O GLOBO - 30/08
Armínio Fraga foi o comandante da etapa de consolidação do Plano Real — a última coisa séria feita no Brasil
Pela primeira vez em 12 anos, os companheiros avistam a possibilidade real de ter que largar o osso. Nem a obra-prima do mensalão às vésperas da eleição de 2006 chegara a ameaçar a hegemonia dos coitados sobre a elite branca. A um mês da votação, surgem as pesquisas indicando que o PT não é mais o favorito a continuar encastelado no Planalto. Desespero total.
Pode-se imaginar o movimento fervilhante nas centrais de dossiês aloprados. Há de surgir na Wikipédia o passado tenebroso dos adversários de Dilma Rousseff. Logo descobriremos que foram eles que sumiram com Amarildo, que depenaram a Petrobras, que treinaram a seleção contra os alemães. É questão de vida ou morte: como se sabe, a elite vermelha terá sérias dificuldades de sobrevivência se tiver que trabalhar. Vão “fazer o diabo”, como disse a presidente, para ganhar a eleição e não perder a gerência da boca.
O Brasil acaba de assistir à queda de um avião sobre o castelo eleitoral do PT. Questionada sobre as investigações acerca da situação legal da aeronave que caiu, Dilma respondeu que não está “acompanhando isso”, e que o assunto não é do seu “profundo interesse”. Altamente coerente. Se a presidente e seu padrinho não “acompanharam” as tragédias no governo popular — mensalão, Rosemary e grande elenco — não haveria por que terem “profundo interesse” numa tragédia que veio de fora. Eles sempre fingiram que estava tudo bem e o povo acreditou, não há por que acusar o golpe agora. Avião? Que avião?
Melhor continuar arremessando gaivotas de papel, para distrair o público. Até o ministro decorativo da Fazenda foi chamado para atirar a sua. Guido Mantega, como Dilma e toda a tropa, é militante de Lula. O filho do Brasil ordena, eles disparam. Mantega já chegou a apresentar um gráfico amestrado relacionando o PAC com o PIB — um estelionato intelectual que o Brasil, como sempre, engoliu. Agora o homem forte (?) da economia companheira entra na campanha para dizer que Armínio Fraga desrespeitou as metas de inflação. Uma gaivota pornográfica.
Para encurtar a conversa, bastaria dizer que Armínio Fraga foi um dos homens que construíram aquilo que Mantega e seu bando há anos tentam destruir. Inclusive a meta de inflação. Armínio foi o comandante da etapa de consolidação do Plano Real — última coisa séria feita no Brasil — enfrentando o efeito devastador da crise da Rússia, que teria reduzido a economia nacional a pó se ela estivesse nas mãos de um desses bravateiros com estrelinha. Mantega e padrinhos associados devem a Armínio Fraga e aos realizadores do Plano Real a vida mansa que levaram nos últimos 12 anos. E deve ser mesmo angustiante desconfiar pela primeira vez que essa moleza vai acabar.
Se debate eleitoral tivesse alguma ligação com a realidade, bastaria convidar os companheiros a citar uma medida de sua autoria que tenha ajudado a estruturar a economia brasileira. Uma única. Mas não adianta, porque, como o eleitorado viaja na maionese, basta aos petistas dizer — como passaram a última década dizendo — que eles livraram o Brasil da inflação de Fernando Henrique. A própria Dilma foi eleita em 2010 com esse humor negro, e jamais caiu no ridículo por isso. Com a fraude devidamente avalizada pelo distinto público, Guido Mantega pode se comparar a Armínio Fraga e entrar em casa sem ter que esconder o rosto.
Em meio às propostas ornamentais, aliás, Armínio é o dado concreto da corrida presidencial até aqui. Nada de poesia, de “nova política”, de arautos da “mudança” — conceito tão específico quanto “felicidade”, que enche os olhos da Primavera Burra e dos depredadores do bem. Armínio não é terceira, quarta ou quinta via, nem a mediatriz mágica entre o passado e o futuro. É um economista testado e aprovado no front governamental, que não ficará no Ministério da Fazenda transformando panfleto em gaivota.
O PSDB, como os outros partidos, adora vender contos de fadas. Mas seu candidato, Aécio Neves, resolveu anunciar previamente o seu principal ministro. Eis a sutil diferença entre o compromisso e a conversa fiada.
Marina Silva também é uma boa notícia. Só o fato de ser uma pessoa íntegra já oferece um contraponto valioso à picaretagem travestida de bondade. Nunca é tarde para o feminismo curar a ressaca dos últimos quatro anos. O que seria um governo Marina, porém, nem ela sabe. Se cumprir a promessa de Eduardo Campos e empurrar o PMDB S.A. para a oposição, que grande partido comporia a sua sustentação política? Olhe em volta e constate, com arrepios, a hipótese mais provável: ele mesmo, o PT — prontinho para a mudança, com frete e tudo.
Marina vem do PT e está no PSB, cujo ideário é de arrepiar o maior sonho cubano de José Dirceu. E tentar governar acima dos partidos foi o que Collor fez. Que forças, afinal, afiançariam as virtudes de Marina?
A elite vermelha está pronta para se esverdear.
sábado, agosto 30, 2014
A onda se forma - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 30/08
Ontem deve ter sido o dia mais difícil da presidente Dilma nos últimos tempos, só teve notícia ruim. Pela manhã, o anúncio oficial de uma recessão econômica, à noite a pesquisa Datafolha no "Jornal Nacional" anunciando o que a maioria já previa: Marina Silva alcançou-a no primeiro turno, preparando a ultrapassagem previsível nas próximas sondagens, e tem vitória confirmada no segundo turno por dez pontos de vantagem.
Para o tucano Aécio Neves, sobra a constatação de estar no lugar certo no momento errado, pois antes do acidente trágico que matou o ex-governador Eduardo Campos tinha condições de chegar ao segundo turno, e até mesmo ganhar a eleição.
Preparado para uma disputa que tinha como mote o fim da era PT, de repente o candidato do PSDB foi atirado em meio a uma nova eleição, que abriu outra perspectiva eleitoral, com o mesmo sentido mas com outros ingredientes: a emoção superando a razão, os símbolos ganhando dimensões de realidade, trocada pelos sonhos.
Basicamente, o programa lançado ontem pela candidata Marina Silva é o mesmo programa econômico que o PSDB apresentou, já defendido em diversas ocasiões tanto pelo candidato quanto por aquele que seria (será?) seu ministro da Fazenda, o economista Armínio Fraga.
Natural, pois Campos e Aécio estiveram muito próximos no início da campanha, e a própria Marina tem em sua equipe economistas de pensamentos similares aos dos do PSDB, inclusive um, André Lara Resende, que já esteve no governo de Fernando Henrique Cardoso. Outro, Giannetti da Fonseca, já disse que um eventual governo Marina a economia poderia ser comandada pelo mesmo Armínio, o que, mais que uma revelação de decisão, é uma indicação da proximidade na visão econômica dos dois partidos.
O ponto talvez mais polêmico do programa do PSB seja o deslocamento de prioridades na política energética, com o incentivo para fontes de energia alternativas ao petróleo. O pré-sal, que se transformou em ponta de lança dos governos petistas, passaria a ter um papel secundário, dentro do entendimento de que o crescimento econômico deve obedecer à preservação do meio ambiente.
O petróleo seria "um mal necessário" para Marina, e o país deve preparar-se para viver sem ele, que é um insumo finito e poluidor.
Implícito nessa política está também que o incentivo ao consumo de automóveis, com isenção de impostos e controle do preço da gasolina, será abandonada.
Há outro ponto de aproximação importante entre PSB e PSDB: a intenção de retirar a centralidade do Mercosul na nossa política de comércio exterior, abrindo espaços para acordos bilaterais como vêm fazendo os países da Aliança Atlântica, como Peru e Chile. Além dos aspectos econômicos, está embutida nessa decisão estratégica uma mudança geopolítica importante, que nos afastaria dos países chamados "bolivarianos" da América Latina.
Essa coincidência de pontos de vista pode facilitar um acordo com o PSDB no segundo turno.
Ontem, até mesmo o mote de Aécio de chamar o eleitorado "para conversar" foi utilizado por Marina no Twitter, se propondo a conversar com os eleitores para esclarecer as denúncias que estão pipocando nas redes sociais.
Para a presidente Dilma, em queda e com uma crise econômica pela frente, uma visão esquizofrênica: para explicar o fracasso da economia, seus aliados dizem que a recessão ficou para trás nos dois primeiros trimestres e já estamos crescendo novamente, embora nada indique que isso seja verdade.
Com relação à pesquisa que mostra Dilma sendo alcançada por Marina, uma caindo, a outra em ascensão, veem uma situação imutável, com seu favoritismo mantido. A pesquisa Datafolha indica que Marina vem crescendo e já superou Dilma no Sudeste e no Centro-Oeste (regiões em que o PSDB venceu nas eleições presidenciais anteriores) e nas cidades médias e grandes em todo o país.
Não parece uma mera onda passageira.
Para o tucano Aécio Neves, sobra a constatação de estar no lugar certo no momento errado, pois antes do acidente trágico que matou o ex-governador Eduardo Campos tinha condições de chegar ao segundo turno, e até mesmo ganhar a eleição.
Preparado para uma disputa que tinha como mote o fim da era PT, de repente o candidato do PSDB foi atirado em meio a uma nova eleição, que abriu outra perspectiva eleitoral, com o mesmo sentido mas com outros ingredientes: a emoção superando a razão, os símbolos ganhando dimensões de realidade, trocada pelos sonhos.
Basicamente, o programa lançado ontem pela candidata Marina Silva é o mesmo programa econômico que o PSDB apresentou, já defendido em diversas ocasiões tanto pelo candidato quanto por aquele que seria (será?) seu ministro da Fazenda, o economista Armínio Fraga.
Natural, pois Campos e Aécio estiveram muito próximos no início da campanha, e a própria Marina tem em sua equipe economistas de pensamentos similares aos dos do PSDB, inclusive um, André Lara Resende, que já esteve no governo de Fernando Henrique Cardoso. Outro, Giannetti da Fonseca, já disse que um eventual governo Marina a economia poderia ser comandada pelo mesmo Armínio, o que, mais que uma revelação de decisão, é uma indicação da proximidade na visão econômica dos dois partidos.
O ponto talvez mais polêmico do programa do PSB seja o deslocamento de prioridades na política energética, com o incentivo para fontes de energia alternativas ao petróleo. O pré-sal, que se transformou em ponta de lança dos governos petistas, passaria a ter um papel secundário, dentro do entendimento de que o crescimento econômico deve obedecer à preservação do meio ambiente.
O petróleo seria "um mal necessário" para Marina, e o país deve preparar-se para viver sem ele, que é um insumo finito e poluidor.
Implícito nessa política está também que o incentivo ao consumo de automóveis, com isenção de impostos e controle do preço da gasolina, será abandonada.
Há outro ponto de aproximação importante entre PSB e PSDB: a intenção de retirar a centralidade do Mercosul na nossa política de comércio exterior, abrindo espaços para acordos bilaterais como vêm fazendo os países da Aliança Atlântica, como Peru e Chile. Além dos aspectos econômicos, está embutida nessa decisão estratégica uma mudança geopolítica importante, que nos afastaria dos países chamados "bolivarianos" da América Latina.
Essa coincidência de pontos de vista pode facilitar um acordo com o PSDB no segundo turno.
Ontem, até mesmo o mote de Aécio de chamar o eleitorado "para conversar" foi utilizado por Marina no Twitter, se propondo a conversar com os eleitores para esclarecer as denúncias que estão pipocando nas redes sociais.
Para a presidente Dilma, em queda e com uma crise econômica pela frente, uma visão esquizofrênica: para explicar o fracasso da economia, seus aliados dizem que a recessão ficou para trás nos dois primeiros trimestres e já estamos crescendo novamente, embora nada indique que isso seja verdade.
Com relação à pesquisa que mostra Dilma sendo alcançada por Marina, uma caindo, a outra em ascensão, veem uma situação imutável, com seu favoritismo mantido. A pesquisa Datafolha indica que Marina vem crescendo e já superou Dilma no Sudeste e no Centro-Oeste (regiões em que o PSDB venceu nas eleições presidenciais anteriores) e nas cidades médias e grandes em todo o país.
Não parece uma mera onda passageira.
Recessão e incompetência - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S.PAULO - 30/08
Está confirmado oficialmente: a presidente Dilma Rousseff conseguiu levar o Brasil a uma recessão, com dois trimestres consecutivos de produção em queda. Depois de encolher 0,2% no primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) diminuiu mais 0,6% no período de abril a junho. Mas o governo, além de trapalhão, foi criativo na incompetência. Enfiou a economia brasileira no atoleiro enquanto os países desenvolvidos, com Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido à frente, começavam a vencer a crise. Mas quem, na cúpula federal, se dispõe a reconhecer o desastre e sua causa, o rosário de erros agravados a partir de 2011? A presidente Dilma Rousseff e seus ministros continuam culpando o mundo pelo desempenho brasileiro abaixo de pífio. Esse mundo malvado só existe como desculpa chinfrim para um fiasco indisfarçável. O comércio internacional voltou a crescer, a China continua comprando um volume enorme de matérias-primas e até os países mais afetados pela crise global, como Espanha, Portugal e Grécia, saíram da UTI e estão em movimento. Mesmo em desaceleração, outros emergentes estão mais saudáveis que o Brasil.
No segundo trimestre, o PIB dos Estados Unidos cresceu em ritmo equivalente a 4,2% ao ano. A rápida melhora da maior e mais desenvolvida economia é boa notícia para todo o mundo, mas desmente a lengalenga da presidente Rousseff e de sua equipe. O crescimento americano foi puxado, principalmente, pelo investimento produtivo, base para novos avanços.
No Brasil ocorreu o contrário. O investimento em máquinas, equipamentos, instalações e infraestrutura foi 5,3% menor que no primeiro trimestre do ano e 11,2% inferior ao de um ano antes. No segundo trimestre de 2013, o total investido correspondeu a 18,1% do PIB. Outros emergentes têm exibido taxas frequentemente acima de 24%. Mas o governo ainda conseguiu piorar esse indicador, derrubando a formação bruta de capital fixo para 16,5% do PIB. Foi uma taxa igual à do segundo trimestre de 2009, quando o Brasil estava em recessão, arrastado - naquele momento, sim - pela crise global.
O governo é obviamente culpado pela indigência na formação de capital fixo. Os seus erros prejudicam as ações oficiais - o fiasco do Programa de Aceleração do Crescimento é uma prova disso - e ainda criam insegurança entre os empresários. Empresário assustado com as intervenções do governo e muito inseguro quanto à evolução da economia só investe em máquinas, equipamentos e instalações se for irresponsável.
O investimento baixo e ainda em queda compromete o potencial de crescimento econômico. A recessão no primeiro semestre é parte de um desastre incompleto e ainda em curso. A produção industrial diminuiu 1,5% no trimestre e ficou 3,4% abaixo da de um ano antes. No Brasil, a indústria é a principal fonte de empregos decentes e o mais poderoso motor para o conjunto da economia. Há anos o governo tem cuidado muito mais do consumo que do investimento e, de modo especial, do fortalecimento da indústria. O resultado é inconfundível.
A criatividade na incompetência é evidenciada também pela combinação de baixo crescimento com inflação elevada e contas públicas em deterioração. Em julho, o setor público teve déficit primário de R$ 4,7 bilhões. Pelo terceiro mês consecutivo esse indicador ficou no vermelho. Isso é uma enorme anomalia. Incapaz de equilibrar suas contas, o governo tem-se comprometido, há muito tempo, a separar pelo menos o dinheiro suficiente para pagar juros e estabilizar ou reduzir sua dívida. Esse dinheiro posto de lado é o superávit primário.
A equipe econômica prometeu um resultado primário de R$ 99 bilhões para todo o setor público. O governo central - Tesouro, Previdência e Banco Central - deveria contribuir com R$ 80,7 bilhões. Até julho, o governo central acumulou apenas R$ 13,47 bilhões. O setor público total, R$ 24,68 bilhões. Alcançar a meta, só com muita criatividade e muitos truques. O desastre fiscal combina os efeitos de dois fracassos - da política econômica em geral e, de modo especial, dos incentivos tributários concedidos a setores selecionados. Não funcionaram.
Está confirmado oficialmente: a presidente Dilma Rousseff conseguiu levar o Brasil a uma recessão, com dois trimestres consecutivos de produção em queda. Depois de encolher 0,2% no primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) diminuiu mais 0,6% no período de abril a junho. Mas o governo, além de trapalhão, foi criativo na incompetência. Enfiou a economia brasileira no atoleiro enquanto os países desenvolvidos, com Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido à frente, começavam a vencer a crise. Mas quem, na cúpula federal, se dispõe a reconhecer o desastre e sua causa, o rosário de erros agravados a partir de 2011? A presidente Dilma Rousseff e seus ministros continuam culpando o mundo pelo desempenho brasileiro abaixo de pífio. Esse mundo malvado só existe como desculpa chinfrim para um fiasco indisfarçável. O comércio internacional voltou a crescer, a China continua comprando um volume enorme de matérias-primas e até os países mais afetados pela crise global, como Espanha, Portugal e Grécia, saíram da UTI e estão em movimento. Mesmo em desaceleração, outros emergentes estão mais saudáveis que o Brasil.
No segundo trimestre, o PIB dos Estados Unidos cresceu em ritmo equivalente a 4,2% ao ano. A rápida melhora da maior e mais desenvolvida economia é boa notícia para todo o mundo, mas desmente a lengalenga da presidente Rousseff e de sua equipe. O crescimento americano foi puxado, principalmente, pelo investimento produtivo, base para novos avanços.
No Brasil ocorreu o contrário. O investimento em máquinas, equipamentos, instalações e infraestrutura foi 5,3% menor que no primeiro trimestre do ano e 11,2% inferior ao de um ano antes. No segundo trimestre de 2013, o total investido correspondeu a 18,1% do PIB. Outros emergentes têm exibido taxas frequentemente acima de 24%. Mas o governo ainda conseguiu piorar esse indicador, derrubando a formação bruta de capital fixo para 16,5% do PIB. Foi uma taxa igual à do segundo trimestre de 2009, quando o Brasil estava em recessão, arrastado - naquele momento, sim - pela crise global.
O governo é obviamente culpado pela indigência na formação de capital fixo. Os seus erros prejudicam as ações oficiais - o fiasco do Programa de Aceleração do Crescimento é uma prova disso - e ainda criam insegurança entre os empresários. Empresário assustado com as intervenções do governo e muito inseguro quanto à evolução da economia só investe em máquinas, equipamentos e instalações se for irresponsável.
O investimento baixo e ainda em queda compromete o potencial de crescimento econômico. A recessão no primeiro semestre é parte de um desastre incompleto e ainda em curso. A produção industrial diminuiu 1,5% no trimestre e ficou 3,4% abaixo da de um ano antes. No Brasil, a indústria é a principal fonte de empregos decentes e o mais poderoso motor para o conjunto da economia. Há anos o governo tem cuidado muito mais do consumo que do investimento e, de modo especial, do fortalecimento da indústria. O resultado é inconfundível.
A criatividade na incompetência é evidenciada também pela combinação de baixo crescimento com inflação elevada e contas públicas em deterioração. Em julho, o setor público teve déficit primário de R$ 4,7 bilhões. Pelo terceiro mês consecutivo esse indicador ficou no vermelho. Isso é uma enorme anomalia. Incapaz de equilibrar suas contas, o governo tem-se comprometido, há muito tempo, a separar pelo menos o dinheiro suficiente para pagar juros e estabilizar ou reduzir sua dívida. Esse dinheiro posto de lado é o superávit primário.
A equipe econômica prometeu um resultado primário de R$ 99 bilhões para todo o setor público. O governo central - Tesouro, Previdência e Banco Central - deveria contribuir com R$ 80,7 bilhões. Até julho, o governo central acumulou apenas R$ 13,47 bilhões. O setor público total, R$ 24,68 bilhões. Alcançar a meta, só com muita criatividade e muitos truques. O desastre fiscal combina os efeitos de dois fracassos - da política econômica em geral e, de modo especial, dos incentivos tributários concedidos a setores selecionados. Não funcionaram.
Antessala do desemprego - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 30/08
A verdade dos fatos volta a avisar que a economia brasileira vai muito mal. O Produto Interno Bruto (PIB) recuou 0,6% no segundo trimestre, derrubando previsões cor-de-rosa que o governo insistia em fazer ante o mau resultado (crescimento de 0,2%) dos três primeiros meses. Até então, o país estaria em trajetória de crescimento, ainda que lento. Era esse o discurso, mas nem isso se sustentou: o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo cálculo, revisou para -0,2% a taxa.
Essa revisão é normal e tecnicamente recomendável. Dela resultou que a economia brasileira, que nos últimos três anos vinha desacelerando, está há seis meses andando para trás. A esta altura, é ocioso discutir se estamos ou não em recessão técnica (quando a taxa de crescimento é negativa por dois trimestres seguidos). O que importa é que, mesmo que haja algum refresco no terceiro e no quarto trimestres, 2014 está fadado a fechar um ciclo de quatro anos de baixo desempenho econômico.
No trimestre encerrado em junho, os feriados da Copa do Mundo e supostos respingos da crise mundial estão sendo culpados pelo desastre. É certamente um exagero de quem não pretende, por motivos de calendário eleitoral, reconhecer erros de condução da política econômica, que se acumularam nos últimos anos. Mais sensato e mais construtivo será encarar o problema e buscar coesão para corrigir o rumo e inverter a escalada que põe em risco os empregos e a renda, conquistas que precisam ser mantidas.
Olhar mais crítico sobre os números do trimestre constata mais uma queda na atividade da indústria, que recuou 1,5%, ampliando o já longo ciclo de perdas de competitividade do setor. Além de grande geradora de empregos formais, a indústria é tradicional investidora em expansão e em modernização de equipamentos.
Mas não é isso o que vem ocorrendo: os investimentos, que deveriam ser um dos motores do crescimento do PIB, recuaram 5,3% no trimestre, na comparação com o trimestre anterior. Pior: na comparação com igual período de 2013, a queda foi 11,3%. Isso revela o nível da desconfiança da indústria numa reação da economia brasileira e na capacidade do governo de criar as condições para a retomada do crescimento em prazo razoável.
Outro dado preocupante que merece reflexão foi o desempenho dos serviços. Como ocorre com a maioria das economias de nações mais urbanizadas, esse é o setor que cresce mais rápido e mais aumenta a participação relativa no PIB. No Brasil, enquanto a indústria vem perdendo espaço (responde hoje por pouco mais de 16% da economia), a expansão dos serviços garantiu participação próxima de 70%. No segundo trimestre, o despenho dos serviços foi negativo em 0,5%, o pior desempenho desde o auge da crise mundial de 2008 (-2,8%).
Parte do recuo pode ter sido um dos efeitos perversos da Copa. Só parte. É relevante lembrar que se trata de atividade diretamente ligada ao aumento da renda da população. Nele estão as faculdades e colégios particulares, os restaurantes, o entretenimento, os cuidados com a saúde e com a beleza, para citar algumas demandas, que, não faz muito tempo, passaram a fazer parte da vida de milhões de consumidores. Será imperdoável perder tudo isso por omissão ou incapacidade de conduzir política econômica que favoreça o crescimento.
Essa revisão é normal e tecnicamente recomendável. Dela resultou que a economia brasileira, que nos últimos três anos vinha desacelerando, está há seis meses andando para trás. A esta altura, é ocioso discutir se estamos ou não em recessão técnica (quando a taxa de crescimento é negativa por dois trimestres seguidos). O que importa é que, mesmo que haja algum refresco no terceiro e no quarto trimestres, 2014 está fadado a fechar um ciclo de quatro anos de baixo desempenho econômico.
No trimestre encerrado em junho, os feriados da Copa do Mundo e supostos respingos da crise mundial estão sendo culpados pelo desastre. É certamente um exagero de quem não pretende, por motivos de calendário eleitoral, reconhecer erros de condução da política econômica, que se acumularam nos últimos anos. Mais sensato e mais construtivo será encarar o problema e buscar coesão para corrigir o rumo e inverter a escalada que põe em risco os empregos e a renda, conquistas que precisam ser mantidas.
Olhar mais crítico sobre os números do trimestre constata mais uma queda na atividade da indústria, que recuou 1,5%, ampliando o já longo ciclo de perdas de competitividade do setor. Além de grande geradora de empregos formais, a indústria é tradicional investidora em expansão e em modernização de equipamentos.
Mas não é isso o que vem ocorrendo: os investimentos, que deveriam ser um dos motores do crescimento do PIB, recuaram 5,3% no trimestre, na comparação com o trimestre anterior. Pior: na comparação com igual período de 2013, a queda foi 11,3%. Isso revela o nível da desconfiança da indústria numa reação da economia brasileira e na capacidade do governo de criar as condições para a retomada do crescimento em prazo razoável.
Outro dado preocupante que merece reflexão foi o desempenho dos serviços. Como ocorre com a maioria das economias de nações mais urbanizadas, esse é o setor que cresce mais rápido e mais aumenta a participação relativa no PIB. No Brasil, enquanto a indústria vem perdendo espaço (responde hoje por pouco mais de 16% da economia), a expansão dos serviços garantiu participação próxima de 70%. No segundo trimestre, o despenho dos serviços foi negativo em 0,5%, o pior desempenho desde o auge da crise mundial de 2008 (-2,8%).
Parte do recuo pode ter sido um dos efeitos perversos da Copa. Só parte. É relevante lembrar que se trata de atividade diretamente ligada ao aumento da renda da população. Nele estão as faculdades e colégios particulares, os restaurantes, o entretenimento, os cuidados com a saúde e com a beleza, para citar algumas demandas, que, não faz muito tempo, passaram a fazer parte da vida de milhões de consumidores. Será imperdoável perder tudo isso por omissão ou incapacidade de conduzir política econômica que favoreça o crescimento.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
‘Não quero tributar riquinhos, quero tributar ricaços’
Luciana Genro (PSOL), candidata a presidente, propondo penalizar grandes fortunas
ADESISTAS JÁ CONGESTIONAM O ENTORNO DE MARINA
A ascensão de Marina Silva (PSB) nas pesquisas provocou frenética corrida para adesão à sua candidatura, por isso à sua volta já se pode observar várias figuras conhecidas. Uma delas é o embaixador aposentado José Viegas, por exemplo. Ele conseguiu se aproximar de Marina Silva com o mesmo talento que o levou a “colar” em Lula durante sua ascensão eleitoral. Acabaria nomeado ministro da Defesa.
CERCANDO...
José Viegas chegou a Marina porque, antes, conseguiu se reaproximar de Eduardo Campos, de quem foi colega de ministério no governo Lula.
OPS, OCUPADO
A presença de Viegas inibiu o flerte entre o PSB e Antonio Patriota, ex- chanceler que foi escorraçado do Itamaraty pela presidenta Dilma.
XINGAMENTO
Após Patriota, Dilma adquiriu repulsa a diplomatas. Não os chama pelo nome, mas de “Itamaraty”, de forma debochada, como se fora palavrão.
FUNDO DO POÇO
O Itamaraty chegou a tal ponto que o servidor que cuidava da agenda de Dilma, Giles Azevedo, virou pistolão para promover diplomatas.
PORTARIA CRIA REVISTA PARA MINISTRO CHAMAR DE SUA
O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, resolveu financiar com dinheiro público uma revista para chamar de sua, denominada “Democracia e Participação”. A revista já nasce chapa branca: foi criada por uma portaria de Carvalho, na qual ele deixa claro que ficará por conta do contribuinte os custos da aventura editorial, que inclui produção, impressão e até distribuição.
PROJETO ANACRÔNICO
A revista de Gilberto Carvalho já nasce obsoleta, num momento em que publicações dignas de credibilidade deixam de ser impressas.
DINHEIRO DE NINGUÉM
O secretário-geral da Presidência não deve estar preocupado com a viabilidade da sua revista: afinal, quebrou, o Tesouro paga a conta.
CASO ÚNICO
Candidata ao governo baiano, Lídice da Mata foi caso raro no PSB: ela caiu nas pesquisas, de 11 para 9%, após a ascensão de Marina Silva.
INCOMPETÊNCIA
Admitir o problema, advertiu Marina Silva no debate da Band, é o passo inicial para resolvê-lo. Exceto se Mantega é o ministro da Fazenda: ele atribui a queda de 0,6% do PIB à “seca” e à “crise mundial”.
DRAMA
A Polícia Federal informou que o policial suicida de Londrina não tinha relação com a corporação, até porque, aposentado, estava afastado há muito tempo. Doente, sentia dores insuportáveis. Até pôr fim à vida.
CAOS AÉREO
Cada um dos principais candidatos à Presidência alimenta a própria crise aérea. Aécio (PSDB), com o aeródromo de Cláudio; Marina (PSB), com o jato Cessna; e Dilma (PT), com a campanha que não decola.
ZUZO BEM NA FAB
O VI Comando Aéreo Regional abriu o bolso para encher a dispensa. De acordo com a ONG Contas Abertas, comprou 320 garrafas de vinho tinto e 20 garrafas de licor. A farra passa os R$ 39 mil.
QUASE UM SÉCULO
Caso seja eleito senador pela quinta vez (a quarta consecutiva), Pedro Simon (PMDB), que nasceu em 31 de janeiro de 1930, vai terminar o novo mandato no dia em que completa 93 anos de idade.
DIFÍCIL ENTENDER
O aumento da gasolina considerado “imprescindível” para Petrobras será para “diminuir a defasagem frente ao preço praticado no exterior”, principalmente nos EUA. Mas lá o preço caiu 8,5% desde maio.
DEVERIAM SER PROSCRITOS
Projeto do deputado Alceu Moreira (PMDB-RS), que é gremista, prevê punição de 5 anos sem frequentar estádios aos torcedores racistas, como os do Grêmio, que xingaram o goleiro Aranha, do Santos. Cinco anos é pouco. Deveria ser para sempre.
CONFERÊNCIA NACIONAL
Os ministros Luis Barroso e Cármen Lúcia, do STF, e os juristas José Francisco Siqueira Neto, diretor da Faculdade de Direito do Mackenzie e Ronaldo Cramer, vice-presidente da OAB-RJ, serão palestrantes da XXII Conferência Nacional dos Advogados, em outubro, no Rio.
PERGUNTA NO PALANQUE
Ao afirmar que Marina Silva é “o Lula de saias”, afinal, o ex-ministro José Dirceu quis prejudicar a candidata ou declarar seu apoio?
PODER SEM PUDOR
INTIMIDADE PROVADA
Um bispo vivia falando mal do interventor no Rio Grande do Sul, Flores da Cunha. Acusava-o de ser boêmio e elitista esnobe, que não dava intimidades nem mesmo aos seus próprios aliados.
Quando soube disso, o general resolveu calar o bispo de uma forma curiosa: chamou-o para uma conversa às 6h da manhã, recebendo-o nos seus aposentos, ainda na cama. Vestia apenas cuecas:
- Vossa Reverendíssima desculpe, mas como é de minha total intimidade, posso recebê-lo a qualquer hora, em qualquer lugar e de qualquer jeito.
Luciana Genro (PSOL), candidata a presidente, propondo penalizar grandes fortunas
ADESISTAS JÁ CONGESTIONAM O ENTORNO DE MARINA
A ascensão de Marina Silva (PSB) nas pesquisas provocou frenética corrida para adesão à sua candidatura, por isso à sua volta já se pode observar várias figuras conhecidas. Uma delas é o embaixador aposentado José Viegas, por exemplo. Ele conseguiu se aproximar de Marina Silva com o mesmo talento que o levou a “colar” em Lula durante sua ascensão eleitoral. Acabaria nomeado ministro da Defesa.
CERCANDO...
José Viegas chegou a Marina porque, antes, conseguiu se reaproximar de Eduardo Campos, de quem foi colega de ministério no governo Lula.
OPS, OCUPADO
A presença de Viegas inibiu o flerte entre o PSB e Antonio Patriota, ex- chanceler que foi escorraçado do Itamaraty pela presidenta Dilma.
XINGAMENTO
Após Patriota, Dilma adquiriu repulsa a diplomatas. Não os chama pelo nome, mas de “Itamaraty”, de forma debochada, como se fora palavrão.
FUNDO DO POÇO
O Itamaraty chegou a tal ponto que o servidor que cuidava da agenda de Dilma, Giles Azevedo, virou pistolão para promover diplomatas.
PORTARIA CRIA REVISTA PARA MINISTRO CHAMAR DE SUA
O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, resolveu financiar com dinheiro público uma revista para chamar de sua, denominada “Democracia e Participação”. A revista já nasce chapa branca: foi criada por uma portaria de Carvalho, na qual ele deixa claro que ficará por conta do contribuinte os custos da aventura editorial, que inclui produção, impressão e até distribuição.
PROJETO ANACRÔNICO
A revista de Gilberto Carvalho já nasce obsoleta, num momento em que publicações dignas de credibilidade deixam de ser impressas.
DINHEIRO DE NINGUÉM
O secretário-geral da Presidência não deve estar preocupado com a viabilidade da sua revista: afinal, quebrou, o Tesouro paga a conta.
CASO ÚNICO
Candidata ao governo baiano, Lídice da Mata foi caso raro no PSB: ela caiu nas pesquisas, de 11 para 9%, após a ascensão de Marina Silva.
INCOMPETÊNCIA
Admitir o problema, advertiu Marina Silva no debate da Band, é o passo inicial para resolvê-lo. Exceto se Mantega é o ministro da Fazenda: ele atribui a queda de 0,6% do PIB à “seca” e à “crise mundial”.
DRAMA
A Polícia Federal informou que o policial suicida de Londrina não tinha relação com a corporação, até porque, aposentado, estava afastado há muito tempo. Doente, sentia dores insuportáveis. Até pôr fim à vida.
CAOS AÉREO
Cada um dos principais candidatos à Presidência alimenta a própria crise aérea. Aécio (PSDB), com o aeródromo de Cláudio; Marina (PSB), com o jato Cessna; e Dilma (PT), com a campanha que não decola.
ZUZO BEM NA FAB
O VI Comando Aéreo Regional abriu o bolso para encher a dispensa. De acordo com a ONG Contas Abertas, comprou 320 garrafas de vinho tinto e 20 garrafas de licor. A farra passa os R$ 39 mil.
QUASE UM SÉCULO
Caso seja eleito senador pela quinta vez (a quarta consecutiva), Pedro Simon (PMDB), que nasceu em 31 de janeiro de 1930, vai terminar o novo mandato no dia em que completa 93 anos de idade.
DIFÍCIL ENTENDER
O aumento da gasolina considerado “imprescindível” para Petrobras será para “diminuir a defasagem frente ao preço praticado no exterior”, principalmente nos EUA. Mas lá o preço caiu 8,5% desde maio.
DEVERIAM SER PROSCRITOS
Projeto do deputado Alceu Moreira (PMDB-RS), que é gremista, prevê punição de 5 anos sem frequentar estádios aos torcedores racistas, como os do Grêmio, que xingaram o goleiro Aranha, do Santos. Cinco anos é pouco. Deveria ser para sempre.
CONFERÊNCIA NACIONAL
Os ministros Luis Barroso e Cármen Lúcia, do STF, e os juristas José Francisco Siqueira Neto, diretor da Faculdade de Direito do Mackenzie e Ronaldo Cramer, vice-presidente da OAB-RJ, serão palestrantes da XXII Conferência Nacional dos Advogados, em outubro, no Rio.
PERGUNTA NO PALANQUE
Ao afirmar que Marina Silva é “o Lula de saias”, afinal, o ex-ministro José Dirceu quis prejudicar a candidata ou declarar seu apoio?
PODER SEM PUDOR
INTIMIDADE PROVADA
Um bispo vivia falando mal do interventor no Rio Grande do Sul, Flores da Cunha. Acusava-o de ser boêmio e elitista esnobe, que não dava intimidades nem mesmo aos seus próprios aliados.
Quando soube disso, o general resolveu calar o bispo de uma forma curiosa: chamou-o para uma conversa às 6h da manhã, recebendo-o nos seus aposentos, ainda na cama. Vestia apenas cuecas:
- Vossa Reverendíssima desculpe, mas como é de minha total intimidade, posso recebê-lo a qualquer hora, em qualquer lugar e de qualquer jeito.
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