Ex-sócio do Antiquarius em São Paulo, Tales de Almeida Martins Filho teve pedido de prisão requerido em ação trabalhista movida por ex-funcionários. A petição foi encaminhada à 60ª Vara do Trabalho de SP na segunda. "Ele é depositário infiel", diz Gilda Figueiredo Ferraz de Andrade, advogada do maître José Maria Almeida e do cozinheiro Ernestino Pontes.

BACALHAU INDIGESTO 2
Proibido de usar a marca do tradicional restaurante português, que pertence a seu ex-sogro Carlos Perico, dono do Antiquarius do Rio, Tales foi forçado a fechar a unidade nos Jardins, em dezembro. "A responsabilidade é dele, que era o administrador", diz Antonio Perico, herdeiro do grupo. Procurados pela Folha, Tales e seu advogado não responderam aos telefonemas.

NOVO ENDEREÇO
A família Perico planeja reabrir o Antiquarius paulistano com outros sócios. "Fomos procurados por investidores", diz Antonio. A busca pelo novo ponto começa no segundo semestre.

DIA DO FICO
O senador José Sarney (PMDB-AP) estava programando uma viagem ao exterior, mas a pedido do Palácio do Planalto desistiu. Com a presidente Dilma Rousseff na África do Sul, ficou por aqui para não desfalcar a base, em tempos de turbulências no Congresso.

FESTA DA CARNE...
Toda a alimentação do festival Lollapalooza, que começa hoje, Sexta-Feira Santa, será fornecida pela Seara. O frigorífico prevê o consumo de 60 mil unidades de sanduíches, entre eles o hambúrguer Angus, com 200 gramas. Cerca de 12 toneladas de pizza nos sabores mozarela e calabresa também serão vendidas nos três dias de shows.

FALAR EM PÚBLICO
Na entrevista coletiva que precedeu a festa da nova programação da TV Globo (fotos ao lado), anteontem, em SP, uma mulher ficou sentada na segunda fila, bem em frente a Carlos Henrique Schroder, diretor-geral da emissora. Era a diretora teatral Joyce Niskier, que faz "media training" com executivos. E treinou Schroder para o evento.

SUCESSOR
Roberto Marinho Neto, da terceira geração de herdeiros das Organizações Globo, não teme a responsabilidade de estar na direção da empresa: "Nasci dentro da Globo. Então, me preparei lá fora e voltei com naturalidade". Diretor de projetos esportivos especiais, seu foco é a Copa das Confederações. "Estamos no ajuste final da operação e depois vem a Copa do Mundo."

SEM CADEIRA VAZIA
E para ajudar a preencher as cadeiras do Credicard Hall, a Globo contratou modelos.

A atriz Marisa Orth, ao ver que a seu lado estavam sentados vários figurantes, brincou com eles: "O que esse bando de homem tá fazendo aqui? Ah, já sei: papel de muito homem, né?".

MARIA CHUTEIRA
Quando Ronaldo foi apresentado como novo comentarista da emissora carioca para a Copa das Confederações, a atriz Fernanda Torres, vestida de noiva por causa do seriado "Tapas & Beijos", gritou dos bastidores: "Lindoooo!".

SAUDADES DA NINA
Em um dos banheiros femininos do evento, a atriz Danielle Winits ficou alguns minutos arrumando seu look. Quando deixou o local, as duas funcionárias da limpeza presentes comentaram: "Você viu a Nina da novela 'Avenida Brasil' [a atriz Débora Falabella]? Que educada, né? Deu oi, agradeceu, uma linda. Essa aí [Winits] achou que a gente é fantasma".

CURTO-CIRCUITO
O DJ Wehbba toca hoje à noite na festa After Lollapalooza, na Disco. 18 anos.

Silvetty Montilla participa hoje do "Terça Insana", às 23h57, no Teatro Itália. 14.

Roland de Bonadona, COO da Accor América Latina, recebeu a condecoração Ordem Nacional do Mérito, em cerimônia na residência consular da França.

PT banca Lindbergh - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 29/03

A direção nacional do PT não vai retirar eventual candidatura do senador Lindbergh Farias ao governo do Rio. Sua única preocupação é que o petista faça uma campanha civilizada para não empurrar o PMDB local para a oposição. Um alto dirigente do partido assegura: "Não podemos sacrificar o Rio mais uma vez. Temos um candidato que não é nenhum pangaré."

A volta da "Abalu"

A cúpula da Câmara jogou a toalha. Não há como tirar, regimentalmente, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) da presidência da Comissão de Direitos Humanos. Na semana que vem, o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), convocou os líderes das bancadas para ver o que fazer. Pois, a despeito disso, é preciso fazer a comissão funcionar. E, também, garantir um contraponto às suas propostas sobre temas da vida dos brasileiros. Mas há quem, como o deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA), pregue aos leigos se retirar da comissão e aderir à "Abalu", sigla fake de uma tendência estudantil, a Abandonar a Luta.


"Uma vez eleito, pelo regimento, não temos como tirá-lo"

Henrique Eduardo Alves - Presidente da Câmara (PMDB-RN) sobre a substituição do presidente da Comissão de Direitos Humanos, Marco Feliciano (PSC-SP)

Renúncia à vista

Conselheiro da Comissão da Verdade, o ministro do STJ Gilson Dipp deu sinais ao governo de que poderá renunciar ao cargo por problemas de saúde e sobrecarga de trabalho.

...tocou novamente

O ministro Guido Mantega (Fazenda) anda irritado com o líder do governo no Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE). Ele liga todos os dias, e Eunício não atende. Mantega já fez beicinho no Planalto. O ministro é contra a PEC do senador que distribui, para os estados, 25% da arrecadação do PIS/Confins. A mudança tiraria R$ 500 milhões/ano da União.

Façam suas apostas

Egresso da USP, renomado tributarista e apoiado pelo ministro Ricardo Lewandowski, o jurista Heleno Taveiro Torres é apontado, no mercado, como o nome mais forte para ocupar a vaga no STF deixada pelo ex-ministro Carlos Ayres Britto.

A largada do candidato de Cabral

Para aferir o efeito das inserções na TV do vice Luiz Fernando Pezão, o Instituto Ideia fechou uma pesquisa de 1.200 entrevistas, para o PMDB, na última terça-feira. O governador Sérgio Cabral está batendo o bumbo. O percentual de conhecimento de Pezão subiu 50% em relação a fevereiro, indo de 30% para 44%. Intenção de voto: Garotinho, 23%; Lindbergh, 17%; e Pezão, 16%.

Assédio aos leigos

O PSB entrou em campo e está assediando os deputados do PSC que são leigos ou cujos eleitores não professam o radicalismo religioso. Os alvos são o deputado Hugo Leal (RJ) e três eleitos pelo Paraná.

Ah, se fosse um cidadão comum...

A segurança da Câmara não sabe o que fazer. Funcionários do gabinete da deputada Érica Kokay (PT-DF) têm por hábito subir em cima das mesas para protestar, como agora na Comissão de Direitos Humanos.

A presidente Dilma pediu ao ministro Manoel Dias (Trabalho) rapidez e eficiência na regulamentação da PEC das Domésticas.

Se colar, colou - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 29/03

Pesquisas qualitativas em mãos do PT mostram que, quando questionadas sobre a eventual candidatura à Presidência do governador Eduardo Campos (PSB), muitas pessoas associam a ele variações das palavras "traição" e "ingratidão". Por isso, a ordem entre os petistas é bater na tecla de que Lula e Dilma Rousseff ajudaram o aliado com investimentos generosos em oito anos. Em tom light, a própria presidente citou vasta lista de realizações em sua visita a Pernambuco.

Leite... 
Em recente jantar com empresários, no Rio, José Dirceu disse que o PT deveria ter se empenhado para abater a candidatura de Campos antes que ela levantasse voo, e que agora seria tarde.

... derramado 
O ex-ministro, condenado no mensalão, também previu que nenhum partido, nem mesmo o PMDB, vá apoiar "100%" a reeleição de Dilma. Todos devem ir ao palanque rachados.

Dedicatória 
No encontro reservado que tiveram na terça-feira em Brasília, o senador Pedro Simon (RS) presenteou Campos com um livro. O pessebista ficou muito satisfeito com o teor da conversa com o dissidente do PMDB.

Pernoite 
Cid Gomes (CE) convocou os demais governadores do Nordeste para chegarem a Fortaleza na véspera do encontro com Dilma para discutir medidas antisseca. Em café da manhã na terça eles vão fechar as propostas que levarão à presidente.

Laranja 1 
O Planalto incentiva a circulação de versão segundo a qual Dilma ficou irritada com a pré-candidatura de Clésio Andrade (PMDB) ao governo de Minas, logo após conceder o Ministério da Agricultura ao partido.

Laranja 2 
Aliados da presidente, no entanto, dizem que a aliança PT-PMDB já está selada. Andrade terá a função de ocupar espaço político e fustigar o PSDB. Mais adiante, o partido apoiará o candidato petista, provavelmente o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento).

Nem sinal 
O presidente do PTB, Benito Gama, diz que a ação da bancada do Senado para emplacar um ministro não passa pelo comando da sigla. Ele aguarda desde novembro resposta a um pedido de audiência com Dilma.

Dividida 
Após manifestar publicamente desconforto com a escolha de Marco Feliciano (PSC-SP) para o comando da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, a ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) se recolheu. Pré-candidata ao Senado em 2014, quer evitar embate com o PT, que cedeu suas vagas no colegiado ao partido do pastor-deputado.

Até tu? 
O PSB indicou para a agora célebre comissão comandada por Feliciano o também pastor Eurico Silva (PE), líder da Assembleia de Deus e aliado de Eduardo Campos. O deputado é crítico severo da decisão do STF que permite união homoafetiva.

Bem... 
Renan Calheiros (PMDB-AL) aproveita a confusão na Câmara, que tira o sono de seu correligionário Henrique Eduardo Alves (RN), para tentar refazer sua imagem no Senado. O presidente da Casa manda boletins diários para a imprensa,
ressaltando a agenda positiva.

... na fita 
Depois de posar sorridente para fotos ao lado das relatoras da PEC das domésticas e capitalizar a medida, de grande alcance social, o peemedebista fará uma festa na terça-feira para a assinatura da nova lei.

Media training 
Geraldo Alckmin passou a cumprir roteiro de candidato durante visitas ao interior. Além de inspecionar obras, o tucano programou extensa agenda de entrevistas a TVs, rádios e jornais regionais.

tiroteio
Quando sai do script de João Santana, Dilma se perde. Disse que inflação é secundária e, após a reação, perdeu a ensaiada simpatia.

DO DEPUTADO MARCUS PESTANA (PSDB-MG), sobre a ação do governo e da presidente para negar que tenha dito que combate à inflação não é prioridade.

Contraponto


Vigilante do peso

O presidenciável tucano Aécio Neves e o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), conversavam no cafezinho do Senado quando chegou um grupo de governistas, cantando "Parabéns para você" para Ideli Salvatti.

A ministra cortou uma generosa fatia de bolo para Aécio, mas ofereceu uma pequena ao deputado.

-Para você, Carlão, um pedaço pequeno, porque você me deu muito trabalho nas CPIs.

-Estou de dieta. Aceito minha parte em emendas -respondeu o tucano, em tom de brincadeira.

-Nada de emenda no meu aniversário! -replicou ela.

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 29/03

INDÚSTRIA DE SÃO PAULO ABRIU VAGAS NO 1º BIMESTRE

Região tida como farol para o resto do Brasil criou 62 mil postos em janeiro e fevereiro. Comércio fechou 152 mil

Os sinais de recuperação da atividade industrial neste início de 2013 já se fizeram presentes também na Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE. Em particular, em São Paulo, espécie de farol do mercado brasileiro. No primeiro bimestre, a indústria criou 62 mil postos de trabalho na Grande São Paulo. Foram nada menos que 75% das 83 mil vagas abertas pelo setor nas seis maiores áreas metropolitanas do país. "O aumento da ocupação na indústria de São Paulo é a novidade do mercado de trabalho deste início de ano. Os números são modestos, mas bons", sublinha Cimar Azeredo, responsável pela PME/IBGE. O saldo positivo da indústria paulista chama ainda mais atenção, se comparado ao mau desempenho do comércio. O PIB enfraquecido de 2012 não estimulou efetivação dos funcionários contratados para a temporada de Natal. Em janeiro e fevereiro, o total de ocupados no setor diminuiu 237 mil. Do varejo da Região Metropolitana de São Paulo, 152 mil trabalhadores se despediram no mesmo período. Azeredo vê sinais de acomodação no mercado de trabalho nacional. O ritmo de criação de vagas já não é o mesmo, mas a formalização continua crescente, bem como a renda.

2 mil

VAGAS fechadas

Foi o saldo da indústria da Região Metropolitana do Rio no primeiro bimestre de 2013. O setor admitiu 12 mil em janeiro e afastou 14 mil no mês passado. No comércio, o total de ocupados caiu 48 mil.

Por esporte

Apex-Brasil e Abrese lançam projeto para aumentar exportações de produtos e serviços esportivos, em abril. É investimento de R$ 500 mil.

PRÉ-SAL

O recorde de produção de petróleo no pré-sal é destaque da nova campanha publicitária da Petrobras, que circula a partir de amanhã em TV e mídia impressa. Sete anos após a descoberta da nova fronteira petrolífera, a estatal alcançou a marca de 300 mil barris diários. O plano de investimentos, de US$ 236,7 bilhões, também aparece.
A Quê Comunicação assina. 

Dá dinheiro

A Páscoa rendeu ao comércio do Grande Rio cerca de R$ 508 milhões ao ano, no período 2010-2012. A conta é da Fecomércio-RJ. Nos sete dias anteriores à data, a Páscoa responde por 9,4% das vendas, calculou Christian Travassos, economista da entidade.

Em tempo

A Fecomércio-RJ também estimou o efeito Natal nas vendas do varejo. Uma semana antes da festa, a venda de presentes e da ceia concentra um quarto do faturamento do varejo.

Quem vai

A Aquim investe na exportação da linha de chocolate Q. Começou este mês, em Paris, e chega semana que vem ao Texas. A estimativa é exportar 30 mil barras para Europa e EUA até o fim do ano.

The book
A Yes! Idiomas prevê fechar o ano com 200 franquias no Brasil. É alta de 42,8% sobre 2012. No 1º trimestre,
negociou 14 unidades. A expansão é focada em cidades do interior de Rio, SP, Centro-Oeste e Nordeste.

Que beleza
A De Sírius, de cosméticos, lança a linha de tratamento para cabelos Clericot mês que vem. Aporte de R$ 150 mil, será vendida em cem pontos. Já a Adcos apresenta o anti-evelhecimento Dense Filler 3D. Espera faturar 30% mais este ano.

BRILHO
A Lupo lança na 2ª a campanha “Brilhe”, da coleção do inverno 2013 da meia-calça Loba. Criada pela G2 Brasil, será veiculada em revistas femininas até o fim de maio.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 29/03

Mercado de beleza cresce 15,62% em 2012; importações começam a preocupar
O setor de produtos de beleza e higiene teve alta de 15,62% no ano passado, segundo dados da Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos) que serão divulgados na próxima semana.

Considerando o valor real (descontado o IPCA), a expansão foi de 10,52%.

"Comparado ao pibinho, crescemos quase dez vezes mais", diz o presidente da entidade, João Carlos Basílio.

O incremento do setor está na faixa dos 10% há 17 anos. Entre os fatores que colaboraram para esse resultado estão o aumento da expectativa de vida, a expansão da classe C, a modernização das fábricas e os ganhos de produtividade, de acordo com Basílio.

Apesar dos números positivos, as importações começam a preocupar o mercado brasileiro.

Nos dois primeiros meses deste ano, os desembarques cresceram 30,8%, na comparação com o mesmo período de 2012. As exportações, por outro lado, registraram queda de 12,4%.

O deficit na balança comercial acumulado até agora é de aproximadamente US$ 75 milhões. Durante todo o ano passado, o número foi de US$ 130 milhões.

"O consumidor está em busca de inovação. O bolso dele está comportando produtos de maior valor agregado e a indústria brasileira não está conseguindo competir com alguns importados", afirma Basílio.

Produtos argentinos, alemães, franceses e americanos são os concorrentes.

Bolsa de sangue espanhola
A empresa espanhola Grifols, especializada no setor farmacêutico e hospitalar, em parceria com a carioca CEI, irá instalar uma fábrica no Brasil para produzir bolsas de extração e conservação de componentes sanguíneos -como plasma, plaquetas e hemácias.

Com investimentos de aproximadamente R$ 20 milhões, a planta terá capacidade para fabricar dois milhões de unidades por ano -volume que deve ser dobrado posteriormente.

A previsão da companhia é que a fábrica comece a operar no último trimestre do ano que vem.

A unidade será construída a 20 quilômetros de Curitiba e terá 26 mil metros quadrados de área construída.

A Grifols, que faturou € 2,6 bilhões no ano passado (aproximadamente R$ 6,75 bilhões), detém 60% do capital da união. A CEI, os 40% restantes. A sociedade foi batizada de Gri-Cei.

A cerimônia da pedra fundamental da planta será realizada na próxima terça-feira no Paraná.

Defesa
Mais de 80% dos consumidores americanos estão dispostos a pagar mais por produtos fabricados nos EUA do que por mercadorias mais baratas de origem chinesa, segundo pesquisa do Boston Consulting Group, consultoria de negócios global.

Pelo estudo, os principais motivos são a maior qualidade dos produzidos nos EUA ante os concorrentes chineses e a intenção de manter empregos dentro do país.

A recíproca, porém, não é verdadeira. O levantamento também mostra que mais de 60% dos chineses desembolsariam um maior valor por produtos "made in USA" que pelos "made in China".

As marcas americanas tem menos apelo em países da Europa. Na França e na Alemanha, 65% das pessoas entrevistadas disseram que prefeririam pagar mais pelos artigos produzidos em seu país de origem do que gastar com produtos americanos.

A pesquisa ouviu 5.000 pessoas nos países citados.

Feriado de páscoa
Os hotéis localizados em Porto de Galinhas, em Pernambuco, terão uma taxa de ocupação de 90% até domingo, de acordo com a AHPG (Associação dos Hotéis de Porto de Galinhas).

O crescimento em relação ao ano passado deve ficar entre 2% e 4%, ainda segundo a entidade.

A expectativa é que o balneário receba aproximadamente 30 mil visitantes neste feriado de Páscoa.

Dos turistas que irão desembarcar no município, 90% devem ser brasileiros e 10%, estrangeiros, principalmente argentinos.

O balneário de Porto de Galinhas é o destino de turismo de lazer mais procurado de Pernambuco, de acordo com ranking elaborado pelas operadoras de viagem.

Documentação
A junta comercial de São Paulo (Jucesp) foi responsável por 23% do total de 30.568 CNPJs emitidos na semana passada em todo o país.

Desde o último dia 11, a Jucesp tem autorização da Receita Federal para realizar os cadastros.

A mudança deve reduzir o tempo que um empresário costuma aguardar para conseguir o CNPJ, pois os documentos passaram a ser analisados simultaneamente pelos dois órgãos. A junta comercial calcula que o tempo médio de espera diminuiu de 17 para sete dias.

Nas duas primeiras semanas de emissão do documento na Jucesp, um total de 16.040 foram expedidos pelo órgão. Desses, 10.708 foram inscrições e 5.332 foram atualizações.

Números
23% do total de CNPJs emitidos no país na semana passada foram expedidos pela junta comercial de São Paulo

16.040 cadastros foram realizados pelo órgão do Estado nas duas primeiras semanas da medida

Energia... 
O Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia, que oferece uma plataforma digital para negociação de compra e venda de energia, viabilizou cerca de R$ 300 milhões em contratos no mercado livre em seu primeiro ano de operação.

..no balcão 
O mercado estimado para essas operações é de aproximadamente R$ 75 bilhões, de acordo com dados da companhia.

Eixos do desenvolvimento inclusivo - PAULO PAIVA

O ESTADÃO - 29/03

O crescimento da economia é necessário, mas não suficiente, para garantir o desenvolvimento em todas as suas dimensões. Nas próximas décadas o Brasil deverá continuar entre as dez maiores economias do mundo, levando em consideração as tendências atuais que indicam crescimento relativamente mais rápido das economias emergentes em relação às economias industrializadas. Estima-se que, em 2030, o Brasil permaneça na 7.ª posição mundial, segundo o tamanho do PIB. Abundância de recursos naturais, grande população e crescente demanda por alimentos e commodities são os principais fatores a estimular a expansão da economia brasileira no longo prazo. Mas, de acordo com o FMI, em termos de renda per capita a posição relativa do Brasil cai para o 54.º lugar. Há um considerável hiato entre o tamanho da economia e a renda per capita, quando o Brasil é comparado a os outros países. Um desafio central para promover o desenvolvimento será conciliar o crescimento com mais equânime distribuição da renda.

Para manter a economia crescendo em níveis que evitem perder sua posição relativa e, simultaneamente, conseguir ganhos no ranking da renda per capita, são necessários comprometimento e participação total tanto do governo quanto da sociedade. Alguns eixos são fundamentais para a consecução dessa meta, e deverão ser estabelecidos de forma relativamente ampla, para permitir a construção de consenso na sociedade, mas de forma igualmente específica para permitir a elaboração de planos, programas, estratégias e políticas. Alguns exemplos desses eixos são:

Estabilidade institucional: o Brasil avançou bastante, nas últimas décadas, na construção da democracia. Mas precisa garantir a consolidação do Estado de Direito, da aplicação universal de normas e leis a todos os cidadãos e do maior respeito ao cumprimento de contratos;

Sustentabilidade: o Brasil tem papel central no equilíbrio entre natureza e crescimento econômico no planeta. É também um celeiro mundial na produção de alimentos. Conciliar preservação ambiental e produção de alimentos exige criatividade e responsabilidade. Conciliar o bem-estar da população presente com o bem-estar das gerações futuras exige consciência política e solidariedade intergeracional;

Equilíbrio federativo: a organização federativa do País é instrumento fundamental para promover um crescimento mais equilibrado entre as regiões. Reduzir a centralização de recursos tributários na União e estimular a autonomia dos entes federados resultarão em elemento importante de desenvolvimento inclusivo;

Inclusão social: promover a inclusão crescente da população às atividades geradoras de renda é essencial para elevar a renda per capita. Educação é o veículo principal, pois contribui para o acesso a oportunidades de emprego, aumento da produtividade e de rendimentos e contribui para a formação cidadã;

Competitividade: um dos maiores obstáculos ao crescimento da economia brasileira é sua baixa competitividade. No biênio 2012-2013, segundo o índice do World Economic Forum, o Brasil ocupa o 48.º lugar no conjunto de todas as economias do mundo. Melhorar nesse aspecto é condição necessária para garantir o crescimento e a inclusão. Embora o País tenha obtido ganhos nos últimos anos, os principais obstáculos estão relacionados com o setor público - deficiência em infraestrutura, na oferta e qualidade da educação primária e na saúde, elevada carga tributária e ineficiência no mercado de trabalho. Esse parece ser o principal obstáculo para o crescimento sustentado nas próximas décadas. Romper a ineficiência do governo, superar os gargalos de infraestrutura e estimular investimentos privados são o caminho para o sucesso.

Buscar consenso em torno desses eixos garantirá a construção de um país mais desenvolvido, que poderá ser uma sociedade mais inclusiva e participativa, compatível com o tamanho e o potencial da economia e com a grandeza da Nação. Estratégias populistas e político-eleitorais são os maiores riscos.

O bicho inflação - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 29/03

A inflação está alta, o governo passa mensagens ambíguas sobre que prioridade tem o combate à inflação na política econômica; há dúvidas sobre a autonomia do Banco Central, e parte da alta de preços tem sido camuflada ou adiada. Mesmo assim, a taxa vai estourar o teto da meta no trimestre que começa semana que vem. E é esta a maior ameaça ao crescimento.
A presidente pode ficar brava com a maneira como a sua frase foi noticiada, mas o que ela disse foi exatamente isso: "eu não concordo com políticas de combate à inflação que olhem a questão da redução do crescimento econômico" Essa era o final de uma declaração que ela havia começado dizendo que era o ministro da Fazenda quem falava sobre a inflação e que terminou criticando "o remédio que mata o paciente"
Três erros. Primeiro: o Banco Central é o responsável pelo cumprimento das metas de inflação, e o ministro da Fazenda deve cuidar da política fiscal, suporte indispensável de qualquer estabilidade. Segundo: é exato o oposto do que a presidente disse. O que deveria causar a ela incredulidade é a possibilidade de manter o crescimento num ambiente de alta de inflação. E terceiro, em inflação não usar remédio é que ameaça o paciente.
Por sua natureza, a inflação, quando sobe, consome renda e capacidade de consumo, desorganiza a economia, aumenta a incerteza e isso leva à retração dos investimentos. Uma inflação baixa e previsível é o melhor ambiente para a construção de um projeto de crescimento.
Mas isso o governo sabe. Tanto que o relatório de inflação de ontem diz exatamente isso. "O Copom ressalta que a evidência internacional, no que é ratificada pela experiência brasileira, indica que taxas de inflação elevadas geram distorções que levam a aumentos de riscos e deprimem os investimentos." Diz também que "taxas de inflação elevadas subtraem o salários".
Não adianta escrever isso e entrar no terceiro ano repetindo que não é realista levara inflação de volta a 4,5% como fez ontem de novo, reproduzindo o mesmo raciocínio da primeira ata do Copom do governo Dilma. O fato é que nos anos Dilma a inflação ficou mais alta, e o Banco Central aceita que ela se acomode em ponto perto do teto da meta. Os economistas que defendem o governo gostam de lembrar que está havendo choques de por exemplo. Sim, tem havido choques de preços. É por isso que tem que se voltar com a meta para o centro, para que o espaço de flutuação cumpra o seu papel de absorver esses impactos. Se ficar sempre no teto, ou acima, o choque levará para cada vez mais alto o índice de preços. De um relatório a outro, a previsão da inflação do ano pelo Banco Central - cenário de referência - aumentou quase um ponto percentual. Ele registra isso e repete que é devido aos "choques!
Parafraseando João do Vale em Carcará, a inflação é "um bicho que avoa que nem avião" Por isso, é preciso ser contida e quanto mais cedo melhor, porque ela é um predador, como sabemos. Não está fora de controle, mas está alta demais em que qualquer descuido a fará fugir ao controle e subir.
Não adianta muito garantir que a estabilidade é um valor em si para o governo, se nos seus atos - e várias palavras - ele demonstra o oposto. A inflação tem estado constantemente acima do centro da meta, e isso apesar das medidas tomadas de postergação de correções de preços que servem apenas para mascarar o problema.
A pedido da coluna, a analista Adriana Molinari calculou quanto seria a inflação sem alguns dos truques do governo. Em fevereiro, por exemplo, teria sido de 1%, o que elevaria a taxa anual para 7,08%. Um desses truques é postergação de aumentos, como o de ônibus, o outro é o da redução da energia, que todos sabem que será neutralizado em grande parte pelo uso das térmicas. O economista Elson Teles, do Itaú Unibanco, acha que alimento em casa deve estar em 15%, em doze meses, neste mês de março. O país está atravessando um período em que naturalmente alimento pesa muito pela alta dos preços de legumes, verduras e frutas.
Independentemente das explicações localizadas, das altas sazonais, o fato é que a inflação está perigosamente andando no teto da meta e, na prática, poderia já ter estourado. O risco é alto. E quando o governo tem que passar um dia inteiro explicando uma declaração é que ela foi infeliz.

Vacilação - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 29/03

O principal recado que o Banco Central passou ontem por meio do Relatório de Inflação foi o de que, num futuro previsível, desistiu de reconduzir a inflação para o centro da meta.

Desapareceu, de uma vez, até mesmo a expressão, tantas vezes repetida em discursos, entrevistas e documentos anteriores, de que a inflação convergiria para a meta "ainda que de forma não linear".

A inflação vai perigosamente se entrincheirando nas vizinhanças do teto da meta, ou seja, dos 6,5% ao ano. As projeções do próprio Banco Central (veja o gráfico) apontam para uma inflação em 12 meses de 6,5% no final do primeiro trimestre do ano, incluída aí a inflação deste mês de março; e de 6,7% no final do segundo trimestre.

As projeções dos trimestres seguintes vêm algo mais baixas: 6,0%, no final do terceiro trimestre, e 5,7%, no fim de 2013. São números carregados de vontade de que assim sejam do que de convicção estatística. A projeção para o primeiro trimestre provavelmente vai ficar furada já no dia 10 de abril, quando será conhecida a inflação de março. Improvável que uma inflação tão espalhada (alto nível de dispersão), tão resistente e que perfurará o teto dos 6,5% nos dois primeiros trimestres do ano não produza estragos relevantes na expectativa dos mercados e, por si só, não crie forte empuxo em direção a remarcações predatórias de preços.

Não é uma situação que deixa o Banco Central à vontade - ou confortável, para ficar com outra expressão usada por seus dirigentes. Está mais do que claro que é preciso reagir. Mas o Banco Central vacila, provavelmente porque se sente ameaçado pelo discurso enaltecedor de políticas antigas da presidente Dilma, tão traumatizada pelo tamanho dos seus pibinhos que teme colocar em risco a tímida recuperação da atividade econômica.

Ao contrário da presidente, que em Durban (África do Sul) pareceu crer que o combate à inflação compromete o crescimento do PIB, o relatório reafirma que "taxas de inflação elevadas reduzem o potencial de crescimento da economia, bem como de geração de empregos e de renda". Ainda ontem, em entrevista destinada a enfatizar os principais pontos do documento, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, não se sentiu constrangido em voltar a contrariar Dilma, ao dizer que "a inflação baixa e estável é precondição para o crescimento econômico sustentável".

Embora reconheça que a inflação mudou de patamar e que esteja disposto a atacá-la com a alta dos juros, o Banco Central ainda sugere que adotará "cautela". É a senha de que deverá manter os juros básicos no nível atual, de 7,25% ao ano.

Em outras palavras, o Banco Central ainda entende que os juros parados tenham carga magnética suficiente para puxar a inflação para baixo com a ajuda de alguma redução de impostos - como a que foi aplicada sobre a cesta básica.

Do ponto de vista meramente técnico, não deixa de ser posição inconsequente. Se cedo ou tarde a inflação deve ser combatida com redução do volume de dinheiro na economia e se essa terapia leva ao menos seis meses para dar resultado, não é melhor fazer e que tiver de ser feito o quanto antes, e que eventuais erros de mão sejam corrigidos depois?

Dilma só disse na África o que sempre pensou e até já disse - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 29/03

O que a presidente Dilma Rousseff disse na África do Sul sobre inflação e crescimento é rigorosamente o que ela pensa -e faz tempo, pelo menos desde que assumiu, há dois anos e três meses.

Não há, portanto, nenhuma razão nem para polêmica, nem para surpresa, nem para "manipulação", a não ser que a presidente tenha usado essa última palavra para se referir à especulação nos mercados. O lado cassino dos mercados, aliás, é suficientemente forte, para dispensar frases da presidente -felizes ou infelizes- nas apostas.

A primeira mais firme manifestação de Dilma em favor do crescimento se deu, curiosamente, às margens de outra cúpula dos Brics, a de abril de 2011 na China.

O governo mal completara cem dias, mas já estava em dúvida o empenho do Banco Central em trazer a inflação para o centro da meta, 4,5% então como agora.

No Fórum de Boao, considerado "Davos" da Ásia, Dilma reafirmou que são fundamentais "o controle da inflação e a estabilidade fiscal", para depois deixar claro que ambos não são um fim em si mesmo nem valor absoluto.

"Tem quer ter como objetivo criar condições para o crescimento e a inclusão social", disse. Nesse ponto, a presidente afirmou, com outras palavras, o que repetiria em Durban, ao criticar "políticas restritivas tanto nos países emergentes para conter a inflação como nos países avançados para promover a consolidação fiscal".

A presidente fez questão de se dizer favorável "ao controle da inflação e à estabilidade fiscal", desde que o objetivo seja crescimento com inclusão social, que é "questão-chave para todos nós".

Também na China Dilma deu por sepultados "os consensos que se criaram na história recente. Sob a égide do mercado ou do Estado, mostraram-se frágeis como castelos de cartas".

Não receitou, no entanto, um novo consenso, até porque afirmou não buscar "modelos únicos nem tampouco unanimidades". A única receita é fácil de dizer, difícil de descobrir: "O mundo do século 21 requer criatividade".

Vê-se agora que nem Dilma nem o mundo tiveram criatividade suficiente para pôr de pé outro modelo, se está superada, como ela crê, a política de "matar o doente [com juros altos] em vez de curar a doença [a inflação]".

Na vida real, a queda dos juros, praticada por seu governo, foi incapaz até agora de acelerar o crescimento. Pior: a "doença" da inflação parece mais viva e forte.

Mas é injusto dizer que a presidente é leniente com a inflação. Nenhum governante o é, desde que se tornaram famosos dois gráficos que Getúlio Bittencourt, então assessor de imprensa do presidente José Sarney, exibia a todos: a popularidade do presidente apontava para baixo sempre que a inflação embicava para cima e vice-versa.

Como não há político que não adore a popularidade, todos querem a inflação domesticada. Dilma também quer, desde que o crescimento não seja afetado no percurso. Como perpetrar a mágica é a matéria em que o governo está ficando em segunda época.

A lógica perversa na perda de água - WASHINGTON NOVAES

O Estado de S.Paulo - 29/03

O Dia Mundial da Água, 22 de março, motivou a publicação de informações importantes sobre recursos hídricos, em diversos setores e formatos. E isso talvez permita aproximação relacionada diretamente com os interesses de cada cidadão.

Um dos ângulos mais tratados na comunicação foi o das perdas de água nas redes públicas de distribuição no País, avaliadas (Estado, 20/3) em 37,5% do faturamento das empresas operadoras dos serviços. Se houvesse uma redução de 10% nas perdas, seria possível um acréscimo de R$ 1,3 bilhão na receita dessas empresas, calculado sobre os dados de 2010, segundo o Instituto Trata Brasil. Dinheiro do cidadão hoje jogado fora, num momento em que quase 10% da população nacional não recebe água potável, quase 50% não dispõe de redes coletoras de esgotos (23 milhões de domicílios, conforme este jornal em 12/11/2012) e apenas 37,9 % dos esgotos coletados recebem alguma forma de tratamento (Valor, 12/11/2012).

E por que não se muda esse quadro, já que ele implica para os cidadãos dinheiro retirado de seus bolsos, no caso das perdas de água das redes públicas, e uma vez que os 37,5% da água que não chegam, por causa das perdas, às casas, aos escritórios, etc., terão de ser supridos com a construção de novos reservatórios, novas adutoras e novas estações de tratamento? Tudo pago pelos contribuintes, por meio dos impostos.

Um episódio real ajudará a entender. O autor destas linhas foi a uma pequena cidade, onde o prefeito lhe perguntou se o interlocutor não conseguiria ajuda para tornar viável, no governo federal, um empréstimo para implantar uma nova barragem/reservatório, nova adutora e nova estação de tratamento de água para a zona urbana. Quando lhe foi perguntado se sabia quanto se perdia de água (por furos e vazamentos) na rede de distribuição, já bem antiga, ele respondeu que o levantamento da empresa apontava uma perda de 60%. E por que não se fazia um plano de recuperação da rede, o que seria algumas vezes mais barato? A resposta foi imediata: porque nenhum órgão de governo ou banco oficial financiava esse tipo de projeto. Dois anos mais tarde, informou ele que conseguira um financiamento federal para as novas barragem, adutora e estação de tratamento, que estavam quase prontas.

Com esse caminho não se eliminaria o desperdício nas instalações antigas, pagas pelos cidadãos, e estes teriam ainda de arcar com as novas.

E por que é assim? Porque as empreiteiras de obras, que têm enorme influência nas políticas, ditam esse caminho - graças às contribuições que dão para as campanhas eleitorais dos administradores, de que são a maior fonte de recursos (e a outros caminhos). E a elas só interessam obras maiores e menos trabalhosas. Aos administradores interessa exibir suas obras, e não as que estão debaixo da terra. Só há pouco tempo se teve notícia de que um banco oficial estava financiando a recuperação de uma rede subterrânea em Pernambuco - caso único até ali. Mas continuará chegando às cidades desperdiçadoras a caríssima água transposta do Rio São Francisco.

O fato é que, por essas e outras, há Estados onde a média de perda nas redes é superior a 50%. O Distrito Federal é exceção, sem nenhuma perda em sua rede, seguido pelo Paraná (1,35%) e pelo Rio Grande do Sul (3,37%). No Estado de São Paulo a perda apontada (Instituto Trata Brasil) é de 32,55%. Na capital, nos últimos anos as perdas, reduzidas, caíram para 25,6%, o que significou um ganho de R$ 275,8 milhões anuais. O objetivo é chegar a 2019 com perda entre 10% e 15%, mediante investimento de R$ 4,3 bilhões. O Japão perde apenas 3% da água que trata e a Rússia, 20% (Sabesp, 15/3).

Precisamos evoluir muito. De acordo com a Agência Nacional de Águas, mais de 3 mil municípios brasileiros precisam investir, até 2015, nada menos do que R$ 22 bilhões para atenderem às demandas novas e antigas por água. Inclusive para resolver problemas como o do atual despejo de 15 bilhões de litros diários de esgotos sem tratamento nos rios, lagos, mangues e no litoral - a principal causa da poluição. Enquanto isso, 7,2 milhões de pessoas nem sequer dispõem de instalações sanitárias em suas casas (O Globo, 19/3). Eliminar o déficit na área de saneamento exigiria investimento de R$ 157 bilhões até 2030.

Benedito Braga, o brasileiro que preside o Conselho Mundial da Água, diz que em uma década nosso panorama em matéria de água poderá repetir o que acontece hoje no setor de energia. Só 6% das nossas água estão em situação "ótima" e 19% em situação "regular ou péssima". Mas dos R$ 4,33 bilhões previstos de recursos orçamentários em 2012, R$ 3,15 bilhões foram emprestados e apenas R$ 442,6 milhões "liquidados" (Roberto Malvezzi, Rema Atlântico, 5/3). O Plano Nacional de Saneamento Básico precisaria de R$ 426 bilhões em 20 anos. Mas estamos longe desse caminho.

Também no mundo o panorama é inquietante. O volume de água para produção de energia dobrará em 25 anos, segundo a Agência Internacional de Energia. Metade das áreas úmidas no planeta foram perdidas ao longo do século 20, por causa da expansão urbana e do maior uso na agricultura e na indústria.

Mas poderia haver soluções mais amplas por aqui. No ano passado, R$ 2,2 bilhões foram pagos pelo uso de água por empresas geradoras de energia e repassados a 696 municípios, 223 Estados e ao governo federal. Por que esses recursos não são aplicados no setor de saneamento e na oferta de água? Também a criação de consórcios intermunicipais juntando municípios com menos de 20 mil habitantes poderia ser uma solução interessante, como se discutiu no recente Seminário Internacional de Engenharia em Saúde Pública (Agência Brasil, 20/3). O esgoto condominial, já discutido neste espaço, seria uma solução eficaz e barata para essa parte do saneamento.

O que não podemos é continuar sendo regidos, nessa área, pela lógica de empreiteiras e por interesses eleitoreiros.

Inovar é preciso - MOISÉS NAÍM

FOLHA DE SP - 29/03

Precisamos de mudanças revolucionárias que tragam os partidos políticos para dentro do século 21


Quando converso com universitários, frequentemente pergunto quantos deles se juntariam a mim se eu formasse uma organização para salvar uma espécie de borboleta ameaçada de extinção no Haiti.

Algumas mãos sempre se levantam. Então pergunto quantos se juntariam a mim em um dos partidos políticos existentes. Nesse momento, todos correm para a porta.

Pode soar como uma anedota trivial, mas acredito que, na realidade, ela representa uma tendência global com consequências sérias.

Em todo o mundo, as duas últimas décadas vêm sendo desastrosas para os partidos políticos, especialmente em comparação com as ONGs. Hoje, quando se trata de atrair pessoas idealistas e engajadas, os partidos mal têm chance.

Muitos ainda conservam poder substancial, e em alguns países é impossível para novos rivais os desafiarem. Mas, na maioria das democracias, a estrutura partidária tradicional foi posta do avesso e substituída por coalizões rudimentares compostas de partidos velhos e desgastados e organizações políticas mais novas, mas fugazes.

Por que isso tem importância? As democracias baseadas em ONGs que lutam por causas isoladas e em máquinas eleitorais oportunistas são democracias frágeis. E estão proliferando. Para corrigir isso, precisamos de uma onda de inovação política que se compare a outras inovações que transformaram nossas vidas. Inovações recentes mudaram os modos como comemos, lemos, escrevemos, fazemos compras, namoramos, viajamos e nos comunicamos. Tudo o que fazemos foi transformado por novas tecnologias e novas organizações. Tudo, isto é, menos o modo como nos governamos.

Precisamos de inovações igualmente revolucionárias, que rompam padrões e tragam os partidos políticos para o século 21.

Do jeito como as coisas estão, a paralisia política é crescente, e os governos estão cada vez mais incapazes de tomar as decisões necessárias para fazer frente aos problemas de seus países.

Quando o poder se torna tão restrito assim, a estabilidade, a previsibilidade, a segurança e a prosperidade material são prejudicadas.

As "vetocracias" (termo cunhado por Francis Fukuyama) se multiplicam em todo o mundo. São sistemas em que atores em grande número têm poder suficiente para vetar, diluir e adiar decisões, mas nenhum ator isolado possui poder suficiente para fazer uma agenda ser implementada.

Tome-se, por exemplo, a débacle dos cortes obrigatórios no orçamento dos EUA que entraram em vigor em 1º de março. A recusa de uma facção em ceder num pacto orçamentário levou a cortes abrangentes e irracionais que só poderão prejudicar o país.

Ou tome-se a Itália, onde eleições recentes levaram a um impasse parlamentar, fazendo com que seja impossível formar um governo viável. Ou Israel. Ou o Reino Unido.

Para melhorar a eficácia dos governos democráticos, os partidos políticos precisam recuperar a capacidade de inspirar, energizar e mobilizar pessoas

Deus está vivo e bem no Morro do Bumba - FERNANDO GABEIRA

O ESTADO DE S. PAULO - 29/03

Nas reuniões clandestinas dos anos 1960, Vera Silvia Magalhães, brincando, sugeria como agenda: quem somos, onde estamos e para onde vamos? No início desta campanha presidencial, creio que seria razoável abordar esse tema, desde que se desçam, passo a passo, os degraus da abstração.

Na nossa jovem democracia, os governos levam enorme vantagem na partida: arrecadam fortunas dos empresários amigos e gastam fortunas do Tesouro com propaganda sobre realizações e personalidade do governante. As despesas da viagem de Dilma Rousseff a Roma, por exemplo, deveriam ser computadas nos gastos de campanha.

Como candidata montada em milhões de reais, Dilma é um artefato urdido pelo PT, por especialistas em marketing, um cabeleireiro de origem japonesa, cirurgiões plásticos e consultores de estilo. A rigidez dos ombros, o cansaço no andar indicam que está sobrecarregada pela máscara afivelada ao seu corpo. E algumas frases desconexas revelam que gostaria de deixar de fazer sentido, como os garotos que escreveram receita de Miojo ou o hino dos Palmeiras em suas composições no Enem.

Dilma viajou pai a ser fotografada ao lado do papa Francisco e dizer: "O papa é argentino, mas Deus é brasileiro". Nada melhor para uma campanha: posarão lado do papa, brincar com a rivalidade com os argentinos, voltar para Brasília ainda mais popular do que saiu. A opção pelo luxo, na Via Veneto, no momento em que a Igreja fala de humildade não importa. Uma coisa é a Igreja, outra é o governo democrático popular, sem escrúpulos pequeno-burgueses, na verdade, sem escrúpulos de ordem alguma. Não importa que os estrangeiros vejam na sua frase uma certa dificuldade nacional de superar o complexo de inferioridade. Tudo isso é problema para a minoria que não tem peso nos índices de popularidade. O povo está satisfeito, as pesquisas são favoráveis e é assim que se pretende marchar para 2014.

Lula e José Dirceu foram heróis da vitória em 2002. Dirceu hoje trabalha para empresas junto ao governo. Lula viaja prestando serviços às empreiteiras.

Lembram um pouco a desilusão dos jovens rebeldes no filme O Muro, de Alan Parker, inspirado na música de Pink Floyd. Um dos ídolos da rebeldia juvenil aparece no final melancolicamente vestido como porteiro de hotel, chamando táxis, ganhando gorjetas.

Lula fazia discursos contra o amoralismo do capital, a influências das empreiteiras, e aquelas frases de comício: um sonho sonhado junto não é sonho... Confesso que aplaudia e admito uma dose de romantismo incompatível com a minha idade. Muitos ídolos do rock, pelo menos, morreram de overdose. Na esquerda brasileira, passaram a trabalhar para a Delta ou viajar a soldo da Odebrecht. A popularidade do governo intimida e os candidatos de oposição não fazem um contraponto, mas se definem como uma variação melódica.

Ao deixar o luxuoso Hotel Excelsior, em Roma, Dilma afirmou, ante as mortes em Petrópolis, que era preciso tomar medidas mais drásticas para tirar as pessoas das áreas de risco. Levar para onde? Não se construiu uma única casa popular em Petrópolis. No Morro do Bumba, em Niterói, alguns moradores foram transferidos para um quartel da PM depois da tragédia que matou 48 pessoas em 2010. Os 11 prédios do PAC construídos para abrigá-los estão caindo, antes de inaugurados. Há fendas nas paredes e vê-se que os construtores usaram material barato. Cerca de R$ 27 milhões foram para o ralo. Deus está vivo e bem no Morro do Bumba. Se fossem para os novos prédios, a armadilha cairia sobre a cabeça dos desabrigados.

Quem tem boca (no governo) vai a Roma. Depois é preciso dar uma olhada na Serra Fluminense, verter aquelas lágrimas de praxe, no melhor ângulo e na melhor luz, para as inserções na TV. A mãe do PAC deveria visitai- as obras destinadas ao Morro do Bumba com o carinho com que as mães visitam os filhos no presídio, os que deram errado mas nem por isso são esquecidos.

O governo costuma dizer que a oposição mais consistente e a da imprensa. Essa c sua desgraça e sua sorte. O incessante turbilhão das notícias obriga a imprensa a mover-se sem parar para cobrir o que acaba de acontecer. Sobra pouco tempo para retirar esqueletos do armário e voltar aos personagens de nomes bizarros que povoam os escândalos nacionais. A única maneira de quebrar a hegemonia perversa que contribuiu para devastar moralmente o Congresso, estreitar nossa política externa, confinar a economia nos limites do consumismo é fortalecer uma oposição real. Ela não se pode ater ao horizonte de uma só eleição. Precisa trabalhar todos os dias, imediatamente após a contagem dos votos.

Em política não existem eleições ganhas antecipadamente. Mas é preciso não contar com milagres. Mesmo eles só favorecem os que estão de pé, os que cedo madrugam. As pesquisas dizem que a maioria dos brasileiros está contente como governo Dilma. A sensação de bem-estar impulsiona-os a aprovar o governo e ignorar as profundas distorções que impõe ao País.

Não é a primeira nem a última vez que a minoria se coloca contra uma onda de bem-estar fundamentada apenas no aumento do consumo. No passado éramos bombardeados com a inscrição "Brasil, ame-o ou deixe-o". Agora ninguém se importa muito se você ama ou deixa o País.

O mecanismo de dominação é consentido. Nosso universo se contraiu e virou um mercado onde tudo se compra e se vende, secretarias negociam ilhas, ex-presidentes cobram dívidas de empreiteiras e, na terra arrasada do Congresso, o pastor Marco Feliciano posa fazendo uma escova progressiva. Parafraseando Dilma, são necessárias medidas mais drásticas para tirar essa gente de lá.

À única arma à nossa disposição é o voto. A ausência de uma oposição organizada e aguerrida é uma lacuna. Quando há uma base social para a oposição, dizem os historiadores, ela acaba aparecendo dentro do próprio governo. E aparece discreta, suave, como discretos e suaves são os que se lançam agora diante da milionária máquina topa-tudo do PT.