O GLOBO - 04/02
A ideia da moda dos “cinco frágeis” tem os mesmos defeitos das simplificações feitas pelo mercado quando a avaliação era a de que tudo estava bem. Mesmo assim, é preciso verificar quais fragilidades o Brasil tem neste momento de maior dificuldade do cenário internacional. Nada surgiu de repente. Aqui foi mostrado, várias vezes, o aumento do risco-país medido pelo CDS.
Há meses ele começou a se descolar dos outros países da região — exceto dos doentes crônicos, Argentina e Venezuela. Estava ficando mais alto até do que de países que estiveram recentemente em crise na Europa, como Espanha, Itália e Irlanda. Ao contrário das notas dadas pelas agências, esse mede algo real. O quanto o mercado cobra por um seguro contra aquele país.
Pode parecer exagero, principalmente pelo fato de o Brasil ter reservas cambiais e capacidade de pagar sua dívida. Mas a soma dos indicadores ruins — crescimento rápido do déficit em transações correntes, falta de dinamismo da economia, inflação alta e tendência à desvalorização da moeda — reduz a confiança no país. O Brasil não se parece em todos os pontos com os países que estão sendo vistos como mais vulneráveis, mas, a cada dia, a imprensa internacional descobre mais uma semelhança.
Uma delas, citada pelo “Financial Times” neste fim de semana, foi que alguns países têm o mesmo problema do Brasil: o uso subsidiado dos derivados de petróleo que precisam ser importados. Com a alta do dólar, aumenta o custo dos subsídios ao petróleo e fica difícil mantê-los.
Em outubro, a Indonésia disse que gastaria, em 2014, 11% mais em subsídio aos combustíveis do que tinha gasto em 2013.
Mas, depois disso, a rúpia indonésia perdeu 20% do seu valor. Isso significa um aumento desse custo. A Índia subiu o preço do diesel depois que a rúpia indiana se desvalorizou. A elevação do preço dos combustíveis provocou queda da produção industrial.
O que está acontecendo em vários países é que a desvalorização está tornando pesado demais manter os subsídios. No Brasil, se o dólar continuar subindo, o desequilíbrio financeiro da Petrobras vai se agravar, tornando difícil manter os preços defasados internacionalmente.
O dilema desses países, segundo o “Financial Times", é o mesmo do Brasil: se for mantido o incentivo ao consumo, aumenta o déficit na balança comercial e o custo fiscal; se os preços forem corrigidos, a inflação sobe ainda mais, cai a renda disponível e isso afeta o crescimento. Os juros podem ter que continuar em alta. Todos são países em que a inflação já está elevada.
Vários alertas foram dados ao governo brasileiro nos últimos anos sobre a inconsistência de subsidiar o uso da gasolina, um combustível fóssil, ao custo de causar perdas para a Petrobras e criar um rombo na balança comercial. Isso sem falar no custo fiscal. Só no ano passado, e apenas com a alíquota zero da Cide, o governo deixou de arrecadar R$11 bilhões. Em outra conta feita para esta coluna, quando a alíquota foi reduzida para zero em 2012, o consultor Adriano Pires disse que a redução paulatina da Cide até a sua eliminação havia subtraído dos cofres públicos R$ 23 bilhões.
É essa a conta que chega agora. Os analistas olham os indicadores fracos, somam com as contradições da política econômica — como essa de subsidiar o uso de combustíveis fósseis importados — e acreditam que a crise externa vai nos afetar, mesmo que tenhamos outros pontos fortes.
O ano não começou bem para o Brasil. A bolsa fechou o mês de janeiro em queda de 7,5%, com o pior resultado para o mês desde 1995, e ontem caiu mais 3%. O dólar subiu ontem novamente e atingiu a máxima desde agosto, a balança comercial teve déficit de US$ 4,5 bilhões, o maior já registrado para esse mês na série histórica. A falta de chuvas e o calor forte aumentaram o consumo de energia e fizeram o preço no mercado à vista também bater recorde histórico. Isso aumenta a pressão sobre as contas do governo e sobre a inflação.
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