O GLOBO - 13/10
A Fundação Basso, da Itália, que batalha pelos direitos dos povos mundo afora, assinou quinta na nossa embaixada em Roma acordo para recuperar e armazenar a memória das vítimas da ditadura militar aqui.
Cerca de 70 mil documentos inéditos sobre crimes cometidos pelo regime serão digitalizados pelos italianos. O projeto inclui uma série de estudos sobre os anos de chumbo.
Oi, oi, oi
A infraestrutura dos aeroportos preocupa, há sempre a ameaça de um novo caos aéreo, mas, até nos aviões, só se fala em... "Avenida Brasil”
Acredite. Segunda, no voo 6966 da Azul (Galeão-Campinas), que decolou às 20h30m, o comandante anunciou que esperava chegar antes... de a novela da TV Globo começar. Mas... não deu.
Só que...
O pessoal de bordo ajustou as TVs, e foi possível assistir à novela no voo mesmo (a Azul tem serviço de TV por satélite).
Os passageiros foram ao delírio.
Partido da boquinha
O apoio do PMDB paulistano à candidatura de Haddad, em São Paulo, quase, mas quase mesmo, não emplacou.
O clima estava bem ruim, e gente do PT já ligava para Dilma e Lula, com pedidos de ajuda. Foi quando a TV mostrou a pesquisa do DataFolha com o petista dez pontos à frente de Serra. No dia seguinte, o PMDB... fechou com Haddad.
No mais
Reflexão de um gaiato malvado:
"Em meio à constelação do PT que se deu mal no julgamento do mensalão, a absolvição do ex-deputado Professor Luizinho equivale a ser condenado como... petista mequetrefe.”
Faz sentido.
PORQUE HOJE É SÁBADO
A coluna, que tem xodó especial pelo Jardim Botânico, rende-se mais uma vez aos encantos do parque. Este flagrante da mamãe sabiá que alimenta seu filhote foi captado por nosso correspondente na natureza, Laizer Fishenfeld. Veja que bonito. Que Deus proteja o Jardim Botânico, olhe pelos sabiás e não nos desampare jamais
Gonzaga, o filme
A duas semanas do lançamento, quase 200 mil pessoas já assistiram, no YouTube, ao trailer de "Gonzaga, de pai para filho” novo filme de Breno Silveira, o mesmo diretor do sucesso "2 filhos de Francisco”
A previsão é que mais de 300 mil assistam até dia 26, data da estreia nos cinemas.
Elis, o filme
Ficou pronto o roteiro do longa sobre Elis Regina, que será produzido por Paula Barreto e dirigido por Hugo Prata. As filmagens começam ano que vem.
Aos fãs do Kiss
A Editora Lafonte vai lançar no Brasil "Make up to breakup, my life in and out of Kiss” autobiografia do baterista Peter Cris.
O músico, como se sabe, é um dos fundadores da banda americana Kiss.
Láe cá
Uma pane parou esteiras e scanners de bagagem do Aeroporto de Frankfurt, na Alemanha, um dos três maiores da Europa, e, acredite, 12 mil malas (!) foram extraviadas.
Deve ser terrível... você sabe.
Tesouro à venda
Começa dia 23 agora a exposição de peças do acervo da galerista Ana Maria Niemeyer, que vai a leilão.
Entre as preciosidades, quadros de Di Cavalcanti, Beatriz Milhazes e várias obras de seu pai, Oscar Niemeyer. Serão leiloados também projetos da construção de Brasília. Quem coordena é Soraia Cals.
Alô, Beltrame da Cuíca!
Ladrões invadiram a sede do bloco Fala Meu Louro, fundado no Morro do Pinto, no Rio, por Sinhô (1888-1930) e reativado em junho passado após 22 anos sem desfilar.
Levaram mesa de som, amplificador e equipamentos de cozinha. O bloco pede ajuda em sua página no Facebook.
Agulha e linha
O que se diz na sala de costura é que Mara MacDowell, a talentosa estilista e criadora da Mara Mac, estaria negociando sua marca.
Dinheiro para o Rio
O ministro Gastão Vieira, do Turismo, vai liberar R$ 10,8 milhões para obras de saneamento ambiental no Rio.
Entre as áreas beneficiadas, estão a Praia dos Ossos, em Búzios, e o atracadouro de Mangaratiba.
Trem de ferro
Segunda, um trem da SuperVia, no Rio, começa a circular com um adesivo para promover "Subúrbia” a nova série de Luiz Fernando Carvalho, que estreia dia 1, na TV Globo.
Vai ocupar quatro vagões. Em alguns deles, TVs exibirão um trailer do seriado.
Feijão da Tia Elza
Tia Elza, 82 anos, a cozinheira das badaladas feijoadas do Horto, no Rio, levará seu tempero para o Centro Cultural Carioca, na Praça Tiradentes.
O feijão, aos sábados, com Rodrigo Carvalho à frente da roda de samba, vai começar dia 3. Ai, que fome.
sábado, outubro 13, 2012
E agora Josés? - RENATO PACCA
O GLOBO - 13/10
Dois Josés condenados pelo Supremo Tribunal Federal sempre se beneficiaram de uma certa aura heroica, que os caracterizava como guerreiros corajosos na luta por um ideal democrático.
Ocorre que coragem não é tudo. A sabedoria popular ensina que o caminho para o inferno está cheio de boas intenções e certamente nunca faltou coragem para criminosos de todos os matizes perpetrarem delitos.
Um dos Josés mencionou que "coragem é o que dá sentido à liberdade’! Talvez ele se referisse a uma frase do historiador grego Tucidides: "O segredo da felicidade é liberdade e o segredo da liberdade, coragem.”
A coragem pode ser o primeiro passo para tudo, mas é a própria liberdade que dá sentido à coragem. Coragem para realizar atos criminosos não conduz à liberdade, mas à cadeia, o oposto da liberdade.
Ademais, coragem haveria se os Josés denunciassem os atos criminosos antes de sua consecução ou ao menos assumissem os crimes cometidos e esboçassem um mea culpa. Coragem haveria se não se colocassem como vítimas de injustiça e de campanhas orquestradas pela mídia e assumissem as responsabilidades por seus atos. Coragem, por fim, haveria se os guerreiros heroicos assumissem a participação do general que os comandava e esclarecessem, afinal, qual a participação de cada um naquilo que o ministro Celso de Mello chamou de "macrodelin-quência governamental’! Guerreiros põem sua coragem à prova nos momentos mais difíceis, ao assumir a responsabilidade por seus atos. Lealdade cega aos generais não é sinal de coragem, mas sim de covardia e submissão.
O STF não julgou o passado dos Josés, e sim os fatos criminosos por eles cometidos em um passado relativamente recente. Um cidadão pode acordar e decidir roubar um banco. Seu passado pode atenuar sua pena, mas não o absolverá. Os Josés foram condenados por corrupção ativa (e talvez ainda por formação de quadrilha) pela maior Corte do país. A eles foi concedido o direito a ampla defesa e, embora reclamem da falta de provas explícitas, todo o conjunto da obra apontou para a condenação acachapante, para além de qualquer dúvida razoável.
Não importa se os Josés não corromperam para benefício próprio, mas em nome de um projeto de poder. Projeto algum de poder justifica a utilização de meios criminosos que fraudam a democracia e a vontade popular. O dinheiro público desviado para a compra de parlamentares certamente fez falta aos hospitais públicos procurados por outros tantos Josés espalhados pelo país. Trata-se de corrupção ativa, deplorável e injustificável, sob qualquer aspecto.
Todo acusado tem o direito de lutar até o fim pela defesa de sua alegada inocência. É preciso saber quando o fim chega. O mérito da sentença do STF é definitivo e a inocência dos Josés, antes presumida, dará lugar à culpa, terminantemen-te decidida pela maior Corte.
E agora Josés?
Dois Josés condenados pelo Supremo Tribunal Federal sempre se beneficiaram de uma certa aura heroica, que os caracterizava como guerreiros corajosos na luta por um ideal democrático.
Ocorre que coragem não é tudo. A sabedoria popular ensina que o caminho para o inferno está cheio de boas intenções e certamente nunca faltou coragem para criminosos de todos os matizes perpetrarem delitos.
Um dos Josés mencionou que "coragem é o que dá sentido à liberdade’! Talvez ele se referisse a uma frase do historiador grego Tucidides: "O segredo da felicidade é liberdade e o segredo da liberdade, coragem.”
A coragem pode ser o primeiro passo para tudo, mas é a própria liberdade que dá sentido à coragem. Coragem para realizar atos criminosos não conduz à liberdade, mas à cadeia, o oposto da liberdade.
Ademais, coragem haveria se os Josés denunciassem os atos criminosos antes de sua consecução ou ao menos assumissem os crimes cometidos e esboçassem um mea culpa. Coragem haveria se não se colocassem como vítimas de injustiça e de campanhas orquestradas pela mídia e assumissem as responsabilidades por seus atos. Coragem, por fim, haveria se os guerreiros heroicos assumissem a participação do general que os comandava e esclarecessem, afinal, qual a participação de cada um naquilo que o ministro Celso de Mello chamou de "macrodelin-quência governamental’! Guerreiros põem sua coragem à prova nos momentos mais difíceis, ao assumir a responsabilidade por seus atos. Lealdade cega aos generais não é sinal de coragem, mas sim de covardia e submissão.
O STF não julgou o passado dos Josés, e sim os fatos criminosos por eles cometidos em um passado relativamente recente. Um cidadão pode acordar e decidir roubar um banco. Seu passado pode atenuar sua pena, mas não o absolverá. Os Josés foram condenados por corrupção ativa (e talvez ainda por formação de quadrilha) pela maior Corte do país. A eles foi concedido o direito a ampla defesa e, embora reclamem da falta de provas explícitas, todo o conjunto da obra apontou para a condenação acachapante, para além de qualquer dúvida razoável.
Não importa se os Josés não corromperam para benefício próprio, mas em nome de um projeto de poder. Projeto algum de poder justifica a utilização de meios criminosos que fraudam a democracia e a vontade popular. O dinheiro público desviado para a compra de parlamentares certamente fez falta aos hospitais públicos procurados por outros tantos Josés espalhados pelo país. Trata-se de corrupção ativa, deplorável e injustificável, sob qualquer aspecto.
Todo acusado tem o direito de lutar até o fim pela defesa de sua alegada inocência. É preciso saber quando o fim chega. O mérito da sentença do STF é definitivo e a inocência dos Josés, antes presumida, dará lugar à culpa, terminantemen-te decidida pela maior Corte.
E agora Josés?
Japão gentil - ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
FOLHA DE SP - 13/10
Antes que o trem se mova, ela chega correndo: a mocinha boa de inglês precisa falar comigo
A mocinha uniformizada entra correndo no vagão. Nós tínhamos nos conhecido, rapidamente, minutos antes. E já estamos nos vendo de novo.
Cenário: uma estação de trens dentro do aeroporto Centrair, de Nagoya, Japão. É dali, às 10h da manhã, que sai meu voo de volta ao Brasil. Para não ter erro, um dia antes já me instalo em um hotel dentro do aeroporto. Mas são ainda 18h da véspera da viagem. Não há nada para fazer em Centrair, que fica numa ilha artificial afastada da cidade (28 minutos se você der sorte de pegar o trem expresso; cerca de 50 se tomar o comum).
Melhor partir para o centro de Nagoya, mais precisamente o bairro Sakae, de "entretenimento", onde hordas de "salarymen", camisa branca, gravata preta, pele avermelhada pelo excesso de álcool na circulação sanguínea, tomam as ruas cambaleantes, fieis à tradição japonesa de ir direto do trabalho para bebedeiras insanas.
Deixo o hotel, percorro um longo corredor vazio. Chego ao saguão do aeroporto (calmo para os padrões japoneses), viro à direita e entro na estação ferroviária. Ao cruzar a catraca, encontro duas jovens portando crachás com três palavras mágicas: "English-speaking staff".
"'Onegaishimasu', estou indo para o centro de Nagoya, e quero voltar no último trem. A que horas ele sai de lá?"
A que falava inglês melhor fica em dúvida, pergunta para a colega. Então crava: "Onze e meia da noite".
"Arigatô gosaimasu", e lá vou eu para o trem. O primeiro vagão está meio cheio, o segundo idem. Lá pelo quarto ou quinto, eu entro.
Antes que a composição se mova, percebo que alguém chega correndo. É a mocinha boa de inglês, que conseguiu me encontrar naquele vagão tão distante das catracas. Precisa falar comigo.
"Desculpe, eu dei uma informação errada."
"Qual?"
"Eu disse que o último trem sai de Nagoya às 11 e meia. É às 11 e 15."
***
A noite ferve em Sakae. É um Baixo Augusta (SP) multiplicado por 100 mil, uma Prado Júnior (RJ) vezes 1 milhão.
Prédios inteiros de karaokês, outros de restaurantes. Bares, bares, bares. Estabelecimentos oferecem moças para os mais variados graus de intimidade: só para conversar, ou só para ver strip-tease sem poder tocar, ou para ver strip-tease e pegar, ou sabe-se lá mais o quê (não entrei em nenhum, quem me explicou foi o porteiro de um deles -International Big Tits Bar!-, que pelo sotaque identifiquei na hora como brasileiro e revelou ser da Vila Matilde, zona leste paulistana).
Paro para jantar. Última noite, tudo é festa. Sei que eles não aceitam gorjeta, mas pago a conta, deixo um pouco a mais e me mando. Já na calçada, enquanto acostumo os olhos, que trocavam o balcão escuro pelo néon de Sakae, noto uma moça vindo atrás de mim. Era a garçonete. Para devolver o troco.
***
Manhã final no Japão, aeroporto de Nagoya. Faço as últimas compras, tomando um baile das pilhas de moedas japonesas que ainda restavam. Minha completa falta de coordenação motora faz com que, a cada minuto, eu derrube todas no chão.
A vendedora fica com pena. E me oferece um saquinho branco, com o logotipo da loja. Em um primeiro momento, não entendo o que é. Até que ela pega minhas moedas e começa a organizá-las. Não era um quebra-galho. Era um saquinho feito só para isso: para os turistas guardarem moedas.
***
Teve também o balcão do correio de Kyoto, com uma gama de óculos de leitura para empréstimo. Se o cliente que vai preencher os envelopes não enxerga direito, é só pegar um.
Teve o sushiman do delicioso Sushi Bun, dentro do mercado de peixes Tsukiji, em Tóquio, explicando, com tradução da querida Mari Hirata, que sushi é comida sem muita frescura, quase um "fast food", e que, se a gente conhecesse alguém que faz sushi e bota muita banca, era só levar lá que eles enquadravam o sujeito.
E teve o tiozinho que, ao chegar em casa, viu a turista ocidental se protegendo da chuva sob a marquise do prédio dele. Tirou a jaqueta branca de nylon leve, colocou sobre os ombros da moça e seguiu adiante. Subiu sozinho para o apartamento, sem dizer uma palavra.
Antes que o trem se mova, ela chega correndo: a mocinha boa de inglês precisa falar comigo
A mocinha uniformizada entra correndo no vagão. Nós tínhamos nos conhecido, rapidamente, minutos antes. E já estamos nos vendo de novo.
Cenário: uma estação de trens dentro do aeroporto Centrair, de Nagoya, Japão. É dali, às 10h da manhã, que sai meu voo de volta ao Brasil. Para não ter erro, um dia antes já me instalo em um hotel dentro do aeroporto. Mas são ainda 18h da véspera da viagem. Não há nada para fazer em Centrair, que fica numa ilha artificial afastada da cidade (28 minutos se você der sorte de pegar o trem expresso; cerca de 50 se tomar o comum).
Melhor partir para o centro de Nagoya, mais precisamente o bairro Sakae, de "entretenimento", onde hordas de "salarymen", camisa branca, gravata preta, pele avermelhada pelo excesso de álcool na circulação sanguínea, tomam as ruas cambaleantes, fieis à tradição japonesa de ir direto do trabalho para bebedeiras insanas.
Deixo o hotel, percorro um longo corredor vazio. Chego ao saguão do aeroporto (calmo para os padrões japoneses), viro à direita e entro na estação ferroviária. Ao cruzar a catraca, encontro duas jovens portando crachás com três palavras mágicas: "English-speaking staff".
"'Onegaishimasu', estou indo para o centro de Nagoya, e quero voltar no último trem. A que horas ele sai de lá?"
A que falava inglês melhor fica em dúvida, pergunta para a colega. Então crava: "Onze e meia da noite".
"Arigatô gosaimasu", e lá vou eu para o trem. O primeiro vagão está meio cheio, o segundo idem. Lá pelo quarto ou quinto, eu entro.
Antes que a composição se mova, percebo que alguém chega correndo. É a mocinha boa de inglês, que conseguiu me encontrar naquele vagão tão distante das catracas. Precisa falar comigo.
"Desculpe, eu dei uma informação errada."
"Qual?"
"Eu disse que o último trem sai de Nagoya às 11 e meia. É às 11 e 15."
***
A noite ferve em Sakae. É um Baixo Augusta (SP) multiplicado por 100 mil, uma Prado Júnior (RJ) vezes 1 milhão.
Prédios inteiros de karaokês, outros de restaurantes. Bares, bares, bares. Estabelecimentos oferecem moças para os mais variados graus de intimidade: só para conversar, ou só para ver strip-tease sem poder tocar, ou para ver strip-tease e pegar, ou sabe-se lá mais o quê (não entrei em nenhum, quem me explicou foi o porteiro de um deles -International Big Tits Bar!-, que pelo sotaque identifiquei na hora como brasileiro e revelou ser da Vila Matilde, zona leste paulistana).
Paro para jantar. Última noite, tudo é festa. Sei que eles não aceitam gorjeta, mas pago a conta, deixo um pouco a mais e me mando. Já na calçada, enquanto acostumo os olhos, que trocavam o balcão escuro pelo néon de Sakae, noto uma moça vindo atrás de mim. Era a garçonete. Para devolver o troco.
***
Manhã final no Japão, aeroporto de Nagoya. Faço as últimas compras, tomando um baile das pilhas de moedas japonesas que ainda restavam. Minha completa falta de coordenação motora faz com que, a cada minuto, eu derrube todas no chão.
A vendedora fica com pena. E me oferece um saquinho branco, com o logotipo da loja. Em um primeiro momento, não entendo o que é. Até que ela pega minhas moedas e começa a organizá-las. Não era um quebra-galho. Era um saquinho feito só para isso: para os turistas guardarem moedas.
***
Teve também o balcão do correio de Kyoto, com uma gama de óculos de leitura para empréstimo. Se o cliente que vai preencher os envelopes não enxerga direito, é só pegar um.
Teve o sushiman do delicioso Sushi Bun, dentro do mercado de peixes Tsukiji, em Tóquio, explicando, com tradução da querida Mari Hirata, que sushi é comida sem muita frescura, quase um "fast food", e que, se a gente conhecesse alguém que faz sushi e bota muita banca, era só levar lá que eles enquadravam o sujeito.
E teve o tiozinho que, ao chegar em casa, viu a turista ocidental se protegendo da chuva sob a marquise do prédio dele. Tirou a jaqueta branca de nylon leve, colocou sobre os ombros da moça e seguiu adiante. Subiu sozinho para o apartamento, sem dizer uma palavra.
De quem é a culpa pelas condenações? - LEONARDO CAVALCANTI
CORREIO BRAZILIENSE - 13/10
“Quem não sofreu a servidão que se alimenta dos imprevistos da vida, não pode imaginá-la. Quem não viveu a palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo do furo, a demolição moral do fracasso, não pode conceber o que são” Gabriel García Márquez, escritor colombiano
Um texto de Gabriel García Márquez trata o jornalismo como a melhor profissão do mundo. O manifesto — sim, é do que se trata — tornou-se um clássico entre os iniciados, mesmo que seja improvável algum rascunho do colombiano não ser considerado “um clássico” neste momento da vida. A carta é lida e relida nas faculdades e exaltada por quem ainda guarda entusiasmo pelo ofício de contar boas histórias. O artigo, ou pelo menos parte dele, deveria estar afixado na mesa de trabalho dos repórteres. Muitos, entretanto, o guardam na memória e são capazes de recitar alguns pedaços.
Um dos trechos do documento diz mais ou menos o seguinte: quem se aborrece em falar sobre reportagens até pode acreditar ser jornalista, mas não o é. Repórteres de verdade são quase monotemáticos, discutem apuração, comparam matérias, se desesperam quando levam um furo da concorrência, antes mesmo de serem cobrados pelo chefe. Iniciado ontem, em São Paulo, um encontro propõe o debate durante cinco dias.
O evento é o 68º promovido pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP). Mais do que uma discussão sobre modelos sustentáveis de negócios — a agenda tem partes empresariais, evidentemente — o encontro discutirá a importância dos jornais para a sociedade. Entre os palestrantes, a presidente Dilma Rousseff, até a noite de quinta-feira ainda sem confirmação pelo Palácio do Planalto, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, além do ex-presidente do Peru Alan Garcia e representantes de entidades de direitos humanos. Ali, os maiores veículos de comunicação terão representantes – incluindo este Correio.
O encontro de jornalistas ocorre em meio a ataques de políticos e autoridades à imprensa. O caso mais recente é o dos mensaleiros, que, depois e mesmo antes de condenados, escolheram a mídia como uma das responsáveis pelo desfecho do julgamento. Os argumentos são fracos, por mais que defensores dos petistas considerados culpados possam considerar injusto o processo do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Não estou aqui a analisar quem deveria ou não ser condenado, por mais que a opinião fosse legítima, como pode ser a de qualquer um, sem diferença de credo ou cor partidária.
Poucos minutos depois de ser condenado pela maioria do plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), naquela tarde de terça-feira, o ex-ministro José Dirceu publicou uma nota no blog. Ainda pela manhã havia uma expectativa positiva — pelo menos entre os aliados do petista — de que o homem respondesse em alto estilo à condenação, por mais que algo já não adiantasse muito, considerando o respeito pelos prazos de defesa, por exemplo. O texto publicado, entretanto, foi um tanto vago, pelo menos na parte das críticas à imprensa. Apesar de simbólico, por conta do resultado, pouco ou nada acrescentou.
Aos fatos, ou melhor, às linhas de Dirceu. O ex-ministro cita a mídia e imprensa duas vezes. Na primeira, diz ter havido uma ação orquestrada pelos que se opõem ao PT que o transformou em inimigo número um. E diz que o acusam, diariamente pela mídia, de corrupto e chefe de quadrilha. Aqui, o argumento é razoável, afinal, como um dos homens mais poderosos do país na época do governo Lula, Dirceu foi citado em artigos e declarações dos maiores jornais do país. Foi, portanto, atacado e defendido, por mais que se diga mais atacado. É a teoria do escândalo político, quanto mais evidência, mais combustão.
O outro momento do texto faço questão de citar entre aspas. “Hoje, a Suprema Corte do meu país, sob forte pressão da imprensa, me condena como corruptor, contrário ao que dizem os autos, que clamam por justiça e registram, para sempre, a ausência de provas e a minha inocência.” A generalidade aqui surpreende. Questionar a ausência de provas e clamar pela própria inocência são argumentos legítimos. Não apenas Dirceu fez isso, mas também articulistas e jornalistas da chamada “grande imprensa”. Aliás, tal discussão ainda está aberta, com gente qualificada em lados opostos.
Outra coisa, porém, é atribuir à imprensa pressão suficiente para convencer oito ministros — parte indicada por Lula e Dilma — a condená-lo. Isso é desmerecer a própria Corte ou marcar posição para a plateia, sem estabelecer elementos ao debate. O mesmo poderia ser dito sobre os ataques nas redes contra o ministro Joaquim Barbosa e a suposta perseguição a petistas. Ao afirmar ao jornal Folha de S.Paulo que votou em Lula e em Dilma, Barbosa deu um nó na cabeça dos acusadores, que o acharam com tendências tucanas. Ao escolher um candidato, não se precisa defender todos os aliados em qualquer circunstância, pois.
Nas mansões do Supremo e do Divino - RUTH DE AQUINO
REVISTA ÉPOCA
Era uma manhã de sol na praia deserta de Geribá, em Búzios, bem cedo. Ano 2005. José Dirceu fazia exercícios na areia. Em forma, bronzeado. Acabara de cair da chefia da Casa Civil do governo Lula, acusado de mandante do mensalão. Perguntei, como uma banhista qualquer: “Como vai a vida, ministro?”. “Vai bem”, respondeu ele com um sorriso, “enquanto a imprensa não me descobrir aqui”.
Mesmo destituído do poder oficial, não temia cair em desgraça. Jamais suporia, em seu pior pesadelo, que sete anos depois teria de encarar a execração pública, condenado como um criminoso na mansão do Supremo. Dirceu virou Zé, um vilão do folhetim político brasileiro, o “mandante de um golpe contra a democracia”. Mas se considera uma vítima.
Na mansão do Divino, a vilã Carminha foi condenada e chamada de vagabunda. O capítulo em que a personagem de Adriana Esteves foi desmascarada coincidiu com um imenso salto de consumo de energia elétrica. Se o ápice do julgamento na mansão do Supremo era o destino de José Dirceu, na fictícia Avenida Brasil o clímax chegou antes do fim.
O que acontecerá agora na novela é secundário, diante da catarse nos sofás brasileiros com a execração de Carminha, a vilã que manipulava todos, filhos, amantes, marido, parentes, empregadas, amigos e inimigos. Manipulava com propina e lábia. Comprava apoio, conspirava, iludia e dava a volta por cima. Foi quase linchada. Mas se considera uma vítima.
Tanto Dirceu quanto Carminha caíram sem abaixar a cabeça, atirando “contra a covardia moral e a hipocrisia”. O autor de Avenida Brasil, João Emanuel Carneiro, já disse que gosta de humanizar vilões, mostrar que ninguém nasce mau. Carminha repetiu mil vezes na trama: “Não sou vilã, sou vítima, vocês vão ver”. Quando percebeu que seu discurso de heroína não convencia mais, apontou o dedo para os malfeitos de toda a família. Dirceu, por enquanto, só apontou o dedo para a imprensa. Divulgou em seu blog uma carta “ao povo brasileiro”, numa clara alusão a Lula, que também escreveu, em junho de 2002, uma “carta ao povo brasileiro” como candidato do PT à Presidência da República.
No documento, Dirceu afirma que, desde 2005, “em ação orquestrada e dirigida pelos que se opõem ao PT e seu governo”, foi transformado pela mídia em “inimigo público número 1”. Na visão de Dirceu, o Supremo o condenou como corruptor e chefe de quadrilha “sob forte pressão da imprensa”. Não foi mais longe que isso. Mais uma vez, os interesses do PT e de Lula – nas eleições, e especialmente em São Paulo – se sobrepõem a seu drama pessoal, sua reputação. Internamente, no PT, não existe o vilão Dirceu. Ele é um herói das cores do Partido com letra maiúscula. Não é dedo-duro. Foi ovacionado pelos companheiros.
Oficialmente, Dirceu foi chefe da Casa Civil, mas essa era sua face palaciana e festiva. Na vida real, era muito mais – e continua sendo. O confidente-mor de Lula, seu companheiro mais querido, mais fogoso e poderoso. O guerrilheiro que mudou o rosto para não mudar as convicções. O que mentiu até para a família para continuar, clandestino, em seu país. Coisa de novela. No governo Lula, Dirceu era o braço direito do presidente, o homem forte, a eminência parda que falava grosso, o ideólogo do PT.
Agora, Dirceu foi condenado pelo Supremo como “o mandante de crimes cometidos na intimidade das organizações do governo”. Como o artífice de um projeto de poder que visava sufocar críticas e se perpetuar no Brasil. Um projeto totalitário, um golpe contra a democracia apoiado por políticos de outros partidos, “propinados e corrompidos”. É forte.
Em 2005, convencido de que suas relações e costas quentes o livrariam de um processo exemplar e épico como o de agora, José Dirceu disse textualmente sobre Lula: “Não faço nada que não seja de comum acordo e determinado por ele”.
Alguém duvida? Carlos Lessa, economista e ex-presidente do BNDES no governo Lula, afirmou ao jornal O Globo: “Lamento por Dirceu, o mais preparado e brilhante do PT. Foi onipotente, ignorou a ética na construção de apoio. O mensalão fere a democracia. Mas sou contra crucificá-lo. E Lula, claro, sabia de tudo”. Para Lula, é bom lembrar, tudo que está sendo julgado no Supremo não passa de “uma farsa”.
Na ficção de verdade, com atores pagos, os últimos capítulos deverão mostrar que a vilã Carminha teve um mestre, um modelo e um mentor: seu pai, Santiago, que posava de bonzinho na trama. A verdadeira face de Santiago é outra. Um ladrão de joias, um receptador. Bandidos entregam os objetos roubados dentro das bonecas que Santiago diz consertar.
A História dirá se Dirceu pensou e agiu sozinho ou se deve sua glória e tragédia a alguém acima dele.
Era uma manhã de sol na praia deserta de Geribá, em Búzios, bem cedo. Ano 2005. José Dirceu fazia exercícios na areia. Em forma, bronzeado. Acabara de cair da chefia da Casa Civil do governo Lula, acusado de mandante do mensalão. Perguntei, como uma banhista qualquer: “Como vai a vida, ministro?”. “Vai bem”, respondeu ele com um sorriso, “enquanto a imprensa não me descobrir aqui”.
Mesmo destituído do poder oficial, não temia cair em desgraça. Jamais suporia, em seu pior pesadelo, que sete anos depois teria de encarar a execração pública, condenado como um criminoso na mansão do Supremo. Dirceu virou Zé, um vilão do folhetim político brasileiro, o “mandante de um golpe contra a democracia”. Mas se considera uma vítima.
Na mansão do Divino, a vilã Carminha foi condenada e chamada de vagabunda. O capítulo em que a personagem de Adriana Esteves foi desmascarada coincidiu com um imenso salto de consumo de energia elétrica. Se o ápice do julgamento na mansão do Supremo era o destino de José Dirceu, na fictícia Avenida Brasil o clímax chegou antes do fim.
O que acontecerá agora na novela é secundário, diante da catarse nos sofás brasileiros com a execração de Carminha, a vilã que manipulava todos, filhos, amantes, marido, parentes, empregadas, amigos e inimigos. Manipulava com propina e lábia. Comprava apoio, conspirava, iludia e dava a volta por cima. Foi quase linchada. Mas se considera uma vítima.
Tanto Dirceu quanto Carminha caíram sem abaixar a cabeça, atirando “contra a covardia moral e a hipocrisia”. O autor de Avenida Brasil, João Emanuel Carneiro, já disse que gosta de humanizar vilões, mostrar que ninguém nasce mau. Carminha repetiu mil vezes na trama: “Não sou vilã, sou vítima, vocês vão ver”. Quando percebeu que seu discurso de heroína não convencia mais, apontou o dedo para os malfeitos de toda a família. Dirceu, por enquanto, só apontou o dedo para a imprensa. Divulgou em seu blog uma carta “ao povo brasileiro”, numa clara alusão a Lula, que também escreveu, em junho de 2002, uma “carta ao povo brasileiro” como candidato do PT à Presidência da República.
No documento, Dirceu afirma que, desde 2005, “em ação orquestrada e dirigida pelos que se opõem ao PT e seu governo”, foi transformado pela mídia em “inimigo público número 1”. Na visão de Dirceu, o Supremo o condenou como corruptor e chefe de quadrilha “sob forte pressão da imprensa”. Não foi mais longe que isso. Mais uma vez, os interesses do PT e de Lula – nas eleições, e especialmente em São Paulo – se sobrepõem a seu drama pessoal, sua reputação. Internamente, no PT, não existe o vilão Dirceu. Ele é um herói das cores do Partido com letra maiúscula. Não é dedo-duro. Foi ovacionado pelos companheiros.
Oficialmente, Dirceu foi chefe da Casa Civil, mas essa era sua face palaciana e festiva. Na vida real, era muito mais – e continua sendo. O confidente-mor de Lula, seu companheiro mais querido, mais fogoso e poderoso. O guerrilheiro que mudou o rosto para não mudar as convicções. O que mentiu até para a família para continuar, clandestino, em seu país. Coisa de novela. No governo Lula, Dirceu era o braço direito do presidente, o homem forte, a eminência parda que falava grosso, o ideólogo do PT.
Agora, Dirceu foi condenado pelo Supremo como “o mandante de crimes cometidos na intimidade das organizações do governo”. Como o artífice de um projeto de poder que visava sufocar críticas e se perpetuar no Brasil. Um projeto totalitário, um golpe contra a democracia apoiado por políticos de outros partidos, “propinados e corrompidos”. É forte.
Em 2005, convencido de que suas relações e costas quentes o livrariam de um processo exemplar e épico como o de agora, José Dirceu disse textualmente sobre Lula: “Não faço nada que não seja de comum acordo e determinado por ele”.
Alguém duvida? Carlos Lessa, economista e ex-presidente do BNDES no governo Lula, afirmou ao jornal O Globo: “Lamento por Dirceu, o mais preparado e brilhante do PT. Foi onipotente, ignorou a ética na construção de apoio. O mensalão fere a democracia. Mas sou contra crucificá-lo. E Lula, claro, sabia de tudo”. Para Lula, é bom lembrar, tudo que está sendo julgado no Supremo não passa de “uma farsa”.
Na ficção de verdade, com atores pagos, os últimos capítulos deverão mostrar que a vilã Carminha teve um mestre, um modelo e um mentor: seu pai, Santiago, que posava de bonzinho na trama. A verdadeira face de Santiago é outra. Um ladrão de joias, um receptador. Bandidos entregam os objetos roubados dentro das bonecas que Santiago diz consertar.
A História dirá se Dirceu pensou e agiu sozinho ou se deve sua glória e tragédia a alguém acima dele.
Da abstenção e seus vazios - CARLOS MELO
O Estado de S.Paulo - 13/10
Tornou-se hábito dizer que PSDB e PT são as principais forças políticas de São Paulo. Uma leitura voltada, porém, para a qualidade da democracia pode relativizar esse entendimento. O eleitorado paulistano é imenso, corresponde a 6,2% do eleitorado nacional; 8.619.170 indivíduos aptos a votar. Contudo, 1.592.722 (18,5%) se abstiveram, 381.407 (4,4%) votaram em branco e 516.384 (6%) anularam; 2.490.513 eleitores esquivaram-se do mais elementar direito da democracia. O cardápio talvez não ajudasse, mas o fato é que 28,9% do eleitorado, apto, não escolheu ninguém.
O voto, não custa lembrar, é obrigatório. Seriam os mais novos e os mais velhos, liberados da obrigação? Equivaleria admitir o fracasso, incapaz de atrair e envolver. Não parece crível, pelo menos não totalmente. Ademais, nulos e brancos somam quase 900 mil votos, mais de 10%, e evidenciam o protesto. A Justiça Eleitoral considera apenas os votos "válidos", um contingente de 6.128.657 eleitores; torna os números róseos: José Serra com 30,75% e Fernando Haddad com 28,98% dos votos válidos. O potencial real do eleitorado é, contudo, ignorado. Quase um terço foi pelo ralo.
Ao considerá-lo, no entanto, chega-se a números menos animadores: José Serra terminou o primeiro turno com modestos 21,87% dos votos e Fernando Haddad, com 20,61%. Distantes do eleitorado que simplesmente não votou (28,98%), levaram uma goleada: a maior força individual da cidade foi a abstenção, em todas suas modalidades.
Serra e Haddad atingiram 42,5% do eleitorado total, somando 3.661.166 votos. A distância poderia ser medida em léguas: as duas maiores forças, capazes de monopolizar eleições na cidade, no Estado e no País, ficaram 15% aquém dos 57,5% dos demais eleitores - os que não votaram nem em um, nem em outro. Nesse vazio, caberia um outro Russomanno -1.324.021 votos, 15,3% dos votos válidos. Quase seis eleitores aptos, em cada dez, não votaram nem em Serra, nem em Haddad. A imensa maioria não é tucana, nem petista. Dado o nível da discussão entre os dois partidos, não deixa de ser um alento.
Verdade que esse fenômeno se repete em vários cantos do País. No Rio de Janeiro, 55,5% do eleitorado apto não votou em Eduardo Paes, eleito no primeiro turno. No Brasil, 25,8% do eleitorado - 35.674.026 de eleitores - absteve-se, anulou ou "branqueou". É como se, com muita sobra, todo o eleitorado do Estado de São Paulo (31.253.317 eleitores) não fosse às urnas. No mundo todo a participação declina; problema dos eleitores ou dos partidos? Cabe repetir: no caso brasileiro, o voto é obrigatório.
Não é exagero afirmar que, em São Paulo, os principais partidos são apenas os mais representativos dentre os pouco representativos. A elite que se debate em torno deles - nas redes sociais, por exemplo - se ilude; fala de si e para si. A polarização é real? Os números não a comprovam. Parece, antes, se tratar de disputas voltadas à ocupação de espaços no Estado, descoladas da maioria. Felizmente, a maioria não se move com o combustível dessas disputas, embora tucanos e petistas suponham ser o centro do universo.
O desafio para José Serra e Fernando Haddad seria, então, expandirem-se para além das fronteiras de suas tribos, de seus becos ideológicos e restritas bases; resgatar a política, entender e abraçar a cidade mais real e ancha. O segundo turno, no entanto, não começa com esta perspectiva. Neste início de campanha, conflitos se repetem e até se aguçam: mensalão do PT, renúncias de Serra, religião, privatizações e, agora, a ênfase no "kit gay". Propaganda, desqualificação e medo: personagens da Santa Inquisição rondando a cidade, num medievalismo recorrente: pastores que não trazem a luz, mas as sombras. São Paulo merecia mais. Enquanto não se discutirem os reais problemas da cidade, sua disfuncionalidade crescente, cerca de um terço do eleitorado preferirá ficar ausente. É desses vazios que se alimenta o sistema político.
A Constituição não se subordina a tratados - CARLOS MÁRIO DA SILVA VELLOSO
FOLHA DE SP - 13/10
Condenados na ação penal do mensalão dizem que vão recorrer à Corte da OEA da decisão do STF, porque não lhes foi garantido o duplo grau de jurisdição.
Indaga-se: a Corte da OEA poderia interferir, no caso?
A Convenção Americana de Direitos Humanos, conhecida como Pacto de São José da Costa Rica, ratificada pelo Brasil e incorporada ao direito brasileiro, estatui que são competentes para conhecer de assuntos, relacionados com o cumprimento do pacto, a Comissão e a Corte Interamericanas de Direitos Humanos (artigo 33).
A comissão é como que uma primeira instância da corte. Qualquer pessoa pode apresentar a ela queixas de violação da convenção por um Estado-parte. Ao cabo do processo, a comissão apresentará relatório. Não solucionado o assunto, a comissão fixa prazo ao Estado a fim de adotar medidas para remediar a situação. Esgotado o processo de competência da comissão, Estados-partes ou a própria comissão podem submeter o caso à decisão da Corte (artigos 48-50, artigo 61).
A Declaração Universal dos Direitos Humanos assenta que as pessoas têm direito de receber dos tribunais nacionais competentes remédio para os atos que violem direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela Constituição ou pela lei (artigo 8º). Nessa linha, o Pacto de São José da Costa Rica assegura aos acusados o direito de recorrer a juiz ou tribunal superior (artigo 8º, h). E que todos têm direito a recurso perante juízes ou tribunais competentes (art. 25).
Verifica-se que a Convenção preocupa-se em assegurar medidas judiciais que tolham o desrespeito aos direitos fundamentais. Todavia, o pacto não impõe o duplo grau de jurisdição, dado que há de ser observado, no ponto, o direito interno. No Brasil, há pluralidade dos graus de jurisdição, exercida na forma do disposto na Constituição e nas leis processuais.
Ora, a Constituição estabelece a competência originária do Supremo Tribunal para o processo e julgamento dos agentes públicos que ela menciona (artigo 101, b, c). O Pacto de São José assegura o direito de recorrer a juiz ou tribunal superior. No caso, entretanto, tem-se julgamento pela Corte Suprema, que é mais do que tribunal superior.
O entendimento de que o pacto, nos artigos 8, h e 25, obrigaria os Estados a prover, no caso, duplo grau de jurisdição, constituiria interpretação extensiva da Convenção. A doutrina internacional, porém, adota, de regra, a interpretação restritiva dos tratados, principalmente quando a interpretação extensiva tiver como consequência limitações à soberania estatal ou a submissão do Estado a uma jurisdição internacional, arbitral ou permanente.
Observa Francisco Rezek (em "Direito Internacional", p. 95), do que não destoa C. Rousseau ("Droit International Public" p. 64), que existe um "reconhecimento geral de que a interpretação restritiva impõe o respeito às cláusulas que limitam, de algum modo, a soberania dos Estados."
É certo, escrevi alhures, que o Brasil aceitou a jurisdição da Corte de Direitos Humanos da OEA. Todavia, o Brasil, cônscio de sua soberania, não se comprometeu, no Pacto de São José, a subordinar os órgãos do seu governo à Comissão ou à Corte da OEA.
No caso, a pretensão seria, na verdade, de subordinação da Constituição à convenção, quando é de elementar saber que aquela constitui o ápice da pirâmide legal (Kelsen).
É fácil concluir, portanto, pela resposta negativa à indagação formulada.
O que entra em jogo em uma guerra contra o Irã - SHLOMO BEN-AMI
O Estado de S.Paulo - 13/10
Teerã com arma nuclear ameaçaria a segurança dos EUA
Uma guerra com o Irã não é inevitável, mas a segurança nacional americana ficaria seriamente ameaçada por um Irã com armas nucleares. A discussão pública de uma ação militar se resume, com frequência, à retórica e à política partidária. Nós estamos propondo um debate fundamentado e não partidário sobre as implicações para os Estados Unidos de uma nova guerra no Oriente Médio.
Thomas Jefferson disse: "Em uma nação republicana, cujos cidadãos são movidos por razão e persuasão, e não pela força, a arte de raciocinar se torna de primeira importância". Na publicação Weighting Benefits and Cost of Military Action Against Iran ( Pesando custos e benefícios de uma ação militar contra o Irã), publicada este mês na internet, mais de 30 ex-funcionários de alto escalão do governo americano e especialistas regionais se reuniram para invocar a arte do raciocínio. Nós não concordamos integralmente com o relatório, mas compartilhamos entendimentos de sua mensagem.
Participamos da iniciativa por acreditar que uma discussão com base em fatos objetivos, custo-benefício, oportunidade, capacidades e estratégia de saída deveria reger qualquer decisão de uso da força militar.
Nossa posição é consistente com a política de outros presidentes, por mais de uma década, de manter todas as opções sobre a mesa, incluindo o uso de força militar, aumentando a pressão sobre o Irã enquanto trabalhamos em uma solução política. Como as consequências de um ataque militar são muito significativas para os interesses americanos, procuramos garantir que o leque de objetivos seja compreendido.
Se os EUA atacarem, poderão retardar por vários anos a capacidade do Irã de construir uma arma nuclear. Se o objetivo for danificar em grande escala a capacidade de armamentos do Irã, Washington pode ter um sucesso considerável. No entanto, sem um grande número de soldados em solo, duvidamos que ataques militares americanos lançados do ar - mesmo que suplementados por outros meios, como aviões não tripulados, operações secretas e ciberataques - poderiam eliminar a capacidade do Irã de construir uma arma nuclear, desestabilizar o regime ou obrigá-lo a capitular às exigências americanas.
Agentes da inteligência americana declararam que o Irã já possui o know-how e boa parte da tecnologia para construir uma arma nuclear. Americanos e israelenses, no entanto, concordam que os líderes iranianos ainda não tomaram a decisão de construir uma.
O governo americano, contudo, indicou que, se o Irã produzir urânio enriquecido no teor suficiente para uma arma e construir uma bomba, a opção militar precisa ser considerada. O secretário de Defesa, Leon Panetta, disse que os EUA teriam pouco mais de um ano para empreender a ação necessária "se o Irã decidir precipitar a construção de uma arma nuclear. Acreditamos que haveria tempo de advertência suficiente para responder."
Embora não seja a única maneira de alcançar esses objetivos, um ataque americano demonstraria a credibilidade do país como um aliado de outras nações na região e desorganizaria por vários anos as ambições nucleares do Irã, provendo espaço para outras soluções potencialmente de mais longo prazo. Um ataque também deixaria claro o pleno comprometimento dos EUA com a não proliferação nuclear quando outras nações considerarem medidas nessa direção.
Preço. Os custos são mais difíceis de calcular do que os benefícios em razão da incerteza sobre a escala e o tipo de reação iraniana. O Irã, provavelmente, retaliará diretamente, mas também buscará uma resposta assimétrica, incluindo um aumento da atividade terrorista e de operações secretas, além de usarem substitutos como o Hezbollah. Um aumento no preço do petróleo poderá manter o mercado instável durante semanas ou meses e paralisar a economia global.
O conflito também poderá sofrer uma escalada na direção de uma guerra regional envolvendo Síria, Hezbollah, palestinos e outros Estados e grupos terroristas árabes. Embora um ataque liderado pelos EUA ao Irã possa ser silenciosamente bem recebido pelos líderes de muitos Estados árabes, e certamente por Israel, ele provavelmente será recebido com hostilidade por grande parte dos muçulmanos da região.
Quando aceitou o prêmio Nobel da Paz, o presidente Barack Obama descreveu sabiamente o dilema que os Estados Unidos enfrentam como uma grande nação: "parte de nosso desafio é conciliar essas duas verdades aparentemente irreconciliáveis - que a guerra é, às vezes, necessária, e a guerra, em algum nível, é uma expressão da loucura humana." / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
Estúdio presidencial - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 13/12
Dilma Rousseff bloqueou parte de sua agenda ontem em Brasília para se submeter à primeira série de gravações de TV em favor de candidatos aliados no segundo turno, inclusive Fernando Haddad. A presidente deu depoimentos para dez praças estratégicas e nas quais não há adversários que integram sua base de sustentação no Congresso. Dilma pediu que o marqueteiro João Santana coordenasse a captação das imagens para padronizar sua participação nos programas eleitorais.
Do peito Embora Gleisi Hoffmann (Casa Civil) trate como prioritária a eleição de Gustavo Fruet (PDT), a presidente não entrará na campanha em Curitiba. Não apenas porque o rival de Fruet, Ratinho Jr. é do aliado PSC. A amizade de Lula com o pai do candidato, o apresentador de TV Ratinho, fala mais alto.
Muro
Mesmo negando apoio a Vanessa Grazziotin (PC do B) em Manaus, a deputada Rebecca Garcia (PP) prometeu ao Planalto que não subirá ao palanque de Artur Virgílio (PSDB). Ficará neutra no segundo turno.
Alívio
Após o novo revés de Celso Giglio (PSDB) no TSE, petistas promoverão a festa da vitória para Jorge Lapas na segunda-feira, às 18h. A expectativa é que o ex-secretário de Emídio de Souza seja aclamado vencedor da eleição em Osasco no dia 18.
Tapetão
Idealizador do polêmico aerotrem e oitavo colocado na disputa pela prefeitura paulistana, Levy Fidélix (PRTB) apelou à Justiça para suspender a proclamação do resultado da eleição. Entende que seu partido sofreu boicote por não ter acesso aos boletins de urnas.
Terceiro turno
Tão logo acabe o segundo turno, petistas concentrarão esforços na disputa pela vice-presidência da Câmara, na chapa de Henrique Eduardo Alves. Entre os cotados estão André Vargas (PR) e Paulo Teixeira (SP).
Domínio...
Um dos ministros mais duros ao enunciar a condenação de José Dirceu no mensalão diz que a principal peça para embasar seu voto foi o interrogatório do ex-chefe da Casa Civil tomado em 2008 pela Justiça Federal de São Paulo.
... do fato
Resume o integrante do Supremo: "Ele [Dirceu] começa negando tudo, mas, à medida que a juíza vai perguntando, admite que tudo no governo passava por ele. Era um verdadeiro primeiro-ministro".
Tira teima 1
Diante do impasse sobre o desempate de votações no STF, Ricardo Lewandowski tem dito que seria o cúmulo do "bis in idem" -quando determinado comportamento é criminalizado duas vezes- um réu ser condenado com dois votos do mesmo magistrado.
Tira teima 2
O revisor defende que empates, como no caso do ex-deputado José Borba, sejam decididos pelo princípio de que, caso haja dúvida, absolva-se o réu. Lewandowski discorda da tese do voto de minerva. Carlos Ayres Britto tem afirmado que não usará a prerrogativa.
Simbólico
Sindicatos organizam ato ecumênico de repúdio à onda de violência contra policiais em São Paulo. O evento será realizado terça-feira na Praça da Sé. À ocasião, entidades de classe pretendem relembrar o quarto aniversário do confronto entre grevistas e PMs na área de acesso ao Bandeirantes.
Escolta
Um dia antes, o deputado Major Olímpio (PDT) reunirá policiais e familiares na Assembleia Legislativa. O pedetista pretende iniciar coleta de assinaturas para apresentação de projeto de iniciativa popular que torna hediondos todos os crimes contra "agentes da lei".
FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
Tiroteio
"A campanha de Serra repete velhos métodos. Depois de usar Silas Malafaia na guerra religiosa, só falta agora a bolinha de papel."
DO DEPUTADO SIMÃO PEDRO (PT), coordenador da agenda de Fernando Haddad, sobre o vídeo gravado pelo líder evangélico contra o candidato petista.
Contraponto
Jeitinho brasileiro
Aloizio Mercadante comemorava no início do mês, em cerimônia no Ministério da Educação, parceria firmada com a Alemanha para intercâmbio de professores brasileiros de institutos federais. Ao assumir o microfone, o ministro aproveitou para destacar o que chamou de "bom entrosamento" entre os países e elogiar o grupo europeu, liderado pela ministra Annette Schavan.
-Fico feliz porque foi a primeira vez que a delegação se atrasou um pouquinho [para o evento]...
Mercadante continuou, ao notar a surpresa da plateia:
-O que é sinal de que já se adaptaram ao Brasil!
Dose errada - BENITO PARET
O GLOBO - 13/10
Com o objetivo de posicionar o Brasil como protagonista em tecnologia da informação e comunicação, o governo federal anunciou a criação do Programa Estratégico de Softwares e Serviços. Com mais esse passo para incentivar a área que mais cresce na economia mundial, mostra que não se conforma com a condição de produtor e exportador de commodities e semielaborados, que são, ainda, os principais na pauta de comércio.
Para estimular a produção, o novo programa se fundamenta em cinco eixos. Em um deles, o de "competividade", considera-se prioritária a criação de uma metodologia de avaliação que defina com clareza o que são produtos e serviços resultantes do desenvolvimento e inovação tecnológica legitimamente nacionais. Essa definição, dada, em princípio, pela Lei 12.340/2010, será chancelada por uma Certificação de Tecnologia Nacional aplicada a cada produto proposto ou cadastrado como elaborado com tecnologia nacional. O certificado é o que garantirá ao produto e à empresa proponente a preferência nas compras governamentais, mecanismo vital para garantir economia de escala às pequenas e médias empresas do setor.
Para uma empresa receber a certificação terá que ser aprovada em cinco áreas de competência: desenvolvimento; gestão tecnológica; gestão de negócios; gestão de parcerias e alianças; e gestão de pessoas, processos e conhecimento. Se não atender rigorosamente a cada uma dessas exigências, que se desdobram em diversos "resultados esperados", não terá a certificação.
A intenção dos formuladores da estratégia é excelente, mas as exigências são tantas que é praticamente impossível ajustar-se a elas. Ou seja: o remédio é bom, mas pode estar na dose errada. Somente grandes corporações, com longa maturidade organizacional e infraestrutura, poderiam suportar os custos para atender a todas essas exigências. É preciso lembrar que 95% das empresas de software, no Brasil, são de pequeno porte. E que o mercado, nessa área, é extremamente concentrado. Pesquisa do IVC constata que 70% das vendas, no país, são feitas por empresas estrangeiras de grande porte. Da maneira como está sendo formulada a estratégia, somente elas teriam poder econômico para satisfazer a todas as exigências.
A consulta pública para debater as normas propostas está aberta até dezembro. É preciso, portanto, que todos os interessados nessa discussão se manifestem. As compras governamentais, pelo volume, são a melhor forma de garantir mercado à maioria das empresas de software brasileiras. É preciso encontrar uma solução que não acabe por atender exclusivamente aos interesses das grandes empresas e perpetue o governo como comprador de produtos importados.
Encrenca educacional - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 13/10
SÃO PAULO - Pesquisa da Faculdade de Educação da USP mostrou que quase metade dos alunos que ingressam nos cursos de licenciatura em física e matemática da universidade não estão dispostos a tornar-se professores. O detalhe inquietante é que licenciaturas foram criadas exatamente para formar docentes.
A dificuldade é que, se os estudantes não querem virar professores, fica difícil conseguir bons profissionais e, sem eles, o sistema de ensino brasileiro seguirá colecionando fracassos.
Embora exista muita polêmica sobre o que funciona ou não em educação, não há dúvida de que a qualidade do professor é fundamental. Trabalho de 2007 da consultoria McKinsey comparou sistemas de educação de todo o mundo e concluiu que o elemento de maior destaque nas redes de excelência era a capacidade de "escolher as melhores pessoas para se tornarem professores".
Na Coreia do Sul, por exemplo, os futuros mestres são recrutados entre os 5% de alunos com notas mais altas no equivalente ao vestibular. Na Finlândia, os docentes são selecionados entre os "top ten". Por aqui, segundo levantamento de 2008 da Fundação Lemann, apenas 5% dos melhores alunos do ensino médio pensam em abraçar o magistério. Ser professor no Brasil se tornou a opção dos que não têm melhores opções.
Resolver essa encrenca é o desafio. Salários são por certo uma parte importante do problema, mas outros elementos, como estabilidade na carreira e prestígio social, também influem. O tratamento quase reverencial que a sociedade coreana dispensa a seus mestres ajuda a explicar o sucesso educacional do país.
Essas considerações tornam difícil a situação do Brasil, que precisa transitar de um modelo em que os piores alunos viram docentes para um que prime pela excelência. E, como o deficit de professores já é enorme (200 mil só na área de exatas), teremos de achar um jeito de trocar o pneu com o carro em movimento.
SÃO PAULO - Pesquisa da Faculdade de Educação da USP mostrou que quase metade dos alunos que ingressam nos cursos de licenciatura em física e matemática da universidade não estão dispostos a tornar-se professores. O detalhe inquietante é que licenciaturas foram criadas exatamente para formar docentes.
A dificuldade é que, se os estudantes não querem virar professores, fica difícil conseguir bons profissionais e, sem eles, o sistema de ensino brasileiro seguirá colecionando fracassos.
Embora exista muita polêmica sobre o que funciona ou não em educação, não há dúvida de que a qualidade do professor é fundamental. Trabalho de 2007 da consultoria McKinsey comparou sistemas de educação de todo o mundo e concluiu que o elemento de maior destaque nas redes de excelência era a capacidade de "escolher as melhores pessoas para se tornarem professores".
Na Coreia do Sul, por exemplo, os futuros mestres são recrutados entre os 5% de alunos com notas mais altas no equivalente ao vestibular. Na Finlândia, os docentes são selecionados entre os "top ten". Por aqui, segundo levantamento de 2008 da Fundação Lemann, apenas 5% dos melhores alunos do ensino médio pensam em abraçar o magistério. Ser professor no Brasil se tornou a opção dos que não têm melhores opções.
Resolver essa encrenca é o desafio. Salários são por certo uma parte importante do problema, mas outros elementos, como estabilidade na carreira e prestígio social, também influem. O tratamento quase reverencial que a sociedade coreana dispensa a seus mestres ajuda a explicar o sucesso educacional do país.
Essas considerações tornam difícil a situação do Brasil, que precisa transitar de um modelo em que os piores alunos viram docentes para um que prime pela excelência. E, como o deficit de professores já é enorme (200 mil só na área de exatas), teremos de achar um jeito de trocar o pneu com o carro em movimento.
Dança... - SONIA RACY
O ESTADÃO - 13/10
...das cadeiras
Caso o decano se aposente logo após o mensalão, o chefe da Advocacia-Geral da União entraria na vaga dele. Do contrário, uma mulher seguiria para o lugar de Ayres Britto –que deixa a corte em novembro - – e Adams ocuparia oposto de Celso só mais adiante.
Beto Vasconcelos, da Casa Civil, figura entre os cotados para comandar a AGU.
Pró-educação
A Secretariada Educação apresentou e Alckmin gostou: está mapeando 50 áreas em regiões carentes no Estado para construir centros de complementação do horário escolar. A ideia é ocupar o tempo dos estudantes após as aulas.
Recursos? Sairão dos R$ 300 milhões destinados, no orçamento de 2013, a obras na educação. Para a empreitada, tentam atrair ajuda de instituições como Sempec, Todos pela Educação e Gol de Letra.
18+
A Associação Nacional dos Restaurantes fez pesquisa para saber se seus filiados estão pedindo RG de quem compra bebida alcoólica.
Resultado? Cerca de 60% só cobram o documento de quem aparenta ter menos de 18 anos. E 13% não abrem mão da identidade nem dos idosos.
É da fiel
Alexandre Padilha fez questão de ligar para Haddad assim que soube da passagem do petista para o segundo turno em SP. “Foi no melhor estilo Corinthians, embolado e no último minuto”, disparou o ministro.
São-paulino, Haddad esboçou um sorriso.
Da fiel 2
Em Itaquera, a população cravou Haddad (32%). E Serra ficou em terceiro, com 20%, atrás de Russomanno. Cacique do PT afirmou à coluna: “É terra de corintiano, lá palmeirense sofre!”
E são-paulino, não?
Chá de sumiço
Selton Mello, sonhando com o Oscar em março, decidiu submergir por dois meses.
A partir do fim de outubro.
Prateleira
A Balada Literária enfrenta dificuldades para realizar sua sétima edição: acaba de receber um “não” do ProAc. “Somos teimosos”, dizMarcelino Freire, criador do evento. “Nosso capital continua sendo afetivo”.
A festa homenageará Raduan Nassar e acontece de 28 de novembro a 2 de dezembro.
Em primeira pessoa
OSilêncio Contra MuamarKadafi – livro de Andrei Netto sobre a revolução na Líbia –já tem data de lançamento. Dia 29 de novembro, pela Cia das Letras.
Entre os relatos, o dia que o repórter do Estado passou na prisão de Kadafi.
Big Brother
A Vale inaugurou seu novo centro de controle ambiental no Complexo de Tubarão, em Vitória: um circuito de televisão monitora, em tempo real, cada etapa do processo produtivo.
Custo? R$ 2,5 milhões.
‘Mensareta’
Enquanto São Paulo costuma celebrar a portas fechadas, o Rio se abre. Grupo carioca organiza manifestação no Leblon, para festejar o resultado do julgamento do mensalão. Com direito a caminhada e... choppada no calçadão.
Lembrete: Joaquim Barbosa tem apartamento no bairro.
DILMA NÃO DÁ BOLA PARA GEDDEL - JORGE BASTOS MORENO - Nhenhenhém
O GLOBO - 13/10
O PDT fechou com Serra, e ninguém cobra da sigla a devolução do Ministério do Trabalho. O PSB só se une aos adversários do governo, e, também, ninguém pede de volta o Ministério da Integração Nacional.
Agora, basta o Geddel Vieira Lima fechar com ACM Neto em Salvador para o comando do PT exigir sua demissão do cargo de vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa. Pobre PT, mal sabe que Geddel só está apoiando o DEM, neste segundo turno, para poder se livrar desse abacaxi de forma honrosa: demitido. Assim, ele também passaria a ser vítima da perseguição do governador Jaques Wagner e capitalizaria isso politicamente no futuro.
Dilma, ao contrário do PT, já percebeu a jogada. Por ela, o baiano continuará firme e forte no cargo, ao qual inclusive pouco exerce, exatamente por não ter função alguma na estrutura federal.
Mas o PT deve ter lá seus motivos e faz uma alegação interessante: o Geddel Vieira Lima é como Kombi, perigoso, até parado.
Altos papos
Reunião do PMDB com o PT para discutir o segundo turno, no gabinete de Michel Temer em São Paulo; este pede licença a todos e se tranca com Lula, numa sala ao lado, para tratar de questões mais delicadas da aliança.
De repente, alguém muito especial ousa abrir a porta: Michelzinho, de 3 anos, que fora visitar o pai no trabalho.
Lula, doido por criança, despreza Michel e começa a entabular uma conversa com o “vicinho”, tentando convencê-lo a torcer pelo Corinthians e não pelo São Paulo, o time do pai.
Sem que tenham chegado a um acordo, Michelzinho e Lula marcaram uma nova rodada de conversas para depois das eleições.
Carinho
Quisera ser uma formiguinha (difícil, não?! ) para ter ouvido queixas de Tarso a Lula sobre Dilma.
Na toca dos lobos
Lula e Dilma assumiram com o PT o compromisso de ir a Salvador e Manaus neste segundo turno.
Mas do que Lula gosta mesmo é de confusão: numa briga, em Fortaleza, entre o PT e o PSB, na qual nem a oposição nem, muito menos, os outros partidos da base querem se meter, ele anunciou que vai lá cutucar os irmãos Cid e Ciro Gomes com vara curta.
Além-mar
Depois da Dilma, desta vez foi Lula que reconheceu o desprendimento do deputado Chico D’Ângelo, preterido nas prévias, por ter se engajado totalmente na campanha de Rodrigo Neves, em Niterói.
Se todos, no PT e nos outros partidos da base, fizessem isso, teríamos a maioria das prefeituras hoje.
Lula quer ir agora a Niterói, mas evita confirmar para não gerar expectativas. Cabral, não!
Ele não atravessa pontes. Só oceanos.
Constrangimento
Segunda agora, depois das eleições, ministros de Estado se comprimiam no jatinho da FAB, de volta a Brasília. Mal-estar de sempre. Mercadante e Padilha entraram, permaneceram quase duas horas juntos e desceram sem trocar sequer cumprimentos.
Dilma, assim não dá!
Grande dia
Depois de terem participado da série Encontros do Globo, desta vez para debater “O Brasil sem Ulysses”, o vice-presidente ofereceu carona de volta a Nelson Jobim e Celso Lafer.
O sisudo intelectual e ex-chanceler não se fez de rogado:
— Nunca uma carona foi tão providencial. Eu já estava preocupado com o meu voo. Só assim chego a casa na hora. É hoje que a Carminha será expulsa da mansão.
Piada pronta
Já o Geddel protestou contra a morte do Max:
— Detesto brigas e palavrões.
Só cantando! Oi! Oi! Oi!
Cinderelas
A coluna não descobriu ainda o fim da novela, mas já sabe que Noêmia vai ficar com a Suelen.
Pelo menos foi o que eu ouvi de Isis Valverde e Camila Morgado, numa conversa das duas com o incrédulo Gilberto Gil, depois de um show do cantor:
— A gente vai se pegar, Gil! — disse Valverde, com a Camila, vermelha de vergonha, confirmando com a cabeça.
Ao meu lado, o delicado vice de Cabral resmungou:
— Depois, o “pezão” é meu! Acalmei a galera:
— Calma, é na microssérie sobre livro de Nelson Motta.
Graças da linguagem figurada - SILVIANO SANTIAGO
O ESTADÃO - 13/10
"Sou estéril e pratico em ti a arte de dar à luz." A frase de Sócrates é dirigida ao jovem Teeteto, com quem troca ideias. Foi retirada do diálogo platônico (157c) que leva o nome do discípulo. Nele discute-se o que é o saber (episteme). Apesar de cada elemento forte da frase chegar ao leitor enobrecido por alta taxa metafórica, ela não é de difícil entendimento.
De maneira inesperada, o mestre afirma ao discípulo que os deuses o tinham privado da força de gerar um pensamento vivo. Se ele se autodefine como estéril, também é do seu agrado confessar a própria ignorância. Em outra passagem, Sócrates reanima os dois traços e soma a eles, de modo paradoxal, a eficiência no parto das ideias: "O deus que me obriga a dar à luz impediu-me de produzir. Não sou, portanto, de modo nenhum sábio, nem tenho descoberta que venha de mim, nascida da minha alma; mas alguns moços, da minha convivência, parecem incapazes de aprender a princípio, mas, à medida que o convívio avança, espanto-me com quanto produzem aqueles a quem o deus permite". Acrescenta: "Fique claro: nunca aprenderam nada de mim; descobriram por conta própria e deram à luz muitas e belas coisas".
Ao atar a ponta da esterilidade com a da improdutividade, o mestre aviva a necessidade de expressar com autenticidade o que se aprende (e como ele aprendeu!) na leitura dos filósofos. Por não querer desviar ou canalizar a recapitulação das ideias alheias em favor do próprio trabalho, o saber que Sócrates transmite ao discípulo é sempre respeitoso da palavra dos sábios antigos e circunscrito a ela. Há uma identidade prática entre a busca do saber pelo discípulo e a sabedoria (sophia) que vem do mestre. Continua ele: "Dou-te a provar cada uma das teses dos sábios, até conseguir trazer a tua opinião para a luz".
O ensinamento de Sócrates não se volta para ele mesmo. Dirige-se à mente do moço que, pela força dos deuses, é fecunda. A alguém que, graças ao trabalho de parteira que o sujeito estéril e ignorante pratica, dá à luz o saber filosófico vivo e novo.
O mestre é mensageiro. Se a letra dos sábios antigos for transportada por ele aos ouvidos do discípulo, ela os engravida, inseminando ideias verdadeiras e falsas. O caudal da palavra filosófica deságua indiretamente na fertilidade do pensamento do jovem Teeteto que, se e quando prenhe de saber, irá requerer a presença do mestre como parteira. Por ser "incapaz de produzir saberes", Sócrates como que ausculta as dores de parto por que passa o discípulo. Diz: "Faço perguntas aos outros, enquanto eu próprio não presto declarações sobre nada, porque nada tenho de sábio".
A incapacidade de procriar poderia ter impedido o mestre de ser parturiente. Protetora dos nascimentos, Artêmis não deu à mulher estéril a arte de dar à luz "por a natureza humana ser mais fraca para adquirir uma arte na qual não tem experiência". Parteiro contra a lei divina, Sócrates pede ao discípulo para não denunciá-lo à comunidade, "pois é segredo que possuo essa arte". Corre por aí "que sou muito esquisito e causo espanto aos homens". Ainda no seu dizer, a boa parteira é a que mais facilmente reconhece as mulheres que estão grávidas.
Por ser mensageiro, Sócrates tem pacto amoroso com o "go between", dramatizado por Joseph Losey em filme. É a mais hábil casamenteira. Aliás, uma parteira tem mais orgulho em encontrar a mulher ideal para cada tipo de homem do que em cortar o cordão umbilical (149d). A excelência da cria advém do bom e frutífero entrosamento entre genitores. Que corrente filosófica privilegiar numa discussão? Aos discípulos que parecem não de todo prenhes - esclarece ele a Teeteto -, "faço-me de casamenteiro e, com muito boa vontade e a ajuda do deus, adivinho bastante bem de que companheiro se beneficiaria. Alguns companheiros eu ofereci a Pródico e outros a muitos homens sábios e inspirados".
Mas Sócrates tem de se precaver. Por a casamenteira ser associada ao lenocínio, muitas parteiras evitam se desdobrar: por uma atividade podem ser acusadas da outra. A prática de vida de Sócrates, sua arte de ensinar se assenta, pois, num duplo segredo que partilha com o discípulo eleito.
Confessa Sócrates: "Os que se associam a mim sofrem algo idêntico às mulheres que estão a dar à luz; de fato, têm dores de parto e durante noites e dias ficam cheios de dificuldades, e com muito mais dores que elas; mas a minha arte tem o poder de provocar a dor de parto e de fazê-la parar". Não para aí o trabalho da parturiente: "nossa arte está em poder verificar completamente se o pensamento do jovem pariu uma fantasia ou uma mentira, ou se foi capaz de gerar também uma verdade autêntica".
Aprender é tornar-se mais sábio acerca do que se aprende (145d). Ordena Sócrates a Teeteto, em quem entrevê as dores do parto: "Entrega-te, então, a mim e àquilo que eu te perguntar e empenha-te a responder como fores capaz". O parto se dará por realizado quando Teeteto tiver conseguido apreender todos os saberes numa única definição de saber.
Antes, Sócrates dera início à apresentação dos pretendentes ao jovem. A amostragem dos discursos filosóficos contraditórios dos antigos tem seus encantos e uma finalidade: o diálogo revelará que "o saber não é apenas percepção", como acredita inicialmente Teeteto, seguindo o caminho aberto por Protágoras e complementado por Heráclito (percepção é fluxo). O saber não está, pois, no fluxo associado à percepção, mas no raciocínio sobre o ensinamento de Protágoras e de Heráclito, que visa a apreender a verdade (186d). O saber é opinião verdadeira.
No entanto, a dificuldade maior é "a daquele que, tendo a posse do saber, ignora o que sabe não devido à sua ignorância, mas em razão do seu próprio saber" (199d). Graças do texto filosófico.
IRMÃS ARTEIRAS - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 13/10
As irmãs Márcia e Beatriz Milhazes estreiam hoje no teatro Sérgio Cardoso o espetáculo de dança "Camélia", para qual a primeira fez coreografia e a segunda, cenografia.
A peça, que faz parte do evento Plataforma Internacional Estado da Dança, foi bolada no silêncio, conta Márcia. "Colocamos a música e as cores depois. Ficou tão bonito que precisamos pedir para os espectadores não ficarem tocando. Parece um caleidoscópio."
Beatriz, que chega a vender seus quadros por R$ 1,8 milhão, diz que fará exposição no Paço Municipal do Rio, no ano que vem. "Desde 2002 que não exponho na cidade. Estou animada."
PRATO DE SOBREMESA
Quinze restaurantes paulistanos, como Jun Sakamoto e Girarrosto, do chef Salvatore Loi, vão passar a servir pratos menores a partir de novembro. Mas continuarão a cobrar por eles os mesmos, e salgados, preços. O "lucro" da operação será doado para o Instituto Alana, que trata do consumo infantil -que, por sua vez, repassará o total arrecadado para ONGs de combate à fome.
MENOS É MAIS
Os clientes ainda poderão optar pela porção "cheia". "Mas estimamos que 25% deles vão pedir a porção menor", diz Paulo Kress, dono do restaurante Kaa. "Queremos mostrar que se pode comer menos e ainda ajudar", diz Marcos Nisti, do Alana. Ele espera que 30 restaurantes se engajem no projeto até o fim do ano.
TE VEJO EM 2014
Passada a eleição em São Paulo, da qual saiu derrotado mas com o total de 1,3 milhão de votos, Celso Russomanno fala agora no "projeto 2014", em alusão à disputa pelo Bandeirantes. "Vamos discutir com o PRB. Nada é impossível." Lembra 2008, quando Geraldo Alckmin (PSDB-SP) terminou em terceiro lugar na corrida à prefeitura -acabou eleito governador dois anos depois.
PROFISSÃO REPÓRTER
Ele pretende descansar mais uma semana e voltar ao jornalismo. Quer retomar programas na Record, na CNT e na Rede Brasil. E aproveitar para "desestressar" da campanha. "Deixei de ser católico, virei um monstro. Transformaram a eleição numa Guerra Santa. Mas não tem depressão, não. Não sou apegado a cargos. Consigo [me eleger deputado] quantas vezes quiser."
BISPO UNIVERSAL
O bispo Edir Macedo, da Igreja Universal, exportará "Nada a Perder", autobiografia que descreve sua prisão em 1992, após ser acusado de charlatão e estelionatário. Serão versões em espanhol e inglês: "Nada que Perder" e "Nothing to Lose". Vice-presidente de jornalismo da Record e coautor do livro, Douglas Tavolaro irá representá-lo, a partir de novembro, em Buenos Aires, Caracas, Bogotá, Cidade do México, Lisboa, Madri e Londres.
APERTA O PLAY
O festão de casamento da socialite e blogueira Lalá Rudge e do empresário Luigi Cardoso, no dia 26, na Casa Fasano, será animado pelo DJ e ex-modelo Thiago Mansur. No cardápio, músicas "jovens e pop" como "Niggas in Paris", de Jay-Z, e "Wild Ones", de Flo Rida.
PAJENS DO RIO
O campeonato de hipismo Oi Athina Onassis Horse Show começa neste mês a dar aulas gratuitas para jovens de áreas pobres do Rio, como o Morro dos Tabajaras. Depois do curso, os adolescentes trabalharão no evento como ferradores, tratadores e enfermeiros de cavalos.
COM AS ROUPAS E AS ARMAS DE JORGE
A próxima novela das nove da Globo, "Salve Jorge", teve festa de lançamento na quarta, no Rio. Os atores Cleo Pires, Nanda Costa e Domingos Montagner circularam pela Sociedade Hípica Brasileira. Claudia Raia foi com o namorado, o ator Jarbas Homem de Mello, e a filha, Sofia, do casamento com Edson Celulari. O empresário turco Zyah Desdelerna estava entre os convidados.
FESTA OLÍMPICA
A balada Groove teve edição no espaço Traffô, na Vila Olímpia, nesta semana. O empresário Arnaldo Diniz, a arquiteta Priscila Rosa e Bruna Oliva foram à festa ouvir o som de DJs como Buga e Gui Pimentel.
CURTO-CIRCUITO
O Mercadinho Chic, na rua Oscar Freire, abriu loja na internet: www.mercadinhochic.com.br.
Arthur Nestrovski e Celso Sim tocam no encerramento da Feira do Livro de Frankfurt, amanhã. O escritor Milton Hatoum representa o Brasil.
O show de humor "Batom Comedy" estreia amanhã, no teatro Juca Chaves, no Itaim Bibi. 14 anos.
Yair Dalal, israelense de ascendência iraquiana, é destaque do Kleztival - 3º Festival de Música Judaica, que começa hoje.
O cantor Tiken Jah Fakoly, da Costa do Marfim, se apresenta hoje no Sesc Pompeia. 18 anos.
Transparência - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 13/10
O país acompanha pela TV, ao vivo e em cores, o julgamento do mensalão e é testemunha de que tudo se passa na mais perfeita ordem democrática do estado de direito. A pretexto de evitar a politização do julgamento, petistas ilustres, a começar pelo ex-presidente Lula, exerceram durante meses pressão nunca vista sobre o Supremo Tribunal Federal para que ele não se realizasse durante as eleições municipais.
A preocupação era tamanha que Lula chegou a ameaçar o ministro Gilmar Mendes de denunciar, na CPI do Cachoeira, uma suposta relação do ministro com o bicheiro, o que foi prontamente repelido. Tornado público o episódio, ficou claro que não havia o que denunciar, e o tiro saiu pela culatra. Inevitável o julgamento, Lula passou a procurar outros ministros em busca de apoio à sua tese de que tudo não passou de uma farsa. A Dias Toffoli foi dito, em público pelo atual prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, e em particular pelo próprio Lula, que ele não tinha o direito de se declarar impedido, mesmo tendo trabalhado sob as ordens do ex-ministro José Dirceu e assinado documento, na posição de delegado do PT, afirmando que o mensalão ainda estava para ser provado.
O ministro Ricardo Lewandowski recebeu Lula em casa, em São Bernardo do Campo, antes do julgamento. Essas pressões petistas foram as reveladas, uma pressão que, ao contrário, eles atribuem à "mídia conservadora" que estaria atuando para condenar "o governo popular". Mas os mínimos detalhes foram observados para que não se dissesse que o julgamento tinha qualquer laivo de tendenciosidade. O presidente do STF, Ayres Britto, abria sempre as sessões anunciando a Ação Penal 407, e encabeçava a lista dos réus com José Dirceu de Oliveira e Silva. A partir de um certo momento, deixou de citar o nome de Dirceu, dizendo genericamente que os réus eram conhecidos.
Também a palavra "mensalão" desapareceu da boca dos ministros, pois advogados de defesa alegaram que o nome era depreciativo e já embutia decisão sobre o caso. Mas o revisor Lewandowski, sempre que pode, refere-se ao caso mineiro, lembrando que ele é a origem de tudo. É certo que ele não cita o PSDB, partido cuja regional de Minas envolveu-se originariamente com o lobista Marcos Valério para fazer, em termos locais, o mesmo que o PT faria em termos nacionais anos depois, mas a repetição mostra preocupação de relativizar o esquema denunciado pelo processo.
Os ministros do STF não perdem uma chance de explicar didaticamente as razões jurídicas que os levam a condenar alguns e absolver outros, e, quando há uma dúvida razoável, a discussão ganha até mesmo ares de confronto, com ministros sendo mais ríspidos do que deveriam, alterando a voz para impor suas convicções.
Em algumas ocasiões, especialmente nas primeiras sessões, houve até momentos em que ele esteve em risco, como quando Lewandowski ameaçou abandonar o plenário.
Dias Toffoli, na última sessão, chegou a dizer que seu colega Luiz Fux estava sendo "indelicado". O relator Joaquim Barbosa, que não aguenta ser contestado sem revidar, cortou um comentário do mesmo Toffoli, que usou um "assalto a banco" para contestar a posição do relator sobre lavagem de dinheiro, afirmando: "Não é assalto a banco, mas é assalto aos cofres públicos". Lewandowski e Toffoli estão em minoria no plenário, isolados em suas posições na maioria dos casos, mas têm encontrado apoio nas questões relativas a lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, temas que são acessórios ao principal no julgamento, mas que têm grande importância tanto na hora de definir as penas quanto na formação de uma jurisprudência que vai influir nos julgamentos das várias instâncias da Justiça brasileira daqui para a frente.
O que se vê, então, é que os ministros do Supremo - a maioria nomeada por governos petistas - são capazes de discutir às vezes asperamente em torno de temas que não obtêm consenso do plenário, e são também capazes de absolver quando uma "dúvida razoável" persiste.
Os placares condenatórios elásticos - de 10 a 0 para Delúbio Soares; 9 a 1 para José Genoino; e 8 a 2 para José Dirceu - só indicam que não houve dúvidas sobre suas culpabilidades.
Crime e castigo - ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 13/10
Com sua serena lucidez, a ministra Cármen Lúcia fez uma ressalva ao votar pela condenação de José Genoino e José Dirceu: "Não estou julgando a história de pessoas que em diversas ocasiões tiveram a vida reta. Estou julgando os fatos apresentados nestes autos." O mesmo poderia ser dito em relação ao PT, cuja trajetória até estourar o escândalo do mensalão foi também reta. Não são os princípios programáticos do Partido dos Trabalhares que estão sendo condenados pelo STF, "não é a história, mas os fatos", como também afirmou o decano Celso de Mello. O que se condena é um acidente grave de percurso, um mau passo, um enorme desvio de conduta. Em reunião com seu Ministério no dia 12 de agosto de 2005, Lula, chocado com as revelações sobre dirigentes do partido, desabafou: "Eu me sinto traído por práticas inaceitáveis sobre as quais eu não tinha qualquer conhecimento. Não tenho nenhuma vergonha de dizer que nós temos de pedir desculpas. O PT tem de pedir desculpas. O governo, onde errou, precisa pedir desculpas."
Por que não pedir agora? Por que o Lula de 2012 reage ao julgamento mandando seus companheiros receberem o castigo de "cabeça erguida", como se houvesse algum motivo para soberba? Seria tão mais honesto, tão mais coerente com as origens éticas do partido se, em vez de desqualificar o trabalho do Supremo com suspeitas infundadas e se, em lugar de responsabilizar a mídia, os réus mensaleiros aceitassem o revés com humildade e fizessem uma corajosa autocrítica como pedia Lula sete anos atrás.
Como dirigentes partidários ousam suspeitar da isenção de uma Corte cujos membros em sua maioria foram indicados por Lula e Dilma e que, portanto, não têm qualquer razão para lhes ser deliberadamente hostis? Que interesses levariam esses juízes a sacrificar suas reputações para "condenar sem provas"? Como colocar em dúvida a correção de um personagem como Joaquim Barbosa, que pode ter um temperamento difícil, mas cuja opção política é conhecida (há dias, ele confessou em entrevista ter votado três vezes em Lula, sem arrependimento, porque "as mudanças e avanços no Brasil nos últimos dez anos são inegáveis").
Os petistas acreditam ter motivos de queixa pelo rigor inédito do STF, que, espera-se, não seja de exceção, aplicado apenas nesse caso. Mas, ao se recusar a assumir a culpa que lhe cabe, o PT perdeu a oportunidade histórica de ser diferente também no erro, como foi um dia nos acertos.
Os marginais do poder - MARCO ANTONIO VILLA
O Estado de S.Paulo - 13/10
Vivemos um tempo curioso, estranho. A refundação da República está ocorrendo e poucos se estão dando conta deste momento histórico. Momento histórico, sim. O Supremo Tribunal Federal (STF), simplesmente observando e cumprindo os dispositivos legais, está recolocando a República de pé. Mariana - símbolo da República Francesa e de tantas outras, e que orna nossos edifícios públicos, assim como nossas moedas - havia sido esquecida, desprezada. No célebre quadro de Eugène Delacroix, é ela que guia o povo rumo à conquista da liberdade. No Brasil, Mariana acabou se perdendo nos meandros da corrupção. Viu, desiludida, que estava até perdendo espaço na simbologia republicana, sendo substituída pela mala - a mala recheada de dinheiro furtado do erário.
Na condenação dos mensaleiros e da liderança petista, os votos dos ministros do STF têm a importância dos escritos dos propagandistas da República. Fica a impressão de que Silva Jardim, Saldanha Marinho, Júlio Ribeiro, Euclides da Cunha, Quintino Bocayuva, entre tantos outros, estão de volta. Como se o Manifesto Republicano de dezembro de 1870 estivesse sendo reescrito, ampliado e devidamente atualizado. Mas tudo de forma tranquila, sem exaltação ou grandes reuniões.
O ministro Celso de Mello, decano do STF, foi muito feliz quando considerou os mensaleiros marginais do poder. São marginais do poder, sim. Como disse o mesmo ministro, "estamos tratando de macrodelinquência governamental, da utilização abusiva, criminosa, do aparato governamental ou do aparato partidário por seus próprios dirigentes". E foi completado pelo presidente Carlos Ayres Brito, que definiu a ação do PT como "um projeto de poder quadrienalmente quadruplicado. Projeto de poder de continuísmo seco, raso. Golpe, portanto". Foram palavras duras, mas precisas. Apontaram com crueza o significado destrutivo da estratégia de um partido que desejava tomar para si o aparelho de Estado de forma golpista, não pelas armas, mas usando o Tesouro como instrumento de convencimento, trocando as balas assassinas pelo dinheiro sujo.
A condenação por corrupção ativa da liderança petista - e por nove vezes - representaria, em qualquer país democrático, uma espécie de dobre de finados. Não há no Ocidente, na História recente, nenhum partido que tenha sido atingido tão duramente como foi o PT. O núcleo do partido foi considerado golpista, líder de "uma grande organização criminosa que se posiciona à sombra do poder", nas palavras do decano. E foi severamente condenado pelos ministros.
Mas, como se nada tivesse acontecido, como se o PT tivesse sido absolvido de todas as imputações, a presidente Dilma Rousseff, na quarta-feira, deslocou-se de Brasília a São Paulo, no horário do expediente, para, durante quatro horas, se reunir com Luiz Inácio Lula da Silva, simples cidadão e sem nenhum cargo partidário, tratando das eleições municipais. O leitor não leu mal. É isso mesmo: durante o horário de trabalho, com toda a estrutura da Presidência da República, ela veio a São Paulo ouvir piedosamente o oráculo de São Bernardo do Campo. É inacreditável, além de uma cruel ironia, diante das condenações pelo STF do núcleo duro do partido da presidente. Foi uma gigantesca demonstração de desprezo pela decisão da Suprema Corte. E ainda dizem que Dilma é mais "institucional" que Lula...
Com o tempo vão ficando mais nítidas as razões do ex-presidente para pressionar o STF a fim de que não corresse o julgamento. Afinal, ele sabia de todas as tratativas, conhecia detalhadamente o processo de mais de 50 mil páginas sem ter lido uma sequer. Conhecia porque foi o principal beneficiário de todas aquelas ações. E isso é rotineiramente esquecido. Afinal, o projeto continuísta de poder era para quem permanecer à frente do governo? A "sofisticada organização criminosa", nas palavras de Roberto Gurgel, o procurador-geral da República, foi criada para beneficiar qual presidente? Na reunião realizada em Brasília, em 2002, que levou à "compra" do Partido Liberal por R$ 10 milhões, Lula não estava presente? Estava. E quando disse - especialmente quando saiu da Presidência - que não existiu o mensalão, que tudo era uma farsa? E agora, com as decisões e condenações do STF, quem está mentindo? Lula considera o STF farsante? Quem é o farsante, ele ou os ministros da Suprema Corte?
Como bem apontou o ministro Joaquim Barbosa, relator do processo, o desprezo pelos valores republicanos chegou a tal ponto que ocorreram reuniões clandestinas no Palácio do Planalto. Isso mesmo, reuniões clandestinas. Desde que foi proclamada a República, passando pelas sedes do Executivo nacional no Rio de Janeiro (o Palácio do Itamaraty até 1897 e, depois, o Palácio do Catete até 1960), nunca na História deste país, como gosta de dizer o ex-presidente Lula, foram realizadas na sede do governo reuniões desse jaez, por aqueles que entendiam (e entendem) a política motivados "por práticas criminosas perpetradas à sombra do poder", nas felizes, oportunas e tristemente corretas palavras de Celso de Mello.
A presidente da República deveria dar alguma declaração sobre as condenações. Não dá para fingir que nada aconteceu. Afinal, são líderes do seu partido. José Dirceu, o "chefe da quadrilha", segundo Roberto Gurgel, quando transferiu a chefia da Casa Civil para ela, em 2005, chamou-a de "companheira de armas". Mas o silêncio ensurdecedor de Dilma é até compreensível. Faz parte da "ética" petista.
Triste é a omissão da oposição. Teme usar o mensalão na campanha eleitoral. Não consegue associar corrupção ao agravamento das condições de miséria da população mais pobre, como fez o ministro Luiz Fux num de seus votos. É oposição?
Assinar:
Postagens (Atom)