domingo, setembro 09, 2012

A elite branca - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 09/09

A lei de cotas reduz também, naturalmente, o espaço nas boas universidades públicas brasileiras para alunos brancos de classe alta.
Como o ensino superior privado nacional nem sempre oferece uma alternativa de boa qualidade, tem universidade americana de olho nesses jovens de posse.

Segue...

A Texas Tech University, por exemplo, mandou representantes a Brasília, São Paulo e Rio.
A California College of the Arts, a Furman University e a Kettering University também estão tentando atrair alunos brasileiros.

Alemão no Projac
Os cenógrafos Mário Monteiro e Juliana Carneiro vão reproduzir o Complexo do Alemão dentro do Projac para "Salve Jorge’,’ de Glória Perez, próxima novela das nove.
O Alemão cenográfico tem 1,8 mil metros quadrados, 14 grandes edificações e reproduz as lajes típicas da comunidade. A maior delas será o bar do Miro (André Gonçalves).

A fama...

A presença de um núcleo do Alemão, que foi libertado do poder dos bandidos, deve ter um impacto muito grande no lugar como ocorreu com o Leblon, por exemplo, nas novelas de Manoel Carlos.

Memória

Marco Maciel, 72 anos, o vice de FH, está escrevendo um livro de memórias. Foram 44 anos na política.

‘La dolce vita’
Depois desta nova visita a Londres, para o término das Paralimpíadas, Michel Temer estica até Roma.
Encontrará na terça com Giorgio Napolitano, o presidente italiano.

O DOMINGO É DE......Patrícia Pillar, 48 anos de pura formosura e talento. Após intepretar Flora em “A favorita”, ela está de volta à telinha na pele de outra vilã, Constância, uma senhora de escravos que defende a segregação na nova novela das seis da TV Globo, “Lado a lado”, de João Ximenes e Claudia Lage, que estreia amanhã. Que seja feliz 

Shopping, nãoA cadeia de cinema Severiano Ribeiro resolveu homenagear Luiz Carlos Barreto, 83 anos, pelos 50 anos de sua produtora, que já fez mais de 80 filmes, com uma placa num cinema da rede. Barretão, feliz da vida, fez, entretanto, um pedido:
— Não queria minha placa num cinema de shopping.

Filme que segue...
Será no Roxy, em Copacabana, cinema de rua como... os de antigamente. Merece.

Beco Dias Gomes
Alô, Paes! O poeta Ferreira Gullar não se conforma e com razão:
— Não há uma rua, um beco do Rio com o nome de Dias Gomes, que viveu boa parte de sua vida na cidade.

Aliás...

Bernadeth Lyzio, viúva de Dias, está escrevendo um livro de memórias sobre o tempo em que viveu ao lado do grande dramaturgo.
É para celebrar os 90 anos de nascimento do autor de "O pagador de promessas’,’ "O bem-amado” e tantos sucessos.

Deve ser terrível

A administração do metrô de Londres pôs este aviso nos trens para pedir que os passageiros tenham cuidado, pois as estações estão cheias de... ratos!
Diz que os roedores têm atacado as pessoas e, acredite!, chega a recomendar que os usuários ponham as calças para dentro das meias. É que os danadinhos, ui!, costumam subir pelas pernas.

Aqui jaz Jaiminho
Jaime Dias Sabino, o Jaiminho, de 83 anos, o papagaio de pirata que, para aparecer na TV, já segurou 1.149 caixões de celebridades, será personagem de um filme.
Alex Teixeira reuniu informações, desde 2007, e finaliza "Aqui jaz Jaiminho”

Vida real
A vida das crianças que são criadas no lixão de Gramacho não é tão alegre como na novela "Avenida Brasil”!
A 2? Câmara Criminal mandou prosseguir a ação penal para apurar os estupros de duas meninas de 11 anos. O acusado é o padrasto que vive no local com as duas mães.

Pedalando no frio
Tem gente que acha, com certa razão, que pedalar no calorão do verão é um programa de índio.
Talvez, quem sabe, isso ajude a explicar por que em agosto, em pleno inverno, o Bike Rio — que começou em outubro passado — registrou a marca recorde de 123 mil viagens de bicicleta, o maior número mensal até agora.

Aliás...
No total, o projeto patrocinado pelo Itaú atinge nos próximos dias nada menos que um milhão de viagens.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 09/09

Parque (de diversões) eólico

Empresa espanhola projeta complexo de entretenimento de € 3 bilhões que terá energia renovável como foco
Um complexo de lazer com cinco parques temáticos e sete hotéis está sendo projetado para ser instalado no Rio Grande do Norte, na cidade de Touros (cerca de 85 quilômetros de Natal).

O grupo espanhol Alondra, de energia renovável, lidera o empreendimento, que deverá receber aporte de € 3 bilhões (R$ 7,7 bilhões).

Investidores do mercado internacional, cujos nomes não foram revelados, devem financiar o projeto.

Os espanhóis também negociam com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e com a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste).

O complexo de parques deverá gerar sua própria energia, com fontes eólicas e solares, e, por isso, foi batizando de "Enerland - The Power of Fun" (Terra da Energia - O Poder da Diversão).

O Rio Grande do Norte foi escolhido justamente "por atender os aspectos necessários para produção de energia renovável", afirma o presidente da empresa, Manuel Rojas Saume.

O cronograma do projeto prevê que 60% das obras estejam concluídas em 2016 -ano em que o local deverá receber 7,2 milhões de visitantes, de acordo com estimativas da empresa.

Os parques deverão estar completamente concluídos em 2019. A partir de então, receberão cerca de 12 milhões de pessoas por ano.

Na semana passada, o presidente da empresa apresentou os projetos para o Ministério do Turismo e o governo do Rio Grande do Norte.

15
montanhas-russas deverão fazer parte dos cinco parques

7
são os hotéis previstos

Nas ruas de Milão
A Dudalina inaugura na quarta-feira sua primeira unidade no exterior. A loja será em Milão e terá um showroom, que deverá atender lojistas da Europa.

A marca negocia outras seis lojas no continente para o próximo ano. Viena, Zurique e Verona estão entre as cidades em análise.

Também em 2013, o mercado americano entrará no alvo da companhia. "Registramos a marca nos Estados Unidos e já devemos começar a pensar nesse projeto", diz Sônia Hess, presidente da empresa.

Para atender a maior demanda, uma fábrica -a sexta da companhia- foi adquirida na semana retrasada. A unidade começa a operar em novembro.

"Com essa planta, estamos preparados para a expansão que devemos fazer até 2016", diz. O valor do negócio não foi divulgado.

R$ 273 milhões
foi o faturamento em 2011

R$ 380 milhões
é o faturamento esperado para 2012

R$ 1 bilhão
é a meta da empresa para 2016

300 mil
camisas são produzidas por mês

63
é o número de lojas da marca, a maioria delas são próprias

2.000
é o número de funcionários

O que estouo lendo
Priscila P. Pinto, presidente do Millenium

"A História das Constituições Brasileiras" (ed. Leya), do historiador Marco Villa, é a atual leitura de Priscila Pereira Pinto, presidente do Instituto Millenium.

"É um livro que ilumina o passado e analisa as Constituições brasileiras, relacionando-as com os respectivos momentos históricos", diz Pereira Pinto.

Fiel rumo ao Japão
O Campeonato Mundial Interclubes Fifa, a ser disputado em dezembro no Japão, movimenta agências de viagens, que oferecem pacotes com aéreos, hospedagem e traslados para os jogos.

As vendas começaram em julho, logo após a classificação do Corinthians para o campeonato, mas algumas agências já tinham listas de espera antes disso.

A CVC tem exclusividade na venda da carga de ingressos destinados ao Corinthians, através da agência "Vai Corinthians".

Os roteiros da Stella Barros vão de US$ 5.995 (R$ 12.160)a US$ 9.310 (R$ 18.900), mas não incluem ingressos.

A Fifa, organizadora do evento, não anunciou ainda que operadoras farão a venda de ingressos no Brasil.

Para destravar o país - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 09/09


O governo vai anunciar mudanças radicais no plano de concessões dos portos, este mês. A legislação será modificada, estimulando que os terminais privados recebam cargas de qualquer empresa (hoje, em geral, só recebem suas próprias cargas), extinguirá as companhias de docas, consideradas antiquadas, e dará incentivos a empresas interessadas na navegação de cabotagem.

Das rodovias para mar
A ideia do governo é desafogar as rodovias com a cabotagem, utilizando o mar para transporte de cargas entre os estados. As companhias de docas continuarão gerindo os contratos em vigência até serem extintas e substituídas por novos órgãos que assumirão os contratos licitados dentro do plano que será anunciado. As docas são ligadas aos governos estaduais e o Planalto quer coordenação federal. Para isso, haverá uma autoridade portuária. Hoje, o mais cotado para ser o xerife dessa área é Daniel Sigelmann, secretário de Fomento para Ações de Transportes do Ministério dos Portos.

"O Brasil ainda é um gigante dos pés de barro cozido. Para chegar a ter os pés de concreto armado, ainda vai
levar um tempo” 
Celso Amorim 
Ministro da Defesa

Assim fica fácil
O governo vai determinar aos senadores da base que incluam no Plano Nacional de Educação a divisão dos investimentos na área entre públicos e privados. No projeto aprovado pela Câmara, fala-se em 10% do PIB só do setor público.

Impeachment
O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), rejeitou sexta-feira dois pedidos de abertura de processo de impeachment contra a presidente Dilma, ambos, por suposto crime de responsabilidade. Cinco processos do gênero já passaram pela mesa de Maia enviados por cidadãos. Um deles pede a cassação de Dilma por não conceder reajustes.

Cansaço geral
O presidente do STF, Carlos Ayres Britto, enfrenta dificuldades para convencer os ministros a prolongar as sessões. Tem apelado aos colegas que aceitem fazer horas extras até a conclusão do último voto do dia, mas nenhum topa.

A política como ela é
O primeiro colocado na eleição a prefeito de Macapá, Roberto Góes (PDT), não pode frequentar bares e restaurantes, nem fazer comícios depois das 22h, porque pode ser recolhido pela polícia. Ele está sob prisão vigiada desde 2010, quando foi pego na Operação Mãos Limpas da Polícia Federal por corrupção e desvio de mais de R$ 1 bilhão de recursos públicos.

Enquanto isso, na residência oficial
Tão logo explodiu o escândalo Delta/Carlos Cachoeira, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) foi anfitrião de um encontro, na Gávea Pequena, do qual participaram Fernando Cavendish e o senador Ciro Nogueira (PP-PI).

Problemas na inspeção animal
O ministro Mendes Ribeiro (Agricultura) foi alertado há meses sobre irregularidades no Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal. Chefes de divisões entregaram seus cargos, que ainda não foram preenchidos.

GIRL POWER O ministro Celso Amorim (Defesa) aumentou de uma para três as representantes mulheres no gabinete, todas das Forças Armadas.

Uma experiência radical - FERREIRA GULLAR

FOLHA DE SP - 09/09


Ela desenvolveu a ideia dos "Bichos" numa série muito criativa, que ultrapassou os limites da proposta inicial


No momento em que o Itaú Cultural oferece ao público de São Paulo uma retrospectiva da obra de Lygia Clark, aproveito para dizer algumas coisas que, talvez, ajudem a apreender certos aspectos de sua experiência estética.

Como se sabe, essa experiência começa na década de 1950, quando surge no Brasil o interesse pela arte concreta, que tinha como seu principal difusor o crítico Mário Pedrosa.

Seu apartamento, em Ipanema, tornou-se o ponto de encontro de uma nova geração de artistas, entre os quais Ivan Serpa, Almir Mavignier e Abraham Palatnik, a que se juntaram em seguida Franz Weissmann, Amilcar de Castro, Aluísio Carvão, Lygia Pape, Lygia Clark e Hélio Oiticica. Em São Paulo, o líder era Waldemar Cordeiro.

Entre os dois grupos surgiram algumas diferenças, em função mesmo do modo de ver essa tendência artística seja por Pedrosa, seja por Cordeiro. A verdade é que, como consequência disso, os concretistas do Rio desenvolveram sua experiência numa direção menos ortodoxa, da qual resultou o movimento neoconcreto.

O traço distintivo do neoconcretismo era, sobretudo, a participação do espectador na obra de arte, ou seja, ele não apenas a olhava como também podia manuseá-la. Isso veio do livro-poema que, por ser livro, era manuseável. Mas Lygia só adotou esse procedimento porque ele a ajudava a superar o impasse a que havia chegado em sua pintura.

A questão é complexa, mas vou tentar formulá-la da maneira mais simples possível. De fato, a coisa começa com a opção feita por Mondrian,

Malevitch e outros pintores pela pintura não figurativa construtiva. Em Malevitch, a questão se coloca claramente quando ele pinta um quadrado negro sobre um fundo branco. Eliminava a figura? Não, a relação figura-fundo continuava.

Ele tenta superá-la ao pintar um quadrado branco sobre um fundo branco, mas nem assim eliminava o problema. A solução que encontrou foi sair do quadro e passar a construir no espaço real; são as "construções suprematistas".

Mas que tem isso a ver com Lygia Clark? É que, como Malevitch, ela também se defrontou com a necessidade de superar a relação figura-fundo em sua pintura. Chegou a isso por outros caminhos, mas é que esse problema está na essência mesma da nova linguagem construtiva da pintura.

Lygia havia, antes, enfrentado a contradição entre o espaço pictórico e o espaço real. Foi quando ela integrou a moldura no espaço pictórico.

A partir de então, construía seus quadros, não mais em tela, mas em placas de madeira, para nele introduzir o que chamou de "linha orgânica" (o que antes era o espaço vazio entre a tela e a moldura).

Não obstante, a contradição entre figura e fundo se mantinha. Tentou superá-la com ajuda de Josef Albers, valendo-se de suas construções ambivalentes, em que o fundo ora é figura, ora é fundo, e vice-versa.

Deu um passo adiante quando abandonou o quadro de madeira para fazê-lo em metal, o que lhe permitiu construir os "casulos" (pequenos "quadros", onde a dobra do metal cria um espaço interior). Mas ainda era um quadro: tinha a parte de trás, voltada para a parede.

Nos "Bichos", isso já não existe. Eles não têm avesso, base ou forma única estável, porque são manuseáveis. Foi por essa razão que, naquela época, escrevi que o "bicho" era "uma imobilidade aberta a uma mobilidade aberta a uma imobilidade aberta".

Ela desenvolveu a ideia dos "Bichos" numa série muito criativa, que ultrapassou os limites da proposta inicial. Foi o início de uma aventura que, a cada momento, surpreendia a ela mesma, levando-a à participação não apenas manual, mas agora corporal. Ela caminhava assim para um tipo de expressão que desconhecia limites, mas estranhamente coerente.

Agora, em lugar a obra manuseável, inventa invólucros que vestem o espectador (não mais espectador e, sim, partícipe) ou túneis de tecido plástico por onde ele penetra. Enfim, ela quer provocar sensações outras, sensoriais e psíquicas, que, em vez de visar o prazer estético, visa a cura, a revelação profunda do sujeito, a reestruturação do "self".

Não por acaso, ela mesma dizia que já não fazia arte. Mas nada tinha a ver com a antiarte de Duchamp.

MARTHA MEDEIROS


Martha Medeiros está de férias

Será que alguém vai em cana? - JOÂO UBALDO RIBEIRO


O Estado de S.Paulo - 09/09


Ao que parece, estamos vivendo um momento histórico sem precedentes. Acostumados a ver a ladroagem, a trapaça, o enriquecimento ilícito, a falcatrua, o abuso de poder, o tráfico de influência, a irresponsabilidade, a ausência de espírito público e tantos outros vícios transformados em regra na nossa vida pública, sem que nunca os muitos denunciados sejam punidos ou sofram a não ser contratempos menores, é natural que estranhemos as condenações de que estão sendo alvo os réus do mensalão. Somos hoje um país de Tomés, o bom apóstolo que quis ver para crer.

Eu, por exemplo, quero. As condenações são um passo cuja relevância vai bem além das decisões judiciais. O que ocorrerá depois delas depende ainda de muita coisa. Não me refiro a firulas processuais, das quais o Brasil parece ser o recordista mundial, a ponto de, segundo li em algum lugar, já haver quem cogite dar entrada em algum recurso exótico, envolvendo decisões do Supremo no caso do mensalão. Ignoro se é verdade, ou mesmo se é possível, mas todos sabemos que isso ocorre no Brasil e um observador mais nervoso pode chegar a temer que algum legislador capitaneie a criação do Supremíssimo Tribunal Federal, para examinar em última instância as sentenças que hoje são de última instância.

Descontada essa questão, creio que cabe aos cidadãos prestar sua essencial colaboração. Sem ela, condenações ou não, pouco mudará. É muito cedo para que se esperem grandes mudanças, a curto prazo. Mas não é cedo para tomarmos consciência do que está acontecendo e do seu potencial, para aproveitar a chance de parar de reclamar em vão e passar a fazer alguma coisa, mudar de atitude. Como sempre repetindo a verdade, que às vezes esquecemos, de que os governantes, os políticos, os administradores públicos e os poderosos em geral não são marcianos, mas nascidos e criados aqui, é preciso que vejamos se não propiciamos a eles, por comodismo ou resignação indevida, um ambiente confortavelmente propício à sua ação.

Vamos lembrar, por exemplo, os preconceitos que manifestamos sem querer, automaticamente. Os jornalistas também não são marcianos, somos nós mesmos, só que divulgando e comentando as notícias. E aí é só lembrar por exemplo, que a notícia sobre quatro delinquentes juvenis apanhados em delito na zona sul carioca provavelmente se referirá a "quatro jovens", deixando entrever compreensão, enquanto notícia igual, envolvendo quatro delinquentes do mesmo tipo, mas pobres e desclassificados, geralmente menciona "quatro menores", já antecipando sua punição.

Assim como usamos eufemismos nessa e em muitas outras circunstâncias, vamos reconhecer que fazemos o equivalente em relação aos homens públicos e raramente repudiamos o político que sabemos ser ladrão. Pelo contrário, somos compreensivos, fazemos folclore em torno dele, damos risada de sua ladinice, manifestamos não tão relutante admiração pelo seu talento, criamos e figura jovial e simpática do "rouba, mas faz", não achamos nada de mais em se ser visto na companhia dele. E o reelegemos, o que é bem mais importante.

Nós hierarquizamos pelo avesso o furto do dinheiro público. A julgar pelo que poderíamos chamar de nossa postura coletiva, meter o gadanho, por qualquer meio, no patrimônio público é o menos grave de todos os furtos. Ainda agimos como se o dinheiro público caísse do céu e, portanto, furtá-lo não prejudica ninguém. Mas é claro que, tão logo paramos para pensar, somos levados a concluir que o furto que atinge toda a coletividade é mais grave, não pode deixar de ser o mais grave e, por consequência, o que mais séria punição merece e o que maior repulsa justifica.

A sociedade tem de encarar o desvio de dinheiro público, em qualquer forma, com tolerância zero. Concretizá-la inteiramente é talvez impossível, considerando-se a famosa natureza humana. Mas é possível tê-la sempre em mente e aplicá-la sempre que se oferecer a ocasião. Acho que ninguém, a não ser os beneficiários dos desmandos, discorda de tolerância zero para quem nos rouba, nos condena ao atraso e causa tanta miséria e infelicidade. Ou seja, devemos ter esses inimigos públicos em conta inferior à de qualquer vagabundo ou ladrão de quintal. Este, além de roubar pouco e talvez nunca ter conhecido outro horizonte na vida, não achincalha as instituições, não debocha da lei e da justiça e não exibe cinicamente uma fortuna que todos sabem que não ganhou honestamente. Chega de eufemismos e de reverência indevida, o nome certo é ladrão e o nome do ato é furto, mesmo que venha sob a alcunha artística de peculato ou qualquer outra.

O quadro mudará, com as condenações? Depende. Se não houver cadeia, não muda e talvez piore. E não cadeia com açúcar, como já se prevê, serviços comunitários, essas coisas também eufemísticas. Cadeia mesmo, com grades e, se possível, a fotografia de pelo menos um dos criminosos lá dentro. Não se trata nem de ódio, nem de vontade de vingança, nem de nada passional. É que, se não houver cadeia, ninguém vai notar punição nenhuma, até porque, em última análise, não terá havido punição. Se os condenados continuarem a circular no bem-bom, sem que nada de realmente grave perturbe suas vidas, isto será, com justa razão, percebido como mais uma prova de que só quem vai para a cadeia é pobre e que nada cola nos poderosos, nem mesmo a condenação pelo Supremo Tribunal Federal. Abatimento moral e depressão não valem, já são filme visto. E em breve saberemos se o resultado da epopeia judicial que estamos testemunhando não acabará parte desse mesmo filme.

Engenharia literária - HUMBERTO WERNECK


O Estado de S.Paulo - 09/09


Ao reler O Desatino da rapaziada - que, vinte anos e algumas reimpressões depois, ia ganhar (como ganhou) reedição com cara nova -, minha mão coçou para mexer aqui e ali, atualizando ou introduzindo informações.

Deu vontade, por exemplo, de enriquecer a passagem em que aparece um moço que trabalhava num efêmero porém mitológico point noturno da Belo Horizonte dos anos 60, o Bucheco, reduto moderninho, entre outros, de Fernando Gabeira e Ivan Angelo. No livro está dito que mais tarde o tal moço realizou o primeiro sequestro de avião no Brasil. Mas não se fica sabendo que ele então era, ou tinha sido, casado com uma dentucinha enérgica a quem o futuro reservaria condição bem mais nobilitante que a de mulher do cara do bar ou da pirataria aérea.

O problema é que vinte anos atrás, quando saiu esse meu livro, sobre escritores e jornalistas em Minas Gerais, nem a dentucinha em questão podia imaginar que acabaria, sem aquele ou sem o subsequente marido, instalada nas culminâncias da República. Subiu mais que o avião sequestrado pelo antigo companheiro. Mas incluir essa informação de 2010 num livro de 1992 seria criar nele um anacronismo. Nota de pé de página, então? Nem pensar. O autor não gostaria de ver sua obrinha calçar notas (pois onde há uma, há várias), o que a transformaria numa chatíssima centopeia literária. De resto, pelo que depois veio a ser, a dentucinha merece bem mais que um plebeu rodapé.

De fora do reeditado Desatino ficou também uma observação gaiata que outro dia me ocorreu quando rumava para o longínquo aeroporto da capital mineira, cujo nome, Confins, já diz tudo.

Trafegando pela Linha Verde, reparei na sucessão de viadutos que naquela estrada homenageiam alguns dos maiores escritores de Minas - Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, Murilo Rubião, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende, Hélio Pellegrino e Aníbal Machado, entre eles.

Será - pensei - que a homenagem tem a ver com o fato de que vários desses, na juventude, desafiavam a pasmaceira belo-horizontina com o hábito de caminhar sobre os arcos do viaduto de Santa Teresa, no centro da cidade, correndo o risco de despencar sobre uma linha de trem?

Quem lançou a moda, já casado e beirando os 30 anos de idade, foi Drummond, de cara limpa. A estripulia, registrada no livro, acabou virando rito de passagem para jovens aspirantes às letras, em sua radical admiração pelo poeta. Na escalada rumo à glória, tinha um viaduto no meio do caminho, e convinha cruzá-lo pela corcova dos estreitos arcos de cimento. Para o bem ou para o mal da literatura, ninguém caiu daquelas alturas - e olha que o trânsito foi intenso, pois as gerações seguintes, ávidas por galgar ao Olimpo das Letras, macaquearam ritualmente o alpinismo urbano de seus mestres. Nem os que subiram tiveram por isso elevada a avaliação de seus escritos.

Prova do que acabo de dizer você encontra nestas maltraçadas, pois também eu grimpei nos arcos do viaduto. Com tanta paúra que não cheguei a saborear meu quinhão de vertigem de sobreloja - aquela apoteose mental que se apossa de quem, tendo subido um pouquinho, já se julga merecedor de uma vertigem da boa.

Olhando os viadutos da Linha Verde, não pude deixar de especular se a imponência deles corresponderia, simetricamente, à produção de cada um dos homenageados. Se foi esse o critério, que outras obras de engenharia poderiam perpetuar um dia os nomes de escribas da terra hoje atuantes? Quem, por sua literatura introspectiva, merecerá um túnel? Quem, pela leveza de seu estilo, nomeará uma passarela? Existirá algum que faça jus aos pavões arquitetônicos de uma ponte estaiada?

Dito isso, seria maldade de quem me lê indagar qual obra de engenharia eventualmente corresponderá à tosca produção deste cronista. Com a modéstia que o caracteriza, ele se antecipa e descarta: nenhuma. Mas para o caso de que alguma lhe venha a ser designada quando aqui não estiver para impedi-lo, o cronista pede desde já: posso até merecer, mas, por favor, sarjeta não.

Pondo os pingos nos is - DANUZA LEÃO


FOLHA DE SP - 09/09

Não me lembro de alguém citar o repórter que descobriu Bispo do Rosário, mas eu sei quem ele foi

A Bienal de São Paulo deste ano vai ter Arthur Bispo do Rosário como sua estrela maior, e ele merece. É fundamental ver o que ele fez e se comover com a beleza da obra desse singular personagem, marinheiro em sua juventude.

Um dia, a partir de uma alucinação, Bispo se acreditou enviado de Deus, razão que o levou a ser internado na Colônia Juliano Moreira, um depósito de loucos, lugar onde as pessoas entravam e só saiam depois de mortos. Lá ficou durante 50 anos, sendo que parte deles encerrado dentro de uma pequena cela, de onde se recusava a sair.

Foi nessa cela que Bispo começou a trabalhar com tudo que encontrava: tirava fios de camisas e lençóis, um por um, para costurar, usava palha de vassouras de piaçava, botões, colheres, canecas, pentes, tampas de garrafa, objetos hospitalares e toda a sucata disponível e com isso produzia objetos insólitos; em suas mãos tudo virava arte, seus estandartes eram comoventes, mas nada foi mais grandioso que o "Manto da Apresentação".

Nesse manto, que bordou durante 30 anos, ele catalogou o mundo, bordando nomes de pessoas, artistas, cantores, países, acontecimentos, faixas de misses, retratando tudo o que ele lembrava ou ouvia falar que existia; tudo o que ele fazia era perturbador. Esse manto foi feito para ser usado no momento em que o mundo se encontraria com o Todo Poderoso, e que seria seu grande encontro com Deus.

Chamado de "o senhor do labirinto", Bispo tinha seu universo particular, alucinado e delirante, mas sempre com algo de sagrado. Suas obras, que foram expostas na Bienal de Veneza, devem ser vistas com muita atenção, lembrando das circunstâncias e condições em que foram criadas.

Há muitos anos vi uma exposição dele no Rio, numa pequena sala num 15º andar, se não me engano da Caixa Econômica, e que não fez nenhum sucesso. Ele ainda não era famoso, mas eu tinha minhas razões para ir vê-la, e vou contar.

Num domingo de 1980, eu estava em casa, quando me telefonou um jovem repórter da TV Globo dizendo, em tom urgente e excitado, que eu não podia deixar de ver o "Fantástico" naquela noite.

Ele havia ido fazer uma matéria para expor as terríveis condições dos internos da Colônia Juliano Moreira, e como era muito curioso, como todo bom repórter, foi fuçando tudo, até que viu uma cela escura; entrou e encontrou um estranho homem, sozinho, cercado de panos bordados e objetos sem nenhum significado aparente.

Ele entrou e conseguiu dialogar com o homem (que você já adivinhou ser Bispo do Rosário). Rolou uma simpatia, e Bispo não só mostrou tudo o que vinha fazendo havia sete anos, sem sair da cela nem um só dia, como também contou de onde tirava o material, e como fazia suas obras, o que deu uma matéria inacreditável no "Fantástico"; foi depois desse programa que Bispo do Rosário surgiu para o mundo.

A partir daí a classe artística o descobriu, suas obras foram expostas em museus, galerias, e livros escritos sobre sua pessoa. Livros que ele provavelmente não entenderia, se lesse.

Um ser tão extraordinário como Bispo do Rosário seria descoberto mais dia menos dia, imagino. Ou não; e se algum servente do hospital resolvesse fazer uma faxina em sua cela antes da matéria aparecer na TV, e jogasse tudo que encontrasse num lixão?

Nunca vamos ter resposta para isso, e não me lembro de jamais ter ouvido alguém citar o nome desse repórter, o primeiro a vislumbrar a importância de Arthur Bispo do Rosário, mas eu sei quem ele foi.

Seu nome era Samuel Wainer Filho, e ele era meu filho.

Elas não estão no dicionário - LUIS FERNANDO VERISSIMO


O ESTADÃO - 09/09



Marulho - Barulho do mar.

Marmúrio - Barulho longínquo do mar.

Blaguette - Pão com formato engraçado.

Zerossímil - Que não se parece com nada.

Enfradonho - Padre chato.

Triglodita - Muito, muito primitivo.

Pubicidade - Propaganda erótica.

Aptosentado - Aposentado que ainda poderia estar trabalhando.

Faxixista - Fascista com incontinência urinária.

Amigdalomania - Mania de ter amígdalas maiores que as dos outros.

Pedofiló - Que tem tara por rendas.

Flaternidade - Solidariedade entre flatulentos.

Missantropria - Horror a misses.

Errodição - Conhecimento falho.

Luanático - Louco pela Luana Piovani.

Andrógenio - Gay muito inteligente.

Diabúlico - Demoníaco mas preguiçoso.

Enfético - Enfaticamente ético.

Apocalipizicato - O que ouviremos no fim do mundo.

Thrauma - Aflição por não poder pronunciar o "th" em inglês.

Cornocópia - Abundância de maridos traídos.

Prolotário - Trabalhador enganado.

Hipérbola - Diz-se de quem está jogando um bolão.

Biotique - Farmácia natural bem transadinha.

Epiquete - Como se comportar em manifestações.

Sobarba - Atitude de um adolescente quando começam a crescer os primeiros cabelos no rosto.

Pradar - Bolsa falsa para presente.

Jungamento - Análise baseada nas teorias de C. G. Jung.

Sigmund Fraud - Obviamente um impostor.

Fetichina - Obsessão pela China.

Tse-tsenami - Uma invasão de moscas.

Retólica - Discurso infantil.

Coorrupção - Corrupção em grupo.

Torrismo - A proliferação de prédios altos.

Onirrico - Quem sonha com muito dinheiro.

Decionário - Dicionários inconfiável.

O tempo, a Terra e a Lua - MARCELO GLEISER

FOLHA DE SP - 09/09


Um dia, a Lua ficará posicionada sobre o mesmo ponto do nosso planeta, como fazem certos satélites



A Lua, segundo as teorias mais recentes, veio da Terra, arrancada por uma colisão cataclísmica com um planetoide do tamanho de Marte. Isso ocorreu na infância do Sistema Solar, uns 4,5 bilhões de anos atrás. Para quem aprecia referências bíblicas, a Lua é como Eva, nascida da costela de Adão, no caso, a Terra.
A matéria que foi assim arrancada acabou por se dispersar em torno da Terra e, aos poucos, foi se reaglutinando em um único corpo celeste, fadado a girar em torno de seu astro criador pela inexorável ação da gravidade.
Com isso, Terra e Lua têm suas dinâmicas interligadas desde a sua origem. Como a Lua veio da Terra, sua distância até nós já foi bem menor. Se hoje a Lua ocupa não mais do que uma área equivalente a uma unha no céu (em torno de meio grau), ela já foi bem mais visível.
Essa proximidade, devido ao fato de a força da gravidade cair com o quadrado da distância, significa que, no passado, a influência da Lua sobre a Terra, e a da Terra sobre a Lua, era muito maior.
Hoje, o efeito mais óbvio dessa atração são as marés, duas altas e duas baixas por dia. Fazendo as contas, a força das marés varia com o cubo da distância, sendo ainda mais sensível a ela do que a atração gravitacional. Portanto, no passado, as marés eram mais dramáticas do que são hoje.
A intensidade era tal que oceanos podiam se elevar por centenas de metros, e a própria crosta terrestre pulsava, variando em altitude por dezenas de metros, como se fosse feita de massa de modelar. Aos poucos, a Lua foi se afastando da Terra, como continua a fazê-lo, numa taxa de 4 cm ao ano. Isso significa que o efeito de maré diminui com o tempo. E os dias vão se tornando cada vez mais longos.
Muita gente me pergunta se o tempo anda passando mais rápido do que antigamente. A resposta é não; um minuto continua sendo um minuto, já que a definição de minuto não mudou. O que muda sempre é a duração do dia, mesmo que de modo imperceptível para nós. Estimativas atuais afirmam que a duração de um dia, uma revolução completa da Terra em torno de si mesma, aumenta 1,7 microssegundos por século. Com esse passo de tartaruga, meio bilhão de anos atrás o dia durava um pouco mais de 22 horas, e um ano tinha 397 dias.
Esse efeito vem, também, das marés. A Lua, que hoje nos mostra sempre a mesma face, já girou de maneira diferente. No futuro longínquo, com a desaceleração contínua da rotação da Terra, o dia durará 47 horas, e a distância até a Lua será 43% maior do que é hoje.
A essa altura, a Terra girará em torno de seu eixo com o mesmo período no qual a Lua girará em torno da Terra. A Lua estará sempre sobre o mesmo ponto do nosso planeta, como hoje o fazem os satélites geossíncronos. Será um futuro estranho, muito diferente de hoje, quando a Lua ainda é generosa com todos na Terra. Mas isso só ocorrerá dentro de bilhões de anos.
Pensando sobre esses efeitos, vemos como tanto em nossas vidas é produto de convenções que, mesmo se tomadas como permanentes, não o são. Tudo vem da nossa percepção da passagem do tempo, a qual, numa vida de apenas uma centena de anos, é cega aos percalços lentos da dança dos astros.

Critérios - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 09/09

A reclamação de ministros do Supremo de que o revisor Ricardo Lewandowski está encompridando desnecessariamente seus votos, fazendo com que o julgamento possa entrar por novembro adentro, não está relacionada apenas à possibilidade de o presidente do STF, Ayres Britto, ter que se aposentar sem poder participar da discussão da dosimetria das penas.

O perigo maior está em que a parte final do julgamento seja atrasada pela nomeação de dois novos ministros, o que levará a que eventuais penas de condenados sejam adiadas por prazo indeterminado devido a embargos da defesa, que seriam analisados por um plenário diferente do atual.

Os "embargos infringentes" só podem ser apresentados caso o condenado tenha pelo menos quatro votos pela absolvição, pedindo que o processo seja revisto, mas os "embargos de declaração" podem ser feitos a qualquer pretexto, para esclarecimentos de detalhes do acórdão, com a decisão final do STF.

Entre a decisão e a publicação, podem se passar seis meses, como no exemplar caso do deputado federal Natan Donadon, do PMDB de Rondônia, condenado pelo STF a 13 anos de prisão em outubro de 2010 e que continua no exercício do mandato, pois o "embargo de declaração" ainda não foi julgado.

Há outros casos de políticos condenados que permanecem sem cumprir a pena devido a recursos ao STF. O fato de o deputado federal João Paulo Cunha estar ameaçado de ser condenado à perda de mandato evitará que ele continue na Câmara, mas os embargos podem adiar a aplicação das penas.

É quase certo, portanto, que o ministro Ayres Britto tenha que se aposentar antes do final desse tortuoso processo, e o relator Joaquim Barbosa assuma a presidência do STF, uma garantia de que o processo continuará a andar dentro dos mesmos critérios atuais.

Também o novo relator deve ser um dos ministros que já estão atuando, o que, em tese, fará com que não necessite de tempo para se inteirar do processo.

Mas os embargos serão analisados por um plenário diferente do atual, o que pode favorecer alguma mudança de julgamento, ou pelo menos retardar mais ainda o cumprimento das penas.

Nos bastidores de setores petistas que estão sendo punidos pela marcha do julgamento, há um movimento para que a presidente Dilma nomeie ministros ideologicamente ligados ao partido.

A revolta que vem causando nos petistas a atuação da maioria dos ministros no julgamento do mensa-lão se deve ao fato de que, a começar pelo próprio ex-presidente Lula, uma parte ponderável deles considera uma "traição" que ministros indicados por governos petistas possam condenar ações partidárias que consideram, no máximo, parte do que chamam de "luta política".

O ex-presidente teria comentado com amigos que nomeara ministros "sem biografia’,’ que estariam agora querendo marcar suas posições no julgamento. Certamente não se referia a Toffoli, o de biografia menos relevante entre os ministros atuais.

Dos 11 ministros, nada menos que 8 foram nomeados por Lula ou Dilma. Desses, apenas dois — o revisor Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli — têm votado de acordo com a tese oficial, de que o que houve foi apenas caixa 2 eleitoral. Mesmo assim, nenhum dos dois assumiu até agora uma versão final para os fatos, apenas revelando em seus votos a tendência de separar o desvio de dinheiro público, que condenaram, e o uso político desse mesmo dinheiro.

A reação raivosa de setores petistas, como a do próprio presidente do partido, Rui Falcão, homem de confiança do ex-ministro José Dirceu, tem levado a especulações sobre a próxima escolha de novos dois ou três integrantes do STF a ser feita por Dilma, para substituir Cezar Peluso que já se aposentou, Ayres Britto que sai em novembro, e talvez Celso de Mello, que anunciou tendência a antecipar sua aposentadoria ao fim do julgamento do mensalão.

Esses setores obscurantistas do PT querem que as futuras nomeações de Dilma se assemelhem mais ao perfil de Toffoli do que ao de Luis Fux ou ao de Rosa Weber, os dois indicados pela presidente, que têm sido bastante duros em suas decisões até agora.

O que deveria ser motivo de orgulho para um governo democrático, a independência de ministros do STF, passa a ser uma afronta política. Resta ver agora se Dilma está arrependida de seus critérios de nomeação. Seus dois nomeados estão entre os que deram até agora votos mais sólidos.

Dilma por Dilma - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 09/09


O pronunciamento da presidente foi o pontapé rumo à campanha reeleitoral, onde ela terá menos a ajuda de Lula e responderá mais por si. Não dá para esquecer que tem sido tradição o petista organizar esses projetos com antecedência

Na Semana da Independência foi dada a largada para uma inversão de papéis entre Dilma e o ex-presidente Lula em termos de protagonismo dentro do PT. Não que Lula vá deixar de lado a política, perder o posto de grande estrela petista, parar de receber as pessoas ou de fazer campanha para seu partido. Mas os movimentos de passagem de bastão são cada vez mais claros para os petistas. Na última semana foram, pelo menos, três.

O primeiro desses movimentos foi o encontro em que o ex-presidente e Dilma fizeram uma avaliação pessimista do julgamento do mensalão e ficaram com o coração apertado ao projetar um desfecho nada promissor para a antiga cúpula do partido envolvida no processo. A conversa, entretanto, serviu para outros propósitos. Um deles foi começar a traçar os cenários futuros do PT que será guiado por Dilma queira o partido ou não queira. No momento não há alternativa.

Nunca é demais lembrar que Lula tem por hábito escolher e ciceronear seus pré-candidatos com bastante antecedência. Só não o fez com Fernando Haddad nessa eleição paulistana por problemas de saúde. Em relação à presidente Dilma, Lula começou a trabalhar a imagem de candidata em março de 2008, quando a apresentou como mãe do PAC durante discurso na favela do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Portanto, se compararmos com o cronograma da próxima sucessão presidencial, a pré-campanha da presidente começa agora com um certo atraso em relação a anterior, embora ela dê sinais de que está na pista.

Por falar em pista…
O pronunciamento da presidente na última quinta-feira não foi uma simples mensagem de “é isso aí, meus amigos, Dia da Pátria, temos o que comemorar”. Dilma lançou ali as bases de uma recandidatura, transformando a sua fala no segundo movimento da semana no rito de passagem que aos poucos ela e Lula vão fazendo de forma sutil, algo percebido apenas pelos políticos que conseguem ler os detalhes de uma sucessão de eventos, e analisá-los em conjunto.

Para quem não viu o pronunciamento, Dilma defendeu nova queda nos juros, inclusive dos cartões de crédito, e prometeu ser incansável no sentido de trabalhar para o oferecimento de bons serviços aos brasileiros. De quebra, resgatou os ativos do governo Lula que a levaram à Presidência, especialmente, na área social, e deu um safanão no modelo de privatizações do governo Fernando Henrique. Dentro do PT, há quem diga que o objetivo da crítica foi marcar desde já os campos passíveis de uso pela oposição numa campanha reeleitoral, na qual Dilma terá menos a ajuda de Lula e responderá mais por si.

Por falar em campanha…
O cancelamento da agenda de Lula no Nordeste neste fim de semana por problemas na garganta pode ser classificado como o terceiro movimento rumo à passagem de bastão dentro do protagonismo petista. A ausência dele não estava no script. Afinal, o PT nunca precisou tanto do ex-presidente para ajudar seus candidatos a embalar o eleitor. As dificuldades eleitorais na maioria das capitais são visíveis e restam apenas 25 dias de campanha. Portanto, este fim de semana seria ideal para que os candidatos tivessem a imagem de Lula nos comícios, a fim de usar no horário eleitoral gratuito de rádio e TV.

Vale registrar que Lula jamais se negou a alavancar os petistas Brasil afora, em palanques, carreatas e caminhadas. Entretanto, a sua rotina e a forma como ele pode contribuir para ajudar o seu partido mudaram. Ele está curado do câncer, mas continua obrigado a se poupar, em função do tratamento a que foi submetido. Nesse sentido, fica difícil ele discursar a pleno pulmões por mais de 40 minutos, como fazia nos comícios do PT, encantando multidões. Por essas e outras que muitos acreditam que agora Dilma deva se preparar também para embalar as campanhas e o PT do futuro. Afinal, ela é o que os petistas têm de melhor e a uma distância segura do episódio do mensalão.

Por falar em mensalão…
O julgamento foi lembrado nos protestos de Sete de Setembro. Houve até quem citasse Lula em cartazes. Alguns veem aí mais uma razão para o PT ir, aos poucos, passando o bastão para a atual presidente. Da mesma forma que na campanha de 2010, o programa de tevê de Dilma reduziu, aos poucos, a participação de Lula e ampliou a da candidata, agora o partido, em câmera lenta, coloca seu eterno líder numa posição mais reservada e dá mais destaque à presidente Dilma.

Julgar com independência - FLÁVIO DE A. WILLEMAN

O GLOBO - 09/09


O juiz não tem o dever de prestar contas das razões que o levaram a deixar de condenar alguém



A imprensa noticiou nos últimos meses a grande discussão jurídica que envolveu a possibilidade de o CNJ controlar diretamente atos de "indisciplina" de magistrados, antes mesmo da atuação das corregedorias locais dos tribunais. A palavra final do STF no julgamento da ADI 4638 pôs fim à controvérsia. Não pairam mais dúvidas sobre as importantes atribuições do CNJ, que não pode controlar o conteúdo das decisões judiciais. O CNJ não é instância recursal para reapreciar a correção e o mérito de sentenças. O CNJ não é um órgão jurisdicional!

O Judiciário nunca esteve imune ao controle de suas atividades administrativas e judicantes. O Judiciário, em sua função administrativa, é controlado pelos Tribunais de Contas e pelo Legislativo; também pode sê-lo pelos cidadãos, por meio de dois importantes institutos constitucionais: a ação popular, que permite a qualquer cidadão questionar atos administrativos de gestão do Judiciário que causem danos ao erário, e o direito de petição, que possibilita a qualquer cidadão noticiar à presidência de qualquer tribunal e ao MP irregularidade da qual tenha conhecimento. No plano das decisões judiciais propriamente ditas, há inúmeras instâncias recursais.

A imprensa tem divulgado o desejo do CNJ de controlar as estatísticas das decisões proferidas pelos tribunais do país, com ênfase no julgamento das ações civis públicas e ações de improbidade que, de um modo geral, buscam punir administradores públicos que causam danos ao erário ou violam princípios da administração pública. Esta atuação do CNJ revela-se de extrema importância, sobretudo para que o Judiciário tenha uma "radiografia" de como estas ações são "processadas" do sul ao norte do Brasil.

Causa estranheza e preocupação a pressão que os magistrados estão sofrendo para justificar os motivos pelos quais não têm condenado agentes públicos, réus em ações civis públicas ou de improbidade administrativa. O juiz, desde que fundamente o seu convencimento à luz dos fatos e do direito, não tem o dever de prestar contas das razões que o levaram a deixar de condenar. Há recurso para os inconformados. Esse constrangimento imposto aos magistrados viola a independência do Poder Judiciário e põe em xeque o estado democrático de direito.

Se comprovado o desvio de conduta, após o devido processo legal, no exercício da função administrativa ou judicante, que sejam os juí-zes punidos exemplarmente. O que não se pode permitir é obrigá-los a julgar predeterminados a condenar, com medo de serem expostos à mídia ou mesmo a um processo administrativo disciplinar no CNJ. Isto não é justiça; é injustiça inconstitucional!

A hora da verdade - HENRIQUE MEIRELLES

FOLHA DE SP - 09/09


O debate econômico, na maioria das vezes, é concentrado nos círculos especializados. Existem muitas razões para isso, e uma das mais benignas é tentar preservar a pureza técnica das discussões. O que é perigoso, já que o debate econômico envolve decisões que impactam a todos.

Deveria sempre haver embasamento técnico para a tomada de decisões econômicas, e o debate sobre elas precisa ser acessível a todos que são afetados pelas ações resultantes.

Um exemplo entre muitos: enquanto a distribuição dos recursos públicos é sempre objeto de um intenso debate político e ideológico, a distribuição dos custos das medidas econômicas para a sociedade como um todo, em grande parte das vezes, não é transparente nem abrangente.

Isso acontece porque o financiamento das despesas públicas pode ser feito por caminhos alternativos menos evidentes que o aumento do imposto sobre a renda das pessoas, por exemplo. São caminhos alternativos tão frequentes quanto destrutivos. E seus custos, como o aumento da dívida pública ou dos tributos indiretos que oneram a produção, não estão sujeitos à mesma amplitude de debate na maioria das vezes.

A crise no sul da Europa é um bom exemplo. O acesso ao euro viabilizou um substancial aumento da dívida pública e privada em alguns países. O problema é que, cedo ou tarde, as dívidas terão que ser pagas, e aí começa o drama.

A Grécia expõe essa situação de forma aguda. O país gastou à vontade durante anos, mas não foi esclarecido para a população grega quem pagaria pela farra.

A recessão e a deterioração do padrão de renda vividas hoje pelos cidadãos gregos ilustram bem as consequências de políticas econômicas adotadas sem transparência e sem debate amplo sobre a conta a ser paga.

O aumento do consumo da sociedade grega deu-se por meio do endividamento público e privado facilitado pela entrada do país na zona do euro. Agora, na hora da verdade, a Grécia está mergulhada numa profunda crise econômica, social e política, que poderia ter sido evitada, atenuada ou ao menos mais bem compreendida se o debate econômico tivesse ocorrido de forma transparente e abrangente.

Depois de experiências intensas e gratificantes que tive ao longo de minha trajetória na iniciativa privada e na gestão pública, é isso o que eu buscarei aqui, neste espaço: participar de um debate amplo sobre temas de interesse relevante, tendo a economia como um de seus principais focos, porém não o único.

À espera do futuro - LEE SIEGEL


O Estado de S.Paulo - 09/09


A este ponto patético chegaram os Estados Unidos. O discurso de 48 minutos de Bill Clinton na Convenção Nacional Democrata em Charlotte, Carolina do Norte, na última quarta-feira à noite, no qual ele oficialmente indicou Barack Obama como o candidato presidencial do Partido Democrata, foi o primeiro exemplo de comediante branco maquiado como negro na política americana. A finalidade do discurso era usar um político branco proeminente e - ou assim se acreditava - amado para expor as ideias de Barack Obama. A esperança era que, ao fim do discurso, os americanos pudessem realmente acreditar que um branco, e não um negro, estava concorrendo à Presidência.

Posso parecer cínico, eu sei, mas está ficando cada dia mais claro que, conforme já sustentei nesta coluna, Mitt Romney será o próximo presidente dos Estados Unidos. A acumulação de provas é irrefutável. Embora Romney tenha se mostrado vezes sem conta um empresário impiedoso sem nenhuma ousadia ou visão para o país, ele e Obama estão empatados nas pesquisas. Os democratas, que têm dificuldade de aceitar a realidade quando ela parece contradizer suas expectativas morais, repetem constantemente que o fato de as pesquisas mostrarem Obama muito à frente de Romney é um atestado da sua aceitação. Bem, e daí? Uma questão apenas decide o destino de um presidente que busca a reeleição: a maneira como as pessoas estão se saindo economicamente. Diversas pesquisas têm questionado as pessoas sobre se a economia americana está no rumo certo - e, nelas, entre 70% e 80% dizem que não. Se esses números persistirem, e eles quase certamente persistirão, a lei de ferro das eleições americanas entrará em ação. Os tempos estão duros? Ponha os vagabundos pra fora.

A campanha, como também já argumentei, joga um grande papel. Um filme anti-Obama chamado Obama's American 2016, carregado de preconceitos raciais, foi lançado há pouco e rapidamente se tornou um dos documentários políticos mais rentáveis já feitos. As pessoas que dizem que gostam mais de Obama do que de Romney podem perfeitamente estar escondendo seu desconforto com um presidente negro por trás de uma exibição de "não é nada pessoal". Elas gostam dele como pessoas preconceituosas costumam dizer: "Mas alguns de meus melhores amigos são negros!" Elas gostam dele, com certeza. Somente não querem que ele ocupe a Casa Branca.

O contraste entre as pessoas que lotaram as convenções republicana e democrata é gritante. Serei curto e grosso sobre o que todo o mundo ao meu redor murmura, mas ninguém dirá por impresso ou no ar. Tomada no conjunto, a multidão republicana era alguns milhões de quilos mais pesada que a multidão democrata e parecia flutuar num mar de colesterol ruim. Acrescento rapidamente que este que lhes escreve parece o que alguém um dia chamou de conservador de esquerda, que toma remédio todos os dias para controlar o colesterol e bem que poderia perder uns oito quilos. Mesmo assim, levando em conta exceções às distinções de peso na política americana, a direita agita o estandarte do McDonald's enquanto a esquerda combate sob o estandarte da rúcula. Pessoas desesperadas comem demais como se para canibalizar e controlar o mundo organizado contra elas - eu já estive lá, ou quase lá. A direita está desesperada.

Da mesma forma como os norte-vietnamitas não poderiam ser vencidos pelos americanos porque estavam defendendo seus lares, a direita não perderá da esquerda em novembro porque está combatendo por sua vida. Ela votará com a ferocidade da fera acuada. A transição demográfica está contra ela. A etnia branca está cedendo lugar a grupos crescentes de novos americanos, como os latinos e os asiático-americanos. Julian Castro, o prefeito de San Antonio, Texas, que proferiu o arrebatador discurso demarcador de posições na convenção democrata, é a cara do futuro. O mesmo se pode dizer do prefeito de Los Angeles e presidente da Convenção Nacional Democrata, Antonio Villaraigosa, que também falou.

Foi significativo, quanto a isso, que os republicanos tenham convocado Clint Eastwood para tripudiar sobre o presidente em seu hoje famoso discurso da cadeira vazia. Alguns anos atrás, Eastwood fez um filme chamado Gran Torino no qual interpreta um operário fabril polonês-americano que havia perdido o emprego e detestava os imigrantes asiáticos que haviam ocupado seu bairro - ainda que no fim ele venha a aceitá-los. Admoestando o presidente sentado em efígie naquela cadeira vazia, Eastwood fazia a defesa daqueles americanos que não só estão perdendo seus empregos e casas, mas também sentem que estão perdendo seu lugar na sociedade. A cadeira vazia foi uma projeção angustiada do pavor. Os americanos a quem Eastwood tentava sensibilizar se sentem cada vez mais invisíveis. Eles temem desaparecer em breve, deixando somente casas vazias, fábricas vazias, cadeiras vazias. Por bizarra que possa parecer, a performance de Eastwood foi poderosamente eficaz.

Os democratas perderão, assim acredito - e espero estar errado - a batalha deste novembro, mas vencerão a guerra. A multidão na convenção republicana era avassaladoramente branca. A multidão na convenção democrata tinha as cores da nova América - negros, pardos, amarelos, vermelhos, brancos (empobrecidos e passando dificuldades), e tudo o que existe entre eles. É um futuro em que um presidente negro certamente não precisará vender seu peixe por trás de um rosto branco. É um futuro que está garantido - e que não deixará de ter suas próprias injustiças e deformidades -, mas ainda está para nascer.

Última instância - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 09/09


Apesar da liberação do TSE, o Ministério Público levará casos de candidatos "contas-sujas" com registros deferidos ao Supremo Tribunal Federal. Em derradeira tentativa de barrar políticos que tiveram rejeitadas contas de campanhas pregressas, a Procuradoria Geral Eleitoral prepara recursos extraordinários argumentando tratar-se de tema constitucional. A avaliação é de que não se deve permitir candidatura de quem já teve irregularidade insanável na contabilidade eleitoral.

Trégua Mais que expressar a contrariedade com o já consumado ingresso de Dilma Rousseff na campanha de Fernando Haddad, o PRB fez chegar à presidente pleito para poupar o candidato Celso Russomanno de ataques petistas até 7 de outubro.

Mãos dadas Para os dirigentes da sigla, a eventual ida de Russomanno e Fernando Haddad para o segundo turno representaria a vitória da base governista na cidadela tucana de São Paulo.

Onde pega O apelo da legenda também foi feito a interlocutores de Lula, como o governador Jaques Wagner (BA). Aliados do candidato reclamam sobretudo da inserção de TV na qual o ex-presidente tenta desconstruir a imagem de Russomanno como "candidato dos pobres".

Hit O PT já filmou quase quatro mil vídeos para as eleições de 1.412 municípios brasileiros. Ao todo, 12 ministros do governo Dilma gravaram apoio a candidatos. O vídeo mais visto no site da legenda, até agora, foi o da vinheta com a participação do ex-presidente Lula desenhando uma estrela na tela.

Elle vem aí? O TSE deve julgar nos próximos dias recurso contra a candidatura de Ronaldo Lessa (PDT) à prefeitura de Maceió, por uma multa que ele deixou de pagar em 2006. Se ele for afastado da disputa, o senador Fernando Collor (PTB) já avisou a aliados que quer concorrer.

No horizonte Nas mais recentes conversas entre Lula e José Dirceu, o ex-presidente sinalizou que irá a campo caso seu ex-ministro seja condenado pelo mensalão no Supremo Tribunal Federal.

Mão na massa Entre as possibilidades, segundo interlocutores, está a de Lula liderar pessoalmente uma ação contra o resultado do julgamento na OEA (Organização de Estados Americanos). Outros apostam que o petista entrará em campanha com candidatura própria para defender seu legado.

Um... Em defesa de José Genoino, um ministro petista diz que a acusação contra o ex-presidente da legenda no mensalão é injusta, já que é "comum" assinar sem atenção documentos entregues até pelo chefe de gabinete.

...de nós "Você acredita no funcionário. O problema é só ter o Delúbio para confiar", avalia. Genoino é acusado de avalizar empréstimo do Banco Rural ao partido.

Tô fora Aprovada na CCJ do Senado com votação apertada, a recondução de Luiz Moreira ao Conselho Nacional do Ministério Público não foi a plenário por uma determinação de José Sarney (PMDB-AP), para evitar mal estar com Roberto Gurgel.

Cota Moreira tem o apoio de petistas como José Genoino, alvo do Procurador-Geral da Repúbica no julgamento do mensalão, no STF, e do presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (RS).

Intensivão O ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento e Indústria) vai tirar na semana que vem as miniférias que combinou com Dilma para se dedicar à campanha de Patrus Ananias. Ele fica em BH até quarta-feira e retoma o trabalho na quinta.

Tiroteio
Nesta eleição municipal, já tem candidato pedindo ajuda segurando o cofrinho. A situação está tão preta que vale até moeda.

DO DEPUTADO FEDERAL LÚCIO VIEIRA LIMA (PMDB-BA), sobre a dificuldade das campanhas a prefeito e vereador para arrecadar recursos financeiros.

Contraponto


Em boca fechada
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) presidia a parte final da fala do contador Gilmar Carvalho Morais, que depôs na CPI do Cachoeira, e optou por fazer um desagravo a ele antes de declarar o fim da sessão. De início, Teixeira optou por destacar o fato de, ao contrário de outros depoentes, Gilmar ter comparecido à sessão sem qualquer advogado. Mas foi subitamente cortado pelo contador:

-Se eu tivesse R$ 1 milhão na conta eu vinha com dois (advogados)!

Com sorriso amarelo, o deputado minimizou:

-Eu estava lhe fazendo um elogio...

O que a favela oculta - JOSÉ DE SOUZA MARTINS

O Estado de S.Paulo - 09/09


Apesar do cenário adverso, 'aglomerados subnormais' têm intensa mobilidade social, provavelmente mais que a média da sociedade



A frequência de incêndios em favelas de São Paulo gera compreensíveis preocupações e até suspeitas, não necessariamente fundamentadas. É preferível situar o tema, inicialmente, no contexto mais apropriado das condições fisicamente adversas e impróprias de localização dos aglomerados subnormais, como os denomina o IBGE. O tempo seco, sem dúvida, favorece esses desastres porque as habitações são construídas com materiais de fácil combustão, como madeira e papelão, são coladas uma às outras, têm gambiarras de fios expostos, botijões de gás, fogões acesos e fósforos ao alcance de crianças cujos pais, não raro, estão ausentes, no trabalho.

Os aglomerados subnormais têm localização bem determinada na geografia habitacional brasileira. Em todo o país, os 6.329 que foram identificados e recenseados em 2010 estão em apenas 323 dos 5.565 municípios. Neles vivem 6% da população. A maioria (88,6%) em 20 das regiões metropolitanas e 49,8% nas do Sudeste, e aí já, predominantemente em favelas. Um terço deles na Região Metropolitana de São Paulo e mais de um sexto na do Rio. Em São Paulo, 11% dos habitantes vivem nesses aglomerados, sendo mais de 2 milhões de pessoas. No entanto, em Belém do Pará, 62,5% da população neles vive, 26,7% em Salvador, 22,4% em Recife, 23,9% em São Luís, 13,3% no Rio, 13,2% em Teresina, 10,2% em Maceió. Portanto, um bom número das grandes cidades brasileiras já contém, em tamanho significativo, o que Lewis Munford classifica como áreas de deterioração social.

Quando se entra em casebres e até barracos de favelas, pode-se entender de imediato qual é o grande, embora não o único, fator da crescente favelização das cidades brasileiras. Muitas casas, em particular as de alvenaria crua, que não são poucas nos aglomerados subnormais, são até mais confortáveis do que as habitações de roça de onde procedem muitos de seus moradores. Quem ali mora é autor da própria moradia, capaz, sozinho ou com ajuda de amigos, de construir a casa. Muitos desses são operários da construção civil, que sabem o que estão fazendo. O que lhes faltou não foi casa ou meios e capacidade de construí-la: foi terreno.

O risco de incêndio não é o único que correm as favelas. Outras ocorrências trágicas, como as inundações, os escorregamentos ou os deslizamentos de terra têm marcado a agonia de seus moradores. Impossibilitados de pagar o preço da terra nos lugares apropriados, restam-lhes os terrenos perigosos e insalubres, até porque de mais fácil invasão, pois de maior risco.

Não obstante o cenário adverso, favela é lugar de intensa mobilidade social, provavelmente mais intensa do que na média da sociedade brasileira. Os barracos de madeira e cartão constituem, quase sempre e felizmente, apenas o primeiro degrau de uma lenta ascensão social, que culminará com o casebre de alvenaria em terra alheia e até mesmo a migração para a casa em terra própria. Barracos de favela são moradias de passagem, o que se nota em seu animado "mercado imobiliário". Isso não torna as favelas aceitáveis. É preciso compreender essa sociedade peculiar que surge e prolifera à margem da sociedade dominante às custas de engenhosas estratégias de sobrevivência.

A grave questão social dos aglomerados subnormais esconde problemas que essa sociedade não quer enfrentar. Neles vive a não insignificante população de mais de 11 milhões de pessoas. É neles que está uma parte da força de trabalho, particularmente relevante se considerarmos que sua maior concentração se encontra nas regiões economicamente mais desenvolvidas. É neles que habitam muitas das empregadas domésticas, dos trabalhadores braçais, sobretudo os da construção civil, muitos dos trabalhadores do chamado setor de serviços, como limpeza e jardinagem. Seus salários sabidamente baixos são complementados pelo barateamento das condições de vida, em particular as da habitação. Subsidiam, com sua pobreza, o bem-estar da classe média que do seu trabalho se beneficia e depende. O discurso moral e religioso sobre a pobreza até hoje não conseguiu tocar no ponto complicado da questão: a funcionalidade econômica da miséria numa sociedade como a nossa. É significativo que na campanha eleitoral destes dias o eleitorado se defronte com uma briga de comadres e uma troca de maledicências e não tenha ouvido ainda uma palavra corajosa e competente sobre o gravíssimo problema das favelas, dos cortiços e dos moradores de rua e sobre quanto grandes cidades como São Paulo deles dependem.

Se se fizesse a conta de quanto custam aos governos, e a todos nós, pelos enormes problemas que sofrem no socorro de que carecem nos incêndios, nas inundações, nos deslizamentos, nas questões de saúde agravadas pelas más condições de vida, nas políticas sociais compensatórias, provavelmente ficaria mais fácil encontrar a saída para esse problema social. Como se fez no fim da escravidão: foi só comparar o preço do escravo com o custo do trabalho livre para que a Lei Áurea fosse assinada.

O círculo se fecha no STF - THIAGO BOTTINO


O GLOBO - 09/09



A lavagem de dinheiro pode ser comparada à falsificação da "certidão de nascimento" do dinheiro de origem criminosa. Pune-se não somente quem oculta a origem ilícita do produto de crime, mas também quem faz operações para dificultar seu rastreamento e quem viabiliza a incorporação desses valores, aparente legalidade, ao patrimônio do criminoso.

No caso do mensalão, a primeira etapa para a possível punição por lavagem já se concretizou: a definição da origem dos recursos criminosos. A lei da época, aplicável ao caso, exige que o crime antecedente (aquele que gerou o dinheiro sujo) tenha uma origem determinada, constante da lei. O Supremo já definiu a origem do dinheiro que alimentou o "mensalão": crimes de desvio de dinheiro praticado por funcionários públicos (Henrique Pizzolato e João Paulo Cunha) e fraudes bancárias (Katia Rabello, José Roberto Salgado e Vinicius Samarane), da qual participaram donos de agências de publicidade (Marcos Valério, Ramon Hollerbach e Cris-tiano Paz). Estão na lista de crimes antecedentes previstos na lei o peculato, a corrupção e a gestão fraudulenta.

Os próximos desafios para o Supremo dizem respeito a questões jurídicas que não dependem de provas. São escolhas teóricas de interpretação da lei. A punição alcança somente os réus que tinham conhecimento do processo inteiro da lavagem ou incide também sobre aqueles que atuaram, de forma isolada, em cada uma das etapas? Ainda que o processo de lavagem não tenha se completado, é necessário que exista um "plano" pré-or-denado de como isso ocorreria? O autor do crime antecedente pode ser punido por querer se beneficiar dos lucros de seu crime, ou a lavagem pune somente aqueles que auxiliaram o criminoso? É preciso que o dinheiro ilícito retorne para o criminoso inicial ou ocorre lavagem se o dinheiro é utilizado sem a finalidade de incorporá-lo ao seu patrimônio?

Essas respostas vão repercutir diretamente em todos os casos de lavagem de dinheiro que tramitam no Brasil, alguns de igual gravidade e outros mais prosaicos.

Questão de gênero - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SÃO PAULO - 09/09


BRASÍLIA - Se havia dúvida sobre a ministra Rosa Weber no Supremo, não há mais. Aliás, as mulheres foram o destaque da semana passada: Rosa, Cármen Lúcia, Eliana Calmon, que se despediu da Corregedoria do CNJ, e Ayanna Tenório, a única ré a salvar a pele até agora.

Rosa, que vem da Justiça trabalhista -considerada, digamos, "menos nobre"-, era observada com rabo de olho pelos colegas, sobretudo pelos papas do STF. Bastaram seus votos no capítulo Câmara/BB (João Paulo/Henrique Pizzolato) e sobre o núcleo financeiro (Banco Rural) para ela ser admitida como "um deles".

Seus votos são implacáveis, como costumam ser as mulheres (não é Eliana Calmon?). E mais: Rosa deixa evidente que conhece em detalhes os termos da denúncia e das defesas e que sabe exatamente aonde quer chegar. Ou aonde tudo isso vai levar.

Ela questionou o que tanto fazia Marcos Valério -um publicitário- no Banco Central. A resposta é clara, já que o Rural fez os "empréstimos fictícios" de R$ 3 milhões para o PT e de R$ 29 milhões para as empresas do próprio Valério e, ora, ora, levou a melhor quando o BC (que deve explicações) determinou a liquidação do Banco Mercantil de PE.

Como novata, a ministra é a primeira a votar e abre caminho para os demais, inclusive para Cármen Lúcia, que prepara textos esmiuçados, mas poupa os colegas, os presentes e os telespectadores de demonstrações de erudição para apresentar, sem ler, votos claros e precisos. E começa pelo fim: já diz, de cara, quem vai e quem não vai condenar.

Só a ex-diretora do Rural Ayanna Tenório escapou entre os 36 réus para quem o procurador Roberto Gurgel pediu condenação. Marco Aurélio foi infeliz ao insinuar favorecimento de gênero. A dona do banco, Kátia Rabello, foi condenada por unanimidade e, dos dez ministros, só o relator Joaquim Barbosa condenou Ayanna, todos os outros absolveram. Por ser mulher?!

Quem tem medo da privatização? - SUELY CALDAS


O Estado de S.Paulo - 09/09



Quando a globalização dava sinais de avanço no mundo, lá pelas décadas de 1980/1990, os resistentes a ela no Brasil não queriam nem ouvir falar, manifestavam-se contra e ponto final. Diziam que ela aprofundaria a desigualdade social no planeta, já que os países pobres tinham muito a perder e os ricos, só a ganhar. Queriam simplesmente barrá-la (como se isso fosse possível!).

Os que viam a globalização como um fenômeno inevitável e sem volta argumentavam que os países pobres deveriam unir forças para enfrentá-la, inverter a equação apregoada pelos resistentes e usar a globalização a seu favor. Como? Atraindo capital dos ricos, aplicando-o em progresso econômico, importando novidades tecnológicas e difundindo novos conhecimentos.

Os anos passaram. É verdade que Brasil, México, Rússia e Argentina enfrentaram transtornos em seus programas de estabilização nos anos 1990. Mas a primeira crise econômica pós-globalização em escala mundial tem sido muito dura com os países ricos e leve com os pobres. O ex-presidente Lula até já a chamou de marolinha! O feitiço, então, virou contra o feiticeiro? Nada disso, simplesmente o diagnóstico dos resistentes estava errado. A globalização beneficiou o Brasil, internalizou riqueza; trouxe capital, empresas e progresso econômico; gerou empregos; possibilitou a expansão das exportações; e contribuiu para a ascensão de milhares de pobres à classe média. Os resistentes ao novo - aqueles que preferem nada mudar para manterem seu domínio, em vez de usar a inteligência e do novo extrair benefícios - só conseguem adiar a História e atrasar o progresso.

É o que vem acontecendo nos governos do PT em relação à privatização.

Quem chega ao Palácio do Planalto conhece as limitações do Estado. Não só as de capacidade financeira, mas também as de eficácia em gestão - aí incluídas as práticas de corrupção, que muitas vezes duplicam ou triplicam o valor de uma obra pública. Ao reconhecer isso, o mais lógico seria o governo transferir para o capital privado projetos não estratégicos para a segurança do País.

Ajudado pelo ex-ministro Antonio Palocci, Lula também reconheceu a importância do capital privado, ao desembarcar em Brasília, em 2003. Mas a odiosa rivalidade com os tucanos - que privatizaram estatais no governo Fernando Henrique Cardoso - levou Lula a recorrer às parcerias público-privadas, as famosas PPPs, que nunca decolaram. Seria mais fácil e de resultados mais rápidos licitar projetos de infraestrutura para a iniciativa privada.

Simples? Não para o PT. Como as PPPs não vingaram, o governo não tinha dinheiro para investir nem cedia à privatização, o País foi castigado e o crescimento econômico, emperrado pela falta de rodovias, portos, ferrovias, aeroportos, hidrelétricas, enfim, por causa dos gargalos que impedem o progresso. No segundo mandato, Lula licitou algumas rodovias, mas o modelo foi tão ruim que hoje os consórcios vencedores não conseguem cumprir as metas acertadas em seus contratos.

Aeroportos. Atuando mais uma vez como conselheiro, o ex-ministro Antonio Palocci convenceu a presidente Dilma Rousseff a ceder à privatização. Com a proximidade da Copa do Mundo e a urgência em ampliar a capacidade dos aeroportos para receber visitantes, ela concordou em transferir a gestão dos Aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília para consórcios privados.

Porém, como no caso das rodovias, o modelo da licitação foi ruim e não conseguiu atrair operadoras estrangeiras competentes nem as maiores construtoras brasileiras. Insatisfeita com o resultado, Dilma enviou uma missão à Europa, comandada pela ministra Gleisi Hoffman, para tentar atrair grandes operadoras - com experiência em aeroportos de 30 milhões e 35 milhões de passageiros por ano - para participarem dos leilões dos Aeroportos do Galeão (no Rio de Janeiro) e de Confins (em Belo Horizonte).

Dilma é mais pragmática do que Lula, mas também é mais ideológica. Seu projeto de fazer de privilegiados grupos privados nacionais grandes players internacionais acabou morrendo, carregando junto muitos bilhões de reais do BNDES. Mas o fracasso não serviu de aprendizado. No caso dos Aeroportos do Galeão e de Confins, o estatismo/nacionalismo novamente aflorou, mas o pragmatismo responsável também: ela quer operadoras competentes, sim, mas que aceitem a estatal Infraero como sócia controladora, com 51% das ações, e que se contentem com 49% divididos com outros sócios brasileiros.

Diferentemente da pressa e da euforia com que o governo do PT costuma anunciar feitos de sucesso, desta vez a ministra Hoffman foi extremamente econômica e discreta ao responder sobre o resultado de sua missão: limitou-se a dizer que a viagem foi "boa e produtiva" e que "há investidores interessados no Brasil". Horas depois, a Secretaria de Aviação Civil divulgou nota com generalidades: "Os encontros contribuíram para a troca de informações" e "não há decisão sobre novas concessões de aeroportos no Brasil". Nos bastidores em Brasília, informa-se que os investidores europeus consultados rejeitaram a ideia de se submeter ao poder majoritário da Infraero. Mas informa-se, também, que o governo não desistiu e vai procurar outras operadoras antes de preparar as regras de licitação.

Tudo indica que Dilma Rousseff terá de optar entre competência operacional e ideologia. Ou trazer para o Galeão e Confins quem sabe operar ou manter a Infraero no comando, com investidores inexperientes prestando um serviço de má qualidade. Com grande chance de repetir os erros cometidos nas licitações das rodovias.

Ao entregar a gestão dos Aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília a investidores estrangeiros, a própria Dilma Rousseff reconheceu que administrar a aviação comercial não põe em risco a segurança do País. Portanto, fora razões estritamente ideológicas, não há nenhum motivo para agir diferentemente em relação ao Galeão e a Confins.

Em mais de 20 anos, além de penalizar o mundo rico na atual crise, a globalização deu inúmeras provas de que ideologia e investimento não combinam. Pelo contrário, quando atuam em parceria, a única coisa que conseguem é adiar a História e atrasar o progresso. A Copa está pertinho e o Brasil tem pressa.

A grande cisão - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 09/09


SÃO PAULO - Já se tornou lugar-comum dizer que o problema das drogas não tem solução, já que seres humanos buscam sabe-se lá o que em psicotrópicos desde a aurora dos tempos. Ao que parece, isso é mesmo verdade, mas Peter Watson, em "The Great Divide", apresenta uma hipótese ainda mais radical.
Para ele, as diferentes drogas disponíveis no Novo e no Velho Mundo foram determinantes para forjar a identidade dos povos que viviam nos diversos continentes, e isso teve impactos importantes na história.
"The Great Divide" é um daqueles livros surpreendentes e eruditos que, na esteira de autores como Jared Diamond, tenta apontar a contribuição de forças geofísicas para o desenvolvimento humano. Eras glaciais e outros fatores climáticos, bem como a variedade de animais e plantas domesticáveis, têm um papel na história.
O mesmo vale para as drogas. E a primeira coisa a observar é que a distribuição de plantas com propriedades psicoativas não é uniforme. Enquanto no Velho Mundo elas não excediam oito ou dez, no Novo variavam entre 80 e 100. Ademais, na Europa, a população logo trocou as drogas psicodélicas pelo álcool, que não é um alucinógeno muito poderoso.
Para Watson, essas experiências distintas tiveram consequências profundas. Nas Américas, as drogas utilizadas tornaram as religiões locais muito mais assustadoras e convincentes do que na Eurásia. Isso contribuiu para o desenvolvimento de uma ideologia bem mais conservadora e resistente a inovações.
No Velho Mundo, as religiões antigas acabaram convergindo para o monoteísmo, e práticas socialmente custosas -como o sacrifício humano- foram abandonadas. Nada disso aconteceu nas Américas, onde as populações também tinham de lidar com um clima muito mais hostil e com a menor oferta de alimentos cultiváveis. O resultado disso são as chamadas conquistas e o genocídio dos povos ameríndios.