O ESTADO DE S. PAULO - 07/06
Pior do que a retração de 0,2% do PIB no primeiro trimestre é a crescente desesperança com uma revirada na economia prometida pelo ministro Joaquim Levy para começar no segundo semestre. Em quase dois anos e sete trimestres seguidos - comprova o IBGE - os investimentos não param de cair e as empresas contraem a produção diante de um cenário recessivo, com aumento do desemprego, queda da renda salarial, famílias consumindo menos e crescimento da inadimplência. Arrecadação de impostos em queda, os governos (federal, estadual e municipal) cortam antigos e novos projetos de investimento.
No plano político, o Congresso e o PT mais atrapalham do que ajudam o ministro Levy a recolocar a economia nos trilhos e dar início à retomada do crescimento. Parcela expressiva do PT quer ver o ministro da Fazenda demitido, inclusive a corrente do ex-secretário do Tesouro Arno Augustin, aquele que inventou a "nova matriz econômica", as pedaladas fiscais, os empréstimos entre o governo e bancos públicos e o que mais servisse para maquiar a contabilidade pública, cuja legalidade é hoje questionada pelo Tribunal de Contas da União e ameaça reprovar as contas do primeiro mandato de Dilma.
Se o presente vai mal, a saída é cobri-lo com um véu não muito transparente, deixá-lo de lado e dar visibilidade a um discurso otimista com o futuro, seja ou não ele viável. Lula fez isso em 2003. Prometeu o "espetáculo do crescimento" para julho de 2003, errou na data, mas acertou no ano seguinte (em 2003 o PIB cresceu 1,1%, mas avançou para 5,7% em 2004). Agora Lula quer repetir o feito, mas ignora que há um abismo entre os dois momentos (em 2003 a economia externa ajudou e muito, o ex-ministro Palocci rapidamente recuperou a confiança no governo, o PT ficou quietinho vendo desmoronar as maluquices do passado e Lula cumpriu com talento o papel de showman - tudo muito diferente de 2015).
Nos últimos dias, parece ter partido do Palácio do Planalto a ordem: parem de falar do presente, falem do futuro com otimismo. No mesmo dia em que o IBGE anunciou um recuo de 0,2% do PIB, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, prometia que os leilões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos começam já em 2015 e serão seguidos e contínuos (não forneceu cronogramas e datas para acontecerem). Haja investidores para tanto leilão. Os de sempre estão neutralizados: as empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato, os fundos de pensão de estatais descapitalizados às voltas com déficits gigantes e o BNDES com orçamento encolhido e limites para financiar projetos licitados.
A agenda positiva continuou na terça-feira, com o anúncio do plano de safra, que elevou em 20% os recursos para a agricultura. A presidente Dilma, o vice, Michel Temer, e o ministro Mercadante foram lá prestigiar o grande ato. Declarações aqui e ali de ministros e de dirigentes de estatais tentam reforçar o otimismo com o futuro. Só que a população vive a realidade do presente com perda de quase 1 milhão de empregos formais em um ano, a inflação comendo o poder de compra, a indústria encolhendo produção e empregos e reajustes salariais abaixo da inflação.
Em 2003 o "espetáculo do crescimento" de Lula funcionou, mas agora o momento é outro, muito diferente. Além de as crises econômicas, interna e externa, não ajudarem - tantos foram os erros do primeiro mandato de Dilma e as tentativas de enganar e driblar a realidade -, a população ficou ressabiada, desconfiada quando ouve o governo falar do futuro.
Recuperara confiança agora implica reconhecer esses erros, corrigi-los e mostrar caminhos confiáveis e competentes para retomar os investimentos. Mas sem enganar, dentro do real, sem discursos ilusórios e vazios em relação ao futuro. É seguir contra a corriqueira e desacreditada reação do ex-ministro Guido Mantega todas as vezes que analisava publicamente indicadores econômicos negativos: sem fundamentos para argumentar, ele garantia que o futuro reservava dias melhores para o País e os brasileiros. E o futuro de Mantega não chegava, só piorava.
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