O ESTADO DE S. PAULO - 07/06
Pior do que a retração de 0,2% do PIB no primeiro trimestre é a crescente desesperança com uma revirada na economia prometida pelo ministro Joaquim Levy para começar no segundo semestre. Em quase dois anos e sete trimestres seguidos - comprova o IBGE - os investimentos não param de cair e as empresas contraem a produção diante de um cenário recessivo, com aumento do desemprego, queda da renda salarial, famílias consumindo menos e crescimento da inadimplência. Arrecadação de impostos em queda, os governos (federal, estadual e municipal) cortam antigos e novos projetos de investimento.
No plano político, o Congresso e o PT mais atrapalham do que ajudam o ministro Levy a recolocar a economia nos trilhos e dar início à retomada do crescimento. Parcela expressiva do PT quer ver o ministro da Fazenda demitido, inclusive a corrente do ex-secretário do Tesouro Arno Augustin, aquele que inventou a "nova matriz econômica", as pedaladas fiscais, os empréstimos entre o governo e bancos públicos e o que mais servisse para maquiar a contabilidade pública, cuja legalidade é hoje questionada pelo Tribunal de Contas da União e ameaça reprovar as contas do primeiro mandato de Dilma.
Se o presente vai mal, a saída é cobri-lo com um véu não muito transparente, deixá-lo de lado e dar visibilidade a um discurso otimista com o futuro, seja ou não ele viável. Lula fez isso em 2003. Prometeu o "espetáculo do crescimento" para julho de 2003, errou na data, mas acertou no ano seguinte (em 2003 o PIB cresceu 1,1%, mas avançou para 5,7% em 2004). Agora Lula quer repetir o feito, mas ignora que há um abismo entre os dois momentos (em 2003 a economia externa ajudou e muito, o ex-ministro Palocci rapidamente recuperou a confiança no governo, o PT ficou quietinho vendo desmoronar as maluquices do passado e Lula cumpriu com talento o papel de showman - tudo muito diferente de 2015).
Nos últimos dias, parece ter partido do Palácio do Planalto a ordem: parem de falar do presente, falem do futuro com otimismo. No mesmo dia em que o IBGE anunciou um recuo de 0,2% do PIB, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, prometia que os leilões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos começam já em 2015 e serão seguidos e contínuos (não forneceu cronogramas e datas para acontecerem). Haja investidores para tanto leilão. Os de sempre estão neutralizados: as empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato, os fundos de pensão de estatais descapitalizados às voltas com déficits gigantes e o BNDES com orçamento encolhido e limites para financiar projetos licitados.
A agenda positiva continuou na terça-feira, com o anúncio do plano de safra, que elevou em 20% os recursos para a agricultura. A presidente Dilma, o vice, Michel Temer, e o ministro Mercadante foram lá prestigiar o grande ato. Declarações aqui e ali de ministros e de dirigentes de estatais tentam reforçar o otimismo com o futuro. Só que a população vive a realidade do presente com perda de quase 1 milhão de empregos formais em um ano, a inflação comendo o poder de compra, a indústria encolhendo produção e empregos e reajustes salariais abaixo da inflação.
Em 2003 o "espetáculo do crescimento" de Lula funcionou, mas agora o momento é outro, muito diferente. Além de as crises econômicas, interna e externa, não ajudarem - tantos foram os erros do primeiro mandato de Dilma e as tentativas de enganar e driblar a realidade -, a população ficou ressabiada, desconfiada quando ouve o governo falar do futuro.
Recuperara confiança agora implica reconhecer esses erros, corrigi-los e mostrar caminhos confiáveis e competentes para retomar os investimentos. Mas sem enganar, dentro do real, sem discursos ilusórios e vazios em relação ao futuro. É seguir contra a corriqueira e desacreditada reação do ex-ministro Guido Mantega todas as vezes que analisava publicamente indicadores econômicos negativos: sem fundamentos para argumentar, ele garantia que o futuro reservava dias melhores para o País e os brasileiros. E o futuro de Mantega não chegava, só piorava.
domingo, junho 07, 2015
Criminocracia - TONY BELLOTTO
O GLOBO - 07/06
Para a roubalheira nunca escasseiam recursos e soluções criativas
“Em uma palavra, a desmoralização era geral. Clero, nobreza e povo estavam todos pervertidos.”
Joaquim Manuel de Macedo, “Um passeio pela cidade do Rio de Janeiro” (1862-3)
Ufane-se, leitor. Estamos afanando como nunca. A República das Bananas foi promovida a República dos Ladrões. Se nossos índices de desenvolvimento são pífios, continuamos referência mundial em roubo, corrupção, sonegação, propina, apropriação indébita, furto, desvio de dinheiro público, latrocínios variados, homicídios diversos e picaretagens em geral. E agora estamos bombando também na modalidade “esfaqueamentos públicos”. Falta dinheiro para educação, saúde, transporte, segurança etc., mas para a roubalheira nunca escasseiam os recursos e as soluções criativas. O crime se espalha por todas as camadas de nossa sociedade, comprovando o teor suprapartidário e ecumênico da rapinagem brasileira. A desonestidade grassa nas artes, ciências e profissões liberais. Há bandidos nas classes altas — empresários sonegadores, banqueiros ladrões, executivos corruptos e administradores propineiros —; abundam criminosos na política e governantes foliões do bloco do “rouba mas faz”; multiplicam-se criminosos na polícia e ladrões no clero, coroinhas desonestos, padres vigaristas, pastores safados, sargentos achacadores, cabos assassinos e juízes larápios; perambulam por nossas ruas estelionatários de classe média, traficantes playboys, bandidos de classe C, punguistas miseráveis, mendigos homicidas e ladrões de toda espécie, além dos contraventores, traficantes, criminosos de colarinho branco e matadores profissionais de praxe. Somos uma potência na roubalheira e na bandidagem. Do rico empresário flagrado em propinas internacionais ao adolescente que assassinou a facadas o médico Jaime Gold na Lagoa, o crime se impõe democraticamente como o inexorável destino da Pátria Esfaqueadora. Venha, leitor, permita-me conduzi-lo a um rápido passeio pelo sinistro panteão dos bandidos pátrios. Por aqui, por favor.
Lampião
Note, à direita, Virgulino Ferreira da Silva, o cangaceiro que barbarizou o interior de estados do Nordeste brasileiro no início do século XX. Cometeu roubos, sequestros, assassinatos, torturas, mutilações, estupros e saques. Pelo conjunto da obra, tornou-se nosso bandido essencial, um mito com ares de revolucionário político.
Gino Meneghetti
Veja ali, no outro lado, o italiano que chegou a São Paulo em 1913 já com a reputação de ladrão perigoso, tornou-se famoso por seu temperamento afável e foi apelidado pela imprensa de “bom ladrão”. Era também conhecido como o “gato de telhado” pela facilidade com que se locomovia pelos telhados paulistanos em fuga da polícia. Um simpático Fred Astaire da ladroagem
Cara de Cavalo
Vamos andar mais rápido, venha. Durante a ditadura militar, por afrontarem o governo golpista, bandidos comuns, ainda que facínoras banais, ganhavam status de heróis. Manoel Moreira era um proxeneta ligado ao jogo do bicho que nas horas vagas vendia maconha na Central do Brasil. Em 1964 matou o detetive que organizara o Scuderie Le Cocq, que, ao contrário do que o nome sugere, não era um salão de beleza, mas um esquadrão clandestino especializado em eliminar bandidos. Um mês depois, Cara de Cavalo era executado pela polícia. Foi imortalizado pelo artista plástico Hélio Oiticica no poema-bandeira “seja marginal, seja herói”.
O Bandido da Luz Vermelha
Ali, veja. João Acácio Pereira da Costa assaltava casas em São Paulo munido de uma lanterna de bocal vermelho, que lhe rendeu o apelido. Foi preso em 1967 e só saiu da prisão 30 anos depois, para morrer no ano seguinte numa briga de bar em Joinville. Inspirou o filme “O bandido da luz vermelha”, de Rogério Sganzerla, um clássico do cinema underground nacional.
Ronald Biggs
Venha, olhe ali, à esquerda. O mais popular dos ladrões internacionais que recebemos com nossa brejeira hospitalidade! Biggs participara do famoso assalto ao trem postal em Buckinghamshire, Inglaterra, em 1963, mas foi preso no ano seguinte. Em 1965 fugiu de uma penitenciária em Londres e na década de 1970 veio parar no Rio de Janeiro. Aqui tornou-se uma celebridade, e costumava dar autógrafos e posar para fotos com turistas. Participou do documentário “The great rock’n’roll swindle”, de Julian Temple, sobre os Sex Pistols.
Escadinha
José Carlos dos Reis Encina, traficante de drogas nos anos 1970 e 1980, foi o fundador, junto com o irmão Paulo Maluco, da Falange Vermelha, organização criminosa que mais tarde se tornou o Comando Vermelho. Outro grande feito de Escadinha foi a fuga do presídio de Ilha Grande, em 1986, resgatado por um helicóptero. O episódio inspirou a música “Sambadrome”, da banda inglesa Big Audio Dynamite.
Chega.
Cansou? Eu também. Mas não consigo achar a saída desse panteão, desculpe. Caímos num labirinto. Teremos de nos acostumar a cidadãos indefesos esfaqueados e iates comprados com dinheiro público desviado. Por aqui, por favor…
Para a roubalheira nunca escasseiam recursos e soluções criativas
“Em uma palavra, a desmoralização era geral. Clero, nobreza e povo estavam todos pervertidos.”
Joaquim Manuel de Macedo, “Um passeio pela cidade do Rio de Janeiro” (1862-3)
Ufane-se, leitor. Estamos afanando como nunca. A República das Bananas foi promovida a República dos Ladrões. Se nossos índices de desenvolvimento são pífios, continuamos referência mundial em roubo, corrupção, sonegação, propina, apropriação indébita, furto, desvio de dinheiro público, latrocínios variados, homicídios diversos e picaretagens em geral. E agora estamos bombando também na modalidade “esfaqueamentos públicos”. Falta dinheiro para educação, saúde, transporte, segurança etc., mas para a roubalheira nunca escasseiam os recursos e as soluções criativas. O crime se espalha por todas as camadas de nossa sociedade, comprovando o teor suprapartidário e ecumênico da rapinagem brasileira. A desonestidade grassa nas artes, ciências e profissões liberais. Há bandidos nas classes altas — empresários sonegadores, banqueiros ladrões, executivos corruptos e administradores propineiros —; abundam criminosos na política e governantes foliões do bloco do “rouba mas faz”; multiplicam-se criminosos na polícia e ladrões no clero, coroinhas desonestos, padres vigaristas, pastores safados, sargentos achacadores, cabos assassinos e juízes larápios; perambulam por nossas ruas estelionatários de classe média, traficantes playboys, bandidos de classe C, punguistas miseráveis, mendigos homicidas e ladrões de toda espécie, além dos contraventores, traficantes, criminosos de colarinho branco e matadores profissionais de praxe. Somos uma potência na roubalheira e na bandidagem. Do rico empresário flagrado em propinas internacionais ao adolescente que assassinou a facadas o médico Jaime Gold na Lagoa, o crime se impõe democraticamente como o inexorável destino da Pátria Esfaqueadora. Venha, leitor, permita-me conduzi-lo a um rápido passeio pelo sinistro panteão dos bandidos pátrios. Por aqui, por favor.
Lampião
Note, à direita, Virgulino Ferreira da Silva, o cangaceiro que barbarizou o interior de estados do Nordeste brasileiro no início do século XX. Cometeu roubos, sequestros, assassinatos, torturas, mutilações, estupros e saques. Pelo conjunto da obra, tornou-se nosso bandido essencial, um mito com ares de revolucionário político.
Gino Meneghetti
Veja ali, no outro lado, o italiano que chegou a São Paulo em 1913 já com a reputação de ladrão perigoso, tornou-se famoso por seu temperamento afável e foi apelidado pela imprensa de “bom ladrão”. Era também conhecido como o “gato de telhado” pela facilidade com que se locomovia pelos telhados paulistanos em fuga da polícia. Um simpático Fred Astaire da ladroagem
Cara de Cavalo
Vamos andar mais rápido, venha. Durante a ditadura militar, por afrontarem o governo golpista, bandidos comuns, ainda que facínoras banais, ganhavam status de heróis. Manoel Moreira era um proxeneta ligado ao jogo do bicho que nas horas vagas vendia maconha na Central do Brasil. Em 1964 matou o detetive que organizara o Scuderie Le Cocq, que, ao contrário do que o nome sugere, não era um salão de beleza, mas um esquadrão clandestino especializado em eliminar bandidos. Um mês depois, Cara de Cavalo era executado pela polícia. Foi imortalizado pelo artista plástico Hélio Oiticica no poema-bandeira “seja marginal, seja herói”.
O Bandido da Luz Vermelha
Ali, veja. João Acácio Pereira da Costa assaltava casas em São Paulo munido de uma lanterna de bocal vermelho, que lhe rendeu o apelido. Foi preso em 1967 e só saiu da prisão 30 anos depois, para morrer no ano seguinte numa briga de bar em Joinville. Inspirou o filme “O bandido da luz vermelha”, de Rogério Sganzerla, um clássico do cinema underground nacional.
Ronald Biggs
Venha, olhe ali, à esquerda. O mais popular dos ladrões internacionais que recebemos com nossa brejeira hospitalidade! Biggs participara do famoso assalto ao trem postal em Buckinghamshire, Inglaterra, em 1963, mas foi preso no ano seguinte. Em 1965 fugiu de uma penitenciária em Londres e na década de 1970 veio parar no Rio de Janeiro. Aqui tornou-se uma celebridade, e costumava dar autógrafos e posar para fotos com turistas. Participou do documentário “The great rock’n’roll swindle”, de Julian Temple, sobre os Sex Pistols.
Escadinha
José Carlos dos Reis Encina, traficante de drogas nos anos 1970 e 1980, foi o fundador, junto com o irmão Paulo Maluco, da Falange Vermelha, organização criminosa que mais tarde se tornou o Comando Vermelho. Outro grande feito de Escadinha foi a fuga do presídio de Ilha Grande, em 1986, resgatado por um helicóptero. O episódio inspirou a música “Sambadrome”, da banda inglesa Big Audio Dynamite.
Chega.
Cansou? Eu também. Mas não consigo achar a saída desse panteão, desculpe. Caímos num labirinto. Teremos de nos acostumar a cidadãos indefesos esfaqueados e iates comprados com dinheiro público desviado. Por aqui, por favor…
E depois da recessão? - AFFONSO CELSO PASTORE
O ESTADO DE S. PAULO - 07/06
Ajuste fiscal vem sendo feito por um governo enfraquecido
Em um artigo publicado na revista Econométrica, em 1937 (The Summation of Random Causes as the Source of Cyclic Processes), Eugen Slutzky deu contribuição importante para estabelecer qual é a natureza dos ciclos econômicos, que é muito diferente da natureza dos ciclos na física. Ele demonstrou que uma série de choques independentes entre si podem ser somados reproduzindo as propriedades cíclicas de variáveis econômicas, o que adicionado à contribuição de Ragnar Frisch estabeleceu que os ciclos econômicos são a consequência da superposição de "choques" seguidos de "mecanismos de propagação".
Naquele artigo, através da aplicação de uma média móvel a uma série de números ao acaso - as extrações da loteria de Moscou-, Slutzky gerou uma série que foi comparada com a produção industrial na Inglaterra entre 1855 e 1878.A correspondência entre as duas séries é verdadeiramente assombrosa! Contrariamente aos ciclos na física, que têm periodicidade e amplitudes de oscilação fixas, a trajetória dos ciclos econômicos é probabilística e não passível de previsão usando fórmulas matemáticas.
No Brasil, a tarefa de datação dos ciclos econômicos é realizada pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), da FGV, com base em estatísticas econômicas expressas em nível, dentre as quais se sobressai o PIB. O ponto de máximo local (o pico) do ciclo marca o final de um período de expansão, que é seguido no próximo trimestre pelo início de uma recessão, cujo ponto de mínimo local (o vale) marca o seu final, quando se inicia uma fase de expansão. Nos últimos 30 anos, o Codace encontrou oito ciclos de negócios completos no Brasil. A recessão mais longa, medida pelo período entre o pico e ovale, durou 11 trimestres, mas ocorreram recessões de 9,6,5 e 3 trimestres, além de outras três com duração de apenas dois trimestres, embora com distâncias verticais entre o pico e o vale muito diferentes. A história relatada pelo Codace mostra que o caso brasileiro não é exceção à caracterização de Slutzky e Frisch, e reforça que não existem dois ciclos econômicos iguais.
Essa caracterização dos ciclos econômicos, contudo, não inibiu o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, quando do anúncio do contingenciamento de R$ 69,9 bilhões, de usar o exemplo de como o Brasil saiu da crise de 2008/2009 para afirmar que, de uma forma quase mecânica, estaremos repetindo o passado e retomando o crescimento ainda na segunda metade de 2015. Recessões não são eternas, e esta também chegará ao final. Mas todas as indicações são de que ela será mais longa do que a de 2008/2009, e quando encerrada - em data incerta - não dará lugar a um período de crescimento econômico mais elevado, e sim a um período de crescimento muito baixo,próximo da estagnação. Por quê?
Primeiro, a crise de 2008/2009 pegou o Brasil com a "casa macroeconômica" arrumada, dando-lhe amplas alternativas para reagir ao "choque" vindo de fora. Entre 2003 e 2007, os superávits primários flutuavam em torno de 3,5% do PIB, permitindo que o governo lançasse mão de reduções de impostos e elevações de gastos para estimular a demanda agregada. Como a inflação era baixa e as expectativas de inflação estavam firmemente ancoradas, o Banco Central podia baixara taxa de juros e reduzir o recolhimento compulsório sobre depósitos, estimulando o crédito. Finalmente, a queda dos preços internacionais de commodities e do volume mundial de comércio tiveram durações muito curtas, sendo seguidas de uma explosão de crescimento, estimulando as nossas exportações que contribuíram para expandir ainda mais a demanda agregada, sustentando o crescimento acelerado em 2010.
Nada disso ocorre atualmente. No plano externo, assistimos a uma tendência de queda de preços de commodities aliado ao medíocre crescimento das exportações mundiais, que não deverá se alterar tão cedo, levando à queda das exportações brasileiras. No plano interno, o governo foi forçado a reconstruir o regime macroeconômico que havia sido destruído com a adesão à "nova matriz de política econômica", entre 2011 e 2014. O ajuste se iniciou comum a forte correção na política fiscal, cujas metas de superávit primário ainda são insuficientes para colocar a relação dívida/PIB em trajetória de queda. Tal ajuste está longe de ter se completado, devendo se aprofundar em 2016. Foi necessário um forte aperto monetário não somente para ancoraras expectativas, como para conter os efeitos da "inflação corretiva" que decorreu da eliminação da desastrada contenção dos reajustes dos preços administrados.
Fragilidade. O dramático é que esse ajuste vem sendo feito por um governo enfraquecido e fragmentado, cuja fragilidade tende a se acentuar com o aprofundamento das correções necessárias. Cada aperto adicional na política fiscal tem reflexos na atividade econômica e na arrecadação tributária, reduzindo-a e obrigando a novos cortes de gastos, que não somente geram maior resistência política à sua aprovação como acentuam a queda de receita, fechando-se um círculo vicioso no qual o apoio político ao ajuste se reduz, dificultando-o. Governos politicamente fortes teriam dificuldades em manter a rota de um ajuste dessa magnitude, e as dificuldades são bem maiores no caso de um governo como o atual, que não tem maior suporte político.
Até onde o governo está disposto a manter o ajuste? Se houvesse plena confiança no seu sucesso, as cotações do CDS brasileiro já teriam caído aos níveis atuais e, no entanto, se mantêm acima das cotações existentes em 2013 e 2014 quando a política fiscal ainda era comandada por Mantega dentro dos princípios da "nova matriz", que levou o Brasil à frágil situação atual. O veredicto do mercado se reflete nas cotações do CDS cujo preço não indica um risco imediato de perda de grau de investimento, mas que está longe de atestar um grau elevado de confiança no sucesso da tarefa que vem sendo executada pelo ministro Levy com grande competência, porém sem o apoio suficiente.
De onde virá o impulso ao crescimento? Não contando mais com o impulso da "bonança externa" que caracterizou os anos anteriores à crise de 2008/2009, o Brasil terá de buscar novos caminhos. Significa sua adesão a um novo "modelo de crescimento", que não implica em abandonar o esforço de prosseguir na rota da inclusão social ocorrida nos últimos anos, e sim no reconhecimento de que esta tem de vir com crescimento. Teria de ingressar em um ciclo de reformas no qual abandonasse a prática de "escolher os vencedores",premiando-os, entre outros, com tarifas sobre importações; crédito subsidiado por parte de bancos oficiais; reduções direcionadas de impostos.Teria de buscar os benefícios da abertura da economia ao comércio exterior, usando o aumento de importações para baratear os custos de produção, permitindo ganhos de competitividade que elevem as exportações. Os estímulos deveriam ser direcionados à busca por parte dos empresários de formas de elevar a produtividade e os lucros, através de ações dirigidas a todos, e não a alguns, apenas.
Mas isso seria uma guinada na direção de um modelo "liberal", que não traz para o governo o mesmo número de votos trazido pela política passada. Temo que o governo não tenha coragem de seguir esse caminho, ficando em um ajuste que evita que o Brasil perca o "grau de investimento", mas que não chegue ao ponto de redirecionar os estímulos para uma retomada do crescimento econômico em bases sólidas e sustentadas.A duras penas sairemos da recessão, mas o risco é que na sequência tenhamos um longo período de baixo crescimento econômico.
Ajuste fiscal vem sendo feito por um governo enfraquecido
Em um artigo publicado na revista Econométrica, em 1937 (The Summation of Random Causes as the Source of Cyclic Processes), Eugen Slutzky deu contribuição importante para estabelecer qual é a natureza dos ciclos econômicos, que é muito diferente da natureza dos ciclos na física. Ele demonstrou que uma série de choques independentes entre si podem ser somados reproduzindo as propriedades cíclicas de variáveis econômicas, o que adicionado à contribuição de Ragnar Frisch estabeleceu que os ciclos econômicos são a consequência da superposição de "choques" seguidos de "mecanismos de propagação".
Naquele artigo, através da aplicação de uma média móvel a uma série de números ao acaso - as extrações da loteria de Moscou-, Slutzky gerou uma série que foi comparada com a produção industrial na Inglaterra entre 1855 e 1878.A correspondência entre as duas séries é verdadeiramente assombrosa! Contrariamente aos ciclos na física, que têm periodicidade e amplitudes de oscilação fixas, a trajetória dos ciclos econômicos é probabilística e não passível de previsão usando fórmulas matemáticas.
No Brasil, a tarefa de datação dos ciclos econômicos é realizada pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), da FGV, com base em estatísticas econômicas expressas em nível, dentre as quais se sobressai o PIB. O ponto de máximo local (o pico) do ciclo marca o final de um período de expansão, que é seguido no próximo trimestre pelo início de uma recessão, cujo ponto de mínimo local (o vale) marca o seu final, quando se inicia uma fase de expansão. Nos últimos 30 anos, o Codace encontrou oito ciclos de negócios completos no Brasil. A recessão mais longa, medida pelo período entre o pico e ovale, durou 11 trimestres, mas ocorreram recessões de 9,6,5 e 3 trimestres, além de outras três com duração de apenas dois trimestres, embora com distâncias verticais entre o pico e o vale muito diferentes. A história relatada pelo Codace mostra que o caso brasileiro não é exceção à caracterização de Slutzky e Frisch, e reforça que não existem dois ciclos econômicos iguais.
Essa caracterização dos ciclos econômicos, contudo, não inibiu o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, quando do anúncio do contingenciamento de R$ 69,9 bilhões, de usar o exemplo de como o Brasil saiu da crise de 2008/2009 para afirmar que, de uma forma quase mecânica, estaremos repetindo o passado e retomando o crescimento ainda na segunda metade de 2015. Recessões não são eternas, e esta também chegará ao final. Mas todas as indicações são de que ela será mais longa do que a de 2008/2009, e quando encerrada - em data incerta - não dará lugar a um período de crescimento econômico mais elevado, e sim a um período de crescimento muito baixo,próximo da estagnação. Por quê?
Primeiro, a crise de 2008/2009 pegou o Brasil com a "casa macroeconômica" arrumada, dando-lhe amplas alternativas para reagir ao "choque" vindo de fora. Entre 2003 e 2007, os superávits primários flutuavam em torno de 3,5% do PIB, permitindo que o governo lançasse mão de reduções de impostos e elevações de gastos para estimular a demanda agregada. Como a inflação era baixa e as expectativas de inflação estavam firmemente ancoradas, o Banco Central podia baixara taxa de juros e reduzir o recolhimento compulsório sobre depósitos, estimulando o crédito. Finalmente, a queda dos preços internacionais de commodities e do volume mundial de comércio tiveram durações muito curtas, sendo seguidas de uma explosão de crescimento, estimulando as nossas exportações que contribuíram para expandir ainda mais a demanda agregada, sustentando o crescimento acelerado em 2010.
Nada disso ocorre atualmente. No plano externo, assistimos a uma tendência de queda de preços de commodities aliado ao medíocre crescimento das exportações mundiais, que não deverá se alterar tão cedo, levando à queda das exportações brasileiras. No plano interno, o governo foi forçado a reconstruir o regime macroeconômico que havia sido destruído com a adesão à "nova matriz de política econômica", entre 2011 e 2014. O ajuste se iniciou comum a forte correção na política fiscal, cujas metas de superávit primário ainda são insuficientes para colocar a relação dívida/PIB em trajetória de queda. Tal ajuste está longe de ter se completado, devendo se aprofundar em 2016. Foi necessário um forte aperto monetário não somente para ancoraras expectativas, como para conter os efeitos da "inflação corretiva" que decorreu da eliminação da desastrada contenção dos reajustes dos preços administrados.
Fragilidade. O dramático é que esse ajuste vem sendo feito por um governo enfraquecido e fragmentado, cuja fragilidade tende a se acentuar com o aprofundamento das correções necessárias. Cada aperto adicional na política fiscal tem reflexos na atividade econômica e na arrecadação tributária, reduzindo-a e obrigando a novos cortes de gastos, que não somente geram maior resistência política à sua aprovação como acentuam a queda de receita, fechando-se um círculo vicioso no qual o apoio político ao ajuste se reduz, dificultando-o. Governos politicamente fortes teriam dificuldades em manter a rota de um ajuste dessa magnitude, e as dificuldades são bem maiores no caso de um governo como o atual, que não tem maior suporte político.
Até onde o governo está disposto a manter o ajuste? Se houvesse plena confiança no seu sucesso, as cotações do CDS brasileiro já teriam caído aos níveis atuais e, no entanto, se mantêm acima das cotações existentes em 2013 e 2014 quando a política fiscal ainda era comandada por Mantega dentro dos princípios da "nova matriz", que levou o Brasil à frágil situação atual. O veredicto do mercado se reflete nas cotações do CDS cujo preço não indica um risco imediato de perda de grau de investimento, mas que está longe de atestar um grau elevado de confiança no sucesso da tarefa que vem sendo executada pelo ministro Levy com grande competência, porém sem o apoio suficiente.
De onde virá o impulso ao crescimento? Não contando mais com o impulso da "bonança externa" que caracterizou os anos anteriores à crise de 2008/2009, o Brasil terá de buscar novos caminhos. Significa sua adesão a um novo "modelo de crescimento", que não implica em abandonar o esforço de prosseguir na rota da inclusão social ocorrida nos últimos anos, e sim no reconhecimento de que esta tem de vir com crescimento. Teria de ingressar em um ciclo de reformas no qual abandonasse a prática de "escolher os vencedores",premiando-os, entre outros, com tarifas sobre importações; crédito subsidiado por parte de bancos oficiais; reduções direcionadas de impostos.Teria de buscar os benefícios da abertura da economia ao comércio exterior, usando o aumento de importações para baratear os custos de produção, permitindo ganhos de competitividade que elevem as exportações. Os estímulos deveriam ser direcionados à busca por parte dos empresários de formas de elevar a produtividade e os lucros, através de ações dirigidas a todos, e não a alguns, apenas.
Mas isso seria uma guinada na direção de um modelo "liberal", que não traz para o governo o mesmo número de votos trazido pela política passada. Temo que o governo não tenha coragem de seguir esse caminho, ficando em um ajuste que evita que o Brasil perca o "grau de investimento", mas que não chegue ao ponto de redirecionar os estímulos para uma retomada do crescimento econômico em bases sólidas e sustentadas.A duras penas sairemos da recessão, mas o risco é que na sequência tenhamos um longo período de baixo crescimento econômico.
"SOLIDARIEDADE" OU HIPOCRISIA? - PERCIVAL PUGGINA
ZERO HORA - 07/03
Solidariedade é um estado de espírito que nos envolve com aflições alheias. Não é apenas condolência, mas algo “sólido”, que nos leva a ajudar concretamente os demais. A palavra é muito cara ao cristianismo, cuja doutrina a define como expressão social da caridade, amor ao próximo em dimensão comunitária.
Tenho ouvido falar em “solidariedade a Cuba”. Que significa isso, quando se manifesta em partidos políticos e atos de apoio ao regime? Solidariedade só pode existir em relação a pessoas ou grupos que sofrem, como é o caso do povo daquele país. A ligação sentimental de alguém ou de algum governo com a tirania que escraviza a ilha há 56 anos tem outro nome e é bem feio. Define, aliás, o que vem fazendo a esquerda mundial, desde o dia 2 de dezembro de 1961, quando Fidel descantou o verso da revolução e proclamou: “Soy marxista-leninista!”.
A partir de então, nunca lhe faltou “solidariedade” para fuzilar milhares de seus conterrâneos, encarcerar dezenas de milhares de pessoas apenas por divergirem do governo, manter a população refém, sem liberdade de opinião, sem espaço para oposição, sem Judiciário independente. Convalidar isso é solidariedade? O regime cubano manda prender por qualquer motivo, sentencia a longas penas e, de modo medieval, persegue as famílias dos que dele dissentem. Descaradamente, concede aos estrangeiros direitos e liberdades que veda a seus próprios cidadãos! Durante décadas, foi “solidário” com os soviéticos, a ponto de enviar milhares de jovens para morrer em revoluções comunistas. Sim, leitor, Fidel, o falso paladino da autonomia, muito se intrometeu em revoluções mundo afora, conforme exigisse a geopolítica da URSS.
Solidariedade que mereça a dignidade do termo deve convergir para os que sofrem a repressão porque não se calam. E para os que não sofrem a repressão porque se calam. Uns e outros merecem a solidariedade que não alcança as masmorras de um regime que perdeu o senso moral.
A mesma insólita afeição, aliás, é tributada à ditadura comunista bolivariana e não revela qualquer consideração pelas dificuldades que os venezuelanos enfrentam. O compadecimento das pessoas de bem deve convergir para esse povo, em suas crescentes carências e perda de direitos. Nunca para o fanfarrão Chávez e seu ainda mais ridículo herdeiro. Solidariedade foi o que faltou às senhoras Mitzy Capriles e Lilian Tintori, cujos maridos foram presos por Maduro. Ambas vieram buscar ajuda da presidente Dilma, mas foram recebidas pelo sub do sub, a quem transmitiram apelo que entrou por um ouvido e saiu pelo outro.
Solidariedade é um estado de espírito que nos envolve com aflições alheias. Não é apenas condolência, mas algo “sólido”, que nos leva a ajudar concretamente os demais. A palavra é muito cara ao cristianismo, cuja doutrina a define como expressão social da caridade, amor ao próximo em dimensão comunitária.
Tenho ouvido falar em “solidariedade a Cuba”. Que significa isso, quando se manifesta em partidos políticos e atos de apoio ao regime? Solidariedade só pode existir em relação a pessoas ou grupos que sofrem, como é o caso do povo daquele país. A ligação sentimental de alguém ou de algum governo com a tirania que escraviza a ilha há 56 anos tem outro nome e é bem feio. Define, aliás, o que vem fazendo a esquerda mundial, desde o dia 2 de dezembro de 1961, quando Fidel descantou o verso da revolução e proclamou: “Soy marxista-leninista!”.
A partir de então, nunca lhe faltou “solidariedade” para fuzilar milhares de seus conterrâneos, encarcerar dezenas de milhares de pessoas apenas por divergirem do governo, manter a população refém, sem liberdade de opinião, sem espaço para oposição, sem Judiciário independente. Convalidar isso é solidariedade? O regime cubano manda prender por qualquer motivo, sentencia a longas penas e, de modo medieval, persegue as famílias dos que dele dissentem. Descaradamente, concede aos estrangeiros direitos e liberdades que veda a seus próprios cidadãos! Durante décadas, foi “solidário” com os soviéticos, a ponto de enviar milhares de jovens para morrer em revoluções comunistas. Sim, leitor, Fidel, o falso paladino da autonomia, muito se intrometeu em revoluções mundo afora, conforme exigisse a geopolítica da URSS.
Solidariedade que mereça a dignidade do termo deve convergir para os que sofrem a repressão porque não se calam. E para os que não sofrem a repressão porque se calam. Uns e outros merecem a solidariedade que não alcança as masmorras de um regime que perdeu o senso moral.
A mesma insólita afeição, aliás, é tributada à ditadura comunista bolivariana e não revela qualquer consideração pelas dificuldades que os venezuelanos enfrentam. O compadecimento das pessoas de bem deve convergir para esse povo, em suas crescentes carências e perda de direitos. Nunca para o fanfarrão Chávez e seu ainda mais ridículo herdeiro. Solidariedade foi o que faltou às senhoras Mitzy Capriles e Lilian Tintori, cujos maridos foram presos por Maduro. Ambas vieram buscar ajuda da presidente Dilma, mas foram recebidas pelo sub do sub, a quem transmitiram apelo que entrou por um ouvido e saiu pelo outro.
O ponto a que chegamos - FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
O GLOBO - 07/06
Os brasileiros sentem a dor das oportunidades perdidas. Olhando em retrospectiva, não há dúvidas de que nos últimos anos houve uma guinada. Para a esquerda? Não, para o despropósito. O que havia sido penosamente reconstruído na década de 1990, o Plano Real; a responsabilidade com as finanças públicas; o incentivo à iniciativa privada (sem subsídios descabidos); a manutenção do setor produtivo e financeiro estatal longe do alcance dos interesses clientelísticos; em suma, o início da reorganização do Estado e, ao mesmo tempo, a reformulação e universalização do atendimento à saúde e à educação, bem como do acesso à terra, perdeu-se por “desmesura”. Em política econômica tão importante quanto o rumo é a dosagem. No caso, o rumo foi perdido e o limite da prudência na dosagem, ultrapassado.
Até quase o fim do primeiro mandato de Lula, o mantra de uma política econômica adequada (o tripé metas de controle inflacionário, flutuação da taxa de câmbio e política monetária sem interferências políticas) se mantivera, embora sinais preocupantes já começassem a aparecer. Beneficiado o País pelo boom mundial a partir de 2004, especialmente pelo alto preço das commodities e pela abundância de capital, até aquele momento muito havia a louvar na expansão das políticas sociais. Abandonado o Fome Zero, houve a aceitação silenciosa do programa “neoliberal” de transferências de rendas (bolsas sem contrapartida). Na ação internacional do governo era de esperar mais de um país que, desde 1999, se elevara à categoria de um dos Brics, nos quais os mercados viam um futuro promissor e as potências, um parceiro a considerar.
O início da derrapada se deu com a substituição de Palocci por Mantega, com a falta de dosagem e com as concessões populistas que jogaram fumaça no escândalo do mensalão. A partir daí, a penetração partidária na máquina pública, que sempre esteve no DNA do PT por ele se considerar “herdeiro histórico” e principal agente do progressismo, se ampliou para abrigar a “base aliada”. Aos poucos, surgiu outra formulação “teórica” para o descontrole financeiro do governo: a dita “nova matriz econômica”. Esta substituiu a visão do governo do PSDB, que era social-democrática contemporânea, isto é, entendia que o bom governo, para atender ao longo do tempo às demandas sociais, requer previsibilidade na condução das políticas econômicas.
O processo de erosão simultânea do “presidencialismo de coalizão” e do bom senso na economia, embora originário do governo Lula, tornou-se mais claro no primeiro mandato de Dilma: o “presidencialismo de coalizão” - no qual se supõe a aliança entre um número limitado de partidos para apoiar a agenda do governo no Congresso - transformou-se em “presidencialismo de cooptação”. Nele, grandes e pequenos partidos (meros agregados de pessoas que visam o controle de um pedaço do Orçamento) ideologicamente díspares passam a tão somente carimbar as decisões do Executivo no Congresso em troca de penetração cada vez maior na máquina governamental e participação nos contratos públicos.
Tão grave quanto o desvio das políticas macroeconômicas saudáveis foi o desmazelo nas políticas setoriais, do petróleo ao etanol, passando pelo setor elétrico. Não me refiro à corrupção desvendada pela Lava Jato - em si já muito grave -, mas aos erros de decisão: refinarias e complexos petroquímicos projetados com megalomania (Comperj, Abreu e Lima, etc.) ou sem viabilidade econômica (no Ceará e no Maranhão), assim como um conjunto de estaleiros (11!) construídos para fornecer a custos altíssimos e por meio de engenharias financeiras duvidosas, do tipo Sete Brasil, navios, plataformas e sondas para a Petrobrás, com o sacrifício dos interesses da própria empresa e do País.
O mesmo exagero na dosagem se viu no Fies (deixando agora as universidades e os alunos na rua da amargura), no falecido trem-bala, nas concessões de aeroportos à custa do BNDES e também na política de “campeões nacionais”, financiada à custa da emissão de dívida cara pelo Tesouro para empréstimo a juros subsidiados de centenas de bilhões de reais a algumas empresas, sem transparência alguma. Políticas em si justificáveis e preexistentes, de estímulo ao “conteúdo nacional” e apoio ao empresariado brasileiro, foram deturpadas. Os erros são inumeráveis, como o controle do preço da gasolina, que levou usinas de cana à ruína, ou a redução demagógica das tarifas de energia elétrica quando a escassez de água já se desenhava no horizonte. Tudo isso revestido de uma linguagem “nacionalista” e de grandeza.
Em suma: não houve apenas roubalheira, mas uma visão política e econômica equivocada, desatenção ao bê-á-bá do manejo das finanças públicas e erros palmares de política setorial. Sabemos quais foram os responsáveis pelo estado a que chegamos. Cobra-se agora das oposições: o que fazer? É preciso primeiro reconhecer que, dada a reeleição de Dilma e do PT, há que dizer: quem pariu Mateus que o embale. Tudo bem, é verdade. Mas o Brasil não é do governo ou da oposição, é de todos. A oposição de hoje será governo amanhã. Portanto, não deve escorregar para o populismo, e sim apontar caminhos para superar os problemas acima citados. O fator previdenciário, por exemplo, é indispensável, no longo prazo, para o equilíbrio das finanças públicas. Se for para mudá-lo, que se encontre um substituto à altura. Pensando no Brasil, não cabe simplesmente fazer o seu funeral. Não nos aflijamos eleitoralmente antes do tempo. Neste momento o que importa é que o povo veja quem foram os verdadeiros responsáveis pelo desastre que aí está. Ele é fruto de decisões desatinadas do lulopetismo e da obsessão pela permanência no poder, com a ajuda da corrupção e de medidas populistas que nada têm a ver com desenvolvimento econômico e social ou com os interesses nacionais e populares.
Os brasileiros sentem a dor das oportunidades perdidas. Olhando em retrospectiva, não há dúvidas de que nos últimos anos houve uma guinada. Para a esquerda? Não, para o despropósito. O que havia sido penosamente reconstruído na década de 1990, o Plano Real; a responsabilidade com as finanças públicas; o incentivo à iniciativa privada (sem subsídios descabidos); a manutenção do setor produtivo e financeiro estatal longe do alcance dos interesses clientelísticos; em suma, o início da reorganização do Estado e, ao mesmo tempo, a reformulação e universalização do atendimento à saúde e à educação, bem como do acesso à terra, perdeu-se por “desmesura”. Em política econômica tão importante quanto o rumo é a dosagem. No caso, o rumo foi perdido e o limite da prudência na dosagem, ultrapassado.
Até quase o fim do primeiro mandato de Lula, o mantra de uma política econômica adequada (o tripé metas de controle inflacionário, flutuação da taxa de câmbio e política monetária sem interferências políticas) se mantivera, embora sinais preocupantes já começassem a aparecer. Beneficiado o País pelo boom mundial a partir de 2004, especialmente pelo alto preço das commodities e pela abundância de capital, até aquele momento muito havia a louvar na expansão das políticas sociais. Abandonado o Fome Zero, houve a aceitação silenciosa do programa “neoliberal” de transferências de rendas (bolsas sem contrapartida). Na ação internacional do governo era de esperar mais de um país que, desde 1999, se elevara à categoria de um dos Brics, nos quais os mercados viam um futuro promissor e as potências, um parceiro a considerar.
O início da derrapada se deu com a substituição de Palocci por Mantega, com a falta de dosagem e com as concessões populistas que jogaram fumaça no escândalo do mensalão. A partir daí, a penetração partidária na máquina pública, que sempre esteve no DNA do PT por ele se considerar “herdeiro histórico” e principal agente do progressismo, se ampliou para abrigar a “base aliada”. Aos poucos, surgiu outra formulação “teórica” para o descontrole financeiro do governo: a dita “nova matriz econômica”. Esta substituiu a visão do governo do PSDB, que era social-democrática contemporânea, isto é, entendia que o bom governo, para atender ao longo do tempo às demandas sociais, requer previsibilidade na condução das políticas econômicas.
O processo de erosão simultânea do “presidencialismo de coalizão” e do bom senso na economia, embora originário do governo Lula, tornou-se mais claro no primeiro mandato de Dilma: o “presidencialismo de coalizão” - no qual se supõe a aliança entre um número limitado de partidos para apoiar a agenda do governo no Congresso - transformou-se em “presidencialismo de cooptação”. Nele, grandes e pequenos partidos (meros agregados de pessoas que visam o controle de um pedaço do Orçamento) ideologicamente díspares passam a tão somente carimbar as decisões do Executivo no Congresso em troca de penetração cada vez maior na máquina governamental e participação nos contratos públicos.
Tão grave quanto o desvio das políticas macroeconômicas saudáveis foi o desmazelo nas políticas setoriais, do petróleo ao etanol, passando pelo setor elétrico. Não me refiro à corrupção desvendada pela Lava Jato - em si já muito grave -, mas aos erros de decisão: refinarias e complexos petroquímicos projetados com megalomania (Comperj, Abreu e Lima, etc.) ou sem viabilidade econômica (no Ceará e no Maranhão), assim como um conjunto de estaleiros (11!) construídos para fornecer a custos altíssimos e por meio de engenharias financeiras duvidosas, do tipo Sete Brasil, navios, plataformas e sondas para a Petrobrás, com o sacrifício dos interesses da própria empresa e do País.
O mesmo exagero na dosagem se viu no Fies (deixando agora as universidades e os alunos na rua da amargura), no falecido trem-bala, nas concessões de aeroportos à custa do BNDES e também na política de “campeões nacionais”, financiada à custa da emissão de dívida cara pelo Tesouro para empréstimo a juros subsidiados de centenas de bilhões de reais a algumas empresas, sem transparência alguma. Políticas em si justificáveis e preexistentes, de estímulo ao “conteúdo nacional” e apoio ao empresariado brasileiro, foram deturpadas. Os erros são inumeráveis, como o controle do preço da gasolina, que levou usinas de cana à ruína, ou a redução demagógica das tarifas de energia elétrica quando a escassez de água já se desenhava no horizonte. Tudo isso revestido de uma linguagem “nacionalista” e de grandeza.
Em suma: não houve apenas roubalheira, mas uma visão política e econômica equivocada, desatenção ao bê-á-bá do manejo das finanças públicas e erros palmares de política setorial. Sabemos quais foram os responsáveis pelo estado a que chegamos. Cobra-se agora das oposições: o que fazer? É preciso primeiro reconhecer que, dada a reeleição de Dilma e do PT, há que dizer: quem pariu Mateus que o embale. Tudo bem, é verdade. Mas o Brasil não é do governo ou da oposição, é de todos. A oposição de hoje será governo amanhã. Portanto, não deve escorregar para o populismo, e sim apontar caminhos para superar os problemas acima citados. O fator previdenciário, por exemplo, é indispensável, no longo prazo, para o equilíbrio das finanças públicas. Se for para mudá-lo, que se encontre um substituto à altura. Pensando no Brasil, não cabe simplesmente fazer o seu funeral. Não nos aflijamos eleitoralmente antes do tempo. Neste momento o que importa é que o povo veja quem foram os verdadeiros responsáveis pelo desastre que aí está. Ele é fruto de decisões desatinadas do lulopetismo e da obsessão pela permanência no poder, com a ajuda da corrupção e de medidas populistas que nada têm a ver com desenvolvimento econômico e social ou com os interesses nacionais e populares.
BNDES, o banco camarada - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S. Paulo - 07/06
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) publicou anúncio nos jornais em que diz ser “um livro aberto para os brasileiros”, acentua seu “compromisso com a transparência” e oferece ao público a possibilidade de conhecer “detalhes sobre nossos financiamentos, inclusive operações internacionais”.
Trata-se de uma reação às suspeitas de que o BNDES usava o sigilo bancário para não ter de explicar aos contribuintes os obscuros critérios que adota ao conceder financiamentos. No entanto, as primeiras luzes lançadas sobre seus negócios, em lugar de acabar com as dúvidas, aumentaram a sensação de que o banco tornou secundárias as ponderações técnicas ao fazer suas escolhas, deixando prevalecer critérios ideológicos e políticos.
Na terça-feira passada, o BNDES tornou disponíveis em seu site informações sobre os financiamentos concedidos nos últimos oito anos para obras no exterior. Os dados indicam que o total chegou a US$ 11,9 bilhões, nas operações de “exportações de serviços”, que beneficiam empresas vencedoras de licitações no exterior. As operações são garantidas pelo Tesouro.
Os juros, na maior parte dos casos, variam de 4% a 6% ao ano. Mas há contratos em que a taxa chegou a 2,8% ao ano, como o negócio com a empreiteira Andrade Gutierrez para fazer uma obra em Gana e o da OAS para realizar um projeto em Honduras. No Brasil, as empresas envolvidas no Programa de Investimento em Logística, que prevê os menores juros cobrados pelo BNDES, pagam 7% ao ano.
Os casos são notáveis, como o financiamento do BNDES para a Odebrecht tocar a obra do Porto de Mariel, em Cuba. Segundo o que agora informa o banco, a ditadura cubana paga juros entre 4,4% e 7% pelos US$ 642,97 milhões financiados entre 2009 e 2013, com prazo de até 25 anos.
É função do BNDES fomentar a participação de empresas brasileiras no exterior, inclusive em Cuba, mas chama a atenção o fato de as condições oferecidas à Odebrecht e aos cubanos poderem ser chamadas, sem exagero, de presente de pai para filho. “Cuba tem um dos piores riscos de crédito do mundo e recebeu condições extremamente vantajosas”, disse ao Estado o economista Sérgio Lazzarini. Segundo ele, os juros desse financiamento deveriam estar entre 11,5% e 12,5%, em razão da fragilidade da economia cubana. “Mas é um valor hipotético, porque Cuba nem consegue fazer uma emissão (de títulos) para que se possa saber de verdade”, afirmou o economista.
Sendo assim, a “transparência” do BNDES permitiu que se constatasse aquilo que já se sabia: a decisão de financiar o Porto de Mariel e outras obras em países que o governo petista considera amigos não é técnica, pois não há retorno que compense tamanha generosidade e tamanho risco.
Ademais, confirma-se que há empresas no Brasil - empreiteiras, em particular - que sempre estarão na vanguarda quando se trata de obter privilégios dos bancos públicos. Dos negócios divulgados pelo BNDES, contratados entre 2007 e 2015, nada menos que 99% envolvem empreiteiras, e 70% desse volume ficou nas mãos de uma só, a Odebrecht. É difícil de imaginar um critério que não seja político para explicar esses números.
Isso explica a resistência do BNDES em revelar detalhes desses contratos, embora o dinheiro utilizado nas transações seja público. Mas nos últimos meses a pressão para que a caixa-preta fosse aberta tornou-se irresistível. No fim de maio, por exemplo, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o BNDES não pode se escorar no sigilo bancário para impedir que o Tribunal de Contas da União tenha acesso a informações sobre suas operações de crédito. Além disso, a oposição no Congresso está prestes a convocar uma CPI para investigar os negócios do banco, incluindo o financiamento público das chamadas “campeãs nacionais”, empresas que teriam plenas condições de obter empréstimos no mercado, mas que foram bafejadas pelas graças do governo petista.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) publicou anúncio nos jornais em que diz ser “um livro aberto para os brasileiros”, acentua seu “compromisso com a transparência” e oferece ao público a possibilidade de conhecer “detalhes sobre nossos financiamentos, inclusive operações internacionais”.
Trata-se de uma reação às suspeitas de que o BNDES usava o sigilo bancário para não ter de explicar aos contribuintes os obscuros critérios que adota ao conceder financiamentos. No entanto, as primeiras luzes lançadas sobre seus negócios, em lugar de acabar com as dúvidas, aumentaram a sensação de que o banco tornou secundárias as ponderações técnicas ao fazer suas escolhas, deixando prevalecer critérios ideológicos e políticos.
Na terça-feira passada, o BNDES tornou disponíveis em seu site informações sobre os financiamentos concedidos nos últimos oito anos para obras no exterior. Os dados indicam que o total chegou a US$ 11,9 bilhões, nas operações de “exportações de serviços”, que beneficiam empresas vencedoras de licitações no exterior. As operações são garantidas pelo Tesouro.
Os juros, na maior parte dos casos, variam de 4% a 6% ao ano. Mas há contratos em que a taxa chegou a 2,8% ao ano, como o negócio com a empreiteira Andrade Gutierrez para fazer uma obra em Gana e o da OAS para realizar um projeto em Honduras. No Brasil, as empresas envolvidas no Programa de Investimento em Logística, que prevê os menores juros cobrados pelo BNDES, pagam 7% ao ano.
Os casos são notáveis, como o financiamento do BNDES para a Odebrecht tocar a obra do Porto de Mariel, em Cuba. Segundo o que agora informa o banco, a ditadura cubana paga juros entre 4,4% e 7% pelos US$ 642,97 milhões financiados entre 2009 e 2013, com prazo de até 25 anos.
É função do BNDES fomentar a participação de empresas brasileiras no exterior, inclusive em Cuba, mas chama a atenção o fato de as condições oferecidas à Odebrecht e aos cubanos poderem ser chamadas, sem exagero, de presente de pai para filho. “Cuba tem um dos piores riscos de crédito do mundo e recebeu condições extremamente vantajosas”, disse ao Estado o economista Sérgio Lazzarini. Segundo ele, os juros desse financiamento deveriam estar entre 11,5% e 12,5%, em razão da fragilidade da economia cubana. “Mas é um valor hipotético, porque Cuba nem consegue fazer uma emissão (de títulos) para que se possa saber de verdade”, afirmou o economista.
Sendo assim, a “transparência” do BNDES permitiu que se constatasse aquilo que já se sabia: a decisão de financiar o Porto de Mariel e outras obras em países que o governo petista considera amigos não é técnica, pois não há retorno que compense tamanha generosidade e tamanho risco.
Ademais, confirma-se que há empresas no Brasil - empreiteiras, em particular - que sempre estarão na vanguarda quando se trata de obter privilégios dos bancos públicos. Dos negócios divulgados pelo BNDES, contratados entre 2007 e 2015, nada menos que 99% envolvem empreiteiras, e 70% desse volume ficou nas mãos de uma só, a Odebrecht. É difícil de imaginar um critério que não seja político para explicar esses números.
Isso explica a resistência do BNDES em revelar detalhes desses contratos, embora o dinheiro utilizado nas transações seja público. Mas nos últimos meses a pressão para que a caixa-preta fosse aberta tornou-se irresistível. No fim de maio, por exemplo, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o BNDES não pode se escorar no sigilo bancário para impedir que o Tribunal de Contas da União tenha acesso a informações sobre suas operações de crédito. Além disso, a oposição no Congresso está prestes a convocar uma CPI para investigar os negócios do banco, incluindo o financiamento público das chamadas “campeãs nacionais”, empresas que teriam plenas condições de obter empréstimos no mercado, mas que foram bafejadas pelas graças do governo petista.
Medo de morrer - DORA KRAMER
O ESTADÃO - 07/06
Aos 35 anos de idade, o PT está com medo de morrer. Vítima de inanição eleitoral, caso as coisas não melhorem para o lado do partido e o ex-presidente Luiz Inácio da Silva não seja candidato à Presidência em 2018.
E por “coisas” entendam-se circunstâncias econômicas, políticas, sociais - por consequência, eleitorais - favoráveis a uma possibilidade concreta de vitória. Lula avisou e o partido já entendeu (isso inclui a gama de legendas aliadas à esquerda) que não embarcará em causa perdida nem em bola dividida. Sacrifício inadmissível para quem saiu do poder no auge.
Nesse clima o PT realiza nesta semana seu 5º congresso nacional, de 11 a 13 de julho, em Salvador (BA), ciente de que vislumbra a aproximação do precipício. É forte o termo? Pois o porta-voz da expressão é parlamentar e dirigente do partido. Legenda cuja trajetória desde 1980 vinha sendo ascendente e agora, pela primeira vez, toma o rumo contrário correndo o risco de entrar por um caminho sem volta.
A “construção das condições de vitória” em 2018 é o pano de fundo dos embates do partido com o governo da presidente Dilma Rousseff. É também a razão de todas as críticas às medidas de ajuste fiscal e ao “estelionato eleitoral” que não incomodou ao PT quando o que estava em jogo era ganhar a eleição de 2014. Bem como motiva teses e posições a serem debatidas no congresso entre as diversas variantes de petistas.
Há os ideológicos, que ensaiam um discurso sobre reformulação de conduta tendo como linha a retomada dos princípios éticos a fim de reconquistar o eleitorado “de raiz”. Prevalecem, contudo, os pragmáticos. Estes só pensam na produção de algum ambiente confortável que melhore o humor daquele tipo de eleitor/consumidor.
Na realidade, a preocupação central é com o efeito politicamente depressivo de uma possível recessão. Basta ver que enquanto a economia ia bem, a direção do PT não se dedicou às questões de conduta. Ao contrário, as ignorou e defendeu os seus que foram réus. Portanto, a questão em foco não é a correção dos erros cometidos. Em aspecto algum.
O objetivo é, mais uma vez, encontrar uma maneira de criar artifícios pelos quais o governo (para beneficiar o partido) convença as pessoas de que vai tudo bem e que remédios amargos não são fruto da necessidade fática criada pelo próprio governo. Nesta versão, produto da visão “equivocada” de um representante de Satã no ministério da Fazenda.
O problema em tal equação está no enunciado: Se Lula é a solução, foi Lula quem inventou Dilma, a presidente que desestruturou a economia, cujo ‘reconstrutor’ seria Joaquim Levy por indicação de Lula, que posa como se não tivesse nada com isso e ainda é tido por seus seguidores como o salvador da pátria petista.
Ver para crer. Há dois pré-requisitos a serem cumpridos antes de se comprar pelo valor de face essa proposta dos presidentes da Câmara e do Senado de submeter as estatais ao controle do Congresso, com a finalidade de melhorar a transparência e a governança nas empresas.
Antes de qualquer coisa é preciso que o projeto “ande”. Por ora o que se tem é a criação de uma comissão para estudar o assunto e a impressão de que se trata de mais um lance na batalha de demonstração de força ante o Palácio do Planalto para impressionar a arquibancada, distraída do fato de o deputado Eduardo Cunha e o senador Renan Calheiros serem investigados na Operação Lava Jato.
Caso a tramitação prossiga, um artigo nessa espécie de novo código de conduta será imprescindível: partidos e políticos abrem mão de indicações para cargos de quaisquer das instituições incluídas no projeto, onde o mérito passará a valer como critério único para nomeações. É isso ou estarão automaticamente revogadas todas as disposições em contrário.
Aos 35 anos de idade, o PT está com medo de morrer. Vítima de inanição eleitoral, caso as coisas não melhorem para o lado do partido e o ex-presidente Luiz Inácio da Silva não seja candidato à Presidência em 2018.
E por “coisas” entendam-se circunstâncias econômicas, políticas, sociais - por consequência, eleitorais - favoráveis a uma possibilidade concreta de vitória. Lula avisou e o partido já entendeu (isso inclui a gama de legendas aliadas à esquerda) que não embarcará em causa perdida nem em bola dividida. Sacrifício inadmissível para quem saiu do poder no auge.
Nesse clima o PT realiza nesta semana seu 5º congresso nacional, de 11 a 13 de julho, em Salvador (BA), ciente de que vislumbra a aproximação do precipício. É forte o termo? Pois o porta-voz da expressão é parlamentar e dirigente do partido. Legenda cuja trajetória desde 1980 vinha sendo ascendente e agora, pela primeira vez, toma o rumo contrário correndo o risco de entrar por um caminho sem volta.
A “construção das condições de vitória” em 2018 é o pano de fundo dos embates do partido com o governo da presidente Dilma Rousseff. É também a razão de todas as críticas às medidas de ajuste fiscal e ao “estelionato eleitoral” que não incomodou ao PT quando o que estava em jogo era ganhar a eleição de 2014. Bem como motiva teses e posições a serem debatidas no congresso entre as diversas variantes de petistas.
Há os ideológicos, que ensaiam um discurso sobre reformulação de conduta tendo como linha a retomada dos princípios éticos a fim de reconquistar o eleitorado “de raiz”. Prevalecem, contudo, os pragmáticos. Estes só pensam na produção de algum ambiente confortável que melhore o humor daquele tipo de eleitor/consumidor.
Na realidade, a preocupação central é com o efeito politicamente depressivo de uma possível recessão. Basta ver que enquanto a economia ia bem, a direção do PT não se dedicou às questões de conduta. Ao contrário, as ignorou e defendeu os seus que foram réus. Portanto, a questão em foco não é a correção dos erros cometidos. Em aspecto algum.
O objetivo é, mais uma vez, encontrar uma maneira de criar artifícios pelos quais o governo (para beneficiar o partido) convença as pessoas de que vai tudo bem e que remédios amargos não são fruto da necessidade fática criada pelo próprio governo. Nesta versão, produto da visão “equivocada” de um representante de Satã no ministério da Fazenda.
O problema em tal equação está no enunciado: Se Lula é a solução, foi Lula quem inventou Dilma, a presidente que desestruturou a economia, cujo ‘reconstrutor’ seria Joaquim Levy por indicação de Lula, que posa como se não tivesse nada com isso e ainda é tido por seus seguidores como o salvador da pátria petista.
Ver para crer. Há dois pré-requisitos a serem cumpridos antes de se comprar pelo valor de face essa proposta dos presidentes da Câmara e do Senado de submeter as estatais ao controle do Congresso, com a finalidade de melhorar a transparência e a governança nas empresas.
Antes de qualquer coisa é preciso que o projeto “ande”. Por ora o que se tem é a criação de uma comissão para estudar o assunto e a impressão de que se trata de mais um lance na batalha de demonstração de força ante o Palácio do Planalto para impressionar a arquibancada, distraída do fato de o deputado Eduardo Cunha e o senador Renan Calheiros serem investigados na Operação Lava Jato.
Caso a tramitação prossiga, um artigo nessa espécie de novo código de conduta será imprescindível: partidos e políticos abrem mão de indicações para cargos de quaisquer das instituições incluídas no projeto, onde o mérito passará a valer como critério único para nomeações. É isso ou estarão automaticamente revogadas todas as disposições em contrário.
A revoada dos cartolas - FERNANDO GABEIRA
O GLOBO - 07/06
Está acabando uma era no esporte mundial
Passei o fim de semana, a trabalho, observando pássaros numa fazenda do interior de São Paulo. Usei o tempo vago para observar também o escândalo da Fifa. Notícias de corrupção explodiram aqui e ali. O inesperado foi a maneira como os dirigentes caíram, num hotel cinco estrelas, à beira do lago. Presos no mesmo lugar, como se prende uma quadrilha organizada. No Brasil, em 2001, houve uma CPI sobre corrupção na CBF. Foi bombardeada pela bancada da bola, deputados ligados à cúpula do esporte.
Nosso nível de tolerância com a corrupção é alto. Convivemos com os cartolas, elegemos alguns deles, mas todos sabem que há algo de errado nesse mundo. Numa certa escala, a sociedade os absorveu como absorve os bicheiros.
Realizada pela polícia suíça em sintonia com o FBI, a operação foi realizada num estilo diferente das que se fazem nos EUA ou no Brasil: prisão discreta, sem algemas, com um mínimo de exposição, cela com condições dignas e nenhuma contemplação com a idade ou artimanhas jurídicas.
Pelé defendeu Blatter em Cuba. Blatter renunciou em seguida. Pelé usou argumentos típicos de um lugar de fronteiras difusas: experiência no cargo, eleição recente, como se isso fosse uma blindagem inexpugnável.
Os índios cherokees tinham medo de pinturas em cavernas profundas porque ali era muito tênue a conexão entre o mundo e o além. Fronteiras difusas são um risco. Um outro exemplo delas está no uso da expressão “colaborador” nos EUA e de “delator” na imprensa brasileira. São dois verbos bem diferentes. Delatar tem uma conotação negativa, envolve no mesmo conceito Judas e Joaquim Silvério dos Reis, o da Inconfidência Mineira.
A luta contra o colonialismo foi um momento em que as fronteiras entre lei e crime podiam ser trocadas. O delator estava colaborando com um opressor estrangeiro que nos sobrecarregava de impostos.
No passado, os americanos tinham um programa de prevenção ao uso de drogas que consistia em palestras de policiais nas escolas. O programa chegou a ser tentado no Brasil, mas era evidente que não funcionaria. A imagem do policial brasileiro era vista de maneira diversa.
Fomos soterrados de leis opressivas no período colonial e nas ditaduras. Convivemos diariamente com notícias negativas sobre a polícia, sobretudo espancamento e extorsão. Minha suposição é que trouxemos essa desconfiança ao longo dos séculos e ainda temos dificuldade de adaptar essas a um sistema democrático.
Essa tensão entre as fronteiras se estende também ao mundo das artes. Nele, de um modo geral comovidos com as desigualdades e a hipocrisia, artistas chegam a formulações como as de Hélio Oiticica: seja marginal, seja herói. O assaltante Lúcio Flávio Lírio tentou resolver essa ambivalência, traçando seu mundo ideal: polícia é polícia, bandido é bandido.
Está acabando uma era no esporte mundial. O Brasil deveria investigar não apenas a CBF, mas também o nosso papel na economia esportiva mundial. Somos exportadores de craques. O comércio internacional tem um lado sombrio que precisa ser desvelado. Um exemplo recente de uma certa indiferença: a transferência de Neymar para o Barcelona.
Na Espanha, o tema foi amplamente divulgado, rolaram cabeças. É natural que a história repercuta no país que comprou. Mas Neymar é o maior craque brasileiro da atualidade. Não houve uma intensa troca de dados sobre o caso. A impressão que tenho é a de que já nos acostumamos com transações suspeitas no futebol: são uma parte do jogo.
Isso me leva para fora do campo, perguntar se todas essas névoas na fronteira entre crime e lei não têm um peso também na tolerância em conviver tanto tempo com um sistema político corrompido.
Na cabeça de alguns defensores do governo isso não é problema. Os teóricos garantem que a corrupção é um debate secundário, uma nota de pé de página na história do país. Os ideológicos garantem que os fins justificam os meios. E quando a coisa aperta mesmo, surge alguém como o Ministro da Justiça para lembrar que as prisões brasileiras são masmorras medievais.
A verdade é que numa democracia é ilegal roubar dinheiro público ou mesmo formar uma quadrilha na cúpula do futebol. O único caminho é o da prisão. Por que não melhorá-las para todos? Tantos anos de PT e apesar do esforço de alguns ex-petistas, como Marcos Rolim e Domingos Dutra, as coisas só pioram nas cadeias.
Esses argumentos furados — eu não sabia, sou vítima de perseguição, o colaborador é um simples delator — desembocam nas condições carcerárias: as prisões são desumanas.
Mas sempre foram. Só se tornaram desumanas porque medidas com outros padrões: agora são os ricos empreiteiros, dirigentes do PT, cartolas. É a miséria de uma política de direitos humanos originalmente fundada num conceito universal.
Para os cartolas, o jogo está acabando; já o governo está perto do apito final.
Está acabando uma era no esporte mundial
Passei o fim de semana, a trabalho, observando pássaros numa fazenda do interior de São Paulo. Usei o tempo vago para observar também o escândalo da Fifa. Notícias de corrupção explodiram aqui e ali. O inesperado foi a maneira como os dirigentes caíram, num hotel cinco estrelas, à beira do lago. Presos no mesmo lugar, como se prende uma quadrilha organizada. No Brasil, em 2001, houve uma CPI sobre corrupção na CBF. Foi bombardeada pela bancada da bola, deputados ligados à cúpula do esporte.
Nosso nível de tolerância com a corrupção é alto. Convivemos com os cartolas, elegemos alguns deles, mas todos sabem que há algo de errado nesse mundo. Numa certa escala, a sociedade os absorveu como absorve os bicheiros.
Realizada pela polícia suíça em sintonia com o FBI, a operação foi realizada num estilo diferente das que se fazem nos EUA ou no Brasil: prisão discreta, sem algemas, com um mínimo de exposição, cela com condições dignas e nenhuma contemplação com a idade ou artimanhas jurídicas.
Pelé defendeu Blatter em Cuba. Blatter renunciou em seguida. Pelé usou argumentos típicos de um lugar de fronteiras difusas: experiência no cargo, eleição recente, como se isso fosse uma blindagem inexpugnável.
Os índios cherokees tinham medo de pinturas em cavernas profundas porque ali era muito tênue a conexão entre o mundo e o além. Fronteiras difusas são um risco. Um outro exemplo delas está no uso da expressão “colaborador” nos EUA e de “delator” na imprensa brasileira. São dois verbos bem diferentes. Delatar tem uma conotação negativa, envolve no mesmo conceito Judas e Joaquim Silvério dos Reis, o da Inconfidência Mineira.
A luta contra o colonialismo foi um momento em que as fronteiras entre lei e crime podiam ser trocadas. O delator estava colaborando com um opressor estrangeiro que nos sobrecarregava de impostos.
No passado, os americanos tinham um programa de prevenção ao uso de drogas que consistia em palestras de policiais nas escolas. O programa chegou a ser tentado no Brasil, mas era evidente que não funcionaria. A imagem do policial brasileiro era vista de maneira diversa.
Fomos soterrados de leis opressivas no período colonial e nas ditaduras. Convivemos diariamente com notícias negativas sobre a polícia, sobretudo espancamento e extorsão. Minha suposição é que trouxemos essa desconfiança ao longo dos séculos e ainda temos dificuldade de adaptar essas a um sistema democrático.
Essa tensão entre as fronteiras se estende também ao mundo das artes. Nele, de um modo geral comovidos com as desigualdades e a hipocrisia, artistas chegam a formulações como as de Hélio Oiticica: seja marginal, seja herói. O assaltante Lúcio Flávio Lírio tentou resolver essa ambivalência, traçando seu mundo ideal: polícia é polícia, bandido é bandido.
Está acabando uma era no esporte mundial. O Brasil deveria investigar não apenas a CBF, mas também o nosso papel na economia esportiva mundial. Somos exportadores de craques. O comércio internacional tem um lado sombrio que precisa ser desvelado. Um exemplo recente de uma certa indiferença: a transferência de Neymar para o Barcelona.
Na Espanha, o tema foi amplamente divulgado, rolaram cabeças. É natural que a história repercuta no país que comprou. Mas Neymar é o maior craque brasileiro da atualidade. Não houve uma intensa troca de dados sobre o caso. A impressão que tenho é a de que já nos acostumamos com transações suspeitas no futebol: são uma parte do jogo.
Isso me leva para fora do campo, perguntar se todas essas névoas na fronteira entre crime e lei não têm um peso também na tolerância em conviver tanto tempo com um sistema político corrompido.
Na cabeça de alguns defensores do governo isso não é problema. Os teóricos garantem que a corrupção é um debate secundário, uma nota de pé de página na história do país. Os ideológicos garantem que os fins justificam os meios. E quando a coisa aperta mesmo, surge alguém como o Ministro da Justiça para lembrar que as prisões brasileiras são masmorras medievais.
A verdade é que numa democracia é ilegal roubar dinheiro público ou mesmo formar uma quadrilha na cúpula do futebol. O único caminho é o da prisão. Por que não melhorá-las para todos? Tantos anos de PT e apesar do esforço de alguns ex-petistas, como Marcos Rolim e Domingos Dutra, as coisas só pioram nas cadeias.
Esses argumentos furados — eu não sabia, sou vítima de perseguição, o colaborador é um simples delator — desembocam nas condições carcerárias: as prisões são desumanas.
Mas sempre foram. Só se tornaram desumanas porque medidas com outros padrões: agora são os ricos empreiteiros, dirigentes do PT, cartolas. É a miséria de uma política de direitos humanos originalmente fundada num conceito universal.
Para os cartolas, o jogo está acabando; já o governo está perto do apito final.
Qual foi, algoritmo?! - ANTONIO PRATA
FOLHA DE SP - 07/06
Li numa revista, outro dia, que um dos grandes desafios do mundo digital é aperfeiçoar os algoritmos capazes de entender o gosto do internauta. São programas que bisbilhotam as nossas ações online (sites visitados, likes, retuítes, compras etc.) e, a partir dessas informações, descobrem exatamente quais produtos nos oferecer.
Se, por exemplo, você passou três horas no YouTube assistindo a shows do Raul, compartilhou via Facebook o texto “Como curar dengue, depressão e lumbago com chá de berinjela!!!” e comprou na reggaero-ots.com.br uma pochete com as cores da Jamaica, o computador entende que, talvez, seja mais indicado te sugerir o livro Os Florais de Bach na Prática da Ioga do que, digamos, o blu-ray As Patricinhas de Beverly Hills 2. Segundo a matéria, os algoritmos estão evoluindo tão rápido que, logo, logo, mal sentiremos uma coceirinha no nariz, o computador já vai nos desejar saúde – e nos oferecer Rinosoro.
Há quem tema a chegada deste dia: o dia em que o Big Brother lerá nas pupilas do cidadão os seus desejos mais profundos, mas confesso que, diante dos spams desvairados que chegam a este velho PC, aqui pros lados de Cotia, o que mais quero é que o Grande Irmão entenda um pouquinho melhor meus gostos e necessidades.
Lembro ainda hoje quando, no fim do século passado, recebi meu primeiro “Enlarge your penis”. Olhei pros lados, nervoso: por que haviam me mandado aquilo? Eu não me encontrava, pensava, entre o público alvo daquele tipo de e-mail. Ou me encontrava? Teria eu vivido, até ali, em autoengano? Seria aquela mensagem o toque de uma ex-namorada, tipo um recado anônimo na secretária eletrônica: “Você tem bafo!”? A dúvida desapareceu dias depois, ao receber meu primeiro “Enlarge your tits”. Naquele dia, conversei com um amigo e aprendi um novo termo: “spam”.
De lá pra cá, a quantidade de mensagens inúteis só aumentou. Teve a época dos Rolex, da caneta espiã, dos aparelhos para abdominal, dos feromônios, das pílulas para perder peso, das dicas para ganhar dinheiro sem sair de casa – sem falar, é claro, nos velhos companheiros Abdul, da Arábia Saudita, ou Mr. Murukubuku, da Nigéria, que toda semana imploram por minha conta bancária, loucos para depositar milhões em meu nome.
Ultimamente, estamos na fase dos currículos. Marlene Araújo, administração. Anderson Nonato, webdesign. Raul Boucinhas, contabilidade. Recebo também dicas para “aprimorar a logística de distribuição” da minha empresa, para “otimizar a engenharia da minha área financeira”. Diante desses e-mails, fico com a impressão de que, ao contrário do que dizia a revista, os algoritmos não evoluíram nada, do século 20 pra cá.
Ou será que quem não evoluiu fui eu? Será que, depois de cálculos complexos, os computadores intuam que, a esta altura do campeonato, eu já deveria ser um empresário de sucesso, recrutando funcionários, distribuindo produtos, redesenhando minha área financeira? É, talvez os programas estejam certos, talvez o errado seja eu, que sigo aqui, sozinho, pros lados de Cotia, batucando no meu velho PC. Tudo bem, não me importo, sou feliz assim – só vou me preocupar se, dia desses, abrir o Outlook e encontrar, de novo, um “Enlarge your penis”. Qual foi, algoritmo?! Tá me zoando?!
Li numa revista, outro dia, que um dos grandes desafios do mundo digital é aperfeiçoar os algoritmos capazes de entender o gosto do internauta. São programas que bisbilhotam as nossas ações online (sites visitados, likes, retuítes, compras etc.) e, a partir dessas informações, descobrem exatamente quais produtos nos oferecer.
Se, por exemplo, você passou três horas no YouTube assistindo a shows do Raul, compartilhou via Facebook o texto “Como curar dengue, depressão e lumbago com chá de berinjela!!!” e comprou na reggaero-ots.com.br uma pochete com as cores da Jamaica, o computador entende que, talvez, seja mais indicado te sugerir o livro Os Florais de Bach na Prática da Ioga do que, digamos, o blu-ray As Patricinhas de Beverly Hills 2. Segundo a matéria, os algoritmos estão evoluindo tão rápido que, logo, logo, mal sentiremos uma coceirinha no nariz, o computador já vai nos desejar saúde – e nos oferecer Rinosoro.
Há quem tema a chegada deste dia: o dia em que o Big Brother lerá nas pupilas do cidadão os seus desejos mais profundos, mas confesso que, diante dos spams desvairados que chegam a este velho PC, aqui pros lados de Cotia, o que mais quero é que o Grande Irmão entenda um pouquinho melhor meus gostos e necessidades.
Lembro ainda hoje quando, no fim do século passado, recebi meu primeiro “Enlarge your penis”. Olhei pros lados, nervoso: por que haviam me mandado aquilo? Eu não me encontrava, pensava, entre o público alvo daquele tipo de e-mail. Ou me encontrava? Teria eu vivido, até ali, em autoengano? Seria aquela mensagem o toque de uma ex-namorada, tipo um recado anônimo na secretária eletrônica: “Você tem bafo!”? A dúvida desapareceu dias depois, ao receber meu primeiro “Enlarge your tits”. Naquele dia, conversei com um amigo e aprendi um novo termo: “spam”.
De lá pra cá, a quantidade de mensagens inúteis só aumentou. Teve a época dos Rolex, da caneta espiã, dos aparelhos para abdominal, dos feromônios, das pílulas para perder peso, das dicas para ganhar dinheiro sem sair de casa – sem falar, é claro, nos velhos companheiros Abdul, da Arábia Saudita, ou Mr. Murukubuku, da Nigéria, que toda semana imploram por minha conta bancária, loucos para depositar milhões em meu nome.
Ultimamente, estamos na fase dos currículos. Marlene Araújo, administração. Anderson Nonato, webdesign. Raul Boucinhas, contabilidade. Recebo também dicas para “aprimorar a logística de distribuição” da minha empresa, para “otimizar a engenharia da minha área financeira”. Diante desses e-mails, fico com a impressão de que, ao contrário do que dizia a revista, os algoritmos não evoluíram nada, do século 20 pra cá.
Ou será que quem não evoluiu fui eu? Será que, depois de cálculos complexos, os computadores intuam que, a esta altura do campeonato, eu já deveria ser um empresário de sucesso, recrutando funcionários, distribuindo produtos, redesenhando minha área financeira? É, talvez os programas estejam certos, talvez o errado seja eu, que sigo aqui, sozinho, pros lados de Cotia, batucando no meu velho PC. Tudo bem, não me importo, sou feliz assim – só vou me preocupar se, dia desses, abrir o Outlook e encontrar, de novo, um “Enlarge your penis”. Qual foi, algoritmo?! Tá me zoando?!
Revendo a reforma - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 07/06
A segunda rodada de votação na Câmara da emenda constitucional que põe fim à reeleição dará um bom indicativo de como a medida, vitoriosa por larga margem na primeira votação, repercutiu na sociedade.
Os deputados certamente tiveram contato com seus eleitores e puderam sentir que o fim da reeleição não é um anseio nacional. Se o número de votos favoráveis for reduzido nessa segunda votação, estará dado o sinal para que o Senado reveja a decisão da Câmara.
Esse é um caso em que o interesse partidário falou mais alto do que o nacional, e o fim da reeleição foi aprovado mais para acomodar facções dentro dos partidos do que para buscar uma solução institucional melhorada. Foi também o caso das cláusulas de barreira, que devem ser mais rigorosas a partir de uma modificação já prevista no Senado.
A 2ª rodada de votação será também afetada pela decisão, que será tomada anteriormente, sobre a duração dos mandatos de presidente, governadores e prefeitos.
Uma das consequências deve ser a derrota da tese da coincidência de mandatos, outra mudança constitucional que não encontra apoio majoritário entre os parlamentares, coincidindo com uma rejeição previsível da sociedade.
Nada indica que deixando de votar de dois em dois anos o brasileiro ficará mais politizado. Ao contrário, se houver a coincidência de mandatos, as eleições acontecerão de cinco em cinco anos, muito tempo de separação entre elas, significando que o debate político público que as eleições provocam ficará congelado por muito tempo.
A separação de tempo muito grande entre as eleições e o fim do voto obrigatório, outra emenda constitucional que estará em votação a partir da próxima semana, moldam um sistema político-eleitoral que não favorece a politização dos cidadãos.
O voto opcional é, teoricamente, um avanço democrático, pois votar passa a ser um direito, e não um dever, do cidadão. Mas, na prática, já existe essa possibilidade de não votar sem ser punido. Dá apenas um pouco mais de trabalho justificar não ter votado, ou pagar uma multa irrisória para ficar quite com a Justiça Eleitoral.
Em democracias ainda em formação como a nossa, o voto obrigatório tem um papel educativo importante, dando ao cidadão comum o valor da importância de seu gesto.
Se ainda temos no país diversos casos de compra de votos e troca de favores para que o eleitor vote neste ou naquele candidato, é preciso um continuado trabalho educativo por parte do Tribunal Superior Eleitoral para que o eleitor entenda a importância de seu voto, e transforme esse entendimento em instrumento de inserção social.
Os debates políticos durante as campanhas eleitorais colaboram para tal amadurecimento do eleitor brasileiro, e por isso as eleições deveriam continuar sendo realizadas de dois em dois anos.
Os temas municipais nas eleições de prefeito e vereador ganham também a dimensão necessária para que sejam debatidos pelos eleitores. Caso contrário, seriam engolidos pelos temas nacionais.
O financiamento privado aos partidos, aprovado pela Câmara em primeira votação, é outro tema polêmico que será revisitado por deputados e analisado por senadores. Como parece ser majoritário o desejo de ter financiamento privado nas eleições, o Senado deverá aprovar a decisão, mas a legislação terá que regulamentar com muito rigor os procedimentos para que os limites das doações não sejam tão amplos quanto hoje - 2% do faturamento das empresas -, e para que não seja permitido a empresas que tenham algum tipo de vínculo com governos participar desse financiamento.
Todos esses pontos estarão em discussão na Câmara a partir da próxima semana, e mais adiante serão abordados novamente pelos senadores, que terão tempo para corrigir erros provocados pela maneira como foram votados os tópicos do que seria uma reforma política, sem que os temas fossem interligados como conviria. Do jeito que está sendo feita, a reforma já começa necessitando de uma revisão.
A segunda rodada de votação na Câmara da emenda constitucional que põe fim à reeleição dará um bom indicativo de como a medida, vitoriosa por larga margem na primeira votação, repercutiu na sociedade.
Os deputados certamente tiveram contato com seus eleitores e puderam sentir que o fim da reeleição não é um anseio nacional. Se o número de votos favoráveis for reduzido nessa segunda votação, estará dado o sinal para que o Senado reveja a decisão da Câmara.
Esse é um caso em que o interesse partidário falou mais alto do que o nacional, e o fim da reeleição foi aprovado mais para acomodar facções dentro dos partidos do que para buscar uma solução institucional melhorada. Foi também o caso das cláusulas de barreira, que devem ser mais rigorosas a partir de uma modificação já prevista no Senado.
A 2ª rodada de votação será também afetada pela decisão, que será tomada anteriormente, sobre a duração dos mandatos de presidente, governadores e prefeitos.
Uma das consequências deve ser a derrota da tese da coincidência de mandatos, outra mudança constitucional que não encontra apoio majoritário entre os parlamentares, coincidindo com uma rejeição previsível da sociedade.
Nada indica que deixando de votar de dois em dois anos o brasileiro ficará mais politizado. Ao contrário, se houver a coincidência de mandatos, as eleições acontecerão de cinco em cinco anos, muito tempo de separação entre elas, significando que o debate político público que as eleições provocam ficará congelado por muito tempo.
A separação de tempo muito grande entre as eleições e o fim do voto obrigatório, outra emenda constitucional que estará em votação a partir da próxima semana, moldam um sistema político-eleitoral que não favorece a politização dos cidadãos.
O voto opcional é, teoricamente, um avanço democrático, pois votar passa a ser um direito, e não um dever, do cidadão. Mas, na prática, já existe essa possibilidade de não votar sem ser punido. Dá apenas um pouco mais de trabalho justificar não ter votado, ou pagar uma multa irrisória para ficar quite com a Justiça Eleitoral.
Em democracias ainda em formação como a nossa, o voto obrigatório tem um papel educativo importante, dando ao cidadão comum o valor da importância de seu gesto.
Se ainda temos no país diversos casos de compra de votos e troca de favores para que o eleitor vote neste ou naquele candidato, é preciso um continuado trabalho educativo por parte do Tribunal Superior Eleitoral para que o eleitor entenda a importância de seu voto, e transforme esse entendimento em instrumento de inserção social.
Os debates políticos durante as campanhas eleitorais colaboram para tal amadurecimento do eleitor brasileiro, e por isso as eleições deveriam continuar sendo realizadas de dois em dois anos.
Os temas municipais nas eleições de prefeito e vereador ganham também a dimensão necessária para que sejam debatidos pelos eleitores. Caso contrário, seriam engolidos pelos temas nacionais.
O financiamento privado aos partidos, aprovado pela Câmara em primeira votação, é outro tema polêmico que será revisitado por deputados e analisado por senadores. Como parece ser majoritário o desejo de ter financiamento privado nas eleições, o Senado deverá aprovar a decisão, mas a legislação terá que regulamentar com muito rigor os procedimentos para que os limites das doações não sejam tão amplos quanto hoje - 2% do faturamento das empresas -, e para que não seja permitido a empresas que tenham algum tipo de vínculo com governos participar desse financiamento.
Todos esses pontos estarão em discussão na Câmara a partir da próxima semana, e mais adiante serão abordados novamente pelos senadores, que terão tempo para corrigir erros provocados pela maneira como foram votados os tópicos do que seria uma reforma política, sem que os temas fossem interligados como conviria. Do jeito que está sendo feita, a reforma já começa necessitando de uma revisão.
Pelo fim dos privilégios - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 07/06
Chamou a atenção a notícia da troca de carros do Superior Tribunal Militar. A modernização da frota, que implica a compra de 17 sedãs ao custo unitário de R$ 116 mil, passaria despercebida em outras épocas. Senão despercebida, pelo menos rotineira, nada digno de registro além do burocrático. Em tempos de crise, porém, o fato traz à tona velha questão que precisa ser enfrentada com determinação.
Trata-se de privilégios que fincam raízes no setor público. Carro com motorista talvez seja o mais simbólico. Mas não é o único. A ele se somam cartões corporativos, residências oficiais, combustível, garçons, elevadores privativos, verbas de representação. Difícil encontrar justificativa para a manutenção de mordomias ultrapassadas que, além de onerar o erário, servem de mau exemplo para as três esferas do poder.
Estados e municípios reproduzem as benesses com a naturalidade de quem dá bom dia ao entrar no elevador ou diz até logo ao se despedir. Prefeituras que sobrevivem à custa do Fundo de Participação dos Municípios não abrem mão de benefícios anacrônicos usufruídos em âmbito estadual e federal. ONGs que recebem dinheiro proveniente de impostos cobrados dos contribuintes também sofrem o contágio do mau exemplo. Instituições que embolsam contribuições parafiscais não ficam atrás.
A Constituição diz que todos são iguais perante a lei. A prática do setor público, porém, teima em provar que se trata de princípio que não pega. No século 21, nada mais retrógrado do que sustentar o modelo de casa grande e senzala. Quem ostenta o cartão de autoridade se vacina contra o povo. Isola-se. Não usa transporte público, não se trata em hospital público, não se satisfaz com a segurança pública, não matricula os filhos em escola pública. Até o tratamento muda. O democrático senhor cede lugar ao aristocrático excelência.
Crise, dizem os chineses, é oportunidade. As agruras por que passa a economia obrigam o governo a cortar gastos. Educação, saúde, saneamento, mobilidade sofrem na carne e nos nervos a redução no orçamento. As vítimas são estudantes, enfermos, trabalhadores - pessoas que constroem o futuro da nação. Dilma Rousseff, primeira mulher a presidir o país, pode deixar marca capaz de diferenciá-la dos antecedentes. Acabar com os privilégios é passo importante para sintonizar o país com a contemporaneidade.
O tempo se encarregou de relegar ao passado práticas que fizeram sentido em determinado contexto, mas se tornaram inaceitáveis com as mudanças da sociedade. É o caso da escravidão, da homofobia, da corrupção, da discriminação da mulher, da intolerância étnica, cultural e religiosa. É o caso, também, dos privilégios no serviço público. Como o Estado não planta dinheiro, sustenta mordomias com o meu, o teu, o nosso trabalho. Passou da hora de dar o salto para o século 21. Com a palavra, a presidente Dilma Rousseff.
Chamou a atenção a notícia da troca de carros do Superior Tribunal Militar. A modernização da frota, que implica a compra de 17 sedãs ao custo unitário de R$ 116 mil, passaria despercebida em outras épocas. Senão despercebida, pelo menos rotineira, nada digno de registro além do burocrático. Em tempos de crise, porém, o fato traz à tona velha questão que precisa ser enfrentada com determinação.
Trata-se de privilégios que fincam raízes no setor público. Carro com motorista talvez seja o mais simbólico. Mas não é o único. A ele se somam cartões corporativos, residências oficiais, combustível, garçons, elevadores privativos, verbas de representação. Difícil encontrar justificativa para a manutenção de mordomias ultrapassadas que, além de onerar o erário, servem de mau exemplo para as três esferas do poder.
Estados e municípios reproduzem as benesses com a naturalidade de quem dá bom dia ao entrar no elevador ou diz até logo ao se despedir. Prefeituras que sobrevivem à custa do Fundo de Participação dos Municípios não abrem mão de benefícios anacrônicos usufruídos em âmbito estadual e federal. ONGs que recebem dinheiro proveniente de impostos cobrados dos contribuintes também sofrem o contágio do mau exemplo. Instituições que embolsam contribuições parafiscais não ficam atrás.
A Constituição diz que todos são iguais perante a lei. A prática do setor público, porém, teima em provar que se trata de princípio que não pega. No século 21, nada mais retrógrado do que sustentar o modelo de casa grande e senzala. Quem ostenta o cartão de autoridade se vacina contra o povo. Isola-se. Não usa transporte público, não se trata em hospital público, não se satisfaz com a segurança pública, não matricula os filhos em escola pública. Até o tratamento muda. O democrático senhor cede lugar ao aristocrático excelência.
Crise, dizem os chineses, é oportunidade. As agruras por que passa a economia obrigam o governo a cortar gastos. Educação, saúde, saneamento, mobilidade sofrem na carne e nos nervos a redução no orçamento. As vítimas são estudantes, enfermos, trabalhadores - pessoas que constroem o futuro da nação. Dilma Rousseff, primeira mulher a presidir o país, pode deixar marca capaz de diferenciá-la dos antecedentes. Acabar com os privilégios é passo importante para sintonizar o país com a contemporaneidade.
O tempo se encarregou de relegar ao passado práticas que fizeram sentido em determinado contexto, mas se tornaram inaceitáveis com as mudanças da sociedade. É o caso da escravidão, da homofobia, da corrupção, da discriminação da mulher, da intolerância étnica, cultural e religiosa. É o caso, também, dos privilégios no serviço público. Como o Estado não planta dinheiro, sustenta mordomias com o meu, o teu, o nosso trabalho. Passou da hora de dar o salto para o século 21. Com a palavra, a presidente Dilma Rousseff.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
FACÇÃO LULISTA PRESSIONA CONTRA AJUSTES DE LEVY
A numerosa facção lulista trabalha para apresentar no 5º Congresso do PT, agora em junho, documento de repúdio à política econômica de Dilma. Com anuência de Lula, os torpedos atingem em cheio o ministro Joaquim Levy (Fazenda) e é um aceno aos sindicalistas.
Lula gosta cada vez mais da ideia de candidatar-se em 2018. A pelegada se reuniu com Lula, no fim do mês, e desceu a borduna em Levy.
LULA NO MURO
No encontro, na sede da CUT, sindicalistas cobraram posição pública de Lula contra o projeto da terceirização e o fim do fator previdenciário.
NA PRESSÃO
As centrais alertaram Lula sobre possível greve geral para pressionar Dilma a vetar o projeto da terceirização, caso o Senado o aprove.
MUDANÇA
Aos mais próximos, Lula defende Nelson Barbosa, do Planejamento, no lugar de Levy. Estaria mais afinado com o plano econômico petista.
AMOR E ÓDIO
Agora persona non grata, Joaquim Levy chefiou o Tesouro Nacional no primeiro governo de Lula.
Aquele do mensalão, do petrolão...
GOVERNO JÁ TORROU R$ 14 MILHÕES COM CARTÕES
Nem parece que o País vive uma grave crise na economia: nos quatro primeiros meses do ano, o governo Dilma conseguiu gastar R$ 14,3 milhões com os cartões de pagamento, os “cartões corporativos”. Apesar do exagero e dos sinais de farra, o Palácio do Planalto se recusa a informar como gastou todo esse dinheiro, alegando “garantia da segurança da sociedade e do Estado”. Ou seja, da própria Dilma.
VAI UMA TAPIOCA?
Antes de o então presidente Lula tornar “secretos” os gastos, ministros foram flagrados comprando até tapioca com cartões corporativos.
NOSSA CONTA
Cartões corporativos do governo também são usados para pagar despesas com combustível e seguranças de familiares de presidentes.
GASTOS MODESTOS
O vice Michel Temer dá sinais exteriores de pobreza, para os padrões Dilma: de janeiro a abril, gastou R$ 172,7 mil usando o cartão.
AÍ, DOUTOR
Eduardo Cunha só tolera falta de deputados ao trabalho por razões médicas ou por integrar missões ao exterior. E tem mandado descontar nos salários. Os atestados médicos já se multiplicaram.
SINAL DE ALERTA
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) leu com lupa a pesquisa do Vox Populi indicando que o governo de Geraldo Alckmin (SP) é ruim ou péssimo para 25% dos entrevistados. Não achou tão ruim assim...
TREMENDO DE MEDO
Com votação do relatório na terça, a MP do Futebol está tirando o sono dos cartolas, pois o clube que continuar ignorando as obrigações pode ser rebaixado à divisão inferior, como aconteceu na Espanha este ano.
FARRA EM VITÓRIA
Durante a XIX Conferência Nacional dos Legisladores e Legislativos Estaduais, na linda Vitória, entre quarta (10) e sexta (12), o contribuinte pode constatar como se desperdiça dinheiro publico. Vai ser uma farra.
BLINDAGEM
Aliados de Robinson Faria têm reclamado do deputado Fábio Faria (PSD-RN), filho do governador do Rio Grande do Norte.
O rapaz não estaria deixando ninguém chegar ao pai sem antes passar por ele.
FALTA DO QUE FAZER
O deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) apresentou projeto que acaba com o dinheiro em espécie. Quer que tudo seja feito digitalmente. Diz que a medida poderá reduzir a sonegação de impostos.
BLOCO NA RUA
O deputado Damião Feliciano (PDT-PB) não esconde sua aptidão por uma festinha.
Na quinta, fez uma festança, com a presença de vários deputados, para celebrar a prévia do casamento da filha.
ABRAÇO DOS AFOGADOS
O Planalto trabalha para a Lava Jato esmagar Eduardo Cunha, mas sem ajuda de deputados do PP. Até porque o primeiro vice-presidente, Waldir Maranhão (PP-MA), também poderá estar entre os denunciados.
PENSANDO BEM...
...Dilma bem que poderia ir pedalando até o Tribunal de Contas da União, para tentar explicar as manobras fiscais do seu governo.
PODER SEM PUDOR
DEDO ACUSADOR
O Brasil ainda estava sob o regime militar, em 1982, quando o País realizou suas primeiras eleições livres. Em um debate na TV Globo, o candidato do PDT em São Paulo, Rogê Ferreira, sorteado, dispara a pergunta a Lula:
- Afinal, você é socialista, comunista ou trabalhista?
Lula arrancou risadas e deixou Ferreira envergonhado dele mesmo:
- Eu sou torneiro mecânico.
A numerosa facção lulista trabalha para apresentar no 5º Congresso do PT, agora em junho, documento de repúdio à política econômica de Dilma. Com anuência de Lula, os torpedos atingem em cheio o ministro Joaquim Levy (Fazenda) e é um aceno aos sindicalistas.
Lula gosta cada vez mais da ideia de candidatar-se em 2018. A pelegada se reuniu com Lula, no fim do mês, e desceu a borduna em Levy.
LULA NO MURO
No encontro, na sede da CUT, sindicalistas cobraram posição pública de Lula contra o projeto da terceirização e o fim do fator previdenciário.
NA PRESSÃO
As centrais alertaram Lula sobre possível greve geral para pressionar Dilma a vetar o projeto da terceirização, caso o Senado o aprove.
MUDANÇA
Aos mais próximos, Lula defende Nelson Barbosa, do Planejamento, no lugar de Levy. Estaria mais afinado com o plano econômico petista.
AMOR E ÓDIO
Agora persona non grata, Joaquim Levy chefiou o Tesouro Nacional no primeiro governo de Lula.
Aquele do mensalão, do petrolão...
GOVERNO JÁ TORROU R$ 14 MILHÕES COM CARTÕES
Nem parece que o País vive uma grave crise na economia: nos quatro primeiros meses do ano, o governo Dilma conseguiu gastar R$ 14,3 milhões com os cartões de pagamento, os “cartões corporativos”. Apesar do exagero e dos sinais de farra, o Palácio do Planalto se recusa a informar como gastou todo esse dinheiro, alegando “garantia da segurança da sociedade e do Estado”. Ou seja, da própria Dilma.
VAI UMA TAPIOCA?
Antes de o então presidente Lula tornar “secretos” os gastos, ministros foram flagrados comprando até tapioca com cartões corporativos.
NOSSA CONTA
Cartões corporativos do governo também são usados para pagar despesas com combustível e seguranças de familiares de presidentes.
GASTOS MODESTOS
O vice Michel Temer dá sinais exteriores de pobreza, para os padrões Dilma: de janeiro a abril, gastou R$ 172,7 mil usando o cartão.
AÍ, DOUTOR
Eduardo Cunha só tolera falta de deputados ao trabalho por razões médicas ou por integrar missões ao exterior. E tem mandado descontar nos salários. Os atestados médicos já se multiplicaram.
SINAL DE ALERTA
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) leu com lupa a pesquisa do Vox Populi indicando que o governo de Geraldo Alckmin (SP) é ruim ou péssimo para 25% dos entrevistados. Não achou tão ruim assim...
TREMENDO DE MEDO
Com votação do relatório na terça, a MP do Futebol está tirando o sono dos cartolas, pois o clube que continuar ignorando as obrigações pode ser rebaixado à divisão inferior, como aconteceu na Espanha este ano.
FARRA EM VITÓRIA
Durante a XIX Conferência Nacional dos Legisladores e Legislativos Estaduais, na linda Vitória, entre quarta (10) e sexta (12), o contribuinte pode constatar como se desperdiça dinheiro publico. Vai ser uma farra.
BLINDAGEM
Aliados de Robinson Faria têm reclamado do deputado Fábio Faria (PSD-RN), filho do governador do Rio Grande do Norte.
O rapaz não estaria deixando ninguém chegar ao pai sem antes passar por ele.
FALTA DO QUE FAZER
O deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) apresentou projeto que acaba com o dinheiro em espécie. Quer que tudo seja feito digitalmente. Diz que a medida poderá reduzir a sonegação de impostos.
BLOCO NA RUA
O deputado Damião Feliciano (PDT-PB) não esconde sua aptidão por uma festinha.
Na quinta, fez uma festança, com a presença de vários deputados, para celebrar a prévia do casamento da filha.
ABRAÇO DOS AFOGADOS
O Planalto trabalha para a Lava Jato esmagar Eduardo Cunha, mas sem ajuda de deputados do PP. Até porque o primeiro vice-presidente, Waldir Maranhão (PP-MA), também poderá estar entre os denunciados.
PENSANDO BEM...
...Dilma bem que poderia ir pedalando até o Tribunal de Contas da União, para tentar explicar as manobras fiscais do seu governo.
PODER SEM PUDOR
DEDO ACUSADOR
O Brasil ainda estava sob o regime militar, em 1982, quando o País realizou suas primeiras eleições livres. Em um debate na TV Globo, o candidato do PDT em São Paulo, Rogê Ferreira, sorteado, dispara a pergunta a Lula:
- Afinal, você é socialista, comunista ou trabalhista?
Lula arrancou risadas e deixou Ferreira envergonhado dele mesmo:
- Eu sou torneiro mecânico.
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