É incrível, mas houve quem comemorasse a alta de 6,41% da inflação em 2014, mesmo com o PIB perto de zero. Esse é um resultado muito ruim e não é toda a verdade, porque parte dos reajustes ficou para 2015. Há uma grande batalha neste ano para inverter a tendência da inflação. Em janeiro, o número deve ficar em torno de 1%, o que deve levar o dado em 12 meses para perto de 7%.
No ano passado, o índice ficou acima do teto da meta por cinco meses; no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff foram 15 meses. Esse resultado é preocupante porque a economia cresceu muito pouco e terminou 2014 estagnada. Há muitas pressões de preço este ano, e uma delas, como todos sabem, é das tarifas de energia. O governo terá que enfrentar o problema acumulado para alcançar o "realismo tarifário".
Durante a campanha, Dilma acusou os adversários de estarem preparando um tarifaço. Pois é. O jornal "Valor Econômico" disse o preço da energia pode subir 40%, o ministro Eduardo Braga disse que não chegará a tanto. O especialista Paulo Steele, da consultoria TR Soluções, ouvido em meu blog, calcula que na média nacional será 28%, mas em alguns estados, como Rio Grande do Sul, pode chegar a 55%.
A atual equipe econômica não pode ser acusada por estes problemas, porque ela está corrigindo erros e eliminando os "jeitinhos" dados na economia e que minavam a confiança na sua solidez. Houve "pedaladas" fiscais e de preços: ou seja, custos e correções foram jogados para os exercícios futuros, para construir falsos números.
O fato é que a taxa de 6,41%, apesar de ser alta, não reflete totalmente as pressões sobre a inflação de 2014. Além da energia, a gasolina foi mantida em valores artificiais durante o primeiro governo. A alta do dólar vem sendo contida pelo programa de swaps do Banco Central. Mesmo assim, a moeda americana subiu bastante e já afeta os índices.
Para janeiro, a projeção do mercado é uma inflação em torno de 1%, por causa da alta do preço da energia e também do reajuste das passagens de ônibus. Com isso, o IPCA acumulado em 12 meses romperá novamente o teto, podendo chegar perto de 7%, de acordo com algumas projeções.
A inflação brasileira está muito acima da média de países desenvolvidos e de outros países emergentes, sejam da América Latina ou da Ásia. O risco mundial hoje é outro, de deflação, como se vê na Europa, no Japão e nos Estados Unidos. Exceto Argentina e Venezuela, os outros países da região têm desempenho melhor do que o Brasil.
Em seis capitais, o índice de 2014 ficou acima do teto. No Rio de Janeiro, chegou a 7,6%. Em Goiânia, 7,2%. A taxa mais baixa foi a de Salvador, com variação de 5,76%, ainda distante da meta, que é 4,5%. Os alimentos subiram 8%, as despesas pessoas, 8,39%, e os gastos com educação aumentaram 8,45%. O grupo saúde e cuidados pessoais aumentou 6,97%.
A melhor notícia para a inflação deste ano vem de fora. O derretimento do preço do petróleo no mercado internacional. Em situações normais, o preço da gasolina despencaria no Brasil - como está caindo em outros países - mas aqui, se cair, será pouco porque o governo deve aumentar a Cide, e a Petrobras precisa recuperar o que perdeu em anos anteriores, quando vendeu gasolina abaixo do preço que teve que pagar.
Os novos ministros da Fazenda e do Planejamento e o presidente do Banco Central terão um duro trabalho pela frente para corrigir os problemas que se acumularam na economia. A boa notícia é que eles estão determinados a enfrentar e corrigir distorções, mudar as escolhas e buscar uma inflação mais baixa e maior crescimento. Não conseguirão isso da noite para o dia. É fácil fazer o errado; o certo leva mais tempo.
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