O GLOBO - 29/03
Há dias no centro de acirrado conflito político-ideológico na Comissão dos Direitos Humanos da Câmara, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP), diante de mais uma manifestação de grupos organizados contra sua eleição para presidente da comissão, mandou prender um dos manifestantes.
Mais um motivo para aumentar a pressão de representantes das chamadas minorias contra o deputado, conhecido por defender posições conservadoras e, em alguns casos, condenáveis, como é a homofobia. Feliciano, no entanto, agiu de maneira correta.
A manifestação ultrapassou limites não só da urbanidade, mas da própria lei. Tentativas de agressão e de invasão do ambiente privado do escritório do deputado precisavam, mesmo, ser reprimidas com os instrumentos de que dispõe o Estado para garantir a segurança pública e de qualquer pessoa.
Nas últimas semanas, observa-se uma perigosa tendência de militantes, das mais diversas causas, ultrapassar limites, com o uso da violência em atos públicos. Espera-se que as autoridades, de todas as instâncias administrativas, estejam atentas e passem a agir para desestimular esta escalada de agressividade.
A pressão até física contra a blogueira cubana Yoani Sanchez, em visita ao Brasil, foi demonstração clara da intolerância de grupelhos radicais de organizações de esquerda. A escritora teve de ser protegida por seguranças. Outro avanço de sinal ocorreu na inauguração do Museu de Arte do Rio(MAR), quando Merval Pereira, colunista de O GLOBO, quase foi agredido por uma dessas turbas, e teve o carro atacado, numa reedição tropical da ação de bandos nazifascistas contra judeus, comunistas, ciganos etc. nos tempos de Hitler e Mussolini.
Há um indubitável mau entendimento do que é democracia, regime de liberdades, em que todos têm o direito de expressar opiniões, defender suas visões de mundo, mas com respeito às posições divergentes e aos direitos alheios. Democracia não se confunde com anarquia, anomia, ausência de normas, falta do próprio Estado.
Há pouco, grupo de índios e manifestantes foram desalojados pela Polícia do Museu do Índio, no Rio. Alguns tentaram bloquear a Radial Oeste, uma grande via de ligação entre a Zona Norte e o Centro. Foram devidamente reprimidos. A força policial cumpria determinação da Justiça, e não havia outra alternativa diante da tentativa de paralisar uma avenida estratégica.
Outra coisa não aconteceria se fosse na Quinta Avenida ou na Champs-Elysées, em Nova York e Paris, cidades de duas das mais sólidas democracias do mundo. Completados 25 anos ininterruptos sob a Constituição que restabeleceu o estado de direito democrático, o Brasil já deveria praticar sem desvios a convivência civilizada entre contrários, marca registrada do regime.
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