AS ESTRIPULIAS DOS VAGABUNDOS DO PT
terça-feira, fevereiro 04, 2014
Profissionais e amadores - JOÃO PEREIRA COUTINHO
FOLHA DE SP - 04/02
Como o corpo não é bicho confiável, haverá sempre qualquer dissonância na orquestra para os perturbar
Uma amiga minha, mãe solteira, fez-me um pedido dramático: se ela não sobreviver a um linfoma, estarei disposto a cuidar do filho de oito anos? Caí do céu: pela doença e pela responsabilidade do pedido.
Mas primeiro concentrei-me na doença: que dizem os médicos? Que tratamentos existem? Que perspectivas de cura?
Ela respondeu-me que ainda não sabia. Mas os sintomas --gânglios linfáticos inchados, fadiga extrema, febre persistente etc.-- apontavam para o pior. Ela própria, furando noites e noites de insônias, lera a respeito na internet e até conversara com vários doentes nos fóruns respectivos. Gente com os mesmos sintomas, a mesma doença, os mesmos terrores futuros.
Voltei a cair do céu. E, antes de aconselhar ajuda psiquiátrica, perguntei com medo: e que tal esquecer a internet e consultar um médico verdadeiro? Um daqueles personagens que fazem exames e avaliam resultados com base na "ciência" e na "experiência"?
E foi assim que o linfoma se transformou num caso tratável de mononucleose infecciosa. E foi assim que a promessa de quimioterapia, ou radioterapia, ou ambas, se transformou em simples repouso. E foi assim que eu conheci os "cibercondríacos", uma nova forma de hipocondria que a internet promoveu e disseminou.
Quando li pela primeira vez a respeito, confesso que não comprei o diagnóstico: os "cibercondríacos" são hipocondríacos que usam a internet para pesquisarem todas as doenças que existem no cardápio?
Estranho. Sei do que falo. Sou um hipocondríaco profissional há 37 anos. E qualquer hipocondríaco profissional sabe que só existe uma coisa pior do que as doenças; é a informação sobre elas.
Porque um hipocondríaco profissional é um camaleão natural: se ele ler literatura médica com regularidade, ele pode ter câncer à segunda-feira, esclerose à terça, insuficiência renal à quarta e princípios de Alzheimer à quinta. Ou talvez à sexta, já não sei bem.
É a ignorância que protege o hipocondríaco profissional, não o conhecimento. Qualquer hipocondríaco profissional, quando compra um novo remédio, sabe que a primeira coisa a jogar fora é a bula do medicamento. Cometer a imprudência de a ler é começar a sentir todos os efeitos adversos --da simples coceira às crises psicóticas-- o que por vezes agrava a doença real que se procura tratar.
Os "cibercondríacos" não passam de amadores que só dão mau nome ao fascinante mundo da hipocondria. Mas o pior é que o futuro será deles.
A revista "The Economist" dedicou uma matéria extensa aos futuros "gadgets" que prometem revolucionar a medicina. Falo de brinquedos para usar no pulso, no peito, até nos olhos e que servem para medir a pressão sanguínea, o batimento cardíaco, os níveis de glicose nas lágrimas. De preferência, várias vezes ao dia, como quem toma um cafezinho ou fuma cigarro na pausa do trabalho.
Depois, os dados são enviados para o celular e o celular encaminha os ditos cujos para o médico especialista.
Os Estados Unidos estão na vanguarda do investimento e a "Economist", aplaudindo os avanços, pergunta se eles não irão soterrar os profissionais de saúde com quantidades avassaladoras de informação. Não apenas de doentes comprovados, mas de hipocondríacos amadores.
A revista não precisa sequer perguntar. Com o declínio das religiões tradicionais no Ocidente e o fim de qualquer possibilidade de transcendência, tudo que resta aos homens modernos é a tirania da imanência: os seus corpos, as suas patéticas carcaças --e o medo permanente de que a Deusa Saúde, a única que resistiu no Panteão, os possa atraiçoar a qualquer momento.
Por isso imagino esses hipocondríacos amadores, com brinquedos no pulso, no peito ou nos olhos, em vigilância permanente, medindo o comportamento do corpo com paranoica obsessão.
Qualquer sinal de alarme será uma nova preocupação, um novo temor, um novo terror. E como o corpo não é bicho confiável, haverá sempre qualquer dissonância na orquestra para os perturbar, entristecer, angustiar.
Nós, os hipocondríacos profissionais, renunciamos a esses brinquedos como um ex-alcoólatra recusa a mais inocente das cervejas.
Mas o futuro é dos amadores: gente tão preocupada em ser saudável que passará pela vida na perpétua condição de doentes.
Como o corpo não é bicho confiável, haverá sempre qualquer dissonância na orquestra para os perturbar
Uma amiga minha, mãe solteira, fez-me um pedido dramático: se ela não sobreviver a um linfoma, estarei disposto a cuidar do filho de oito anos? Caí do céu: pela doença e pela responsabilidade do pedido.
Mas primeiro concentrei-me na doença: que dizem os médicos? Que tratamentos existem? Que perspectivas de cura?
Ela respondeu-me que ainda não sabia. Mas os sintomas --gânglios linfáticos inchados, fadiga extrema, febre persistente etc.-- apontavam para o pior. Ela própria, furando noites e noites de insônias, lera a respeito na internet e até conversara com vários doentes nos fóruns respectivos. Gente com os mesmos sintomas, a mesma doença, os mesmos terrores futuros.
Voltei a cair do céu. E, antes de aconselhar ajuda psiquiátrica, perguntei com medo: e que tal esquecer a internet e consultar um médico verdadeiro? Um daqueles personagens que fazem exames e avaliam resultados com base na "ciência" e na "experiência"?
E foi assim que o linfoma se transformou num caso tratável de mononucleose infecciosa. E foi assim que a promessa de quimioterapia, ou radioterapia, ou ambas, se transformou em simples repouso. E foi assim que eu conheci os "cibercondríacos", uma nova forma de hipocondria que a internet promoveu e disseminou.
Quando li pela primeira vez a respeito, confesso que não comprei o diagnóstico: os "cibercondríacos" são hipocondríacos que usam a internet para pesquisarem todas as doenças que existem no cardápio?
Estranho. Sei do que falo. Sou um hipocondríaco profissional há 37 anos. E qualquer hipocondríaco profissional sabe que só existe uma coisa pior do que as doenças; é a informação sobre elas.
Porque um hipocondríaco profissional é um camaleão natural: se ele ler literatura médica com regularidade, ele pode ter câncer à segunda-feira, esclerose à terça, insuficiência renal à quarta e princípios de Alzheimer à quinta. Ou talvez à sexta, já não sei bem.
É a ignorância que protege o hipocondríaco profissional, não o conhecimento. Qualquer hipocondríaco profissional, quando compra um novo remédio, sabe que a primeira coisa a jogar fora é a bula do medicamento. Cometer a imprudência de a ler é começar a sentir todos os efeitos adversos --da simples coceira às crises psicóticas-- o que por vezes agrava a doença real que se procura tratar.
Os "cibercondríacos" não passam de amadores que só dão mau nome ao fascinante mundo da hipocondria. Mas o pior é que o futuro será deles.
A revista "The Economist" dedicou uma matéria extensa aos futuros "gadgets" que prometem revolucionar a medicina. Falo de brinquedos para usar no pulso, no peito, até nos olhos e que servem para medir a pressão sanguínea, o batimento cardíaco, os níveis de glicose nas lágrimas. De preferência, várias vezes ao dia, como quem toma um cafezinho ou fuma cigarro na pausa do trabalho.
Depois, os dados são enviados para o celular e o celular encaminha os ditos cujos para o médico especialista.
Os Estados Unidos estão na vanguarda do investimento e a "Economist", aplaudindo os avanços, pergunta se eles não irão soterrar os profissionais de saúde com quantidades avassaladoras de informação. Não apenas de doentes comprovados, mas de hipocondríacos amadores.
A revista não precisa sequer perguntar. Com o declínio das religiões tradicionais no Ocidente e o fim de qualquer possibilidade de transcendência, tudo que resta aos homens modernos é a tirania da imanência: os seus corpos, as suas patéticas carcaças --e o medo permanente de que a Deusa Saúde, a única que resistiu no Panteão, os possa atraiçoar a qualquer momento.
Por isso imagino esses hipocondríacos amadores, com brinquedos no pulso, no peito ou nos olhos, em vigilância permanente, medindo o comportamento do corpo com paranoica obsessão.
Qualquer sinal de alarme será uma nova preocupação, um novo temor, um novo terror. E como o corpo não é bicho confiável, haverá sempre qualquer dissonância na orquestra para os perturbar, entristecer, angustiar.
Nós, os hipocondríacos profissionais, renunciamos a esses brinquedos como um ex-alcoólatra recusa a mais inocente das cervejas.
Mas o futuro é dos amadores: gente tão preocupada em ser saudável que passará pela vida na perpétua condição de doentes.
Um ministério com mais Lula e PT - RAYMUNDO COSTA
Valor Econômico - 04/02
É menor a margem de manobra da presidente
A presidente Dilma Rousseff é candidata favorita à reeleição, mas seu espaço para experimentos no governo acabou. Dilma perdeu margem de manobra entre a formação do primeiro ministério e o gabinete que começou a tomar forma ontem, com a posse de quatro novos ministros - Aloizio Mercadante (Casa Civil), José Henrique Paim (Educação), Arthur Chioro (Saúde) e Thomas Traumann (Secretaria de Comunicação Social da Presidência).
Apesar da sombra do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu principal eleitor, Dilma fez as escolhas que quis no início de seu governo. Algumas foram tácitas, como Antonio Palocci para a Casa Civil da Presidência. Nem precisava, mas Dilma consultou Lula. O ex-presidente respondeu como responderia em todos os casos em que foi consultado: a escolha dos ministros era atribuição da presidente eleita. Havia a intenção clara de passar a imagem de independência da presidente em relação a seu criador.
Mas assim como houve Palocci, que tinha a inteira concordância de Lula para o cargo, houve também casos como o do ex-deputado José Eduardo Cardozo (Justiça). Se dependesse de Lula, Cardozo dificilmente seria ministro de um governo do PT. Idiossincrasias petistas. No entanto, Dilma bancou sua nomeação para o cargo.
O espaço para experimentos apareceu quando Palocci teve de deixar o governo: a presidente ignorou solenemente o PT e levou para seu lugar, na Casa Civil, uma senadora de carreira promissora mas ainda em seu primeiro mandato: Gleisi Hoffmann, que agora deixa o cargo para disputar o governo do Paraná contra o PSDB.
Palocci saiu em junho de 2011. Logo depois a presidente teve de entregar a cabeça de outro ministro palaciano, Luiz Sérgio (Secretaria de Relações Institucionais), encarregado da coordenação política do governo.
Novamente Dilma passou por cima do que pedia o PT, especialmente a bancada da Câmara, e impôs o nome de Ideli Salvatti para a Secretaria de Relações Institucionais (SRI). No Senado, Ideli ganhou pontos com o Palácio do Planalto devido à firme defesa que fazia do governo, não importava a circunstância. Ganhou fama de parlamentar leal, mas de pouco trânsito entre os colegas e sobretudo entre os deputados.
Gleisi deu uma feição mais técnica à Casa Civil. Demorou, mas entregou projetos como o de concessões de aeroportos e ferrovias. Irritou muito ministro com suas cobranças matinais. Ideli, espécie de unanimidade contra, pode dizer que aprovou tudo o que de fato interessava ao governo, como a lei de portos e o pacto dos partidos aliados para evitar que o Congresso aprovasse medidas com impacto fiscal, no fim do ano passado. Isso, se efetivamente deixar o governo, pois pode ganhar uma sobrevida, sobretudo se acertar os ponteiros com Mercadante - ela tem dificuldades para viabilizar sua candidatura ao Senado, em Santa Catarina.
A mudança mais importante da reforma ministerial, até o momento, é a nomeação de Aloizio Mercadante para a Casa Civil. A presidente tinha a possibilidade de fazer escolhas pessoais. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, por exemplo, é seu amigo desde os tempos da guerrilha. O chefe de gabinete, Giles Azevedo, ficou muito próximo da presidente. Outra opção técnica seria Carlos Gabas, secretário-executivo do Ministério da Previdência.
Pimentel, no entanto, é candidato competitivo do PT ao governo de Minas Gerais. Gabas, os olhos e ouvidos do governo no Ministério da Previdência, comandado pelo PMDB. Giles terá papel importante na campanha da reeleição, seja no comitê ou no Palácio do Planalto.
Desde que a substituição dos ministros começou a ser discutida, o PT sinaliza a vontade de ter alguém com um perfil mais político na Casa Civil. O ex-senador Aloizio Mercadante era o nome mais qualificado e próximo da presidente com esse perfil. O problema é que Mercadante tinha - e ainda tem - dificuldades no PT.
Dilma o escolheu assim mesmo, mas precisou recorrer à ajuda de Lula a fim de aparar as arestas de seu preferido no partido. Nesse processo, Mercadante teve de assumir compromissos. O chefe da Casa Civil envolve-se em todas as discussões de governo, inclusive de política econômica, e é o ministro mais próximo da presidente da República. O que faz ou fala inevitavelmente é interpretado como vontade da presidente. Há uma risca de giz que Mercadante não deve passar, a não ser com expressa autorização de Dilma. Mesmo com ceticismos, mas ganhou o aval do PT.
Dilma tinha 27 secretários de Saúde estaduais e do Distrito Federal, além de 26 secretários das capitais entre os quais poderia escolher o novo ministro da Saúde. Noves fora os secretários de governos dos partidos da oposição, ainda assim certamente teria à disposição nomes com mais experiência e reconhecimento que o secretário da Saúde de São Bernardo do Campo. Mas foi no berço político de Lula que ela foi buscar o novo ministro da Saúde, Arthur Chioro.
Circula em Brasília a informação segundo a qual a presidente ficou bem impressionada com Chioro, numa viagem que fez a São Bernardo para inaugurar uma unidade de Saúde. Na volta, Dilma teria feito perguntas e comentários sobre o secretário ao ministro Alexandre Padilha, que deixa o cargo para disputar o governo de São Paulo. Padilha gostaria de deixar no cargo seu secretário-executivo, mas teria entendido, na conversa, que seu substituto seria Chioro.
Paim é a continuidade na Educação - era o segundo desde o governo Lula. O novo ministro da Secretaria de Comunicação Social, Thomas Traumann, já estava no Palácio do Planalto, na função de porta-voz da presidente da República. É uma herança da época de Palocci na Casa Civil (era seu assessor de imprensa). Para substituir a ministra Helena Chagas, contou com o apoio do ex-ministro Franklin Martins. Deve afinar o discurso do governo com a campanha. Ou seja, mais contundência na defesa dos pontos de vista do Palácio do Planalto.
Apesar da sombra do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu principal eleitor, Dilma fez as escolhas que quis no início de seu governo. Algumas foram tácitas, como Antonio Palocci para a Casa Civil da Presidência. Nem precisava, mas Dilma consultou Lula. O ex-presidente respondeu como responderia em todos os casos em que foi consultado: a escolha dos ministros era atribuição da presidente eleita. Havia a intenção clara de passar a imagem de independência da presidente em relação a seu criador.
Mas assim como houve Palocci, que tinha a inteira concordância de Lula para o cargo, houve também casos como o do ex-deputado José Eduardo Cardozo (Justiça). Se dependesse de Lula, Cardozo dificilmente seria ministro de um governo do PT. Idiossincrasias petistas. No entanto, Dilma bancou sua nomeação para o cargo.
O espaço para experimentos apareceu quando Palocci teve de deixar o governo: a presidente ignorou solenemente o PT e levou para seu lugar, na Casa Civil, uma senadora de carreira promissora mas ainda em seu primeiro mandato: Gleisi Hoffmann, que agora deixa o cargo para disputar o governo do Paraná contra o PSDB.
Palocci saiu em junho de 2011. Logo depois a presidente teve de entregar a cabeça de outro ministro palaciano, Luiz Sérgio (Secretaria de Relações Institucionais), encarregado da coordenação política do governo.
Novamente Dilma passou por cima do que pedia o PT, especialmente a bancada da Câmara, e impôs o nome de Ideli Salvatti para a Secretaria de Relações Institucionais (SRI). No Senado, Ideli ganhou pontos com o Palácio do Planalto devido à firme defesa que fazia do governo, não importava a circunstância. Ganhou fama de parlamentar leal, mas de pouco trânsito entre os colegas e sobretudo entre os deputados.
Gleisi deu uma feição mais técnica à Casa Civil. Demorou, mas entregou projetos como o de concessões de aeroportos e ferrovias. Irritou muito ministro com suas cobranças matinais. Ideli, espécie de unanimidade contra, pode dizer que aprovou tudo o que de fato interessava ao governo, como a lei de portos e o pacto dos partidos aliados para evitar que o Congresso aprovasse medidas com impacto fiscal, no fim do ano passado. Isso, se efetivamente deixar o governo, pois pode ganhar uma sobrevida, sobretudo se acertar os ponteiros com Mercadante - ela tem dificuldades para viabilizar sua candidatura ao Senado, em Santa Catarina.
A mudança mais importante da reforma ministerial, até o momento, é a nomeação de Aloizio Mercadante para a Casa Civil. A presidente tinha a possibilidade de fazer escolhas pessoais. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, por exemplo, é seu amigo desde os tempos da guerrilha. O chefe de gabinete, Giles Azevedo, ficou muito próximo da presidente. Outra opção técnica seria Carlos Gabas, secretário-executivo do Ministério da Previdência.
Pimentel, no entanto, é candidato competitivo do PT ao governo de Minas Gerais. Gabas, os olhos e ouvidos do governo no Ministério da Previdência, comandado pelo PMDB. Giles terá papel importante na campanha da reeleição, seja no comitê ou no Palácio do Planalto.
Desde que a substituição dos ministros começou a ser discutida, o PT sinaliza a vontade de ter alguém com um perfil mais político na Casa Civil. O ex-senador Aloizio Mercadante era o nome mais qualificado e próximo da presidente com esse perfil. O problema é que Mercadante tinha - e ainda tem - dificuldades no PT.
Dilma o escolheu assim mesmo, mas precisou recorrer à ajuda de Lula a fim de aparar as arestas de seu preferido no partido. Nesse processo, Mercadante teve de assumir compromissos. O chefe da Casa Civil envolve-se em todas as discussões de governo, inclusive de política econômica, e é o ministro mais próximo da presidente da República. O que faz ou fala inevitavelmente é interpretado como vontade da presidente. Há uma risca de giz que Mercadante não deve passar, a não ser com expressa autorização de Dilma. Mesmo com ceticismos, mas ganhou o aval do PT.
Dilma tinha 27 secretários de Saúde estaduais e do Distrito Federal, além de 26 secretários das capitais entre os quais poderia escolher o novo ministro da Saúde. Noves fora os secretários de governos dos partidos da oposição, ainda assim certamente teria à disposição nomes com mais experiência e reconhecimento que o secretário da Saúde de São Bernardo do Campo. Mas foi no berço político de Lula que ela foi buscar o novo ministro da Saúde, Arthur Chioro.
Circula em Brasília a informação segundo a qual a presidente ficou bem impressionada com Chioro, numa viagem que fez a São Bernardo para inaugurar uma unidade de Saúde. Na volta, Dilma teria feito perguntas e comentários sobre o secretário ao ministro Alexandre Padilha, que deixa o cargo para disputar o governo de São Paulo. Padilha gostaria de deixar no cargo seu secretário-executivo, mas teria entendido, na conversa, que seu substituto seria Chioro.
Paim é a continuidade na Educação - era o segundo desde o governo Lula. O novo ministro da Secretaria de Comunicação Social, Thomas Traumann, já estava no Palácio do Planalto, na função de porta-voz da presidente da República. É uma herança da época de Palocci na Casa Civil (era seu assessor de imprensa). Para substituir a ministra Helena Chagas, contou com o apoio do ex-ministro Franklin Martins. Deve afinar o discurso do governo com a campanha. Ou seja, mais contundência na defesa dos pontos de vista do Palácio do Planalto.
O beijo gay - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 04/02
SÃO PAULO - Saiu, enfim, o tal do beijo gay na novela da Globo. Não creio que haja muito motivo para comemorar. A TV, como a cavalaria, é sempre a última a chegar. Se a cena foi veiculada no horário nobre, é porque a maioria da sociedade já não considera tal ato obsceno ou escandaloso. Pelo menos não muito.
Vejo com ceticismo, assim, os vaticínios dos que afirmam que o beijo televisado contribuirá para reduzir a homofobia no país. Tal efeito, se de fato passa de uma fantasia, apenas soma um grãozinho a um movimento mais amplo de aceitação que já está em curso há muito tempo e não tem data para acabar.
Nesse quesito, aliás, nós brasileiros não nos saímos tão mal. Embora carreguemos a cruz de ter sido o último país ocidental a abolir a escravidão, estamos entre os primeiros a revogar as leis que puniam o homossexualismo. Por aqui, a sodomia deixou de ser um ilícito em 1830, quando o Código Criminal do Império substituiu as Ordenações Filipinas, que determinavam que os homossexuais fossem queimados vivos e "feitos per fogo em pó, para que nunca de seu corpo e sepultura possa haver memoria, e todos os seus bens sejam confiscados para a Corôa de nossos Reinos".
A título de comparação, nas avançadas Suécia e Inglaterra, a prática só deixou de ser crime em 1944 e em 1967, respectivamente. Nos EUA, as leis contra a sodomia só foram plenamente revogadas em 2003 --e por decisão da Suprema Corte, não dos corpos legislativos estaduais.
Voltando ao beijo, houve, é claro, quem não gostasse. Como em qualquer distribuição normal, existe uma franja de gente mais conservadora que ainda chia diante desse tipo de imagem, mas esse é um grupo cuja importância política e demográfica é decrescente. De todo modo, eles têm à sua disposição o indefectível controle remoto. Se não gostam do que veem, são perfeitamente livres para mudar de canal ou até desligar a TV.
SÃO PAULO - Saiu, enfim, o tal do beijo gay na novela da Globo. Não creio que haja muito motivo para comemorar. A TV, como a cavalaria, é sempre a última a chegar. Se a cena foi veiculada no horário nobre, é porque a maioria da sociedade já não considera tal ato obsceno ou escandaloso. Pelo menos não muito.
Vejo com ceticismo, assim, os vaticínios dos que afirmam que o beijo televisado contribuirá para reduzir a homofobia no país. Tal efeito, se de fato passa de uma fantasia, apenas soma um grãozinho a um movimento mais amplo de aceitação que já está em curso há muito tempo e não tem data para acabar.
Nesse quesito, aliás, nós brasileiros não nos saímos tão mal. Embora carreguemos a cruz de ter sido o último país ocidental a abolir a escravidão, estamos entre os primeiros a revogar as leis que puniam o homossexualismo. Por aqui, a sodomia deixou de ser um ilícito em 1830, quando o Código Criminal do Império substituiu as Ordenações Filipinas, que determinavam que os homossexuais fossem queimados vivos e "feitos per fogo em pó, para que nunca de seu corpo e sepultura possa haver memoria, e todos os seus bens sejam confiscados para a Corôa de nossos Reinos".
A título de comparação, nas avançadas Suécia e Inglaterra, a prática só deixou de ser crime em 1944 e em 1967, respectivamente. Nos EUA, as leis contra a sodomia só foram plenamente revogadas em 2003 --e por decisão da Suprema Corte, não dos corpos legislativos estaduais.
Voltando ao beijo, houve, é claro, quem não gostasse. Como em qualquer distribuição normal, existe uma franja de gente mais conservadora que ainda chia diante desse tipo de imagem, mas esse é um grupo cuja importância política e demográfica é decrescente. De todo modo, eles têm à sua disposição o indefectível controle remoto. Se não gostam do que veem, são perfeitamente livres para mudar de canal ou até desligar a TV.
GPS do Corinthians: evite Ponte! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 04/02
E o Ceni poderia ter se aposentado sem levar um gol do Valdivia. O cara joga de dez em dez anos e faz gol
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Sensação térmica: brigadeiro derretido! Sensação térmica: Quero Morrer. Quero Ficar Pelado!
E uma amiga botou a placa na porta da casa: "Aceita-se Piscina-se!". E eu tenho a foto dum relógio de rua anunciando a temperatura no Rio: FUDEX! Rarará!
E o Mercadante parece Marido de Aluguel: foi ministro da Ciência, ministro da Educação, agora Casa Civil, conserta torneira vazando, troca lâmpada e limpa caixa d'água! Rarará!
E essa Piada Pronta: "Brasil presidirá Comissão pela Construção da Paz da ONU". Pela Roseana Sarney. Em Pedrinhas. Direto de Pedrinhas! Eu sei quem vai presidir a Comissão de Paz da ONU: a PM de São Paulo! Rarará!
Aliás, a PM tá precisando fazer análise. "Uma hora é pra impedir acesso de manifestantes, outra é pra deixar as depredações rolarem", diz PM de São Paulo. Vão ter que fazer terapia: uma hora é pra bater, outra hora é pra não bater e outra hora é pra sumir!
E a maior alegria do mundo é zoar com o Corinthians! Errar é o Mano e perder tudo é corintiano! Perdeu pra Ponte Preta! Caiu da Ponte. Diz que o melhor lugar pra comer um gambá é embaixo da ponte. E o GPS de corintiano: Evite a Ponte!
E aquela invasão no CT do Corinthians não foi rolezinho, foi arrastão mesmo!
E o site Futirinhas: "Corintiano preso em Oruro se envolve em terceira confusão e pede música no Fantástico'".
E o meu São Paulo? O Ceni poderia ter se aposentado sem essa: levar um gol do Valdivia! Do Valdivia? O cara joga de dez em dez anos e faz um gol no Ceni. E aí o Ceni quis passar uma rasteira no Valdivia. E errou. Errou na rasteira. Rarará.
E outro do Alan Kardec: gol espírita! Gol do além! Rarará! E já tão dizendo que o São Paulo perdeu porque o Niko e o Félix estão em lua de mel. Essa foi péssima! Pior que levar gol do Valdivia! Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
Os Predestinados! Um amigo meu queria castrar o gato e achou essa aqui: "Especialista em castração de cães e gatos: dra. PAO KAY". Do Pet Shop Amigo! Muy Amigo! Rarará! E essa: "Laboratório Itapoá de Análises Clínicas: dr. Reinaldo BEXIGA!" Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
E o Ceni poderia ter se aposentado sem levar um gol do Valdivia. O cara joga de dez em dez anos e faz gol
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Sensação térmica: brigadeiro derretido! Sensação térmica: Quero Morrer. Quero Ficar Pelado!
E uma amiga botou a placa na porta da casa: "Aceita-se Piscina-se!". E eu tenho a foto dum relógio de rua anunciando a temperatura no Rio: FUDEX! Rarará!
E o Mercadante parece Marido de Aluguel: foi ministro da Ciência, ministro da Educação, agora Casa Civil, conserta torneira vazando, troca lâmpada e limpa caixa d'água! Rarará!
E essa Piada Pronta: "Brasil presidirá Comissão pela Construção da Paz da ONU". Pela Roseana Sarney. Em Pedrinhas. Direto de Pedrinhas! Eu sei quem vai presidir a Comissão de Paz da ONU: a PM de São Paulo! Rarará!
Aliás, a PM tá precisando fazer análise. "Uma hora é pra impedir acesso de manifestantes, outra é pra deixar as depredações rolarem", diz PM de São Paulo. Vão ter que fazer terapia: uma hora é pra bater, outra hora é pra não bater e outra hora é pra sumir!
E a maior alegria do mundo é zoar com o Corinthians! Errar é o Mano e perder tudo é corintiano! Perdeu pra Ponte Preta! Caiu da Ponte. Diz que o melhor lugar pra comer um gambá é embaixo da ponte. E o GPS de corintiano: Evite a Ponte!
E aquela invasão no CT do Corinthians não foi rolezinho, foi arrastão mesmo!
E o site Futirinhas: "Corintiano preso em Oruro se envolve em terceira confusão e pede música no Fantástico'".
E o meu São Paulo? O Ceni poderia ter se aposentado sem essa: levar um gol do Valdivia! Do Valdivia? O cara joga de dez em dez anos e faz um gol no Ceni. E aí o Ceni quis passar uma rasteira no Valdivia. E errou. Errou na rasteira. Rarará.
E outro do Alan Kardec: gol espírita! Gol do além! Rarará! E já tão dizendo que o São Paulo perdeu porque o Niko e o Félix estão em lua de mel. Essa foi péssima! Pior que levar gol do Valdivia! Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
Os Predestinados! Um amigo meu queria castrar o gato e achou essa aqui: "Especialista em castração de cães e gatos: dra. PAO KAY". Do Pet Shop Amigo! Muy Amigo! Rarará! E essa: "Laboratório Itapoá de Análises Clínicas: dr. Reinaldo BEXIGA!" Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
San José e o chavismo light - MAC MARGOLIS
O Estado de S.Paulo - 04/02
Os políticos bradam, mas são as urnas que têm a última palavra. Muitas vezes para surpresa geral. Foi assim no domingo, na Costa Rica, onde quatro candidatos disputaram com chance real a cadeira da presidente Laura Chinchilla. Todos previram uma surra. Ou, quem sabe, uma revolução, com tintas bolivarianas.
Os mais exaltados já imaginavam revoadas de funcionár5ios venezuelanos e cubanos sobre San José, com delegações iranianas a tiracolo. "Chavismo 2.0", advertia Federico Delgado, ex-conselheiro das Nações Unidas, em tom de espanto.
Contados os votos, deu-se a frustração. Quem levou o melhor foi Luís Guillermo Solís, um historiador de centro-esquerda, com 30,95% dos votos, 1 ponto à frente de Johnny Araya, do Partido da Libertação Nacional, do governo. Até aí, ninguém estranhou.
Primeira mulher a presidir o país centro-americano, Laura Chinchilla conduziu bem a economia, mas perdeu a batalha da simpatia. Encerra seu mandato com o aplauso de apenas 9% e a reprovação de 60%, a pior avaliação dos últimos 20 anos.
O desdém respingou no candidato governista, Araya, que passou a campanha na defensiva.
Pudera. De nada adiantou a economia robusta, que cresce a 4,7% ao ano desde 1987, e a abertura agressiva de mercados que o governo Chinchilla promoveu. Ela quis converter a Costa Rica, modelo da democracia na região, também em plataforma de negócios para o istmo americano. Falaram mais alto seus descaminhos.
Em viagem pessoal ao Peru, pegou carona em um avião cujo dono é suspeito de ligações com o tráfico de drogas. Foi forçada a demitir um diretor de estatal que entregou uma refinaria de petróleo a um grupo chinês, com base em um relatório de impacto ambiental assinado por sócios do mesmo grupo.
Em vez de melhorar o ambiente de negócios, seus incentivos acabaram premiando alguns interesses obscuros, levando polêmica à campanha. Com toda sua reputação de reformista, Chinchilla pouco fez para amenizar a pobreza. Apesar de ter dezenas de programas sociais, a Costa Rica é um de três países na América Latina onde a desigualdade entre ricos e pobres aumentou na última década, segundo Juan Carlos Hidalgo, analista político do Instituto Cato.
Aposta. Um ambiente perfeito para uma guinada radical, cantavam os observadores mais entusiasmados. Melhor para José María Villalta, deputado da Frente Ampla, da esquerda dura. Ao longo da campanha, o socialista liderou as pesquisas. Com seu libelo contra o "neoliberalismo" e promessas de taxar os ricos, nacionalizar indústrias e redistribuir terras, o novato político sacudiu o país, cansado de décadas da mesmice bipartidária. Até o forte compromisso costa-riquenho com a democracia ficou abalado, segundo uma sondagem da Universidade de Vanderbilt.
Militantes de esquerda o viram como redentor. Partidários do centrista Araya, ex-prefeito de San José, tacharam-no de chavista, com verniz reformador. Já os eleitores foram mais ponderados. De líder absoluto nas pesquisas, Villalta ficou num distante terceiro lugar, com 17%. O despenho foi decepcionante, mas longe de uma derrota. A Frente Ampla pode dilatar sua bancada de um deputado (ele mesmo) para 10 dos 57 assentos do Congresso. Seu eventual apoio a Solís pode ser o fiel da balança no segundo turno, em abril, levando um governo de centro-esquerda ao palácio.
Sairá Chinchilla, a líder reformista que desmoralizou a moderação. Mas daí para a órbita bolivariana há um salto quântico. Bem maior que os ponderados "ticos" parecem prontos a dar.
Os políticos bradam, mas são as urnas que têm a última palavra. Muitas vezes para surpresa geral. Foi assim no domingo, na Costa Rica, onde quatro candidatos disputaram com chance real a cadeira da presidente Laura Chinchilla. Todos previram uma surra. Ou, quem sabe, uma revolução, com tintas bolivarianas.
Os mais exaltados já imaginavam revoadas de funcionár5ios venezuelanos e cubanos sobre San José, com delegações iranianas a tiracolo. "Chavismo 2.0", advertia Federico Delgado, ex-conselheiro das Nações Unidas, em tom de espanto.
Contados os votos, deu-se a frustração. Quem levou o melhor foi Luís Guillermo Solís, um historiador de centro-esquerda, com 30,95% dos votos, 1 ponto à frente de Johnny Araya, do Partido da Libertação Nacional, do governo. Até aí, ninguém estranhou.
Primeira mulher a presidir o país centro-americano, Laura Chinchilla conduziu bem a economia, mas perdeu a batalha da simpatia. Encerra seu mandato com o aplauso de apenas 9% e a reprovação de 60%, a pior avaliação dos últimos 20 anos.
O desdém respingou no candidato governista, Araya, que passou a campanha na defensiva.
Pudera. De nada adiantou a economia robusta, que cresce a 4,7% ao ano desde 1987, e a abertura agressiva de mercados que o governo Chinchilla promoveu. Ela quis converter a Costa Rica, modelo da democracia na região, também em plataforma de negócios para o istmo americano. Falaram mais alto seus descaminhos.
Em viagem pessoal ao Peru, pegou carona em um avião cujo dono é suspeito de ligações com o tráfico de drogas. Foi forçada a demitir um diretor de estatal que entregou uma refinaria de petróleo a um grupo chinês, com base em um relatório de impacto ambiental assinado por sócios do mesmo grupo.
Em vez de melhorar o ambiente de negócios, seus incentivos acabaram premiando alguns interesses obscuros, levando polêmica à campanha. Com toda sua reputação de reformista, Chinchilla pouco fez para amenizar a pobreza. Apesar de ter dezenas de programas sociais, a Costa Rica é um de três países na América Latina onde a desigualdade entre ricos e pobres aumentou na última década, segundo Juan Carlos Hidalgo, analista político do Instituto Cato.
Aposta. Um ambiente perfeito para uma guinada radical, cantavam os observadores mais entusiasmados. Melhor para José María Villalta, deputado da Frente Ampla, da esquerda dura. Ao longo da campanha, o socialista liderou as pesquisas. Com seu libelo contra o "neoliberalismo" e promessas de taxar os ricos, nacionalizar indústrias e redistribuir terras, o novato político sacudiu o país, cansado de décadas da mesmice bipartidária. Até o forte compromisso costa-riquenho com a democracia ficou abalado, segundo uma sondagem da Universidade de Vanderbilt.
Militantes de esquerda o viram como redentor. Partidários do centrista Araya, ex-prefeito de San José, tacharam-no de chavista, com verniz reformador. Já os eleitores foram mais ponderados. De líder absoluto nas pesquisas, Villalta ficou num distante terceiro lugar, com 17%. O despenho foi decepcionante, mas longe de uma derrota. A Frente Ampla pode dilatar sua bancada de um deputado (ele mesmo) para 10 dos 57 assentos do Congresso. Seu eventual apoio a Solís pode ser o fiel da balança no segundo turno, em abril, levando um governo de centro-esquerda ao palácio.
Sairá Chinchilla, a líder reformista que desmoralizou a moderação. Mas daí para a órbita bolivariana há um salto quântico. Bem maior que os ponderados "ticos" parecem prontos a dar.
As falhas de Maduro - NICK MIROFF
O Estado de S.Paulo - 04/02
No corredor n.º 7, entre fraldas e amaciantes, os sonhos socialistas do ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, pareciam tão desfeitos quanto o monte de papel higiênico.
Os funcionários de um supermercado em Caracas amontoaram uma remessa de pacotes de seis rolos extra suaves tão grande que praticamente bloqueava todo o corredor. Encher as prateleiras com o produto não faria sentido. Como a notícia da chegada dos tão esperados rolos se espalhara, embora cada cliente só pudesse levar um pacote, obedecendo ao limite imposto pelo governo, as filas nos caixas se estendiam por outros corredores praticamente vazios. "É uma coisa deprimente", comentou a advogada Maria Plaza, de 30 anos, que esperava há uma hora e meia. "Patética."
Deprimente, num supermercado moderno, com garrafas de vinho espanhol vendidas a US$ 100, uísque Jack Daniel's e pipoca de arroz orgânico. Patética, num país com as maiores reservas de petróleo do mundo, mas incapaz de abastecer a população com produtos básicos porque a moeda local está extremamente desvalorizada e há escassez de dólares.
"Logo precisaremos usar folhas de jornal como fazem em Cuba", disse um senhor de idade, também na fila. "É, como em Cuba!", outros gritaram. Ao que tudo indica, o destino da revolução da Venezuela será decidido no supermercado.
Quase um ano depois da morte de Chávez, seu sucessor, que ele próprio escolheu antes de morrer, Nicolás Maduro, luta para conter a escassez de alimentos, a inflação e o aumento assustador da criminalidade.
A chegada de produtos essenciais, como óleo de cozinha, frango, farinha e leite costuma provocar a corrida aos supermercados em cenas surreais, apesar do controle dos preços e do racionamento para impedir o acúmulo dos produtos.
A vitória do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), do presidente, nas eleições municipais, em dezembro, aparentemente favoreceu um importante avanço do seu partido nas urnas. No entanto, a escassez dos produtos e a sensação geral de deterioração parecem ter se agravado desde então.
"Os lojistas fazem isso de propósito, para aumentar as vendas", disse Marjorie Urdaneta, que defende o governo. Para ela, Maduro tem razão quando acusa as empresas de conluio com as potências estrangeiras empenhadas numa "guerra econômica" contra ele.
Segundo economistas, o verdadeiro problema da Venezuela é a escassez de dólares que reduz a capacidade de importação do governo e do setor privado. Mesmo em shopping centers de luxo de Caracas, cadeias de lojas internacionais estão com as prateleiras praticamente vazias, os funcionários não têm o que vender e manequins estão nus.
Embora o governo tenha fixado o câmbio da moeda local, o bolívar forte, em 6,30 em relação ao dólar, a conversão usada nas ruas, em geral, é dez vezes mais elevada. A inflação chegou - oficialmente - a 56% no ano passado e, numa economia distorcida pelo petróleo, fundamentalmente dependente da importação de bens, as empresas não têm acesso à moeda estrangeira de que precisam para renovar seus estoques. Os próprios produtos de fabricação venezuelana são escassos e as fábricas têm enorme dificuldade para obter peças de reposição e matéria-prima.
Reanimação. A Assembleia Nacional concedeu a Maduro o poder temporário de governar por decreto sobre temas econômicos e os analistas afirmam que, este ano, ele dispõe de uma sala de reanimação política para fazer ajustes econômicos impopulares, como elevar o preço da gasolina - o mais baixo do mundo -, controlado pelo Estado. "As distorções tornaram-se enormes", afirma o economista Luis Zambrano. "Este ano é o primeiro em muito tempo em que não haverá eleições."
O governo de Maduro também planeja dar fôlego para a máquina vendendo pelo menos US$ 5 bilhões - a quase o dobro da taxa oficial - para companhias que tentam se livrar de bolívares e garantir uma moeda forte. Segundo economistas, isso não passa de uma desvalorização de fato - o reconhecimento de que o bolívar forte, na realidade, está bem fraco.
Perigos. No entanto, se a política fiscal do presidente se assemelhar às medidas que ele pretende adotar para conter o avanço da criminalidade, o país poderá ter problemas.
O assassinato da ex-miss Venezuela Mónica Spear em janeiro, numa tentativa de assalto, abalou o país há muito acostumado a uma das mais elevadas taxas de homicídios do mundo e à impunidade dos criminosos.
Apesar dos apelos para uma reforma da polícia do país, Maduro disse que a culpa é das novelas violentas e advertiu as emissoras para que tratem de adequar o conteúdo. A maioria dos venezuelanos está continuamente atarefada procurando garantir o básico. Segundo habitantes do interior do país, a escassez é ainda pior do que na capital.
"Não há nada para comprar onde moramos", disse a professora pré-escolar do centro de produção petrolífera de Maracaibo, Maria Valencia, enquanto fazia compras num supermercado estatal.
Os compradores, em geral, atribuem a escassez aos maus venezuelanos, que, na sua opinião, procuram tirar vantagem da situação.
"Todos devem ser culpados por isso", afirmou Jeanpierre Sifontes, encolhendo os ombros. Seu carrinho estava lotado com garrafas de óleo de cozinha, carne subsidiada importada do Brasil e dois aparelhos de karaokê. "Precisamos inventar alguma coisa para fazer à noite porque é perigoso demais sair", disse.
Maduro ainda conta com grande apoio dos venezuelanos pobres que se beneficiaram com a distribuição da riqueza do petróleo, com os novos prédios de apartamentos do governo em toda Caracas, com a rede de metrô em contínua expansão na capital e com o teleférico para moradores das favelas no alto dos morros.
No entanto, com a economia cambaleante e a inflação que afeta mais duramente os pobres, Maduro não quer correr riscos e muitas de suas recentes medidas colocaram militares de alta patente em cargos-chave do governo. "Este será um ano muito difícil", disse Margarita López, analista política em Caracas./TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
No corredor n.º 7, entre fraldas e amaciantes, os sonhos socialistas do ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, pareciam tão desfeitos quanto o monte de papel higiênico.
Os funcionários de um supermercado em Caracas amontoaram uma remessa de pacotes de seis rolos extra suaves tão grande que praticamente bloqueava todo o corredor. Encher as prateleiras com o produto não faria sentido. Como a notícia da chegada dos tão esperados rolos se espalhara, embora cada cliente só pudesse levar um pacote, obedecendo ao limite imposto pelo governo, as filas nos caixas se estendiam por outros corredores praticamente vazios. "É uma coisa deprimente", comentou a advogada Maria Plaza, de 30 anos, que esperava há uma hora e meia. "Patética."
Deprimente, num supermercado moderno, com garrafas de vinho espanhol vendidas a US$ 100, uísque Jack Daniel's e pipoca de arroz orgânico. Patética, num país com as maiores reservas de petróleo do mundo, mas incapaz de abastecer a população com produtos básicos porque a moeda local está extremamente desvalorizada e há escassez de dólares.
"Logo precisaremos usar folhas de jornal como fazem em Cuba", disse um senhor de idade, também na fila. "É, como em Cuba!", outros gritaram. Ao que tudo indica, o destino da revolução da Venezuela será decidido no supermercado.
Quase um ano depois da morte de Chávez, seu sucessor, que ele próprio escolheu antes de morrer, Nicolás Maduro, luta para conter a escassez de alimentos, a inflação e o aumento assustador da criminalidade.
A chegada de produtos essenciais, como óleo de cozinha, frango, farinha e leite costuma provocar a corrida aos supermercados em cenas surreais, apesar do controle dos preços e do racionamento para impedir o acúmulo dos produtos.
A vitória do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), do presidente, nas eleições municipais, em dezembro, aparentemente favoreceu um importante avanço do seu partido nas urnas. No entanto, a escassez dos produtos e a sensação geral de deterioração parecem ter se agravado desde então.
"Os lojistas fazem isso de propósito, para aumentar as vendas", disse Marjorie Urdaneta, que defende o governo. Para ela, Maduro tem razão quando acusa as empresas de conluio com as potências estrangeiras empenhadas numa "guerra econômica" contra ele.
Segundo economistas, o verdadeiro problema da Venezuela é a escassez de dólares que reduz a capacidade de importação do governo e do setor privado. Mesmo em shopping centers de luxo de Caracas, cadeias de lojas internacionais estão com as prateleiras praticamente vazias, os funcionários não têm o que vender e manequins estão nus.
Embora o governo tenha fixado o câmbio da moeda local, o bolívar forte, em 6,30 em relação ao dólar, a conversão usada nas ruas, em geral, é dez vezes mais elevada. A inflação chegou - oficialmente - a 56% no ano passado e, numa economia distorcida pelo petróleo, fundamentalmente dependente da importação de bens, as empresas não têm acesso à moeda estrangeira de que precisam para renovar seus estoques. Os próprios produtos de fabricação venezuelana são escassos e as fábricas têm enorme dificuldade para obter peças de reposição e matéria-prima.
Reanimação. A Assembleia Nacional concedeu a Maduro o poder temporário de governar por decreto sobre temas econômicos e os analistas afirmam que, este ano, ele dispõe de uma sala de reanimação política para fazer ajustes econômicos impopulares, como elevar o preço da gasolina - o mais baixo do mundo -, controlado pelo Estado. "As distorções tornaram-se enormes", afirma o economista Luis Zambrano. "Este ano é o primeiro em muito tempo em que não haverá eleições."
O governo de Maduro também planeja dar fôlego para a máquina vendendo pelo menos US$ 5 bilhões - a quase o dobro da taxa oficial - para companhias que tentam se livrar de bolívares e garantir uma moeda forte. Segundo economistas, isso não passa de uma desvalorização de fato - o reconhecimento de que o bolívar forte, na realidade, está bem fraco.
Perigos. No entanto, se a política fiscal do presidente se assemelhar às medidas que ele pretende adotar para conter o avanço da criminalidade, o país poderá ter problemas.
O assassinato da ex-miss Venezuela Mónica Spear em janeiro, numa tentativa de assalto, abalou o país há muito acostumado a uma das mais elevadas taxas de homicídios do mundo e à impunidade dos criminosos.
Apesar dos apelos para uma reforma da polícia do país, Maduro disse que a culpa é das novelas violentas e advertiu as emissoras para que tratem de adequar o conteúdo. A maioria dos venezuelanos está continuamente atarefada procurando garantir o básico. Segundo habitantes do interior do país, a escassez é ainda pior do que na capital.
"Não há nada para comprar onde moramos", disse a professora pré-escolar do centro de produção petrolífera de Maracaibo, Maria Valencia, enquanto fazia compras num supermercado estatal.
Os compradores, em geral, atribuem a escassez aos maus venezuelanos, que, na sua opinião, procuram tirar vantagem da situação.
"Todos devem ser culpados por isso", afirmou Jeanpierre Sifontes, encolhendo os ombros. Seu carrinho estava lotado com garrafas de óleo de cozinha, carne subsidiada importada do Brasil e dois aparelhos de karaokê. "Precisamos inventar alguma coisa para fazer à noite porque é perigoso demais sair", disse.
Maduro ainda conta com grande apoio dos venezuelanos pobres que se beneficiaram com a distribuição da riqueza do petróleo, com os novos prédios de apartamentos do governo em toda Caracas, com a rede de metrô em contínua expansão na capital e com o teleférico para moradores das favelas no alto dos morros.
No entanto, com a economia cambaleante e a inflação que afeta mais duramente os pobres, Maduro não quer correr riscos e muitas de suas recentes medidas colocaram militares de alta patente em cargos-chave do governo. "Este será um ano muito difícil", disse Margarita López, analista política em Caracas./TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
O dilema do peronismo: quem se anima com Cristina? - JOAQUÍN MORALES SOLÁ
O GLOBO - 04/02
Partido da presidente teme ser contaminado por sua impopularidade e desencanto dos argentinos com a velha legenda
Ebulição e preocupação são as palavras que usa um governador argentino para descrever a situação interna do Partido Justicialista. O peronismo nada em águas desconhecidas. Há um governo peronista que não o representa. Há uma crise que aborrece a sociedade com o governo e o partido. Há uma presidente que não aprecia o diálogo com governadores e prefeitos peronistas.
Governadores cristinistas, ou que posam como tais, estão sendo arrastados pela impopularidade dela. Os que não são tâo cristinistas suspeitam que a sociedade poderia não distingur entre peronistas, kirchneristas e cristinistas. Para o eleitor comum, todos são peronistas, dizem eles. A preocupação está se transformando em risco palpável em várias províncias. O governador de Entre Ríos, o cristinista Sergio Urribarri, descobriu que dois importantes prefeitos de sua província poderiam aderir logo ao peronismo dissidente.
Contudo, nada parece chegar, intacto e direto, ao conhecimento da presidente. A informação sobre o que sucede no partido flui rápida entre seus dirigentes, que não podem dizer nada de transcendente. Ninguém sabe como nem quando a informação chega a Cristina, se é que chega. Todos creem que o “núcleo duro” que a rodeia só lhe dá interpretações parciais da realidade.
Dois governadores avançaram nas últimas horas definições públicas significativas. Um foi o da província de Buenos Aires, Daniel Scioli: admitiu que se vivem “momentos delicados” e recordou que governa “um país dentro do país”. “Momentos delicados” poderia se traduzir na palavra crise, segundo o estilo sempre prudente de Scioli. A recordação de sua experiência como funcionário é mais impressionante, porque significa que não cessou, apesar do questionamento de setores cristinistas, sua insistente oferta como candidato a suceder a presidente. Crise e sucessão na boca de Scioli são os sintomas mais cabais de que o governador está falando a um peronismo desesperado para encontrar uma porta de saída.
Outro governador foi o cordobês José Manuel de la Sota, que pediu ao peronismo que não termine afundando o peronismo (quer dizer, Cristina), mas reclamou energicamente uma mudança do atual estado de coisas. De la Sota tem fama de conhecedor obsessivo da estrutura partidária e é o que mais fala com governadores e prefeitos, incluídos Scioli e Sergio Massa. De la Sota, que nunca militou no kirchnerismo, aspira a participar de uma solução eleitoral para o partido, mas sabe que as sociedades também se cansam das marcas. A marca PJ é a que está agora em perigo.
O conflito não resolvido de todos eles é encontrar uma forma de chegar diretamente à presidente. A princípio, confiaram em Jorge Capitanich, mas este se passou ao fanatismo dos convertidos. O político aberto e pragmático se converteu num cruzado do cristinismo mais paranóico. Dois governadores peronistas dizem que nunca confiaram em Capitanich como um representante do partido na Casa de Governo. “Só sabe dizer sim. Foi assim com Cavallo, Duhalde, Kirchner e Cristina”, resumem.
O interlocutor ideal para todos eles seria Scioli, por sua envergadura como governador da província mais importante do país e como um dos poucos políticos peronistas que conservam respeitáveis índices de popularidade. O problema é que Scioli não nasceu para dar ultimato a alguém. E o que os peronistas querem é que alguém diga a Cristina que o partido não se suicidará pelas bagunças que arma Axel Kicillof. O ministro da Economia é quase uma mania para eles. “O peronismo não praticou jamais a prova de tentativa e erro no poder”, disse um governador com notável desprezo pelo ministro da Economia.
Só há um prefeito na província de Buenos Aires, o de La Matanza, Fernando Espinoza, com um trato amável e assíduo com a presidente. Espinoza, que é agora também o presidente do PJ de Buenos Aires, costuma levar pedidos concretos a Cristina para a gestão dos prefeitos. Não obstante, ninguém está certo de que seria possível convencê-lo a ser o mensageiro do ultimato.
Ultimato é uma palavra muito usada estes dias no justicialismo. O que significa? “Que Cristina deixe de lado La Cámpora e se apoie no peronismo, ou o peronismo não a apoiará”, responde um governador. Está vindo à tona no partido um velho rancor escondido, que se dissimulava desde o início do segundo mandato da presidente. Provocou-o a opção de Cristina pelos jovens camporistas.
“Ela nos deu as costas”, diz um prefeito. “Como explicar à sociedade que o kirchnerismo não é peronista?”, pergunta, retoricamente, um de seus mais conhecidos dirigentes. O fantasma de uma sociedade argentina cansada do PJ e optando por outras variantes eleitorais surge com insistência nessas conversas entre peronistas.
Os peronistas observam com certa admiração a capacidade de decisão dos dirigentes sindicais, que foram sempre a vanguarda do movimento. Já não há diferenças substanciais entre Hugo Moyano e Antonio Caló, o velho opositor e o recente oficialista. Os dois falam mal de Kicillof, se queixam da inflação e impõem duras condições em público. “No final, Moyano tinha razão: Cristina será um fardo para o PJ”, resignou-se um dirigente da CGT oficialista.
Partido da presidente teme ser contaminado por sua impopularidade e desencanto dos argentinos com a velha legenda
Ebulição e preocupação são as palavras que usa um governador argentino para descrever a situação interna do Partido Justicialista. O peronismo nada em águas desconhecidas. Há um governo peronista que não o representa. Há uma crise que aborrece a sociedade com o governo e o partido. Há uma presidente que não aprecia o diálogo com governadores e prefeitos peronistas.
Governadores cristinistas, ou que posam como tais, estão sendo arrastados pela impopularidade dela. Os que não são tâo cristinistas suspeitam que a sociedade poderia não distingur entre peronistas, kirchneristas e cristinistas. Para o eleitor comum, todos são peronistas, dizem eles. A preocupação está se transformando em risco palpável em várias províncias. O governador de Entre Ríos, o cristinista Sergio Urribarri, descobriu que dois importantes prefeitos de sua província poderiam aderir logo ao peronismo dissidente.
Contudo, nada parece chegar, intacto e direto, ao conhecimento da presidente. A informação sobre o que sucede no partido flui rápida entre seus dirigentes, que não podem dizer nada de transcendente. Ninguém sabe como nem quando a informação chega a Cristina, se é que chega. Todos creem que o “núcleo duro” que a rodeia só lhe dá interpretações parciais da realidade.
Dois governadores avançaram nas últimas horas definições públicas significativas. Um foi o da província de Buenos Aires, Daniel Scioli: admitiu que se vivem “momentos delicados” e recordou que governa “um país dentro do país”. “Momentos delicados” poderia se traduzir na palavra crise, segundo o estilo sempre prudente de Scioli. A recordação de sua experiência como funcionário é mais impressionante, porque significa que não cessou, apesar do questionamento de setores cristinistas, sua insistente oferta como candidato a suceder a presidente. Crise e sucessão na boca de Scioli são os sintomas mais cabais de que o governador está falando a um peronismo desesperado para encontrar uma porta de saída.
Outro governador foi o cordobês José Manuel de la Sota, que pediu ao peronismo que não termine afundando o peronismo (quer dizer, Cristina), mas reclamou energicamente uma mudança do atual estado de coisas. De la Sota tem fama de conhecedor obsessivo da estrutura partidária e é o que mais fala com governadores e prefeitos, incluídos Scioli e Sergio Massa. De la Sota, que nunca militou no kirchnerismo, aspira a participar de uma solução eleitoral para o partido, mas sabe que as sociedades também se cansam das marcas. A marca PJ é a que está agora em perigo.
O conflito não resolvido de todos eles é encontrar uma forma de chegar diretamente à presidente. A princípio, confiaram em Jorge Capitanich, mas este se passou ao fanatismo dos convertidos. O político aberto e pragmático se converteu num cruzado do cristinismo mais paranóico. Dois governadores peronistas dizem que nunca confiaram em Capitanich como um representante do partido na Casa de Governo. “Só sabe dizer sim. Foi assim com Cavallo, Duhalde, Kirchner e Cristina”, resumem.
O interlocutor ideal para todos eles seria Scioli, por sua envergadura como governador da província mais importante do país e como um dos poucos políticos peronistas que conservam respeitáveis índices de popularidade. O problema é que Scioli não nasceu para dar ultimato a alguém. E o que os peronistas querem é que alguém diga a Cristina que o partido não se suicidará pelas bagunças que arma Axel Kicillof. O ministro da Economia é quase uma mania para eles. “O peronismo não praticou jamais a prova de tentativa e erro no poder”, disse um governador com notável desprezo pelo ministro da Economia.
Só há um prefeito na província de Buenos Aires, o de La Matanza, Fernando Espinoza, com um trato amável e assíduo com a presidente. Espinoza, que é agora também o presidente do PJ de Buenos Aires, costuma levar pedidos concretos a Cristina para a gestão dos prefeitos. Não obstante, ninguém está certo de que seria possível convencê-lo a ser o mensageiro do ultimato.
Ultimato é uma palavra muito usada estes dias no justicialismo. O que significa? “Que Cristina deixe de lado La Cámpora e se apoie no peronismo, ou o peronismo não a apoiará”, responde um governador. Está vindo à tona no partido um velho rancor escondido, que se dissimulava desde o início do segundo mandato da presidente. Provocou-o a opção de Cristina pelos jovens camporistas.
“Ela nos deu as costas”, diz um prefeito. “Como explicar à sociedade que o kirchnerismo não é peronista?”, pergunta, retoricamente, um de seus mais conhecidos dirigentes. O fantasma de uma sociedade argentina cansada do PJ e optando por outras variantes eleitorais surge com insistência nessas conversas entre peronistas.
Os peronistas observam com certa admiração a capacidade de decisão dos dirigentes sindicais, que foram sempre a vanguarda do movimento. Já não há diferenças substanciais entre Hugo Moyano e Antonio Caló, o velho opositor e o recente oficialista. Os dois falam mal de Kicillof, se queixam da inflação e impõem duras condições em público. “No final, Moyano tinha razão: Cristina será um fardo para o PJ”, resignou-se um dirigente da CGT oficialista.
A lei que pode aumentar a corrupção - JANAÍNA CONCEIÇÃO PASCHOAL
FOLHA DE SP - 04/02
O "compliance" (fiscalização interna das empresas) não parece fazer frente ao maior malefício que um diploma nebuloso traz: a corrupção
Em 29 de janeiro, entrou em vigor a lei nº 12.846/13, que prevê a responsabilidade administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contrários à administração pública nacional ou estrangeira.
Ao lado da corrupção, a lei estabelece um rol bastante amplo de atos lesivos à administração, sendo certo que quaisquer deles poderão ensejar punições severas como o pagamento de multa de até 20% do faturamento da empresa ou, na impossibilidade de aferi-lo, de até R$ 60 milhões. Isso sem contar a publicação da decisão condenatória.
Apesar de estabelecer alguns critérios para a fixação da sanção, referido diploma legal não concatena o ato à punição, conferindo grande arbítrio à autoridade que decidirá acerca da ocorrência do ilícito e a resposta estatal.
A insegurança é tanta que, para os mesmos atos que comina multas equivalentes ao confisco, a nova lei possibilita o ajuizamento de ações com o fim suspender as atividades da empresa, interditá-la e até dissolvê-la compulsoriamente. E o legislador ainda teve o requinte de dizer que essas medidas podem ser aplicadas cumulativamente!
O verdadeiro antídoto contra a corrupção é a adoção de normas claras, qualidade ausente na nova Lei Anticorrupção, que vem sendo inocentemente aplaudida nos meios de comunicação.
O quadro fica mais grave quando se constata que o legislador não estabeleceu qual será a autoridade competente para apurar e punir as supostas infrações. Fala-se, genericamente, na autoridade máxima de cada órgão ou entidade dos três Poderes, sendo possível a delegação.
Ora, se não houver regulamentação restringindo essa competência, qualquer secretaria municipal poderá instaurar procedimento para aplicar multa passível de aniquilar uma empresa, prejudicando empregados e consumidores.
Pense no poder que terá um funcionário público corrupto diante de um leque tão amplo de condutas tidas como ilícitas e, pior, frente a tantas possibilidades de duras sanções. Mesmo sem dever nada, as empresas ficarão totalmente suscetíveis.
Não se está afirmando que todo funcionário público é corrupto e que todo empresário é vítima. Sabe-se que há empresários que elegem trabalhar ilicitamente. No entanto, os agentes econômicos muitas vezes se veem obrigados a pagar para obterem os documentos necessários ao exercício de suas atividades ou para poderem fornecer aos entes públicos. Em certas localidades, a situação é tão institucionalizada que quem não se submete acaba alijado do mercado.
Diante desse tipo de argumento, costuma-se questionar por qual motivo não denunciam. Primeiro, num país em que os escândalos são diários, vigora o sentimento de que todos conhecem a realidade e fazem vistas grossas.
Em segundo lugar, atualmente, são muitos os diplomas que preveem colaboração e acordos de leniência. Mas as regras são igualmente obscuras e o acordo feito diante da administração não necessariamente vincula o Ministério Público.
Isso significa que o empresário que aderir à leniência, com fulcro nessa nova lei, poderá, no dia seguinte, ser denunciado pelo crime que confessou. Percebe-se que o legislador nacional importa institutos estrangeiros sem consciência de que, no exterior, confere-se valor à palavra. O que é prometido é cumprido, até para que o sistema funcione.
Os entusiastas da nova lei têm dito que ela estimula as empresas a desenvolverem um setor de "compliance" (mecanismos internos de prevenção ao ilícito). A bem da verdade, esse efeito já decorre da legislação referente à lavagem de dinheiro. Ademais, não se pode negar que o "compliance" se transformou em um caro produto e que seus benefícios não parecem fazer frente aos malefícios que um diploma nebuloso pode trazer: o pior deles é justamente a corrupção. Parece brincadeira, mas é sério e triste.
O "compliance" (fiscalização interna das empresas) não parece fazer frente ao maior malefício que um diploma nebuloso traz: a corrupção
Em 29 de janeiro, entrou em vigor a lei nº 12.846/13, que prevê a responsabilidade administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contrários à administração pública nacional ou estrangeira.
Ao lado da corrupção, a lei estabelece um rol bastante amplo de atos lesivos à administração, sendo certo que quaisquer deles poderão ensejar punições severas como o pagamento de multa de até 20% do faturamento da empresa ou, na impossibilidade de aferi-lo, de até R$ 60 milhões. Isso sem contar a publicação da decisão condenatória.
Apesar de estabelecer alguns critérios para a fixação da sanção, referido diploma legal não concatena o ato à punição, conferindo grande arbítrio à autoridade que decidirá acerca da ocorrência do ilícito e a resposta estatal.
A insegurança é tanta que, para os mesmos atos que comina multas equivalentes ao confisco, a nova lei possibilita o ajuizamento de ações com o fim suspender as atividades da empresa, interditá-la e até dissolvê-la compulsoriamente. E o legislador ainda teve o requinte de dizer que essas medidas podem ser aplicadas cumulativamente!
O verdadeiro antídoto contra a corrupção é a adoção de normas claras, qualidade ausente na nova Lei Anticorrupção, que vem sendo inocentemente aplaudida nos meios de comunicação.
O quadro fica mais grave quando se constata que o legislador não estabeleceu qual será a autoridade competente para apurar e punir as supostas infrações. Fala-se, genericamente, na autoridade máxima de cada órgão ou entidade dos três Poderes, sendo possível a delegação.
Ora, se não houver regulamentação restringindo essa competência, qualquer secretaria municipal poderá instaurar procedimento para aplicar multa passível de aniquilar uma empresa, prejudicando empregados e consumidores.
Pense no poder que terá um funcionário público corrupto diante de um leque tão amplo de condutas tidas como ilícitas e, pior, frente a tantas possibilidades de duras sanções. Mesmo sem dever nada, as empresas ficarão totalmente suscetíveis.
Não se está afirmando que todo funcionário público é corrupto e que todo empresário é vítima. Sabe-se que há empresários que elegem trabalhar ilicitamente. No entanto, os agentes econômicos muitas vezes se veem obrigados a pagar para obterem os documentos necessários ao exercício de suas atividades ou para poderem fornecer aos entes públicos. Em certas localidades, a situação é tão institucionalizada que quem não se submete acaba alijado do mercado.
Diante desse tipo de argumento, costuma-se questionar por qual motivo não denunciam. Primeiro, num país em que os escândalos são diários, vigora o sentimento de que todos conhecem a realidade e fazem vistas grossas.
Em segundo lugar, atualmente, são muitos os diplomas que preveem colaboração e acordos de leniência. Mas as regras são igualmente obscuras e o acordo feito diante da administração não necessariamente vincula o Ministério Público.
Isso significa que o empresário que aderir à leniência, com fulcro nessa nova lei, poderá, no dia seguinte, ser denunciado pelo crime que confessou. Percebe-se que o legislador nacional importa institutos estrangeiros sem consciência de que, no exterior, confere-se valor à palavra. O que é prometido é cumprido, até para que o sistema funcione.
Os entusiastas da nova lei têm dito que ela estimula as empresas a desenvolverem um setor de "compliance" (mecanismos internos de prevenção ao ilícito). A bem da verdade, esse efeito já decorre da legislação referente à lavagem de dinheiro. Ademais, não se pode negar que o "compliance" se transformou em um caro produto e que seus benefícios não parecem fazer frente aos malefícios que um diploma nebuloso pode trazer: o pior deles é justamente a corrupção. Parece brincadeira, mas é sério e triste.
Liberou geral - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 04/02
Seymour no Rio
O ator Philip Seymour Hoffman, que morreu domingo, esteve discretamente no Rio em 1999. Veio para o casamento do seu amigo de infância John Keohane com uma brasileira, enteada do escritor Carlos Eduardo Novaes.
Calma, gente!
Artigo publicado domingo no site www.averdadesufocada.com, que reúne militares simpatizantes da ditadura, desaconselha reuniões em praça pública para comemorar os 50 anos da “contrarrevolução” de 1964 por causa dos “bandoleiros, vândalos e arruaceiros da esquerda radical”. Sugere reuniões em casa a partir das 20h de segunda, 31 de março, e uma chuva de fogos de artifício.
Vacina brasileira
A OMS reconheceu que pode vir do Brasil a primeira vacina do mundo contra a esquistossomose. Eles devem apoiar as pesquisas realizadas pela Fundação Oswaldo Cruz. A doença afeta mais de 240 milhões de pessoas no mundo, inclusive no Brasil.
No mais
Os petistas condenados no caso do mensalão decidiram centrar fogo na figura do ministro Joaquim Barbosa. Nada contra. Mas foi, claro, o STF quem condenou os réus. O deputado João Paulo Cunha, por exemplo, só conseguiu a seu favor os votos dos ministros Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski na condenação por corrupção e peculato.
Bolsa Família no mundo
A economista brasileira Lena Lavinas escreveu na última edição da “New Left Review”, respeitada revista inglesa, um artigo sobre programas de transferência de renda de países pobres e remediados. A professora descobriu que tais programas são a coqueluche do momento mundo afora, com destaque para o nosso Bolsa Família, que é o que alcança mais gente.
Paliativo...
Lavinas diz que o programa começou a ser aplicado por FH. Mas que foi generalizado por Lula. Ela é, entretanto, cética quanto à possibilidade de o Bolsa Família dirimir de vez a miséria.
Álcool na gasolina
Produtores de cana vão propor ao governo um novo aumento do teor de etanol na gasolina: dos atuais 25% para 27,5%, a partir de maio. A turma diz que a safra 2014, que começa em abril, vai garantir o fornecimento com sobra. A medida também ajudaria a Petrobras, que sofre com a importação de gasolina, cujo preço não é totalmente repassado ao consumidor.
Camiseta da marchinha
Marlene, 89 anos, vai ter o seu rosto estampado na camiseta do Concurso Nacional de Marchinhas Carnavalescas deste ano, na Fundição Progresso. Repare na foto a camiseta assinada pela grife Cantão. Marlene recebeu por três vezes o Troféu Carmen Miranda, que premia os melhores intérpretes de músicas de carnaval (1969, 1970 e 1973).
Última morada
A prefeitura do Rio autorizou a ampliação do Cemitério da Penitência, no Caju. Serão criados mil novos jazigos, em estilo tradicional e tipo parque. O investimento é de R$ 2,5 milhões na obra, que deve terminar em seis meses.
Entre clubes
O departamento financeiro do Flamengo fez uma varredura e descobriu, veja só, que dez clubes de futebol lhe devem dinheiro. É coisa de mais de R$ 500 mil. São dívidas referentes a transações de jogadores. O América-RN, que deve uns R$ 100 mil, já propôs parcelar.
É grave a crise
Na volta às aulas, ontem, a Universidade Candido Mendes, no Centro do Rio, teve a luz cortada. É que atrasou o pagamento da conta de dezembro, de R$ 23 mil.
TV a cabo na UPP
O programa Claro Paz nas favelas com UPPs já chegou a 50 mil residências com TV a cabo. Nestes lugares a empresa oferece 104 canais por R$ 29,90 por 12 meses.
Aliás...
UPP, eu apoio.
MAIS UMA VEZ HELENA - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 04/02
FAMÍLIA UNIDA
A família de Orestes Quércia está prestes a fechar acordo na Justiça em torno da herança do ex-governador de São Paulo. Por ele, os quatro filhos do político com Alaíde Quércia ficam com as empresas deixadas pelo pai. Os dois filhos de outros relacionamentos --Sidney e Fernando-- ficam com imóveis equivalentes ao valor das ações das quais abrirão mão.
MÁQUINA DE CALCULAR
A divisão será feita depois de uma disputa acirrada nos bastidores. Quércia deixou 26 empresas, como shoppings, fazendas de café, TVs e rádios espalhadas por todo o Brasil. O valor dos bens já foi estimado em mais de R$ 1 bilhão. Os próprios filhos que disputavam a herança com Alaíde calculavam que uma auditoria poderia chegar a um valor de no mínimo meio bilhão.
EM BREVE
A ideia é que o acordo seja assinado até maio.
TÔ FORA
O registro é do dirigente de um dos principais clubes de futebol do país: Lula não entrou de cabeça, como se imaginava, na campanha da sucessão na CBF. Daí a facilidade com que a candidatura de Andres Sanchez virou pó.
PRIMEIRO LUGAR
Na interpretação do mesmo dirigente, o ex-presidente não quis entrar em bola dividida no ano em que pretende cabalar votos para a reeleição de Dilma Rousseff.
MAIS RÁPIDO
O novo Código de Processo Civil, que deve ser votado hoje na Câmara dos Deputados, permitirá a realização de audiências e oitivas de testemunhas e das partes por videoconferência. Elas já ocorrem em casos criminais.
SÓ AMOR
O Coronel Telhada (PSDB-SP, que faz parte da "bancada da bala" na Câmara Municipal, casou a filha com festa no sábado em Moema. Entre os 700 convidados estavam o governador Geraldo Alckmin com a mulher, dona Lu, e os vereadores Andrea Matarazzo e Mario Covas Neto.
MÃOS À OBRA
O convênio para a construção de 30 mil moradias na capital que os governos municipal, estadual e federal assinam hoje em São Paulo vai priorizar famílias inscritas no auxílio aluguel e moradoras de áreas de risco. "É difícil qualquer um dos três poderes fazer [esse trabalho] sozinho", diz Silvio Torres, secretário de Estado da Habitação. Cada unidade terá aporte de R$ 20 mil da prefeitura, R$ 20 mil do programa Casa Paulista e R$ 76 mil do Minha Casa Minha Vida.
CELEBRIDADE
Brad Pet, o cão de estimação de Tom Cavalcante, tem página no Instagram. Já conta com 540 seguidores.
INTERVALO
O restaurante Piselli, nos Jardins, fecha neste mês para reforma.
TORCEDOR
Fafá de Belém consultou o escritor Ariano Suassuna sobre a fantasia que usará no bloco Galo da Madrugada, no Carnaval do Recife. Ele, que é o homenageado do desfile deste ano, só pediu que a vestimenta fosse vermelha e preta, cores do time de futebol Sport Club, do qual é torcedor. O estilista Walério Araújo assinará o figurino.
A CABECEIRA
Ney Matogrosso recebeu os originais do próximo livro do escritor Valter Hugo Mãe. A pedido do autor, leu "Desumanização", que será lançado pela Cosac Naify, e escreveu: "A leitura provoca um turbilhão, uma vertigem de imagens pelas quais o leitor fica possuído. Inquietante, tenso e ao mesmo tempo ingênuo e puro". A frase será impressa na cinta que embala o livro.
CURTO-CIRCUITO
Paulo Martinez lança hoje o livro "Moda é F#%@", às 19h, na Livraria Cultura do shopping Iguatemi.
A agência francesa BETC será lançada hoje em SP com festa no Terraço Itália.
Valéria Baraccat (Arte de Viver Bem) irá em março a um encontro das principais ONGs do mundo, na Áustria.
Compasso de espera - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 04/02
O tricô da reforma ministerial
O vice Michel Temer conversou por mais de três horas ontem com a presidente Dilma para acertar a presença do PMDB no governo. À noite, o presidente do Senado, Renan Calheiros, foi chamado ao Planalto. Na mesa, a nomeação de Vital do Rêgo para Portos. “Os senadores e os deputados apoiam o Vital”, disse o presidente da Câmara, Henrique Alves. Pela manhã, Benito Gama, presidente do PTB, pediu a Temer para o PMDB abrir mão do Turismo. Alegou que eles não tinham nomes para Ciência e Tecnologia. O líder Eduardo Cunha avalizou: “A Câmara quer as duas pastas, não importa qual”. A expectativa era a de que a presidente Dilma batesse o martelo.
“A reforma política é uma unanimidade estática. Todos são favoráveis, mas ela não deslancha no Congresso”
Renan Calheiros
Presidente do Senado (PMDB-AL)
Acertando as contas
O Planalto trabalha junto aos senadores para tirar da pauta a troca do indexador na renegociação das dívidas dos estados. A presidente Dilma criou uma força-tarefa, com a presença da pasta da Fazenda, para o assunto voltar para a gaveta.
Um dinheiro aí
Petistas ligados a José Dirceu preparam uma mobilização para ajudá-lo a pagar a multa de sua condenação. Será feito um mutirão por doações. Seu caixa já teria R$ 500 mil, da arrecadação feita por Delúbio Soares. A multa de Dirceu é de R$ 971 mil. Os recursos que sobrarem da mobilização irão para o Fundo de Melhorias do Sistema Prisional.
Sempre sobra mais um
O governador Cid Gomes (PROS) e o PT deram um chega para lá no PMDB e no PCdoB do Ceará. Cid vai indicar o nome para sucedê-lo. O líder do PT, deputado José Guimarães, vai ao Senado. O senador Inácio Arruda (PCdoB) está esperneando.
O placar da convenção
Um dirigente do PMDB, experiente nos embates partidários, fez as contas sobre o resultado de uma convenção sobre o apoio à presidente Dilma. Seu prognóstico é o de que a aliança como PT pela reeleição teria hoje cerca de 564 votos, a bancada da oposição teria por volta de 202 votos e 92 convencionais estariam indefinidos.
Pena casada
O presidente do STF, Joaquim Barbosa, está aguardando o resultado da perícia sobre a saúde de José Genoino (PT) para decidir também sobre a prisão de Roberto Jefferson (PTB). Ambos, por questões de saúde, reivindicam prisão domiciliar.
A trincheira da indústria
As 27 federações estaduais e 70 associações setoriais da indústria se reúnem hoje na CNI. Vão fechar a pauta legislativa. Nela: o fim do adicional de 10% do FGTS, contra a adoção da Convenção 158 da OIT e a regulamentação da terceirização.
CITADA para assumir Direitos Humanos, a ministra Eleonora Menicucci diz que “é forte candidata a completar a gestão na Secretaria das Mulheres”.
Próximos capítulos - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 04/02
Ministros do Supremo Tribunal Federal se surpreenderam ontem ao receber a pauta da primeira sessão criminal de 2014, que será na quinta-feira. Joaquim Barbosa incluiu processo contra o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR), filho de José Dirceu, por suposto crime eleitoral. Na semana passada, Ricardo Lewandowski, em sua interinidade na presidência da corte, deu parecer favorável a que fosse analisado pedido de trabalho do ex-ministro da Casa Civil, condenado no mensalão.
Tem mais Também estão na pauta outros processos contra prováveis candidatos, como uma ação contra o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e embargos a um acórdão do STF que recebeu queixa-crime contra o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ).
Desagravo Do vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), sobre ter feito, diante de Joaquim Barbosa, o gesto com punho cerrado usado pelos mensaleiros quando foram presos: "É sinal de que não aceitamos passivamente as condenações sem provas desse julgamento político".
Lá... Petistas próximos à presidente Dilma Rousseff têm defendido que o ex-presidente do PT paulista Edinho Silva, escalado para ser tesoureiro da campanha à reeleição da petista, seja um dos encarregados da articulação politica da campanha, juntamente com o presidente nacional da sigla, Rui Falcão.
... e cá Nos bastidores, o tesoureiro do PT, João Vaccari, faz campanha para que Arthur Henrique, da Central Única dos Trabalhadores, seja o responsável pela arrecadação do comitê, mas o sindicalista enfrenta resistências do entorno da presidente.
Prancheta Nos próximos dias, membros da cúpula petista conversarão com Lula para bater o martelo sobre a escalação final do time que atuará no QG da reeleição, a fim de evitar a disputa por espaço entre alas do partido.
Filme velho Anteontem, no Palácio do Jaburu, senadores do PMDB voltaram a se queixar a Michel Temer da demora da presidente em solucionar o xadrez do partido na reforma ministerial.
Cacife alto Apesar da indefinição, os peemedebistas resolveram dobrar a aposta e defender que o senador Vital do Rêgo (PB) assuma a Secretaria dos Portos, turbinada pelo programa de concessões, ao invés do Ministério do Turismo. Temer levaria a sugestão à presidente ontem.
Eureka! Após a posse dos novos ministros no Planalto, ontem, Romero Jucá (PMDB-RR) brincou com Benito Gama ao encontrá-lo, dizendo que o petebista estava com "cara" de Ciência e Tecnologia. O PTB pleiteia vaga na Esplanada dos Ministérios.
Em alta Chamou a atenção ontem o destaque que Dilma deu ao novo ministro da Educação, José Henrique Paim, ao empossá-lo. A presidente o chamou "meu querido Paim'', e ele foi o mais aplaudido na solenidade.
Rodízio Diante da hesitação do PSB em apoiar sua candidatura à reeleição, Geraldo Alckmin mudou o interlocutor preferencial no partido: no lugar do deputado Márcio França, tem falado mais com o prefeito de Campinas, Jonas Donizette.
No muro 1 Enquanto em Pernambuco o PSDB já anunciou que apoiará o candidato de Eduardo Campos à sua sucessão, em Minas o PSB ainda estuda como vai adotar a reciprocidade em relação ao grupo de Aécio Neves.
No muro 2 Uma ala do partido quer entrar na coligação de Pimenta da Veiga, e outra defende lançar um candidato para cumprir tabela. O PSDB cobra aliança formal.
tiroteio
"O incidente envolvendo o filho e a neta do governador deve servir de alerta de que ninguém está seguro em São Paulo."
DE EMÍDIO SOUZA, presidente estadual do PT, sobre a troca de tiros entre assaltantes e policiais que fazem a escolta de um dos filhos de Alckmin, ontem.
contraponto
Comilança ampla, geral e irrestrita
Um grupo de jornalistas de Brasília almoçava no Clube da Imprensa, em Brasília, no fim dos anos 70, e conversava sobre a cobertura do retorno dos exilados políticos ao país, graças à abertura política do fim do regime militar.
Sonia Carneiro, repórter da rádio Jornal do Brasil, disse aos colegas que a chegada do líder comunista Luís Carlos Prestes tinha sido tão emocionante para ela que a fez devorar um prato fundo de feijoada.
Outro repórter, do jornal "O Globo", brincou, provocando gargalhadas dos colegas:
--O Prestes nem chegou e já derrubou o regime!
Padilha da discórdia - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 04/02
Para a presidente, a proximidade com antigos adversários tem limite. No Rio Grande do Sul, entre os peemedebistas, ela só obteve o apoio para valer do deputado Mendes Ribeiro, que deixou o Ministério da Agricultura para cuidar da saúde e se recuperar de um tumor no cérebro. Até aqui, o nome provável para a Secretaria de Portos é o do senador Vital do Rêgo Filho, o Vitalzinho, do PMDB da Paraíba. Os deputados do partido ainda estão a ver navios.
Minha vingança...
Mal a notícia do veto a Padilha chegou ao PMDB, um grupo de deputados começou a tramar o troco. O primeiro movimento é no sentido de emplacar o deputado Darcísio Perondi presidente da Comissão de Saúde da Câmara. Perondi é um dos independentes que infernizam a vida do governo no Congresso.
...será maligna
Perondi foi um dos mentores do projeto que tentou ampliar os recursos da saúde além do que
o governo pretendia conceder dentro do Orçamento Impositivo. Como presidente da Comissão de Saúde da Casa, nada impedirá que tente repetir a dose em outros projetos. E, sabe como é, nesse primeiro semestre, o governo ainda não tem tanta tranquilidade para enfrentar o Congresso.
Recordista
A cúpula do PT dá como certo que Ideli Salvatti será mantida na Secretaria de Relações Institucionais. A média de permanência ali era de um ano. Ela está desde junho de 2011. Alguns deputados, inclusive do PT, que estão de olho no cargo não perdoam: “Ela tem dois troféus, o de mais tempo como ministra e o de quem menos fez em todo esse período”.
Riscos & apostas
Para alegria dos deputados mais descolados e menos conservadores, o PSC de Marco Feliciano não terá direito a presidir comissões técnicas da Câmara este ano. Para preocupação do governo, a Fiscalização e Controle deve ser a primeira escolha do PMDB. O PT, que abre a ordem de pedidos, ficará com a Comissão de Constituição e Justiça, onde o nome mais cotado é o do deputado Vicente Cândido, de São Paulo.
No embalo/ Os líderes do PTB na Câmara, Nelson Marquezelli, e no Senado, Gim Argello, conversavam animadamente com o presidente em exercício do partido, Benito Gama (foto), quando se aproximou o ministro do Turismo, Gastão Vieira. “Oba, vamos fazer a troca do bastão logo aqui”, disse Gim, referindo-se a Benito. O Ministério do Turismo é o sonho de consumo dos petebistas hoje.
Questão de prioridade/ Enquanto o senador João Vicente Claudino (PTB-PI) lia a mensagem da presidente Dilma ao Congresso, os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves, e do Senado, Renan Calheiros, aproveitaram para repassar os próprios discursos que fariam em seguida.
Memória I/ Ao ver o novo ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, recebido com toda a pompa no Congresso Nacional, alguns senadores lembravam animadamente da brincadeira que faziam quando algum integrante do Senado passava por outro sem cumprimentar. Aquele que não recebia o cumprimento logo se virava para o colega e dizia “bom dia, Mercadante”.
Memória II/ Naquela época, Mercadante era senador e não eram poucos os colegas que o chamavam de “mercapedante”. Agora, garantem, que esse tempo acabou. Pelo menos, é o que dizem.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 04/02
Contratações na construção pesada de São Paulo avançam 4,55% em 2013
O número de contratados na indústria da construção pesada do Estado de São Paulo avançou 4,55% em 2013, segundo dados do Sinicesp (sindicato do setor). O ano terminou com 110.815 pessoas trabalhando na área.
Para 2014, a entidade projeta uma manutenção do crescimento, sem que haja uma alta mais acentuada por causa das eleições.
"A gente não sentiu nenhuma reação [no segmento]. Se fosse para ter uma elevação maior, já teríamos alguns indicativos", afirma o presidente da entidade, Silvio Ciampaglia.
Por enquanto, nenhuma concessão anunciada pelo governo federal inclui estradas do Estado --as rodovias são o principal motor da construção pesada.
O sindicato, no entanto, espera uma expansão de pouco mais de 10% no valor das obras licitadas pelo DER (Departamento de Estradas de Rodagem).
"Estamos otimistas com a quantidade de licitações, que devem chegar a 200 [disputas] e alcançar cerca de R$ 3 bilhões em valores", acrescenta Ciampaglia.
"É o montante que falta para atingir o pacote de R$ 10 bilhões [licitados] em quatro anos prometido pelo governo do Estado."
No ano passado, foram 192 concorrências, somando um total de R$ 2,7 bilhões. De 2011 a 2013, foram cerca de R$ 6,4 bilhões.
TERRENO PREPARADO
A Telhanorte, rede de lojas de materiais de construção e reforma, pretende instalar mais quatro unidades até o fim deste ano no Estado de São Paulo.
Serão investidos R$ 34 milhões em pontos em Santos, em Guarulhos e em São Paulo (na rodovia Raposo Tavares). A quarta loja ainda não tem local definido.
A expansão faz parte de um plano da empresa de consolidar sua atuação nos três únicos Estados em que atua: São Paulo, Minas Gerais e Paraná.
"Priorizamos ter uma participação de mercado relevante nesses locais, para somente depois explorarmos outras regiões", afirma Manuel Correa, principal executivo da Telhanorte.
"Quando se pulveriza muito as unidades, a empresa acaba tendo baixa participação de mercado e o custo logístico, de transporte e estocagem, pode se tornar oneroso", diz.
Hoje, a empresa tem 37 lojas. Dessas, 30 estão em São Paulo, quatro em Minas e três no Paraná.
Empresas de eletrônicos deixam de produzir itens
Quase metade dos fabricantes brasileiros de eletroeletrônicos deixou de produzir algum item nos últimos três anos por causa da falta de competitividade.
O dado é de sondagem da Abinee (entidade nacional que reúne a indústria) feita com seus associados.
"O fabricante percebe que uma mercadoria está mais prejudicada e contrata uma empresa no exterior para produzir esse item com a marca dele", diz o presidente da associação, Humberto Barbato.
A maioria das companhias contratadas são chinesas, de acordo com o executivo.
Quase 25% do faturamento do setor, que atingiu R$ 156,6 bilhões no ano passado, é composto por bens importados, ainda segundo a entidade.
"É o resultado de o Brasil ser um país caríssimo para se produzir hoje."
Dentre os fatores que reduzem a competitividade brasileira, Barbato cita a logística e o preço da mão de obra.
"O aumento real do salário no nosso setor cresceu 26% nos últimos dez anos, mas a produtividade não acompanhou esse ritmo", diz.
"A desoneração da folha de pagamento ajudou. Os encargos trabalhistas, porém, continuam pesados."
números
49%
das empresas do setor eletroeletrônico deixaram de fabricar algum produto nos últimos três anos, segundo pesquisa da Abinee
23%
do faturamento da indústria de eletroeletrônico, que atingiu R$ 156,6 bilhões no ano passado, é composto por bens importados
Tecido... As vendas do segmento atacadista de tecidos no Estado de São Paulo registraram em janeiro recuo de 23% na comparação com dezembro do ano passado.
...no atacado A queda é considerada sazonal, de acordo com o Sindicato do Comércio Atacadista de Tecidos, Vestuários e Armarinho do Estado, responsável pelos dados.
Casa nova A Coldwell Banker, marca norte-americana de franquias imobiliárias, planeja abrir 60 unidades neste ano no Brasil. Hoje, são 13 pontos em quatro Estados.
Prato... A SumoSalad, rede australiana de restaurantes que chegou ao Brasil, pretende abrir cem lojas no país nos próximos cinco anos, em sistema de franquia.
...australiano A marca tem hoje 107 unidades (20 próprias e 87 franqueadas) em países como Austrália, Emirados Árabes, Cingapura, Nova Zelândia e Estados Unidos.
De viagem A rede de lojas de almofadas Fom poderá ter mais 20 franquias neste ano, sendo duas em aeroportos --uma no terminal de Guarulhos e a outra no de Recife.
COLHER DE CHÁ INGLÊS
A confiança do consumidor britânico atingiu em janeiro o melhor nível em mais de seis anos, segundo pesquisa feita pela consultoria GfK.
O índice teve uma alta de seis pontos e passou de -13 em dezembro para -7 no mês passado. A escala vai de -100 a 100 (quanto mais alto o número, melhor é o humor).
Com o crescimento, a confiança dos britânicos em relação à economia retornou ao patamar de setembro de 2007.
Os cinco subindicadores que compõem o índice avançaram em janeiro.
Um dos destaques foi a avaliação das finanças pessoais nos próximos 12 meses, que teve uma evolução de seis pontos --de -3 em dezembro para 3 no mês passado.
A expectativa é que a alta do otimismo cause uma elevação no nível de gastos dos consumidores nos próximos meses, diz a empresa.
Apesar dessa tendência, o aumento não ocorreu em dezembro, quando o índice de confiança já estava em patamares melhores. Nesse mês, o varejo teve vendas "anêmicas", segundo a consultoria.
Vândalos nos mercados - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 04/02
Depois de meses de protestos quase pacíficos, donos do dinheiro grosso começam depredações
A BOLSA BRASILEIRA foi a que mais apanhou ontem no mundo. As ações da Petrobras entraram no picador de papel. Não haveria muito jeito de as ações da petroleira escaparem, pois têm muito peso na Bolsa daqui. Enfim, quase tudo aqui estava caindo pelas tabelas.
A Petrobras apanha, de resto, por causa do paniquito com o preço de matérias-primas, que supostamente iria para o brejo, dada a supostamente perigosa desaceleração da economia chinesa. Por fim, a Petrobras deve estar apanhando também porque está no bico do urubu, dada a política equivocada de preços do governo, entre outras.
Como se sabe, o governo tabelou o preço da gasolina, combustível que a Petrobras é obrigada a importar caro e a vender barato no Brasil. Em reais, o preço dos combustíveis está cada vez mais caro, dada a desvalorização do real. Logo, a Petrobras perde mais dinheiro.
O caso do Brasil, ainda mais o da Petrobras, foi só um dos barcos fazendo água na tormenta do mercado financeiro internacional, que por ora, ao menos, está destrambelhado.
O tumulto está de bom tamanho desde a semana de 22 de janeiro. O problema era a Turquia. Depois, Turquia e Argentina. Depois, uma meia dúzia de "emergentes". Agora, os donos do dinheiro grosso nos Estados Unidos e demais centros do mundo rico estão atirando nos próprios pés.
O que teria havido ontem, de específico, se é que dá para discutir essa maluquice desse modo? Foram divulgados mais dados fracos da produção industrial da China e dos EUA.
A lerdeza chinesa, além do medo da quebra de fundos chineses, faz uns dez dias havia balançado os "emergentes" (que terão problemas em financiar suas contas caso a China cresça bem menos, dado que o capital já estava em parte voltando para os EUA). Agora, veio esse dado fraco americano.
Mas a economia americana não estava se recuperando? Estava, aparentemente está, embora ainda não estivesse claro o ritmo. De qualquer modo, indicadores de atividade econômica de apenas um mês e de um setor não dizem lá grande coisa.
No entanto, isso bastou para mexer nos preços dos ativos financeiros. Tempere-se esse caldo com rolos em muitas parte do mundo relevante ("emergentes grandes", China etc.) com uma colherada de propensão à histeria dos "mercados" e pronto. O caldo entorna.
A princípio, poderia até não ser nada sério, poderia ser que a coisa se acalmasse já hoje, terça-feira. Mas pode ser que não. O fato de haver essas chacoalhadas loucas no mercado pode causar acidentes graves.
Sim, há problemas reais. A China desacelera, sim, mas ninguém sabe quanto; o capital emigra dos "emergentes", sim, muitos dos quais estavam meio de calças curtas, consumindo demais. Mas nenhum desses fatores era desconhecido na semana passada.
No entanto, há medo. Donos do dinheiro grosso tiram dinheiro das Bolsas americanas e de ativos "emergentes", inflados por anos de capital barato. Migram para os títulos do Tesouro americano faz uns 15 dias.
Desde quinta, o juro dos títulos brasileiros de dez anos está acima de 7% REAIS (isto é, além da inflação). Faz um ano, estava em 3,5%. Viaja para as alturas na companhia do dólar."
Bom dia, presidenta Dilma. Os arruaceiros batem à porta. Está na hora de acordar.
Depois de meses de protestos quase pacíficos, donos do dinheiro grosso começam depredações
A BOLSA BRASILEIRA foi a que mais apanhou ontem no mundo. As ações da Petrobras entraram no picador de papel. Não haveria muito jeito de as ações da petroleira escaparem, pois têm muito peso na Bolsa daqui. Enfim, quase tudo aqui estava caindo pelas tabelas.
A Petrobras apanha, de resto, por causa do paniquito com o preço de matérias-primas, que supostamente iria para o brejo, dada a supostamente perigosa desaceleração da economia chinesa. Por fim, a Petrobras deve estar apanhando também porque está no bico do urubu, dada a política equivocada de preços do governo, entre outras.
Como se sabe, o governo tabelou o preço da gasolina, combustível que a Petrobras é obrigada a importar caro e a vender barato no Brasil. Em reais, o preço dos combustíveis está cada vez mais caro, dada a desvalorização do real. Logo, a Petrobras perde mais dinheiro.
O caso do Brasil, ainda mais o da Petrobras, foi só um dos barcos fazendo água na tormenta do mercado financeiro internacional, que por ora, ao menos, está destrambelhado.
O tumulto está de bom tamanho desde a semana de 22 de janeiro. O problema era a Turquia. Depois, Turquia e Argentina. Depois, uma meia dúzia de "emergentes". Agora, os donos do dinheiro grosso nos Estados Unidos e demais centros do mundo rico estão atirando nos próprios pés.
O que teria havido ontem, de específico, se é que dá para discutir essa maluquice desse modo? Foram divulgados mais dados fracos da produção industrial da China e dos EUA.
A lerdeza chinesa, além do medo da quebra de fundos chineses, faz uns dez dias havia balançado os "emergentes" (que terão problemas em financiar suas contas caso a China cresça bem menos, dado que o capital já estava em parte voltando para os EUA). Agora, veio esse dado fraco americano.
Mas a economia americana não estava se recuperando? Estava, aparentemente está, embora ainda não estivesse claro o ritmo. De qualquer modo, indicadores de atividade econômica de apenas um mês e de um setor não dizem lá grande coisa.
No entanto, isso bastou para mexer nos preços dos ativos financeiros. Tempere-se esse caldo com rolos em muitas parte do mundo relevante ("emergentes grandes", China etc.) com uma colherada de propensão à histeria dos "mercados" e pronto. O caldo entorna.
A princípio, poderia até não ser nada sério, poderia ser que a coisa se acalmasse já hoje, terça-feira. Mas pode ser que não. O fato de haver essas chacoalhadas loucas no mercado pode causar acidentes graves.
Sim, há problemas reais. A China desacelera, sim, mas ninguém sabe quanto; o capital emigra dos "emergentes", sim, muitos dos quais estavam meio de calças curtas, consumindo demais. Mas nenhum desses fatores era desconhecido na semana passada.
No entanto, há medo. Donos do dinheiro grosso tiram dinheiro das Bolsas americanas e de ativos "emergentes", inflados por anos de capital barato. Migram para os títulos do Tesouro americano faz uns 15 dias.
Desde quinta, o juro dos títulos brasileiros de dez anos está acima de 7% REAIS (isto é, além da inflação). Faz um ano, estava em 3,5%. Viaja para as alturas na companhia do dólar."
Bom dia, presidenta Dilma. Os arruaceiros batem à porta. Está na hora de acordar.
Rombo recorde - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 04/02
A balança comercial (exportações menos importações) acusou em janeiro um rombo recorde que já vinha sendo antecipado nos radares, de US$ 4,1 bilhões. Só para comparar, em todo o ano de 2013 houve saldo positivo (superávit) de US$ 2,7 bilhões e, ainda assim, conseguidos com as tais "exportações fíctias" de US$ 7,7 bilhões, de sete plataformas de petróleo, que não saíram das águas nacionais.
Em janeiro de 2013, o déficit comercial foi quase igual, de US$ 4,0 bilhões, mas esses números não são comparáveis porque importações de petróleo que deveriam ser registradas ainda em 2012 ficaram para janeiro de 2013 e inflaram artificialmente as estatísticas.
Os números ruins deste ano chegam num momento em que as contas externas como um todo, e não apenas as do comércio, vêm mostrando deterioração. Isso parece indicar que a economia precisa de suprir-se de mais dólares para honrar seus compromissos e, no entanto, a temporada é de crescente escassez de moeda estrangeira no mercado internacional.
Os analistas do governo não veem problema - ou, pelo menos, preferem dizer que não há problema. Confiam em que a Petrobrás aumentará sua produção neste ano em pelo menos 10% e isso ajudará a reduzir as importações.
Também confiam na recuperação das exportações de manufaturados, baseados em que o real desvalorizado em pelo menos 20% em relação ao dólar barateou o produto nacional lá fora. Esse efeito pode ter começado a aparecer nas exportações, mas é difícil de prever seu alcance. A indústria brasileira continua pouco competitiva. E, como está muito dependente de suprimento externo de máquinas, peças e componentes, não está claro que mostre desempenho melhor. E há o problema da Argentina. Nada menos que 8% das exportações do Brasil vão para lá. Desse mato sairão menos coelhos, porque a perspectiva especialmente para a Argentina que tem um calote nas costas é de falta de dólares para pagar compromissos externos. E a provável recuperação do comércio mundial também não ajuda porque o Brasil fez sua opção pelos pobres, especialmente pela Argentina e pela Venezuela, e não demonstrou nenhuma questão de fechar acordos comerciais com os países de ponta. É possível que as exportações das safras favoreçam alguma recuperação da balança comercial. Mas não há segurança nisso.
O enfraquecimento da balança comercial tem as mesmas causas do aumento da vulnerabilidade geral da economia brasileira. Trata-se da excessiva pressão do consumo não acompanhado de aumento da produção interna, que puxa pelas importações - a começar pelos combustíveis.
Como as causas são as mesmas, o ajuste também começaria pelo mesmo procedimento: forte redução das despesas públicas, de maneira a conter o consumo e resgatar a confiança externa. Mas vá saber se há disposição para isso no governo Dilma, que hoje não pensa em outra coisa senão em garantir não apenas a reeleição, mas, também, aumento da base política para seu partido.
A balança comercial (exportações menos importações) acusou em janeiro um rombo recorde que já vinha sendo antecipado nos radares, de US$ 4,1 bilhões. Só para comparar, em todo o ano de 2013 houve saldo positivo (superávit) de US$ 2,7 bilhões e, ainda assim, conseguidos com as tais "exportações fíctias" de US$ 7,7 bilhões, de sete plataformas de petróleo, que não saíram das águas nacionais.
Em janeiro de 2013, o déficit comercial foi quase igual, de US$ 4,0 bilhões, mas esses números não são comparáveis porque importações de petróleo que deveriam ser registradas ainda em 2012 ficaram para janeiro de 2013 e inflaram artificialmente as estatísticas.
Os números ruins deste ano chegam num momento em que as contas externas como um todo, e não apenas as do comércio, vêm mostrando deterioração. Isso parece indicar que a economia precisa de suprir-se de mais dólares para honrar seus compromissos e, no entanto, a temporada é de crescente escassez de moeda estrangeira no mercado internacional.
Os analistas do governo não veem problema - ou, pelo menos, preferem dizer que não há problema. Confiam em que a Petrobrás aumentará sua produção neste ano em pelo menos 10% e isso ajudará a reduzir as importações.
Também confiam na recuperação das exportações de manufaturados, baseados em que o real desvalorizado em pelo menos 20% em relação ao dólar barateou o produto nacional lá fora. Esse efeito pode ter começado a aparecer nas exportações, mas é difícil de prever seu alcance. A indústria brasileira continua pouco competitiva. E, como está muito dependente de suprimento externo de máquinas, peças e componentes, não está claro que mostre desempenho melhor. E há o problema da Argentina. Nada menos que 8% das exportações do Brasil vão para lá. Desse mato sairão menos coelhos, porque a perspectiva especialmente para a Argentina que tem um calote nas costas é de falta de dólares para pagar compromissos externos. E a provável recuperação do comércio mundial também não ajuda porque o Brasil fez sua opção pelos pobres, especialmente pela Argentina e pela Venezuela, e não demonstrou nenhuma questão de fechar acordos comerciais com os países de ponta. É possível que as exportações das safras favoreçam alguma recuperação da balança comercial. Mas não há segurança nisso.
O enfraquecimento da balança comercial tem as mesmas causas do aumento da vulnerabilidade geral da economia brasileira. Trata-se da excessiva pressão do consumo não acompanhado de aumento da produção interna, que puxa pelas importações - a começar pelos combustíveis.
Como as causas são as mesmas, o ajuste também começaria pelo mesmo procedimento: forte redução das despesas públicas, de maneira a conter o consumo e resgatar a confiança externa. Mas vá saber se há disposição para isso no governo Dilma, que hoje não pensa em outra coisa senão em garantir não apenas a reeleição, mas, também, aumento da base política para seu partido.
Emergentes e avançados na gangorra - ILAN GOLDFAJN
O GLOBO - 04/02
O início de 2014 veio com um alerta que mais parece de voo: afivelem os cintos que o ano está começando. Os investidores resolveram retirar bilhões de dólares dos fundos de investimento para economias emergentes. Há vítimas entre os países. A Turquia viu sua moeda se depreciar e foi obrigada a um choque de juros para evitar o pior. A Argentina e a Venezuela sofrem da falta de dólares (e outras cositas básicas), o que sempre é o fim da linha para esses regimes voluntariosos. Até Brics como Rússia e África do Sul sofreram. O que está acontecendo? Qual é o fundamento para essa aversão a emergentes? Será que ela vai atingir todos os países em desenvolvimento? Como o Brasil pode defender-se neste momento?
Certamente, há uma reação negativa às economias emergentes no momento atual. Os recursos saem dos emergentes e vão buscar refúgio nas economias avançadas. Houve saques de pelo menos US$ 13 bilhões dos fundos de investimentos para emergentes neste ano, US$ 8 bilhões só na semana passada. Nos fundos de investimento para a América Latina, foram dois saques de mais de US$ 3 bilhões. A semana passada só não foi pior diante dos fluxos que ocorreram quando o ex-presidente do Federal Reserve Ben Bernanke anunciou que começaria a normalizar a política monetária nos EUA (tapering) no fim de maio do ano passado.
Com a saída de capitais as moedas perderam valor, e o dólar ganhou. Neste início de ano a Turquia viu sua moeda se depreciar em mais de 5% (apesar da subida de juros em 4,25 pontos porcentuais de uma vez). O florim húngaro depreciou-se 6,5%. Na América Latina, os pesos colombiano e chileno perderam, respectivamente, mais que 4% e 5%, o que é muito para um mês. Sem mencionar o peso argentino, que despencou 18% neste mês, em típica crise cambial.
Os Brics, antes as locomotivas do mundo e agora vistos como em "crise de meia-idade" (título da sessão a que assisti com ministros da Fazenda no Fórum Econômico em Davos), não foram poupados: o rublo perdeu 6,5% e o rand sul-africano, quase 6%. O real até que foi poupado neste ano, depreciando-se "apenas" 1,7%, uma vez que sofreu consideravelmente em 2013. O que está havendo no mundo?
Há um retorno dos investidores para as economias avançadas. Desde a crise financeira em 2008 as economias emergentes tornaram-se o principal motor da economia global, descolando-se das desenvolvidas. Aparentemente, no entanto, os papéis estão prestes a se inverter, com a recuperação dos países do G7 - especialmente os EUA - e a desaceleração das principais economias emergentes. Brasil, China e Índia, por exemplo, recuaram de 3,7%, 9,6% e 7,3% na média do crescimento entre 2008 e 2011 para algo em torno de 2,2%, 7,7% e 3,8% em 2013, respectivamente.
O que era visto como uma sólida tendência de longo prazo - o crescimento mundial impulsionado pelo dinamismo dos emergentes - se dissipou na cabeça dos investidores que questionam seu futuro. Parece que o estopim para a piora na semana passada foi o número fraco de atividade na China e a crise localizada nesse mercado financeiro informal.
Muitos se perguntam se mudou tudo: e, agora, os emergentes vão submergir e os avançados emergir?
Acredito que não. Nas últimas décadas, economias avançadas e emergentes alternaram performances positivas e negativas. Em certos momentos cresceram de forma alinhada, em outros se descolaram completamente. Hoje em dia há sinais mais animadores entre os avançados, principalmente nos EUA, que devem voltar a crescer 3% neste ano. Mas uma questão-chave é saber se a recuperação dessas nações, ainda responsáveis por mais da metade da demanda global, pode reacender o fôlego das economias do mundo emergente.
No passado recente, a "maré" global foi determinante. Nos tempos favoráveis da primeira década do século bastava não errar muito para crescer razoavelmente. Algumas economias aproveitaram mais que outras, mas todas tiveram desempenhos favoráveis. Já a crise em 2009 derrubou todas, independentemente da qualidade de seus fundamentos.
Desta vez a maré deve subir apenas moderadamente e levantar alguns barcos emergentes, mas não todos: é provável que os efeitos da recuperação dos avançados sobre os emergentes sejam mistos, determinados pelos fundamentos de cada país.
A preocupação é que se repita o ocorrido na década passada, quando os juros nos EUA passaram a subir a partir de 2004, após um período prolongado de baixa. O movimento provocou turbulência nos mercados que, se reeditado no atual ambiente, poderia contrabalançar o impulso positivo que a retomada do mundo avançado teoricamente deveria causar.
Com a esperada normalização da política monetária e a consequente redução da liquidez global, dois fatores serão chave para a diferenciação entre emergentes: a dependência de poupança externa e o bom uso dos fluxos de capital.
O grande desafio para o Brasil é buscar um bom desempenho num ambiente de crescimento moderado dos países desenvolvidos e performance heterogênea entre os emergentes. No caso do Brasil, ajustes macroeconômicos são necessários, particularmente do lado fiscal. A dívida externa relativamente baixa e o tamanho do mercado interno são aspectos positivos do País. Acordos de livre-comércio seriam muito bem-vindos.
A escolha e a qualidade da política econômica serão decisivas para o desempenho dos países emergentes no médio prazo. O Brasil ainda tem em mãos instrumentos para corrigir e recalibrar a sua estratégia econômica, com custos políticos relativamente administráveis. As escolhas de política econômica a serem feitas nos próximos anos provavelmente definirão o desempenho do País até pelo menos o fim da atual década.
O início de 2014 veio com um alerta que mais parece de voo: afivelem os cintos que o ano está começando. Os investidores resolveram retirar bilhões de dólares dos fundos de investimento para economias emergentes. Há vítimas entre os países. A Turquia viu sua moeda se depreciar e foi obrigada a um choque de juros para evitar o pior. A Argentina e a Venezuela sofrem da falta de dólares (e outras cositas básicas), o que sempre é o fim da linha para esses regimes voluntariosos. Até Brics como Rússia e África do Sul sofreram. O que está acontecendo? Qual é o fundamento para essa aversão a emergentes? Será que ela vai atingir todos os países em desenvolvimento? Como o Brasil pode defender-se neste momento?
Certamente, há uma reação negativa às economias emergentes no momento atual. Os recursos saem dos emergentes e vão buscar refúgio nas economias avançadas. Houve saques de pelo menos US$ 13 bilhões dos fundos de investimentos para emergentes neste ano, US$ 8 bilhões só na semana passada. Nos fundos de investimento para a América Latina, foram dois saques de mais de US$ 3 bilhões. A semana passada só não foi pior diante dos fluxos que ocorreram quando o ex-presidente do Federal Reserve Ben Bernanke anunciou que começaria a normalizar a política monetária nos EUA (tapering) no fim de maio do ano passado.
Com a saída de capitais as moedas perderam valor, e o dólar ganhou. Neste início de ano a Turquia viu sua moeda se depreciar em mais de 5% (apesar da subida de juros em 4,25 pontos porcentuais de uma vez). O florim húngaro depreciou-se 6,5%. Na América Latina, os pesos colombiano e chileno perderam, respectivamente, mais que 4% e 5%, o que é muito para um mês. Sem mencionar o peso argentino, que despencou 18% neste mês, em típica crise cambial.
Os Brics, antes as locomotivas do mundo e agora vistos como em "crise de meia-idade" (título da sessão a que assisti com ministros da Fazenda no Fórum Econômico em Davos), não foram poupados: o rublo perdeu 6,5% e o rand sul-africano, quase 6%. O real até que foi poupado neste ano, depreciando-se "apenas" 1,7%, uma vez que sofreu consideravelmente em 2013. O que está havendo no mundo?
Há um retorno dos investidores para as economias avançadas. Desde a crise financeira em 2008 as economias emergentes tornaram-se o principal motor da economia global, descolando-se das desenvolvidas. Aparentemente, no entanto, os papéis estão prestes a se inverter, com a recuperação dos países do G7 - especialmente os EUA - e a desaceleração das principais economias emergentes. Brasil, China e Índia, por exemplo, recuaram de 3,7%, 9,6% e 7,3% na média do crescimento entre 2008 e 2011 para algo em torno de 2,2%, 7,7% e 3,8% em 2013, respectivamente.
O que era visto como uma sólida tendência de longo prazo - o crescimento mundial impulsionado pelo dinamismo dos emergentes - se dissipou na cabeça dos investidores que questionam seu futuro. Parece que o estopim para a piora na semana passada foi o número fraco de atividade na China e a crise localizada nesse mercado financeiro informal.
Muitos se perguntam se mudou tudo: e, agora, os emergentes vão submergir e os avançados emergir?
Acredito que não. Nas últimas décadas, economias avançadas e emergentes alternaram performances positivas e negativas. Em certos momentos cresceram de forma alinhada, em outros se descolaram completamente. Hoje em dia há sinais mais animadores entre os avançados, principalmente nos EUA, que devem voltar a crescer 3% neste ano. Mas uma questão-chave é saber se a recuperação dessas nações, ainda responsáveis por mais da metade da demanda global, pode reacender o fôlego das economias do mundo emergente.
No passado recente, a "maré" global foi determinante. Nos tempos favoráveis da primeira década do século bastava não errar muito para crescer razoavelmente. Algumas economias aproveitaram mais que outras, mas todas tiveram desempenhos favoráveis. Já a crise em 2009 derrubou todas, independentemente da qualidade de seus fundamentos.
Desta vez a maré deve subir apenas moderadamente e levantar alguns barcos emergentes, mas não todos: é provável que os efeitos da recuperação dos avançados sobre os emergentes sejam mistos, determinados pelos fundamentos de cada país.
A preocupação é que se repita o ocorrido na década passada, quando os juros nos EUA passaram a subir a partir de 2004, após um período prolongado de baixa. O movimento provocou turbulência nos mercados que, se reeditado no atual ambiente, poderia contrabalançar o impulso positivo que a retomada do mundo avançado teoricamente deveria causar.
Com a esperada normalização da política monetária e a consequente redução da liquidez global, dois fatores serão chave para a diferenciação entre emergentes: a dependência de poupança externa e o bom uso dos fluxos de capital.
O grande desafio para o Brasil é buscar um bom desempenho num ambiente de crescimento moderado dos países desenvolvidos e performance heterogênea entre os emergentes. No caso do Brasil, ajustes macroeconômicos são necessários, particularmente do lado fiscal. A dívida externa relativamente baixa e o tamanho do mercado interno são aspectos positivos do País. Acordos de livre-comércio seriam muito bem-vindos.
A escolha e a qualidade da política econômica serão decisivas para o desempenho dos países emergentes no médio prazo. O Brasil ainda tem em mãos instrumentos para corrigir e recalibrar a sua estratégia econômica, com custos políticos relativamente administráveis. As escolhas de política econômica a serem feitas nos próximos anos provavelmente definirão o desempenho do País até pelo menos o fim da atual década.
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