quinta-feira, janeiro 15, 2015

Falta um - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 15/01

A prisão de Nestor Cerveró, ex-diretor da área Internacional da Petrobras indicado pelo PMDB, coloca na cadeia o segundo dos três ex-diretores da estatal envolvidos nos escândalos da empresa. Paulo Roberto Costa, ligado ao PP, já estava preso, e falta agora Renato Duque, indicado pelo ex-ministro José Dirceu para a Diretoria de Serviços da Petrobras. Umbilicalmente ligado ao PT, teve o que poderia se interpretar como um tratamento diferenciado, ao receber habeas corpus para se livrar da prisão.

Cerveró, antevendo uma condenação, transferiu bens para terceiros, buscando livrá-los do confisco, na tentativa de fazer letra morta dispositivos legais como os incisos I e II, alínea b, e parágrafo primeiro do artigo 91 do Código Penal, que dizem: "São efeitos da condenação: I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime; II - a perda em favor da União, ressalvado o direto do lesado ou de terceiro de boa-fé: (..) b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso. § 1*? Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior"

Esse artigo do Código Penal trata do confisco de bens auferidos pelo condenado com a prática do crime. Agiu bem, portanto, o Judiciário ao decretar a sua prisão preventiva, com fundamento no artigo 312, caput, do Código de Processo Penal, assim redigido: "A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, ou da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria"

O delegado Igor Romário de Paula, da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado, afirma que Cerveró fez movimentações financeiras para conseguir dinheiro vivo, e que isso poderia indicar que o ex-diretor planejaria uma fuga, ou tentaria tornar seu patrimônio mais líquido, o que, dessa forma, o protegeria.

A prisão teve como fundamento "negócios que ele fez posteriormente à saída do Brasil, que financeiramente eram inviáveis e indicavam a tentativa de liquidar o patrimônio para enviar ao exterior ou aplicar em outros negócios" Esses negócios foram detectados em dezembro do ano passado pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, órgão ligado ao Ministério da Fazenda) quando ele já estava em Londres; o Coaf alertou a Polícia Federal sobre a solicitação de Cerveró de resgate de uma operação ligada à previdência privada que inicialmente tinha valor de R$ 600 mil, mas que no momento registrava prejuízo de R$ 200 mil.

A investigação da Lava-Jato tem outros pontos estranháveis além da liberdade de Renato Duque, e todos ligados ao PT.

Além de Duque ser o único dos ex-diretores não presos, outro ponto que causa estranheza é que, segundo as delações premiadas, seriam três os negociadores dos partidos políticos dentro da Petrobras. Pelo PT, agia João Vaccari, tesoureiro do partido; pelo PMDB, Fernando Baiano; pelo PP, Adarico Negromonte, irmão do ex-ministro Mario Negromonte. Baiano e Negromonte foram presos, mas nada aconteceu até agora com Vaccari.

Finalmente, estranha-se a ausência da Odebrecht, de todas as empreiteiras a mais ligada ao ex-presidente Lula, e uma das maiores do país, na relação das que têm seus diretores presos no Paraná. Esses fatos podem indicar uma tentativa de blindagem para que as investigações não cheguem aos principais responsáveis pelo petrolão - ou, como circula à boca pequena, um cuidado especial da Polícia Federal, do Ministério Público e do juiz Sérgio Moro no recolhimento de provas para o envolvimento de autoridades maiores. Uma investigação especial estaria sendo feita sobre a Odebrecht.


O povo não é bobo - CARLOS ALBERTO SARDENBERG

O GLOBO - 15/01

Os que estão no governo querem mesmo é censura prévia ou, como se diz por aí, controle social da mídia


“Sim, eu sei o que fazem os editores, eles separam o joio do trigo e publicam o joio". A frase clássica de Adlai Stevenson, político americano do Pós-Guerra, pode ser utilizada com variadas intenções. Trata-se, claro, de uma divertida crítica à qualidade da imprensa. Por aí, as verdadeiras notícias estariam na lata de lixo das redações e, lógico, a sociedade ficaria sempre mal informada.

Mesmo quando não admitem, políticos de todas as tendências concordam com Stevenson. Os que estão no governo, então, acham que a frase é perfeita e justifica medidas corretivas. Não é censura, dizem, apenas encontrar meios para melhorar a qualidade da imprensa.

Conversa. O que querem mesmo é censura prévia ou, como se diz por aí, controle social da mídia.

Jornalistas estão o tempo todo decidindo, primeiro, o que se vai apurar, segundo, o que se vai publicar e, terceiro, como se vai apresentar a notícia.

Tudo considerado, caímos na mais antiga questão da profissão: o que é notícia? Há várias respostas clássicas produzidas por jornalistas:

— Se o cachorro morde o homem, não é notícia, se o homem morde o cachorro, é;

— Notícia é tudo aquilo que alguém não quer ver publicado, o resto é propaganda;

— Jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados (Millôr Fernandes);

Examinamos essas teses em coluna aqui publicada em 22/12/2011, com o título “O povo não é bobo". Também pode ser encontrada no arquivo de www.sardenberg.com.br.

A questão hoje é anterior: quem decide o que é notícia? Os patrões, os donos dos jornais, rádios, TVs e sites — diz o pessoal que quer introduzir a censura prévia, perdão, o controle social.

Sim, há veículos nos quais as redações são instruídas a publicar apenas o que os patrões consideram a notícia correta. Exemplo? Todos os veículos cujo patrão é o governo — a conhecida imprensa chapa-branca.

Somos contra a censura prévia e/ou “controle social" — o leitor já terá notado — mas se a regra for introduzida, a aplicação tem que começar pelos veículos do governo. Estes publicam um enorme joio, as versões oficiais: ninguém rouba nada, não há mensalões nem petrolão, tudo funciona e, se não funciona, é por causa da seca, do azar, do mundo, da oposição ou da imprensa do contra.

Ainda tem aí uma baita farsa. O verdadeiro patrão é o povo, que paga os impostos e assim financia a chapa-branca. Mas os políticos, governantes de plantão, usurpam o papel de patrões e controlam essa mídia no interesse dos respectivos partidos. Sim, foram eleitos, e por isso representam a população. Mas, numa democracia, não podem esquecer que tiveram o voto de parte dos eleitores, havendo, pois, uma outra parte que merece respeito — e informação não partidária.

A saída — segundo uma velha tese — é colocar os veículos do governo sob controle de um comitê com representantes dos diversos partidos, em número proporcional aos votos por eles conseguidos.

Esqueçam. Não funciona. Um veículo público assim dirigido vai noticiar não uma, mas várias versões oficiais, o joio do governo e o da oposição. Duplo desperdício de dinheiro do povo.

Há quem recomende a proibição legal: governos, federal, estaduais ou municipais, não poderiam editar veículos de informação geral — de suposta informação geral, no caso. A TV pública, por exemplo, divulgaria apenas programas educativos, cursos e informação efetivamente pública, como campanhas para combater a dengue, chamada para vacinação, previsão do tempo, instruções para agricultores e assim por diante.

Seria mais barata e mais útil.

Outros sugerem que os veículos do governo sejam, afinal, dirigidos como os da imprensa privada de qualidade — aquela cujos jornalistas são guiados por um código formal ou informal, com o objetivo de apurar e publicar o que é notícia ou opinião relevante.

Na prática, é difícil conseguir tal isenção no setor público. Além disso, se a TV pública vai fazer a mesma coisa que a TV privada faz, por que gastar dinheiro do contribuinte com a primeira?

O que retorna a questão: como garantir que os jornalistas escolham o trigo? Ou como a lei pode garantir a qualidade da imprensa?

Não pode. A lei tem que garantir a liberdade da imprensa e, sim, dos jornalistas. A qualidade — ou, a notícia de interesse, publicada de forma correta, isenta e independente —, isso depende do público, do leitor, ouvinte, telespectador e internauta.

O povo não é bobo, sabe onde buscar a informação. Olhem as audiências. É eloquente a audiência zero dos noticiários das TVs púbicas. É evidente a baixa credibilidade dos veículos que só divulgam a voz do dono, seja o governo ou a empresa privada.

O tema seguinte é: como distinguir e quem pode distinguir entre ofensa e crítica? Na próxima.

Professor aloprado - DORA KRAMER

O Estado de S. Paulo - 15/01

É a velha, batida, mas imprescindível lição que político bom no ramo não dispensa: a esperteza quando é muita vira bicho e come o dono. Há outras duas a completar uma trinca de ouro: só bobo briga e segredo é a alma do negócio.

No afã de pôr em prática um plano para enfraquecer o PMDB a fim de retirar oxigênio do partido, reformular o perfil da aliança, reforçar partidos até então periféricos e alimentar a criação de novas legendas, o governo violou as três regras.

Os articuladores do Planalto só faltaram anunciar no Diário Oficial suas pretensões, tão atabalhoados e explícitos foram os gestos para alijar o principal aliado. A presidente Dilma Rousseff cuidou da arrumação na área econômica e deixou a política a cargo do chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante.

Jogou o PMDB para a periferia ministerial, concentrou no Palácio o poder decisório político e de interlocução com o Congresso com pessoas da estrita confiança presidencial, mas sem a necessária experiência nem o indispensável trânsito no Parlamento.

A prova na incompetência está na queimada na largada. O PMDB captou de início o plano. E, ao perceber, se uniu. O movimento para enfraquecer, fortaleceu como se viu na manifestação da executiva do partido em prol das candidaturas às presidências da Câmara e do Senado. O recado foi direto: quaisquer hostilidades dirigidas aos candidatos, notadamente ao deputado Eduardo Cunha, serão interpretadas como agressões ao conjunto dos pemedebistas.

Em miúdos, disse o seguinte: "Mexeu com ele, mexeu conosco". A declaração de guerra de quem pode estar prestes a renovar a posse do comando de um dos Poderes da República não seria necessária se entre os arquitetos palacianos não vigorasse a enganosa tese de que os líderes do PMDB são provincianos a serem passivamente passados para trás em troca de migalhas de fisiologismo.

Pois se a ideia era enfraquecer, os fatos mostram que o Planalto até agora só conseguiu fortalecer o partido. Por exemplo, a manobra trouxe de volta à cena o ex-deputado Geddel Vieira Lima, oposicionista até então atuando só nos bastidores e desde ontem autorizado a dar em nome do partido declarações tais como "o PMDB vai olhar com lupa" as atitudes do governo a partir do momento em que assumir o comando do Congresso.

A manifestação da executiva quer dizer também que os ministros do PMDB, mesmo os nomeados à revelia da direção, não fiquem à vontade para atuar em prol dos interesses do governo quando esses contrariarem os do partido, pelo simples fato de que não se respeitou a regra do segredo como a alma do negócio.

Gilberto Kassab e Valdemar Costa Neto, patrocinadores de novas legendas a serem criadas com o objetivo de aliciar parlamentares da oposição e do PMDB, podem até ser braços armados pelo Planalto. Mas, diante de urdidura tão explícita, é de se perguntar se raposas desse jaez estariam dispostas a brigar com os presidentes da Câmara e do Senado para prestar serviço ao Planalto.

Talvez prometam, mas provavelmente não entreguem a mercadoria.

Inglórios. Antigamente a chefia da Casa Civil era um trampolim para o sucesso. Na administração do PT passou a ser uma máquina de moer carne. À exceção de Dilma Rousseff, todos os que chegaram ao posto cobertos de glórias saíram moídos de lá.

Dos soberbos aos discretos: José Dirceu, Antônio Palocci, Erenice Guerra e Gleisi Hoffmann deram-se mal.

Cerveró. Com a queda, um a um, dos personagens do escândalo da Petrobrás, outros galos cantariam na hipótese de uma nova CPI sobre a estatal.

O preço do erro - MÍRIAM LEITÃO

O GLOBO - 15/01

É incrível, mas houve quem comemorasse a alta de 6,41% da inflação em 2014, mesmo com o PIB perto de zero. Esse é um resultado muito ruim e não é toda a verdade, porque parte dos reajustes ficou para 2015. Há uma grande batalha neste ano para inverter a tendência da inflação. Em janeiro, o número deve ficar em torno de 1%, o que deve levar o dado em 12 meses para perto de 7%.

No ano passado, o índice ficou acima do teto da meta por cinco meses; no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff foram 15 meses. Esse resultado é preocupante porque a economia cresceu muito pouco e terminou 2014 estagnada. Há muitas pressões de preço este ano, e uma delas, como todos sabem, é das tarifas de energia. O governo terá que enfrentar o problema acumulado para alcançar o "realismo tarifário".

Durante a campanha, Dilma acusou os adversários de estarem preparando um tarifaço. Pois é. O jornal "Valor Econômico" disse o preço da energia pode subir 40%, o ministro Eduardo Braga disse que não chegará a tanto. O especialista Paulo Steele, da consultoria TR Soluções, ouvido em meu blog, calcula que na média nacional será 28%, mas em alguns estados, como Rio Grande do Sul, pode chegar a 55%.

A atual equipe econômica não pode ser acusada por estes problemas, porque ela está corrigindo erros e eliminando os "jeitinhos" dados na economia e que minavam a confiança na sua solidez. Houve "pedaladas" fiscais e de preços: ou seja, custos e correções foram jogados para os exercícios futuros, para construir falsos números.

O fato é que a taxa de 6,41%, apesar de ser alta, não reflete totalmente as pressões sobre a inflação de 2014. Além da energia, a gasolina foi mantida em valores artificiais durante o primeiro governo. A alta do dólar vem sendo contida pelo programa de swaps do Banco Central. Mesmo assim, a moeda americana subiu bastante e já afeta os índices.

Para janeiro, a projeção do mercado é uma inflação em torno de 1%, por causa da alta do preço da energia e também do reajuste das passagens de ônibus. Com isso, o IPCA acumulado em 12 meses romperá novamente o teto, podendo chegar perto de 7%, de acordo com algumas projeções.

A inflação brasileira está muito acima da média de países desenvolvidos e de outros países emergentes, sejam da América Latina ou da Ásia. O risco mundial hoje é outro, de deflação, como se vê na Europa, no Japão e nos Estados Unidos. Exceto Argentina e Venezuela, os outros países da região têm desempenho melhor do que o Brasil.

Em seis capitais, o índice de 2014 ficou acima do teto. No Rio de Janeiro, chegou a 7,6%. Em Goiânia, 7,2%. A taxa mais baixa foi a de Salvador, com variação de 5,76%, ainda distante da meta, que é 4,5%. Os alimentos subiram 8%, as despesas pessoas, 8,39%, e os gastos com educação aumentaram 8,45%. O grupo saúde e cuidados pessoais aumentou 6,97%.

A melhor notícia para a inflação deste ano vem de fora. O derretimento do preço do petróleo no mercado internacional. Em situações normais, o preço da gasolina despencaria no Brasil - como está caindo em outros países - mas aqui, se cair, será pouco porque o governo deve aumentar a Cide, e a Petrobras precisa recuperar o que perdeu em anos anteriores, quando vendeu gasolina abaixo do preço que teve que pagar.

Os novos ministros da Fazenda e do Planejamento e o presidente do Banco Central terão um duro trabalho pela frente para corrigir os problemas que se acumularam na economia. A boa notícia é que eles estão determinados a enfrentar e corrigir distorções, mudar as escolhas e buscar uma inflação mais baixa e maior crescimento. Não conseguirão isso da noite para o dia. É fácil fazer o errado; o certo leva mais tempo.


O Brasil muito mal na economia regional - ROBERTO MACEDO

O ESTADO DE S.PAULO - 15/01

A Comissão Econômica da América Latina (Cepal), da ONU, divulgou no mês passado o seu Balanço Preliminar das Economias da América Latina e Caribe - 2014 (em espanhol e resumo em português). Nos últimos anos esse balanço mostrou contínua deterioração da economia brasileira nesse contexto regional. O de 2014 novamente deixa ainda mais clara essa percepção.

É muito importante que esse documento receba maior divulgação, pois por muito tempo aqui se difundiu no público em geral uma imagem muito enganosa da economia brasileira, particularmente na propaganda eleitoral da presidente Dilma Rousseff em 2014. Ela e seus marqueteiros insistiram então numa visão da economia que exagerava poucos aspectos positivos e pintava muitos negativos como favoráveis.

Quanto ao baixo crescimento do PIB, o governo Dilma escolheu como bode expiatório a crise que, com suas sequelas, assolou a economia mundial a partir de 2008. Mas essa economia já está em recuperação há tempos. E o que os relatórios da Cepal vêm mostrando é que muitos países da América Latina (AL) e do Caribe têm desempenho bem melhor que o do Brasil, embora enfrentando as mesmas circunstâncias internacionais. O que há mesmo é uma crise econômica "made in Brazil" e resultante de uma política econômica equivocada.

O balanço de 2014 da Cepal mostra que a economia mundial cresceu à taxa média de 1,8% entre 2007 e 2010, quando a crise econômica teve maior força. Mas seguiram-se taxas médias de 2,8% (2011), 2,3% (2012), 2,4% (2013) e previsões de 2,6% (2014) e 3,1% (2015), evidenciando sua recuperação. Neste último biênio, prevê-se que o Brasil cresça 0,2% e 1%, respectivamente. Ora, com taxas tão abaixo da média internacional, no curso que tomou de política econômica o governo brasileiro foi reprovado.

Passando a outros contrastes, essa taxa de crescimento do nosso PIB em 2014, de 0,2%, está abaixo das previstas para 29 entre 34 países das duas regiões! Com tal desempenho e sua população crescendo mais que o PIB, nosso país deverá ser um dos cinco a mostrar redução do PIB por habitante. Ou seja, na média, em lugar de aumentar a renda, seu povo empobreceu no ano passado!

Quanto à inflação medida por preços ao consumidor, o Brasil também destoa, pois entre 33 países das duas regiões só 5 têm previsões de taxas anuais em 2014 maiores que a do Brasil!

Nas contas públicas, um gráfico do relatório mostra, como proporção do PIB, números da dívida pública bruta e do resultado anual para 19 países da AL, conforme previsões para 2014. O Brasil tem a maior dívida e seu déficit só é menor que o de três países!

E é campeão de taxa de juros do crédito ao consumidor! Também se prevê que aqui a expansão do crédito interno tenha ocorrido à taxa de 8,7% em 2014, taxa essa superada em 14 países da AL.

Algo de que o governo federal sempre se vangloriou é a baixa taxa de desemprego medida nas seis regiões metropolitanas mais importantes do País. De fato, as previsões dessa taxa em 2014 colocam o Brasil no grupo de cinco países com taxas inferiores a 5% da população economicamente ativa, de pessoas ocupadas ou à procura de trabalho. Mas quando se mira a taxa de emprego, a da população empregada como proporção daquela em idade de trabalho, num levantamento relativo a 2013, alcançando 22 países, o Brasil aparece como um dos quatro países com menor taxa!

Como se explica uma baixa taxa de desemprego ao lado de uma também menor taxa de emprego? Acontece que a taxa com que a população participa da força de trabalho, seja trabalhando ou procurando trabalho, está também entre as mais baixas, o que não é uma notícia boa. Assim, a baixa taxa de desemprego no Brasil esconde um problema por resolver, esse da baixa participação na força de trabalho. Inclusive de muitos jovens que nem trabalham nem estudam, a chamada geração nem-nem. Coisas boas muitos não fazem ou farão.

O fraco crescimento do PIB sintetiza os males da economia brasileira. O que fazer? Quem acompanha meus textos sabe que sempre defendi medidas para estabilizar a economia diante de seus desequilíbrios, como o mau estado das contas governamentais e uma inflação alta.

Mas estabilizar a economia não basta para fazê-la crescer. Isso se dá com investimentos para ampliar sua capacidade produtiva e gerar renda para trabalhadores e fornecedores envolvidos nessa ampliação, o que multiplica os bons efeitos do que foi investido. Os investimentos também incorporam novas tecnologias, que ampliam a produtividade dos fatores produtivos, a qual, no caso do trabalho, também pode crescer mediante educação e treinamento profissional.

Quanto a investimentos, seria fundamental que o governo fizesse a sua parte, mas aí também se sai mal na foto da Cepal. Nas previsões para 2014 sobre investimentos de governos centrais - o federal, no caso brasileiro -, de 29 governos nas duas regiões o nosso está entre os três com menores taxas de investimento público como proporção do PIB!

Com sua gastança noutras áreas, incluídos juros da dívida pública num valor próximo do triplo do que gasta com investimentos, e passando por um indispensável ajuste de suas contas, nosso governo federal revela enorme carência de recursos para investir, o que vale também para os estaduais e municipais. Nessas condições a saída, na qual há tempos insisto, é desenvolver um audacioso programa de concessões de serviços públicos e parcerias público-privadas. Também colocaria na lista um programa de desestatizações, que abordarei noutro artigo, mas adianto que incluirá algumas atividades hoje exercidas pela Petrobrás.

O Enem e a Pátria educadora - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 15/01

Os números do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2014 mostram a importância do slogan escolhido pela presidente Dilma Rousseff para seu segundo mandato - "Brasil, Pátria Educadora" - e, ao mesmo tempo, são reveladores do fracasso de seu primeiro mandato no campo da educação.

Ao todo, 8,7 milhões de alunos da última série do ensino médio inscreveram-se no Enem de 2014, mas só 6,2 milhões compareceram às provas. Em matemática, a média foi de 476,6 pontos, ante 514,1 pontos na prova de 2013 - queda de 7,3%. Em redação, a situação foi ainda pior. Na prova de 2013, a média foi de 521,2 pontos e, em 2014, de 470,8 pontos (menos da metade da nota máxima), com queda de 9,7%.

Além disso, 529.374 alunos - ou 8,54% dos participantes do Enem - tiveram nota zero em redação, cujo tema tratou da ética na publicidade infantil. Entregaram a prova em branco 280.903 estudantes. São, em grande parte, analfabetos funcionais, que não conseguiram sequer entender o enunciado da prova. Dos 6,2 milhões de participantes, só 250 conseguiram obter a pontuação máxima. Na prova de 2013, cujo tema dizia respeito às restrições impostas pela lei seca, 106.742 receberam nota zero.

Em Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Linguagens e Códigos, as médias foram um pouco superiores às registradas em 2013. As variações foram de 2,3%, 5,4% e 3,9%, respectivamente. No quadro geral, considerando as cinco provas aplicadas, a média de 2014 foi de 499 pontos, ante 504,3 pontos na prova anterior - uma queda de 1%.

Na prática, os números do Enem - que serão utilizados para ingresso no ensino superior - apontam as deficiências dos alunos da 3.ª série do ensino médio em capacidade de leitura e escrita e no domínio de técnicas matemáticas elementares. Mostram ainda que, além de não saber escrever e compreender o que leem e de conhecer pouco mais do que as quatro operações aritméticas, os estudantes chegam ao fim do ensino básico sem dominar conceitos fundamentais de ciência e sem saber aplicar o que aprendem na resolução de problemas práticos da vida cotidiana. "Não dá para fugir ou camuflar", disse o ministro da Educação, Cid Gomes, depois de reconhecer que a qualidade da rede de ensino público está "aquém do desejável".

Apesar de retratar um quadro trágico, os resultados do Enem não são novidade. A perda de qualidade da educação brasileira já atingiu todos os níveis de ensino, como comprovam mecanismos nacionais de avaliação e rankings comparativos dos organismos multilaterais. No Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que é coordenado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, tanto em leitura e linguagem quanto em matemática e em ciências o Brasil tem ficado no batalhão dos piores classificados entre mais de 65 países.

Como consequência, o Brasil não produz o capital humano necessário à redução da pobreza e ao crescimento econômico. Permanece, assim, muito abaixo dos padrões necessários a uma economia competitiva e capaz de conquistar espaços no mercado mundial. Nossos principais competidores no comércio internacional têm padrões educacionais muito melhores.

Nos últimos anos, o governo da presidente Dilma deixou-se levar pela ilusão de que esse quadro poderia ser revertido com aumento dos recursos para o setor educacional, graças aos royalties do petróleo e aos ganhos do pré-sal. Mas o que a educação precisa é de gestão competente e de um conjunto integrado de ações que envolvam planejamento, metas realistas, prêmios para os melhores professores, remuneração atraente e melhor avaliação de resultados. A escolha do slogan "Brasil, Pátria Educadora", feita por Dilma para marcar seu segundo mandato, não significa necessariamente que ela conseguirá promover essas ações. Mas é uma forma indireta de reconhecer a maneira inepta com que administrou o setor em seu primeiro mandato, quando teve três ministros da Educação, dos quais só um era especialista na área.


Enem: crônica da tragédia anunciada - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 15/01

Assusta, mas não surpreende o anúncio de que 529 mil estudantes tiraram zero na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Maus desempenhos têm se sucedido ano após ano. A diferença é que o mal se agrava. Em 2013, 106 mil estudantes não pontuaram, cinco vezes menos que na edição de 2014.

Os números do Enem nada mais são do que o retrato da degradação do ensino ao longo dos anos. Apesar de o diagnóstico ser amplamente conhecido, não se adota nenhuma medida eficaz para evitar o avanço da doença. Esperar resultado diferente com o mesmo jogo e as mesmas regras é acreditar em milagre ou em Papai Noel.

Da engrenagem que compõe o sistema de ensino, o professor ganha relevo. Dele depende não só o encaminhamento da aula mas também a seleção do conteúdo, a escolha do livro didático e o preparo dos recursos necessários à aprendizagem. Aí reside a maior tragédia da tragédia em que se transformou a educação nacional.

Décadas de negligência tornaram o magistério carreira de segunda classe. Os talentos que sobressaem no ensino médio fogem dos cursos de letras, história, geografia, matemática. Com raras exceções, só se candidata a uma vaga nessas especialidades quem fracassa nas demais. A demanda diminui a cada semestre.

Não é outra a razão por que universidades de norte a sul do país anunciaram o fechamento das faculdades que preparam docentes. Algumas mantêm apenas o ensino a distância. Resultado: faltam professores. Escolas passam meses e meses sem oferecer disciplinas das áreas biológicas ou exatas por não conseguirem atrair interessados nas vagas.

A dificuldade não se restringe às escolas públicas. Atinge também as particulares. O problema exige medidas urgentes e sérias sob pena de comprometer - ainda mais - o futuro nacional. Profissional incapaz de entender um manual de instrução ou de se expressar oral e por escrito com correção e clareza não tem vez no mercado de trabalho. Nem o país tem vez no disputado clube globalizado.

Impõe-se atrair as melhores inteligências para o magistério. O ímã vai além de salário similar ou superior ao pago às mais promissoras carreiras de nível superior. Passa, necessariamente, por plano de carreira que estimule a constante qualificação e premie resultados. Sem encarar com firmeza a questão, continuaremos o jogo do faz de conta.

É o caso do exame on-line anunciado pelo ministro da Educação. Fazer o teste no papel ou na tela equivale a substituir o livro pelo tablet. Com os mesmos professores, mesmos alunos, mesmo ensino, mesmo material didático, atualiza-se a frase de Albert Einstein. "Loucura", disse o criador da teoria da relatividade, "é fazer tudo do mesmo jeito e esperar resultado diferente."


Como está fica - VERA MAGALHÃES

FOLHA DE SP - 15/01

Dilma Rousseff decidiu ontem manter, por ora, as cúpulas dos três principais bancos públicos federais. Com isso, Luciano Coutinho continua à frente do BNDES, Aldemir Bendine fica na presidência do Banco do Brasil e Jorge Hereda permanece no comando da Caixa. A decisão de Dilma deixa dúvida sobre o futuro da ex-ministra Miriam Belchior, que era cotada para a presidência da Caixa. Alexandre Abreu e Paulo Caffarelli, que podiam ir para os outros bancos, também têm destino incerto.


Efeito... A prisão de Nestor Cerveró despertou entre caciques do PMDB e do PT o receio de que a Justiça leve para a cadeia também Jorge Zelada e Renato Duque --este pela segunda vez.

... dominó Para petistas e peemedebistas, a prisão é sinal de que a força-tarefa da Operação Lava Jato mantém no alvo os ex-diretores da Petrobras. Eles temem que a investigação avance sobre a relação estreita de Zelada com o PMDB e de Duque com o PT.

Mira Solto em dezembro, Duque foi acusado de receber propina "em mais de sessenta contratos", segundo o ex-gerente Pedro Barusco, seu auxiliar. Barusco também disse que Zelada recebeu dinheiro do esquema de corrupção "excepcionalmente".

Sabático Assim como Ricardo Pessoa, da UTC, o presidente da OAS, Léo Pinheiro, enviou carta aos acionistas e diretores da empreiteira em dezembro comunicando seu afastamento "das atividades executivas das empresas do grupo".

Todos por um PSDB, DEM e PPS coletaram assinaturas em dezembro para abrir uma nova CPI da Petrobras, mas cada partido redigiu uma justificativa diferente para a investigação. O trabalho precisará ser unificado.

Agora vai Um petista ironiza o anúncio de apoio do PMDB a Eduardo Cunha (RJ): "Quer dizer que, depois de todos os meses de campanha, ele finalmente conseguiu adesão do próprio partido?".

Folia Articuladores do PSDB na Câmara admitem que será impossível impedir votos em Cunha, apesar do apoio oficial a Julio Delgado (PSB-MG). "Com voto secreto, vai ser o samba do crioulo doido", prevê um tucano.

Poço O governo federal não recebeu do governo de São Paulo qualquer plano de contingência para o caso de desabastecimento no Estado, apesar de a Sabesp admitir que o Cantareira pode secar.

Aridez Autoridades federais acreditam que o nível do Cantareira vai cair em um ritmo mais rápido do que o projetado, uma vez que dados meteorológicos apontam que janeiro deve ser mais seco que o mesmo mês de 2014.

Contingência Aliados de Geraldo Alckmin (PSDB) se alarmaram com a fala do governador de que "já existe" racionamento de água em São Paulo e saíram a campo para tentar dizer que o tucano foi "mal interpretado".

Despejo A nova Executiva do PP-SP, presidida pelo deputado Guilherme Mussi, trocou as fechaduras da sede do partido, deixando aliados de Paulo Maluf sem a chave.

Uma coisa... Ao contrário da nomeação de Gabriel Chalita (PMDB) para Educação, a ida do PSD para a gestão Fernando Haddad não sinaliza aliança em 2016.

... é uma coisa O objetivo é melhorar a relação do Executivo com a bancada de sete vereadores da sigla.

Visita à Folha Júlio Delgado (MG), líder do PSB e candidato à presidência da Câmara dos Deputados, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Sandra Brasil, assessora de imprensa.

com BRUNO BOGHOSSIAN e PAULO GAMA


TIROTEIO

"Alckmin já deveria ter aprendido que mentira tem perna curta. E, infelizmente para a população, o sistema Cantareira também."

DO EX-MINISTRO ALEXANDRE PADILHA (PT-SP), sobre Geraldo Alckmin ter admitido ontem, pela primeira vez, que 'já existe racionamento' de água.

CONTRAPONTO

O batutinha

Na movimentada posse no Ministério da Cultura, no início da semana, o novo titular da pasta, Juca Ferreira, fez os cumprimentos e saudações habituais. No momento em que agradecia à própria família, chamou a atenção do público para uma ausência:

--Eu queria agradecer à minha mulher, Celina, a meu filho Vicente, à minha filha Dandara. Só não está aqui o pequenininho, que fez ontem quatro anos...

Diante da curiosidade da plateia, explicou:

--Um evento desse tipo é muito maçante para ele. Ele iria quebrar o protocolo excessivamente!

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

Preço do asfalto dispara e para obras pelo País

A Petrobras impôs desde dezembro dois reajustes no preço do asfalto, totalizando 40%, na venda direta, e provocou uma das mais graves crises nas empresas de pequeno e médio portes que trabalham na construção e recuperação de rodovias. As empresas alegam que não podem cumprir contratos em vigor com aumento tão expressivo do produto. Agora pedem ao DNIT “readequação” dos seus contratos.

Demissões

O desequilíbrio provocado pelo novo preço do asfalto vai provocar um corte que pode chegar a 90% dos trabalhadores, nos canteiros de obra, Brasil afora.

Petróleo caiu

O aumento da Petrobras ocorre no período em que o petróleo, do qual o asfalto é derivado, tem hoje o menor valor dos últimos seis anos.

Caso sério

DNIT e TCU já discutem a crise gerada pelo aumento do preço do asfalto, mas ainda não há solução para evitar a paralisação das obras.

À espera

O governo do DF espera até o dia 1º que a ex-primeira-dama Karina Rosso assuma a boquinha na qual foi nomeada. Ela já viajou em férias.

desinformação da Abin irrita Dilma. Dilma anda tão irritada com seus arapongas que – segundo adverte um ministro com gabinete no Planalto – se alguém apresentar a ideia de extinguir a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), ela topa na hora. Dilma reclama que até hoje a Abin não conseguiu antecipar, antes da imprensa, qualquer detalhe da operação Lava Jato. “É o órgão de informação mais desinformado que existe”, disse ela a assessores.

Às cegas

Dilma se irrita ao lembrar que teve de definir o ministério ainda sem saber se alguns escolhidos correm o risco de sair do cargo algemado.

Fonte de irritação

As trapalhadas da Abin são antigas. O caso envolvendo sindicalistas no porto do Suape, em 2013, causou grande constrangimento a Dilma.

Sem retorno

Difícil é saber o que os arapongas fazem com um orçamento, na Abin, que é superior ao de ministérios como os do Turismo, Esporte e Pesca.

Olhar vigilante

Quando alguém insiste para Dilma “regular” ou controlar a mídia, ela deveria repetir a célebre frase de Dom Pedro II, diante de idêntica pressão: “De que forma eu saberia como os ministros se comportam?”

Jogo do empurra

Há tensão no PT e no PMDB com a prisão de Nestor Cerveró. Delcídio Amaral (PT-MS) tentou disfarçar, dizendo que o padrinho do ex-diretor da Petrobras era Renan Calheiros, mas é ele o pai da formosura.

Costura feita

A bancada do PT se reunirá no próximo dia 31 para definir seu próximo líder e declarar apoio ao senador Renan Calheiros (AL), que deverá ser indicado pelo PMDB candidato à reeleição na presidência do Senado.

Intensivão

Alguém precisa informar o ex-vendedor de carros Eduardo Braga a denominação correta da repartição que ele chefia: é Ministério de Minas e Energia e não “das Minas e Energia”, como ele tem dito na TV.

Aviso à praça

A notícia de que o ministro Jaques Wagner (Defesa) viveria sozinho em Brasília alertou sua mulher, Fatima Mendonça. Preocupada com eventual assédio do mulherio, avisa: “Ficarei entre Brasília e Salvador!”.

Aplicativo Rose

O Facebook lançou ferramenta que ajuda a encontrar crianças. Deveria ter outra para desvendar o paradeiro de Rose Noronha, amiga muito íntima de Lula processada por tráfico de influência em seu governo.

Portas fechadas

Marta Suplicy não tem chance de se filiar ao PMDB paulistano. Ela precisaria do aval de Gabriel Chalita, presidente municipal da legenda, já convidado para ser vice do prefeito Fernando Haddad em 2016.

Contra o aliciador

O deputado Darcísio Perondi (RS) defendeu ontem na executiva nacional do PMDB uma reação à tentativa do ministro Gilberto Kassab (Cidades) de aliciar peemedebistas para o novo Partido Liberal.

Pensando bem...

...foi de cair o olho a surpresa da prisão de Nestor Cerveró em plena madrugada, no aeroporto internacional do Rio.


PODER SEM PUDOR

Aliança árabe-judaica

O então presidente nacional da OAB, Cezar Britto, e Wadih Damous, da OAB-Rio, deixavam o Supremo Tribunal Federal, onde se queixaram de "abusos" da Polícia Federal contra o direito de defesa de presos pela Operação Hurricane.

À saída, aguardaram o secretário-geral adjunto da OAB, Alberto Toron, que ficara para trás. Wadih brincou com Toron:

- Agradeça-me por não ficar à pé: eu pedi para esperar você.

- É a primeira vez que um árabe ajuda um judeu - respondeu Toron, na bucha - Eu jamais esquecerei esse gesto...