segunda-feira, maio 16, 2011

ANCELMO GÓIS - Reage, Ana


Reage, Ana
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 16/05/11

Quarta, Ana de Hollanda, que tem sido vítima de “fogo amigo” de petistas, visita o Museu Histórico Nacional, no Rio, às 11h. A ministra da Cultura participará da solenidade da Semana do Museu. Um grupo de artistas vai lá lhe prestar solidariedade. 

Aliás...
Juca Ferreira, ex-ministro da Cultura, ex-PV, vai se filiar ao PT, com direito a festa na Bahia. 

‘As inflação’
Do grande economista Edmar Bacha sobre o livro do MEC que defende a linguagem popular, mesmo com erros grosseiros: 
— Agora que o MEC achou solução para nossa incapacidade de alfabetizar os brasileiros, ao apontar o errado como certo, tem gaiato sugerindo a Guido Mantega baixar uma MP para revogar a lei da oferta e da procura para combater a inflação sem afetar o crescimento. Com todo o respeito...

País da pedofilia
Veja que triste. Os números são oficiais. Em 2010, o disquedenúncia nacional recebeu 10.385 comunicados de abuso sexual infanto-juvenil. De janeiro a março deste ano, já são 5.000. A Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos registrou ano passado 32.355 casos de pornografia infantil. 

Lula cibernético 
Será que Lula, fora do poder, tomou gosto pela internet? Ou usa um “personal virtual”? Dias atrás, numa troca de emails, autorizou Noca da Portela, por exemplo, de quem virou chapa, a usar no encarte de seu novo CD uma foto deles dois.

Grife francesa

A Hermès, grife francesa que é sonho de consumo de muita gente, procura um lugar em Ipanema ou no Leblon para abrir uma loja no Rio. Seu diretor Roland Herlory pediu ajuda a Sérgio Cabral para encontrar o endereço ideal.

Saga brasileira
A história é contada no novo livro da coleguinha Míriam Leitão, “Saga brasileira: a longa luta de um povo por sua moeda”. Em 2002, ano eleitoral, FH, então presidente, chamou todos os candidatos ao Planalto. No fim do papo com Lula, Palocci, que estava junto, falou no ouvido de Armínio Fraga, que presidia o BC: “Onde você vai estar à noite?” E Armínio: “No Rio.” E Palocci: “Vou lá te encontrar.”

Segue... 
Os dois, lembra Míriam, tiveram vários encontros. Um dia, Armínio perguntou: “Posso falar que temos nos encontrado?” Palocci concordou, e a revelação acalmou os mercados.

Em tempo...
Dali, Palocci, como se sabe, ganhou a confiança dos agentes econômicos, até cair no seu primeiro escândalo (o do caseiro). Já ontem, a “Folha” disse que ele “multiplicou seu patrimônio por 20 em quatro anos”. Mas aí é outra história.

Rolls-Royce
Será leiloado em julho um Rolls-Royce igual ao usado por Dilma na posse, um dos quatro importados por Vargas, em 1953, com apenas 20.000km rodados. É da família Peixoto de Castro Palhares, que decidiu leiloar 900 obras de arte, além do carro. Um dos interessados é o Museu Rolls-Royce. Lance inicial: R$ 250 mil. A marchand é Soraia Cals.

Trem de ferro
A SuperVia fechou com a canadense Bombardier a compra de novo sistema de sinalização. O sistema, ERTMS, possibilita o freamento automático e reduz o intervalo entre os trens. A ideia é que, a partir de 2012, haja um trem a cada três minutos nas estações entre Deodoro e Central. 

Fala sério 
Em pleno século XXI, a UFF exige para 2avia de diploma que o ex-aluno leve uma “cartinha (palavras da atendente) a mão ou datilografada com margem de dois dedos do lado esquerdo”. A margem de dois dedos do lado esquerdo é para... não sei.

Bruno eterno 
Quinta, às 13h30m, Bruno Barreto, o cineasta, prestará seu Depoimento para a Posteridade, a série do MIS, no Rio. Será entrevistado por Betty Faria, Daniel Filho, Flávio Tambellini e Barretão, seu pai. 

Cena carioca
Acredite. Cansado de tantos pedidos de informação, um camelô ao lado da passarela do metrô de São Cristóvão pôs em sua barraquinha dois avisos. Primeiro: “Serviço de informação, R$ 0,50”. Segundo: “Se eu souber, R$ 1.” Há testemunhas.

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO - Está difícil termos diesel limpo


Está difícil termos diesel limpo
EDITORIAL 
O Estado de S. Paulo - 16/05/2011

Uma das muitas deficiências da gestão pública no Brasil é a falta de coordenação entre as determinações da cúpula do governo e aqueles que devem implementá-las e dar-lhes execução prática. Veja-se o caso do diesel limpo (S-50), o combustível com 50 partes por milhão (ppm) de enxofre, muito menos poluente que o diesel comum, cuja fumaça preta emporcalha o ar causando dano à saúde da população. Em 2002, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) aprovou a resolução 315, obrigando o uso do S-50 a partir do ano seguinte. Não ficou claro, porém, se isso deveria valer apenas para os veículos novos ou para todos os caminhões, ônibus e utilitários movidos a diesel. Em 2008, a questão foi esclarecida, prevendo-se que o abastecimento de todos os veículos pesados deveria ser feito com S-50 a partir de 2009. Na época, a Petrobrás alegou que não havia tempo hábil para fornecer combustível em volume suficiente. Foi firmado então um acordo entre o Ministério Público Federal, a Petrobrás, a Agência Nacional do Petróleo (ANP), pelo qual o diesel limpo deveria passar a ser oferecido nos postos a partir de 2012. Agora, decorridos mais de três anos e faltando poucos meses para entrada em vigor das normas, a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis) informa que os postos de abastecimento não investiram na construção de tanques separados para o diesel limpo, e que não podem ser punidos por isso, pois sua adesão ao esquema seria voluntária.

Na esfera do governo, porém, tudo parece tranquilo. Questionada pela reportagem do Estado, a ANP afirmou, sem dar detalhes, que o Plano Nacional de Abastecimento será cumprido, sem atraso, e que "haverá uma rede de postos em todo o País que garantirá o abastecimento de diesel com baixo teor de enxofre". A agência reguladora não informou que providências pretende tomar para que os postos se enquadrem nas normas nem se prevê punições aos recalcitrantes.

A Petrobrás, por sua vez, garantiu ao Ministério Público Federal, em abril, que o diesel limpo será fornecido em volume adequado para os veículos novos ou adaptados para receber esse combustível. Nada foi mencionado sobre a solução aquosa com 32% de ureia que os postos terão de oferecer para o adequado funcionamento dos motores com diesel S-50. Prevê-se que o País terá de importar mais ureia - também utilizada para a produção de fertilizantes -, o que não é problema, mas que, para a Fecombustíveis, pode causar "algum estresse".

As montadoras vêm produzindo novos veículos para serem abastecidos com o diesel S-50. Mas, pelo sim, pelo não, algumas indústrias utilizam motores que podem ser abastecidos também com o diesel comum. Contudo, como preveniu Gilberto Leal, da Mercedes-Benz, se não houver fornecimento adequado do S-50, tais veículos não serão capazes de suportar o combustível sujo indefinidamente.

Diante de uma situação como esta, o consumidor certamente terá dúvidas se deve ou não adquirir um veículo movido a S-50 ou adaptar para isso seu caminhão ou utilitário, como se previa. O mais provável é que acabe preferindo o combustível sujo, em prejuízo do meio ambiente nas grandes metrópoles, agravados pelo aumento da frota de veículos, o que o S-50 poderia amenizar. Testes revelaram que, mesmo em motores antigos, o diesel S-50 permite redução de 40% de material particulado na atmosfera e de 10% a 15% de óxido de nitrogênio e monóxido de carbono.

É sintomático o fato de os postos, em sua maioria, não temerem a concorrência dos que tenham capacidade para fornecer o diesel limpo. Como disse Ricardo Hanashiro, diretor da Fecombustíveis, "se eu não vender, o consumidor vai achar quem venda" (sic). Aparentemente, os proprietários de postos estão seguros de que esta não será uma tarefa fácil.

Se o governo endurecer, os postos naturalmente recorrerão à Justiça e já devem estar preparados para isso. Tudo indica que a sociedade pode contar com mais um adiamento da obrigatoriedade de uso do diesel S-50 por veículos pesados, que deveria entrar em vigor dez anos depois da resolução do Conama.

GUILHERME FIUZA - A magia do governo contra a inflação


A magia do governo contra a inflação

GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA

Quem estava preocupado com a inflação pode ficar tranquilo. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez o esclarecimento que se espera de uma autoridade responsável num momento como este. Diante da notícia de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo tinha ultrapassado o teto da meta – batendo em 6,51% ao ano em abril, contra o teto de 6,5% –, Mantega explicou que não é nada disso. Segundo o ministro, a aferição da meta não considera a segunda casa depois da vírgula. Estamos salvos.

Seria realmente um desastre se a contabilidade governamental tivesse olhos para aquele algarismo petulante que se colocou, sorrateiramente, à direita do 5. Ainda bem que o Banco Central – segundo Mantega – não enxerga tão longe. É mais prudente. Como se sabe, não existe pecado do lado de baixo do Equador, nem na segunda casa à direita da vírgula. Essa casa deve ser aquela da mãe joana, onde acontecem coisas às quais não convêm à família brasileira assistir.

A segunda casa depois da vírgula tem o teto furado pela subida obscena da inflação. Melhor olhar só para a primeira casa, onde a moral e os bons costumes monetários estão intactos. Ali não se veem a orgia dos gastos públicos no governo popular, a farra do crédito populista e os subsídios mascarados do Tesouro jorrando dinheiro na praça e fustigando a inflação. Essas cenas explícitas de administração perdulária só são visíveis para quem espiar pela fresta da segunda casa depois da vírgula.

Quem insistir em bisbilhotar a festinha de embalo governamental que rola ali, depois não venha reclamar que as cenas são fortes. De sua posição impoluta de zero à esquerda, o ministro avisou que não é para olhar.

Para os que ainda não ficaram tranquilos com o esclarecimento de Mantega, nem tudo está perdido. O governo Dilma acaba de sacar da manga outro dispositivo mortal contra a inflação. Com a simplicidade que caracteriza a literatura petista, o povo foi informado de que os vilões da escalada dos preços são os combustíveis (e, em segundo plano, os alimentos, vá lá). Não olhe para os outros itens encarecendo a sua volta, não estrague o encanto. E continue, claro, com os olhos bem fechados para a festinha das verbas públicas na casa ao lado. O inimigo está nas bombas de gasolina.

E já está sendo fuzilado. Numa operação espetacular liderada pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão – vá calculando a complexidade –, as distribuidoras BR foram intimadas a derrubar os preços da gasolina e do etanol.

Quem poderia imaginar que, um dia, Edison Lobão estaria na vanguarda do combate à alta dos preços?

O Brasil é mesmo surpreendente. Depois de toda a engenharia do Plano Real, quem poderia imaginar que, um dia, Edison Lobão estaria na vanguarda do combate à inflação? Não pode haver nada mais tranquilizador do que ter o pródigo afilhado de José Sarney, símbolo da moderna gestão pública, como ponta de lança da política monetária nacional.

É claro que para colocar Lobão na cara do gol, com a bala de prata contra a inflação, foi preciso alguma mágica. Segundo o ministro Mantega, se abatidos os índices dos combustíveis e dos alimentos, a inflação voltaria a rondar o centro da meta (4,5%). É uma conta fajuta, que nenhum economista sério chancelaria. Mas como numerologia funciona bem – especialmente num país que não tem oposição para ficar prestando atenção nesses detalhes.

Em recente congresso do PMDB, José Sarney, padrinho de Lobão, afirmou que a mídia enfraquece os políticos. Realmente, os jornalistas têm essa mania de implicar com os números cabalísticos das autoridades. Os mais inconvenientes são capazes até de querer olhar para a segunda casa depois da vírgula. Talvez o mais seguro seja seguir o exemplo do governo argentino, que adestrou o IBGE de lá. Aí não tem mais problema: em todas as casas antes e depois da vírgula, os números da inflação sempre obedecem ao dono.

ROBERTO POMPEU DE TOLEDO - Votemos todos


Votemos todos
ROBERTO POMPEU DE TOLEDO
REVISTA VEJA

Quem deve votar no plebiscito que decidirá a criação dos novos estados do Tapajós e de Carajás, ambos desmembrados do atual estado do Pará? Eis uma boa questão. A realização do plebiscito, o primeiro passo para a criação de um novo estado, foi autorizada há poucos dias na Câmara dos Deputados. Projetos de criação de novos estados não faltam no Congresso. Para citar alguns poucos, há um prevendo o estado de Gurgueia, desmembrado do Piauí, outro cortando o Maranhão em dois, outro ainda extraindo de Goiás o território vizinho a Brasília. A novidade, no caso de Tapajós e Carajás, é que passou. Cabe agora, como determina a Constituição, a “aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito”. Qual população seria “diretamente interessada”? Eis a boa questão. Merece uma boa briga.

A criação de novos estados é negócio vantajoso para duas categorias profissionais: os fabricantes de mapas e os políticos. Para os velhos fabricantes de mapas, os que trabalham com material impresso, coitados, já nem é mais. A internet, que os atualiza a um clique, roubou-lhes boa parte do negócio. Para os políticos, o negócio segue excelente. Cada novo estado representa o ganho de um novo governador, dez novas secretarias, uma Assembleia Legislativa de no mínimo dezessete deputados, um Tribunal de Contas de três integrantes e um Tribunal de Justiça de sete desembargadores, tudo isso garantido pela Constituição. No plano federal, da fecunda semente de cada novo estado brotam em Brasília três novos senadores e um mínimo de oito deputados.

O eventual estado do Tapajós, com capital em Santarém, avança em 58% do atual território do Pará, ocupando-lhe toda a metade oeste. O de Carajás, com capital em Marabá, estende-se por 25%, abocanhando-lhe a porção sudeste. O que ainda sobraria com o nome de Pará são meros 17% do atual território - sua porção nordeste, inclusive Belém -, mas onde permanece a maioria da população: 4,6 milhões, contra 1,6 milhão de Carajás e 1,3 milhão do Tapajós. As interpretações correntes de “população diretamente interessada” situam-se entre dois polos. O primeiro restringe-a aos habitantes dos futuros Carajás e Tapajós. A outra estende-a à totalidade dos habitantes do atual Pará.

A questão já deveria ser dada por pacífica. Uma lei de regulamentação do texto constitucional (a de nº 9709, de 18/11/1998) determinou que “população diretamente interessada” é “tanto a do território que se pretende desmembrar quanto a do que sofrerá desmembramento”. Mas os defensores da criação dos novos estados insistem na interpretação estrita, que estaria implícita no advérbio “diretamente”. Claro: uma vitória que se afigura certa, no âmbito restrito dos territórios a ser desmembrados, torna-se duvidosa se a consulta se estende a todo o Pará. O deputado Asdrúbal Bentes, um dos líderes da articulação pró-Carajás, ameaça entrar com ação direta de inconstitucionalidade, para impedir que o plebiscito se estenda a todo o estado. Deve perder, mas seria ótimo que a expressão “diretamente interessada” voltasse a ser examinada. Ao fim e ao cabo, poderia triunfar uma terceira interpretação: a de que “diretamente interessados” são todos os brasileiros.

Os dois eventuais novos estados são incapazes de sustentar-se com as próprias pernas. No colo da União deve cair boa parte das despesas. Além disso, produzirão considerável bagunça institucional. O Senado, com meia dúzia de novos integrantes, sobe a um total de 87. O número já é alto, e mais alto pode ficar, até o limite do disfuncional, se o episódio desencadear uma corrida rumo à multiplicação dos estados. Na Câmara, como a Constituição determina que cada estado tenha um mínimo de oito representantes, Carajás e Tapajós entram com dezesseis novos deputados. Ao que restar do Pará, com uma população bem maior, devem caber de doze a catorze. Temos então que os atuais dezessete deputados paraenses darão lugar a uma soma de, no mínimo, 28. Como acolher o excedente, se a lei determina que a Câmara não passe de 513 integrantes?

Uma solução seria reduzir-se o limite mínimo de oito deputados e baixar de três para dois os senadores por estado. É benéfica demais às instituições para ser aprovada. Pode-se apostar que o Senado ficará como está e o teto da Câmara será elevado. O transtorno institucional, somado à despesa que virá dos impostos de todo o país, conduz à conclusão inescapável de que diretamente interessados são todos os brasileiros. O total do eleitorado deveria ser convocado para o plebiscito.

GOSTOSA

MAÍLSON DA NÓBREGA - A reforma agrária perdeu o encanto


A reforma agrária perdeu o encanto

MAÍLSON DA NÓBREGA

REVISTA VEJA

O Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST) está em claro declínio. O último "abril vermelho" evidenciou seu esvaziamento. As setenta invasões do mês foram comemoradas, mas elas haviam sido 496 em 2004. Os acampamentos reuniam 400000 pessoas em 2003, mas agora têm apenas 100000. Seu estandarte, a reforma agrária, esmaeceu.

A reforma agrária tem raízes na Antiguidade. O Senado romano aprovou leis específicas por volta de 133 a.C. O século XX testemunhou distintos tipos de reforma, alguns deles após revoluções. Em regimes comunistas, como na Rússia e na China, as terras foram expropriadas e coletivizadas. Na Europa Ocidental, a reforma agrária centrou-se na eliminação de características feudais da posse da terra, definindo direitos de propriedade. Esteve ausente onde ocorreu a revolução agrícola do século XIX.

Nos Estados Unidos, a Lei de Homestead (1862) concedeu lotes de terras públicas de 160 acres (64,7 hectares) a imigrantes, ex-escravos e trabalhadores sem terra, futuros líderes da agricultura familiar.

No pós-guerra, aconteceu na Ásia a mais bem-sucedida reforma, a do Japão, imposta pelo general MacArthur, comandante das Forças Aliadas. Drástica e ampla, a reforma redistribuiu terras dos grandes proprietários que dominavam a sociedade rural. Ao quebrar a supremacia desses senhores, ela virou um êxito mais político do que econômico. A redistribuição da riqueza e da renda contribuiu para a democratização e para a estabilidade social do Japão, que se erguia dos escombros da guerra.

A América Latina é plena de casos de insucesso, em geral causados por uma visão socialista da luta de classes entre camponeses e grandes proprietários. Cuba, com sua reforma comunista, protagonizou o maior fracasso agrícola da região. No Brasil, a reforma agrária era demandada particularmente pela esquerda, que se encantava com a ideia de distribuir terras aos pobres. A democratização (1985) lhe deu eminência e inspirou a criação de um ministério.

O MST surgiu em 1984, apoiado por organizações católicas radicais, sindicalistas, petistas e parte da esquerda. A invasão de propriedades se tomou instrumento de sua luta. Militantes foram atraídos sob a promessa de saírem da pobreza. Com Lula, o movimento se fortaleceu. Passou a indicar seus próprios quadros para postos no governo e ampliou o acesso a recursos públicos.

Acontece que a sociedade parece ter-se cansado da agitação e dos atos de violência do MST, como diz o pesquisador Zander Navarro. Não mais haveria demanda significativa pelo acesso à terra. Já a queda de atratividade do MST seria fruto da ampliação do emprego e do bem-sucedido Bolsa Famf1ia, cujos beneficiários pertencem aos mesmos grupos recrutados pelo movimento.

Os assentamentos dos programas de reforma agrária enfrentam problemas. Muitos dos assentados vendem os lotes ou ganham dinheiro com a venda de madeira extraída ilegalmente. Pouquíssimos dispõem das qualificações requeridas por uma agricultura de alta tecnologia.

O agronegócio competitivo cria empregos formais protegidos por leis trabalhistas e previdenciárias. Suas atividades ampliam vagas no comércio. O público-alvo do MST percebe que o acampamento significa ficar na estrada qual um favelado. Seu desafio não é produzir, para cujo mister está despreparado, mas obter renda, que pode vir de programas sociais ou da aquisição de habilidades para trabalhar nas fazendas modernas.

A urbanização e a globalização dos mercados, da informação. da tecnologia e da produção contribuíram para a obsolescência do processo de redistribuição de terras, que se tomou irrelevante para a geração de renda e riqueza.

Aqui, todavia, a reforma ainda se nutre de argumentos de seis décadas atrás. O MST neles insiste por instinto de sobrevivência, pois precisa salvaguardar seu objetivo básico. que é o de mudar radicalmente a sociedade e fazê-la adotar um socialismo do tipo soviético.

PAULO GUEDES - É o terrorismo, estúpido!


É o terrorismo, estúpido! 

PAULO GUEDES
REVISTA ÉPOCA

As últimas pesquisas de opinião da agência Reuters nos Estados Unidos sugerem que apenas 34% dos americanos aprovam a maneira como o presidente Barack Obama conduz a economia do país. Na dimensão política, as mais recentes pesquisas da Associated Press após a morte do líder terrorista Osama bin Laden por forças especiais da Marinha americana indicam a aprovação do governo Obama por 60% dos entrevistados, o maior índice registrado nos últimos dois anos.

Ainda de acordo com a Associated Press, 73% dos entrevistados confiam na capacidade do presidente de enfrentar a ameaça do terrorismo com bons resultados. E 53% acreditam que ele deverá ser reeleito em 2012. É a primeira vez que Obama alcança maioria nessa questão, após um salto de 13 pontos em sua popularidade nas pesquisas desde que atingiu seu ponto mais baixo, no segundo semestre de 2010.

Tenho enorme simpatia por Obama. Ele fez uma belíssima campanha presidencial, que culminou em uma celebração quase universal da democracia. Mas meu sentimento carregava também uma boa dose de compaixão por sua figura humana, pois eu sempre soube de suas poucas chances de sobreviver politicamente ao abismo em que mergulharia a economia americana durante seu mandato.

Esperança e mudança? Sim, podemos? Não no front econômico interno. Como promover mudanças se Obama foi imediatamente capturado pelos mesmos financistas e autoridades do Federal Reserve, o banco central americano, que ampliam as dimensões dessa crise há uma década? E como ter esperança quando expectativas de uma inflação ascendente ameaçam derrubar o poder de compra dos salários e permanece extraordinariamente elevada a taxa de desemprego? A verdade é que o desempenho da economia americana era praticamente uma condenação a Obama, tornando bastante improvável sua reeleição.

Tudo parecia ir também de mal a pior no front político externo. A desordem política e os distúrbios sociais do norte da África ao Oriente Médio são um desdobramento inevitável da explosão dos preços da comida e dos combustíveis. As novas tecnologias e a mobilização popular derrubam ditadores em série. Khadafi luta na Líbia e Assad reprime as manifestações na Síria. Mas aqui nem tudo está perdido. Ante a ameaça de ascensão política do fundamentalismo islâmico, há uma oportunidade de avanço do mundo árabe rumo ao regime democrático.

Nos EUA, a inflação cresce e o desemprego não cai. Mas Obama pode se beneficiar da guerra ao terror

São tempos revolucionários, e a liderança de Obama em assuntos internacionais será continuamente testada. Durante a recente visita ao Brasil, ele autorizou a intervenção militar na Líbia para impedir uma carnificina anunciada. E agora permitiu pessoalmente os passos finais da caçada por Bin Laden. Age com determinação, como um comandante em chefe das Forças Armadas em mais um capítulo de uma guerra aberta e declarada contra o terrorismo.

A economia sempre jogou um papel importante nas campanhas presidenciais americanas. Quando as condições materiais não ajudam, é sempre possível recorrer a emoções como o medo, a insegurança, o patriotismo e a sede de justiça. E isso, na verdade, é o que parece estar acontecendo nas eleições mais recentes. A guerra ao terrorismo reelegeu Bush, como promete agora reeleger Obama. É claro que é ainda muito cedo para concluir se a dimensão política será decisiva em relação à dimensão econômica em 2012. E ainda é cedo para concluir que a maré política permanecerá favorável. Ameaças de “novos e terríveis ataques” partem dos mais diversos grupos terroristas e a situação do Oriente Médio permanece instável.

É interessante observar que a chave para a reeleição de Bill Clinton nos anos 1990 foi o clichê político “é a economia, estúpido”, realçando o papel decisivo das condições econômicas nas eleições presidenciais. Mas agora, para a reeleição de Obama em 2012, o clichê político que revela a surpreendente prioridade de um império econômico em declínio parece ser a segurança pública: “É o terrorismo, estúpido!”.

GOSTOSA

Eles querem cassar seu voto - REVISTA VEJA



Eles querem cassar seu voto

Igor Paulin

REVISTA VEJA

Um fantasma ronda o Congresso Nacional. Na semana passada, ele se cristalizou no formato de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) com uma proposição de arrepiar os cabelos: retirar dos eleitores brasileiros o direito, previsto na Constituição, de votar diretamente em seus candidatos para depurado federal, estadual e vereador. De acordo com a proposta, contida em um texto de apenas duas páginas, o atual sistema de eleição para esses cargos seria substituído pelo chamado "voto em lista fechada". Este modelo, como o nome sugere, prevê que os partidos criem listas de representantes para disputar as eleições para o Legislativo. Entrariam nas listas algumas poucas pessoas aprovadas pelas cúpulas partidárias. No dia da votação, o eleitor só poderia votar na legenda - e não nos candidatos. Sua liberdade de escolha, portanto, ficaria restrita a optar entre o PT, o PMDB, o PSDB. .. e assim por diante. Quanto mais votos um partido recebesse, mais candidatos elegeria. Ou seja: os iluminados escolhidos pela direção partidária ganhariam mandatos mesmo sem ter recebido um único voto em seu nome. A PEC foi aprovada pela comissão de reforma política do Senado. Para entrar em vigor, ainda precisa passar pelo plenário da Casa e, depois, pelo crivo da Câmara.

“O PT é o principal interessado em aprovar essa mudança”, explica o filósofo Denis Rosenfield, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Desde 2007, o sistema de voto em lista fechada tomou-se uma obsessão da alta cúpula petista. O PT alega que o modelo fortaleceria os partidos, por obrigar todos os integrantes de cada agremiação a defender as mesmas bandeiras nas eleições. Balela. O que orienta os petistas nessa escolha é uma esperteza baseada na conjuntura, e não uma questão de princípios. Eles apostam que a lista fechada ampliará sua representação na Câmara. Há dois meses, uma pesquisa do Datafolha revelou que o PT é o partido preferido de 26% dos eleitores. Outros partidos grandes, como o PMDB e o PSDB, foram mencionados por 6% e 5% dos entrevistados, respectivamente. Essa distância brutal em relação às outras legendas se repete em rodas as pesquisas realizadas desde 2003, quando os petistas chegaram ao poder. O que se pretende com a lista fechada, portanto, é congelar o momemo atual da política brasileira, em que o PT domina a paisagem: Petistas de alto coturno também se arrepiam, mas de emoção, ante a possibilidade de ordenar o rol de representantes do partido sem a participação dos eleitores. Na prática, esse mecanismo garantirá aos chefões da legenda mandato vitalício: eles estarão sempre nas primeiras posições da lista petista.

Como quase tudo o que envolve o partido de Lula, há também um forte componente financeiro no meio dessa discussão. Com a lista fechada, querem empurrar goela abaixo do eleitor o financiamento público das campanhas. As legendas não precisariam mais arrecadar dinheiro para disputar as eleições: receberiam um cheque polpudo do governo para cobrir todas as despesas. Desde os anos 80, muitos petistas defendem essa bandeira, sob o argumento de que o financiamento público permite que pobres e ricos concorram em pé de igualdade. Mas a questão só entrou na ordem do dia por causa do escândalo do mensalão. Pilhados operando um gigantesco esquema de corrupção usado para aliciar deputados, os petistas passaram a argumentar que o financiamento público eliminaria a necessidade de praticar malfeitos. Risível. A proposta do partido é que o governo financie as eleições com 7 reais por eleitor - o que significaria 950 milhões de reais a cada pleito. Os recursos seriam distribuídos de acordo com a votação de cada legenda na eleição anterior para a Câmara. Adivinhe quem ficaria com a maior parte, se a divisão do bolo ocorresse hoje. O PT, claro. É mais uma forma de tentar se perpetuar no poder.

O voto em lista fechada surgiu em 1885, na Bélgica. A ideia era permitir que diversas ideologias tivessem espaço no Parlamento, respeitando o direito de minorias. Mas sua aplicação só faz sentido quando há partidos fortemente ideológicos: um monarquista, um socialista, um liberal ... Na geleia geral dos partidos brasileiros, em que há gente que admite não ser "nem de direita, nem de esquerda, nem de centro", não há a menor justificativa para isso. A lógica petista, que pretende mudar as regras do jogo para usurpar do eleitor o direito de escolher seus representantes no Parlamento, emula o velho princípio bolchevique de que não há virtude fora do partido. Só a agremiação sabe o que é melhor para o povo. O germe dessa ideia tosca foi plantado na Rússia, após a revolução de 1917, e até hoje dá frutos podres em lugares tão democráticos quanto Cuba, China e Coreia do Norte. Inspirar-se nesse clube é tudo o que o Brasil não precisa fazer.

JAIR BOLSONARO - QUANDO EU TINHA A SUA IDADE 'Salvei o Negão Celso, boiola, da morte'


QUANDO EU TINHA A SUA IDADE
'Salvei o Negão Celso, boiola, da morte'
JAIR BOLSONARO
FOLHA DE SÃO PAULO - 16/05/11

(...) No Exército, tinhamos de passar por cima de uma lagoa. Mas o sargento balançou a corda, e o negão ‘catapum’ na água! (...) Aí brincavam que só tirei ele d’água para fazer boca a boca


(...) Depoimento a
ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA


Naquela época, existia respeito. Os filhos chamavam o pai de senhor. A gente se borrava de medo, porque todo mundo apanhava em casa.
O irmão mais velho, o Guido, era o disciplinador, o capataz. Pegava o fio de ferro e dava lambada nos irmãos. Sem problema nenhum, ninguém sofreu bullying.
Minha mãe, basicamente, era aquela chocadeira: um filho atrás do outro. Foram três homens e três mulheres.
Conheci o Exército porque Lamarca [militar desertor antiditadura] passou pela minha cidade, atirou em oito policiais militares e feriu um civil. Ele se refugiou lá perto de Eldorado Paulista (SP).
O Exército chegou em 1970 e acampou nas margens da cidade. Aos 15, eu trabalhava tirando palmito por ali. Como conhecia a região, passava informações. Dois anos depois, me inscrevi na escola preparatória do Exército. Fui o primeiro militar da família.
Entrei na Academia Militar das Agulhas Negras em seguida. No primeiro ano, pedi desligamento. Não me adaptei. Mas meu pai não deixou. Olhou para minha cara, levantou o braço e disse: "Vou te quebrar todinho!".
Me formei em 1977. Infelizmente, não participei da luta contra a guerrilha.
Em 1964, lembro de ter ido com minha mãe na Marcha da Família Com Deus Pela Liberdade. Na igreja, os padres pregavam que Deus iluminasse os militares.
Teve gente torturada, sim. Nós não negamos. Você só pode obter informações dessa maneira, é a regra do jogo.
O pessoal da esquerda fazia besteira -carro-bomba, sequestro- e depois se vitimizava. Se o cara matou colega seu, é do ser humano pegar para arrebentar. Hoje, com a cabeça que tenho, faria muito melhor. Tem que eliminar. Guerra é guerra.
Agora vocês falam de homofobia. Naquele tempo, era viadinho mesmo. Só tinha dois gays na cidade. E era para ter muito mais! Minha juventude foi ter a primeira relação com 16, 17 anos. Então, existia uma libido forte.
Você estava atrás de qualquer coisa, e não tinha mulher! Quando aparecia uma menina, era igual cadela no cio, aquele bando de cachorro atrás. Se existisse homossexualismo, acho que vários rapazes fariam. Não acredito nessa história de que a pessoa nasce com isso. A maioria é levada pelos costumes.
Nós desconfiávamos de alguns [gays] na Academia. Quando iam para o chuveiro, brincávamos: "Atenção, fulano está indo tomar banho, vamos lá também!".
Minha relação com os negros sempre foi ótima. Não vou dizer que meus melhores amigos eram negros, mas tive bons amigos negros.
E teve o caso do negão Celso. Em 1978, tinha um exercício em que passávamos por uma corda em cima de uma lagoa. Mas o sargento balançou a corda, e o recruta Celso "catapum" dentro d'água! Agarrei o negão no fundo. Tirei ele pra fora, porque estava morrendo afogado. Eu era um atleta, um cavalo.
Depois me contaram: "O soldado Celso é boiola!". Começou a brincadeira em cima de mim: só tirei o negão para fazer boca a boca. Se fosse racista, eu teria pulado?
Me perguntam: se fosse solteiro, namoraria a Taís Araújo? Lógico que sim! A gente só não gosta da branca feia, negra feia, amarela feia.
Já no meu tempo de moleque, se aceitava qualquer coisa! Se falasse fino, já estávamos prontos para o combate. Na nossa época, o contexto era outro.
Minha primeira vez foi com uns 17 anos. Hoje se chama zona. Compra-se uma ficha e fica na fila. Acontecia com a primeira mulher disponível. A grande preocupação era gonorreia, mas, se você pegava, era marcado pela galera como "machão", "garanhão". Comigo, nunca.
Comecei a namorar no final do quarto ano. Um colega falou: "Bolsonaro, tem uma igreja, tá cheio de menininha lá!". Fui lá. Acabei casando e tive três filhos com ela.

"No primeiro ano, pedi desligamento [do Exército]. Não me adaptei. Mas meu pai não deixou. Olhou para minha cara, levantou o braço e disse: "Vou te quebrar todinho!"

GOSTOSA

PAULO GUEDES - Entre o passado e o futuro


Entre o passado e o futuro
PAULO GUEDES
O GLOBO - 16/05/11

Meus caríssimos amigos Míriam Leitão e João Paulo dos Reis Velloso convidam-nos esta semana, respectivamente, a revisitar o passado e a perscrutar o futuro da economia brasileira. A nossa instigante jornalista publica nesta terça-feira "Saga brasileira, a longa luta de um povo por sua moeda", sustentando que "os governos democráticos herdaram uma bomba a ser desarmada, uma herança maldita de descontrole fiscal, dívida externa e correção monetária". Já o ex-ministro do Planejamento dirige o XXIII Fórum Nacional, em que defende "a educação de qualidade e o espírito empresarial como os pilares para o desenvolvimento de nosso país".

Tenho enorme simpatia não só por Míriam mas também pela maior parte dos economistas por ela entrevistados, ao contrário do que minhas fustigantes críticas a seus planos mal concebidos e malsucedidos no passado possam sugerir. As disputas devem ser entre as ideias, nunca entre os indivíduos, e sempre em busca do melhor resultado para a sociedade.

Mas não progrediremos se fugirmos de uma busca pela verdade. A hiperinflação, a moratória externa, a ignomínia do sequestro da poupança devem ser atribuídas a nossos próprios equívocos no equacionamento das formidáveis pressões por gastos sociais de uma democracia emergente. O Plano Real foi uma reabilitação de nossos quadros políticos e econômicos, resgatando-nos de uma hiperinflação que revelara antes sua própria imperícia.

Ao revisitarem seus experimentos e reformularem suas convicções, o PSDB e seus economistas nos devem a mesma honestidade intelectual que cobram hoje dos quadros do PT. Pois, se insistirem em recosturar uma versão virtuosa de um passado inepto, em que até mesmo o Plano Cruzado é festejado "por criar no imaginário coletivo a crença na possibilidade de uma moeda estável", estaremos quem sabe daqui a pouco, ante a recidiva inflacionária, celebrando após duas décadas e meia de baixo crescimento "o mais longo programa de combate à inflação da história da humanidade".

E sim, como anuncia Reis Velloso em seu fórum, os vetores para a construção de nosso futuro são efetivamente a educação e o empreendedorismo. Mídia, telecomunicações e internet já estão em convergência com o setor educacional para garantir a universalização de conteúdo da mais alta qualidade. E nunca vi em minha longa experiência profissional uma explosão de empreendedorismo como agora ocorre no país.

GEORGE VIDOR - Trégua nas altas


Trégua nas altas
GEORGE VIDOR
O GLOBO - 16/05/11

O ciclo de alta dos preços das commodities parece que deu uma trégua. Cotações de alguns produtos (exatamente os que haviam subido espetacularmente, como petróleo, algodão e açúcar) completaram seis semanas com mais quedas que altas eisso acabará se refletindo no varejo. Éa explicação para omercado ter ficar um pouco mais otimista em relação à trajetória da inflação.

Ainda não há uma superoferta de commodities no mercado internacional. As cotações estariam então refletindo uma leve moderação na demanda chinesa e de outras economias asiáticas, que já não estariam crescendo no ritmo alucinante do ano passado. Era de se esperar que tal mudança viesse aacontecer, em algum momento.

A Rio Negócios, uma parceria entrea prefeitura e iniciativa privada, inspirada na experiência adquirida por Londres como sede dos Jogos Olímpicos de 2012, comemora seu primeiro aniversário este mês com mais um tento. Depois de avaliar oRio como oportunidade, a inglesa Diageo resolveu instalar no município seu novo centro de distribuição de bebidas destiladas (vodca euísque, como os das marcas Red Label e Johnny Walker). A jovem Rio Negócio é uma agência de atração de investimentos diferente de outras bem-sucedidas no Brasil porque é de fato uma PPP (parceria público- privada). São cerca de 20 executivos cedidos temporariamente por empresas privadas, e durante esse período ficam submetidos a um contrato de confidencialidade. Umexecutivo vindo da IBM tem aresponsabilidade de atrair empreendimentos de tecnologia de informação que podem ser até em tese concorrentes da companhia da qual se licenciou, pois na Rio Negócios sua tarefa é pública. Um núcleo de inteligência, que inclui até um geógrafo na equipe, avalia, a partir da localização ideal para o investidor/cliente, áreas que o município identifica como boas oportunidades — e que se encaixem na estratégia de desenvolvimento do município. O cartão de visitas da Rio Negócios, dirigida por Marcelo Haddad, é ocentrode pesquisas da GE, que será instalado junto àUFRJ e ao Cenpes da Petrobras (a obra está programada para o segundo semestre, mas já rendeu “filhote”, pois haverá uma área, não prevista no projeto original, dedicada à Wellstream, empresa adquirida recentemente pelaGE, e que fabrica dutos flexíveis para transporte de óleo e gás extraídos nomar). O Rio cumpria apenas tabela nessa disputa ecom duas semanas de vida a agência conseguiu fazer umtrabalho exemplar, que virou o jogo em favor do município. Fundamentalmente oque aRio Negócios faz é buscar potenciais investidores e tratálos como clientes. Emvez de se limitar a mostrar oque cidade tem a oferecer,a agência inverte o método e começa seu trabalho indagando do investidor: o que ele procura? Não por acaso, a Rio Negócios escolheu como sede meio andar do tradicional prédio da Associação Comercial, na Rua da Candelária, no Centro, onde no hall de entrada há um busto do Barão com os dizeres “aqui é a Casa de Mauá”. O presidente do conselho da agência é Olavo Monteiro de Carvalho, que foi presidente da ACRJ.

O prefeito Eduardo Paes se entusiasmou com o modelo após uma visita a Londres, mas é evidente que a Rio Negócios não resolve todos os obstáculos para viabilizar investimentos no município. Atributação permanece como uma barreira importante. Assim como a alíquota de 5% de ISS tem sido um desestímulo para empresas de tecnologia da informação, na área de saúde o município perde competitividade até com vizinhos no caso de laboratório de análises, especialmente os de tratamento de imagem, que hoje, com os recursos da telemedicina, não precisam mais estar fisicamente próximos de hospitais, clínicas econsultórios. No caso, São Paulo cobra 2% de ISS; Duque de Caxias, a 20 quilômetros do centro do Rio, 1%. Além da tributação, no caso específico das empresas de tecnologia da informação, o consultor Fernando Varella (que foi coordenador do projeto Tecnópolis, em Petrópolis) aponta uma deficiência do Estado do Rio como um todo, que éafalta de entrosamento entre os diversos centros de desenvolvimento epesquisa tecnológica. “Eles não se falam, não se entrosam, não cooperam entre si”, diz. Na opinião do consultor , a Faperj, que se dedica mais ao financiamento de pesquisas científicas, deveria dar mais atenção à pesquisa tecnológica.

É difícil para um carioca escrever sobreessa questão dos royalties do petróleo e não ser acusado de paroquial. Mas realmente éum tema, que se não tratado agora da maneira corretatrará grandes confusões, começando pelo próprio conceito de royalties. Esse tipo de compensação, tão antiga que o termo se refere aos cofres do rei (na época que o erário público e a coroa real se confundiam), está atrelado à exploração mineral, ou seja, de recursos não renováveis. Contra aalegação que os royalties transformaram o Rio em um “emirado”, o economista Mauro Osório fez um levantamento arrasador: em termos de receita pública/PIB, o Rio de Janeiro éo22 o - da Federação (e a explicação para isso é a ausência de ICMS sobreo petróleo extraído). Sem os royalties acabará, quem sabe, no último lugar . E comparando-se a receita corrente líquida por habitante da Região Sudeste, oEstado do Rio só tem três municípios na lista dos 25 maiores (e sendo que um deles, Porto Real, não recebe royalties). Pela regra que Lula vetou, o Estado do Rio passaria a ficar com uma fatia de 1% dos royalties (caindo de uma arrecadação de R$ 7 bilhões para R$ 100 milhões), enquanto vários estados não produtores iriam receber 7%. Seria mesmo uma apropriação indébita.

POFEÇORES PROGREÇISTAS: É POBLEMA DE MENAS

FELIPE INÁCIO ZANCHET MAGALHÃES e HUGO SARUBBI CYSNEIROS - Constituintes togadosDE OLIVEIRA


Constituintes togados
FELIPE INÁCIO ZANCHET MAGALHÃES e HUGO SARUBBI CYSNEIROS DE OLIVEIRA
O Globo - 16/05/2011

A união estável entre pessoas do mesmo sexo

Muito se tem falado na mídia sobre o julgamento do STF que resultou na criação de novomodelo de entidade familiar,a união estável homoafetiva. Éprevisível enatural que expressiva parcela da opinião pública tenha abordado ofato sob a ótica da universalização dos direitos fundamentais e da consolidação do exercício da cidadania em favor de uma coletividade que se julgava não contemplada por prerrogativas já fixadas em favor das três únicas espécies de família reconhecidas pela legislação.

Mesmo cientes de que corremos o risco de sermos tachados de medievais, insistimos em invocar conhecida máxima: os fins não justificam os meios. Até o julgamento, aConstituição fixava (como ainda fixa) três tipos de entidade familiar: o casamento entre homem e mulher, a união estável entre homem e mulher e as formadas por um ascendente e seus descendentes.
O STF julgou pela inconstitucionalidade da norma do Código Civil epela sua interpretação “conforme” a Constituição, para reconhecer uma quarta espécie de entidade familiar , formada por pessoas de mesmo sexo. Ao criar uma quarta espécie de família, em explícito desacordo com o texto constitucional e contra a vontade dos constituintes de 1988, o STF—em análise unilateral do conceito de família, função constitucional que não lhe competia exercer —substituiu a função do Congresso. Suprimiu, assim, odebate do tema da necessária exposição ao crivo da vontade popular , ignorando o mister dos representantes eleitos e mandatários do poder que da sociedade provém. A justificativa de validação dos direitos de uma minoria tampouco comporta exceção à regra acima, vez que não há outra forma de se exercer a atividade legiferante constitucional, a não ser com o protagonismo exclusivo do Legislativo. A comparação feita pelos demandantes com a construção jurisprudencial da Suprema Corte americana em relação aos direitos dos afro-americanos é inadequada por várias razões, sendo suficiente lembrar que
aquela técnica legislativa constitucional é distinta da nossa por razões históricas. Sobre o mesmo tema, o Conselho Constitucional Francês reconheceu que a declaração dos direitos do homem da Revolução Francesa, ao usar os termos homem e mulher , não fere a Constituição, não é discriminatória, nem atenta contra princípios fundamentais.

Apesar da unanimidade no STF, o tema não é pacífico. A decisão do Supremo deve ser evidentemente cumprida, mas deve nos levar a uma profunda reflexão junto à sociedade acerca
dos critérios utilizados pelos ministros. A posição do tribunal constitui aparente sintoma de grave crise pela qual passam os poderes da República, que vêm dando sinais de confusão
entre suas respectivas atribuições, por meio da qual as funções, por meio da qual as funções de julgar , legislar e executar parecem ter se desvencilhado de seus reais legitimados. Por fim, uma breve e respeitosa consideração sobreovoto do ministrorelator , Ayres Britto, que, ao elaborar suas razões, o fez de maneira primorosa, com alusão a textos de Nietzsche, Sartre, Chico Xavier eCaetano Veloso. Talvez aMPB, na voz de Tim Maia, nos reserve uma letra que melhor retrata nossa realidade constitucional positivada: “Vale tudo! Só não vale dançar homem com homem, nem mulher com mulher . O resto vale!”

FELIPE INÁCIO ZANCHET MAGALHÃES e HUGO SARUBBI CYSNEIROS DE OLIVEIRA são advogados e representaram a CNBB no julgamento do STF.

RUY CASTRO - Estrelas cadentes


Estrelas cadentes
RUY CASTRO
folha de são paulo - 16/05/11

RIO DE JANEIRO - A estrela americana Lindsay Lohan, 24 anos, foi condenada a quatro meses de prisão pelo furto de um colar numa loja de Los Angeles. Por que uma mulher rica, bonita e admirada como Lindsay teria feito aquilo? Porque as substâncias que se tornaram o seu feijão com arroz -álcool e cocaína- já tomaram o poder sobre sua vontade. Vide seu entra e sai de clínicas para dependentes e prisões por infrações de trânsito, desacato à autoridade e violação de liberdade condicional.

Charlie Sheen, 45, astro em galopante carreira para o abismo, também tem ocupado o noticiário, não por seu trabalho como ator, mas pela exposição obsessiva de seu ego e pela prepotência com que se refere aos produtos que o estão destruindo -como se ainda fosse senhor de suas decisões.

E Mel Gibson, 55, decepcionou seus fãs ao dizer outro dia que não se importa se não voltar a ser ator. É uma admissão de que não vale a pena lutar pela sobriedade e pela lucidez. A doença venceu.

Lohan, Sheen e Gibson vêm se juntar a nomes brilhantes dos anos 70 que viram sua vida profissional abreviada por bebida, droga e remédios, ou tiveram uma carreira errática e com menos sucesso do que mereciam: Liza Minnelli, Ryan O"Neal, Donald Sutherland, Ali McGraw, James Caan, Carrie Fisher, Richard Dreyfuss, Melanie Griffith e o próprio pai de Charlie, Martin Sheen. Sem contar os que morreram, como John Belushi.

Na velha Hollywood, os estúdios escondiam do público os problemas de seus contratados -deuses como Spencer Tracy, Errol Flynn, William Holden, Montgomery Clift, Judy Garland. Evitava-se o escândalo, não a progressão da doença. Hoje, ninguém se escandaliza com nada, mas, sem os estúdios, os atores têm de lidar sozinhos com a doença, a exposição pública e a previsível e inevitável derrocada na carreira e na vida.

GOSTOSA

MÔNICA BERGAMO - ASAS PARA VOAR


ASAS PARA VOAR
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 16/05/11

O Ministério Público de SP oficiou o Conselho Nacional de Justiçasugerindo que os cartórios sejam proibidos de enviar para o SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) títulos protestados sem que o devedor reconheça a dívida. A instituição investiga empresas que compram títulos de terceiros, já vencidos ou de valores irrisórios, e enviam para o protesto. Quando o devedor descobre que ficou com o nome sujo, as empresas se oferecem para regularizar sua situação, por um valor bem maior do que a pendência.

ALERTA MÁXIMO

A CNBB e o Exército se mobilizaram para barrar a discussão do projeto que torna crime os atos homofóbicos, de agressão e rejeição a homossexuais. Cardeais telefonaram para o presidente do Senado, José Sarney, que acionou o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), evangélico. "Sarney me ligou e disse: "Fica de olho". Pediu que eu acompanhasse o assunto com atenção", diz Crivella. Que recebeu ligação também do comando do Exército, preocupado com a obrigação de aceitarem homossexuais em seus quadros.

PARALELAS

"Eles [generais] me disseram que os soldados vão para o mato, ficam sozinhos dias e dias, e que pode haver promiscuidade", diz Crivella. O senador pretende apresentar um projeto tornando crime não apenas a homofobia, "mas qualquer sexismo", ou atitude de discriminação fundamentada no sexo, como alternativa a artigos do projeto hoje em pauta no Congresso.

O DESVIO É A ARTE

A mostra "Entretanto: o Desvio É o Alvo" expôs o trabalho de 21 jovens artistas plásticos, como Daniel Scandurra, em uma casa do Jardim Europa. Estiveram na abertura o organizador do evento, Pedro Igor Alcântara, e o arquiteto Ruy Ohtake, entre outros.

BINÓCULO

Gilberto Gil e Juca Ferreira, ex-ministros da Cultura, assistem à polêmica em torno da sucessora, Ana de Hollanda, a léguas de distância. Gil está fora do país desde março, em turnê por Europa e Ásia, com paradas em Israel, África e Macau. E Juca está morando em Madri. Ele trabalha na Segib (Secretaria-Geral Ibero-Americana) e está organizando o Ano Internacional dos Afrodescendentes da ONU. O evento será em novembro, em Salvador.

BINÓCULO 2

No auge da confusão, antes de saber que os dois estão há meses fora do país, seguidores de Ana estavam convencidos de que os ex-ministros estariam entre os que tentavam "desestabilizar" a ministra. Distantes, os dois acabaram riscados da lista de "suspeitos".

CORREIO ELEGANTE

E Flora Gil está organizando o segundo São João carioca, que no ano passado levou 300 mil pessoas à Quinta da Boa Vista, no Rio. Desta vez o carro-chefe da festa junina será Elba Ramalho, e mais Gil, Caetano Veloso, Dominguinhos, Alcione e Geraldo Azevedo, que farão uma homenagem ao baião. A festa será em 12 de junho, Dia dos Namorados e véspera do Dia de Santo Antônio.

ÁGUAS E ESGOTOS

A Sabesp assumiu o compromisso de investir R$ 2 bilhões por ano até 2018 na reunião de seu conselho administrativo, na semana passada. A empresa teve lucro de R$ 1,6 bilhões em 2010.

NEGÓCIO PRÓPRIO

Além de dar prêmio de R$ 1,5 milhão para o vencedor do programa "O Aprendiz", apresentado por João Doria, a TV Record vai abrir uma franquia para o primeiro colocado. A emissora negocia com uma empresa de alimentação, que também patrocinaria a atração.

SAMBAS DE NOEL
Dori Caymmi, que vive nos EUA, vai ao Rio em junho se apresentar ao lado da irmã, Nana, na festa de entrega do Prêmio da Música Brasileira, que este ano homenageia Noel Rosa. No repertório, "Pra Que Mentir?" e "Último Desejo", músicas que a mãe, Stella, gostava de cantar.

A BOLSA DE MICHELLE

A bolsa de couro amarela que Michelle Obama usou para ir à Cidade de Deus, durante sua visita ao Brasil, em março, está à venda na internet. O acessório existe nas cores verde e laranja, além da usada pela primeira-dama americana. Custa R$ 208 no site da Banana Republic. Mais impostos ao chegar ao Brasil.

CURTO-CIRCUITO


A Associação dos Advogados de São Paulo lança a revista "Precatórios" em sua sede hoje às 19h.

A clínica da dermatologista Mônica Aribi se muda para a rua Mato Grosso, em Higienópolis, no final do mês.

O curso O Islã Entre o Fundamentalismo e o Sufismo começa hoje, das 20h às 22h, no espaço ProjetoCultura.

O restaurante Sotero será inaugurado em Santa Cecília nos próximos dias.

Martinez JazzFunk se apresenta hoje a partir das 19h no Sesc Consolação. Livre.

Eduardo de Almeida Carneiro, da AACD, visitou Amílcare Dallevo Jr., da RedeTV!, pedindo para que a emissora ceda artistas para a 14ª edição do Teleton.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA, THAIS BILENKY e CHICO FELITTI

CARLOS ALBERTO SARDENBERG - Se pelo menos ensinassem Português


Se pelo menos ensinassem Português
CARLOS ALBERTO SARDENBERG

O Estado de S.Paulo - 16/05/11

Os brasileiros falam de muitos modos. Há alguns programas de rádio no Nordeste que são simplesmente incompreensíveis para os paulistas. Um linguajar gaúcho bem cantado soa difícil em Manaus. Mas, quando se trata de estudar Matemática ou Ciências, todos os alunos brasileiros precisam saber o português, digamos, oficial, a chamada norma culta. Ou, ainda, quando uma companhia de Tecnologia da Informação (TI) lança um novo produto, uma máquina têxtil, por exemplo, o manual estará escrito no português normatizado, o dos dicionários.

Logo, as escolas brasileiras devem ensinar esse português, certo? Não é bem assim - é o que estão dizendo professores e linguistas alinhados na tese de que não há o certo e o errado no uso da língua. Há apenas o adequado e o inadequado. Assim, "nós pega o peixe" não está errado. E se alguém disser que é, sim, errado, estará cometendo "preconceito linguístico".

Essa tese se encontra no livro Por Uma Vida Melhor, da Coleção Viver, Aprender (Editora Global), que foi adotado, comprado e distribuído pelo Ministério da Educação a milhares de alunos. Daí a polêmica: trata-se de um livro didático, não apenas de uma obra de linguística.

Mas a polêmica está tomando caminhos equivocados. O pessoal favorável a essa tese argumenta com a variedade da língua falada e com a evolução permanente da língua viva, acrescentando algumas zombarias com o que consideram linguajar culto, das elites, mas que não passa de um falar empolado.

Um velho amigo se divertia fazendo frases assim: "ele saiu em desabalada carreira pela via pública", em vez de "ele foi correr" ou "fazer jogging".

Brincadeiras. No entanto, um aluno de 15 anos deveria rir dessa brincadeira.

O que o senhor acha, caro leitor? O aluno médio de uma escola pública brasileira perceberá o jogo com aquelas palavras? Entenderá sem esforços que se trata de um modo rococó de dizer algo simples?

Eis o equívoco em que nos estamos metendo. Em vez de tomar como prioridade absoluta o ensino da língua "oficial", aquela na qual vêm escritos os jornais, os manuais de TI, os livros de Matemática e os de Ciências, abre-se um debate para dizer que as crianças brasileiras podem falar e escrever "os menino pega os peixe".

É claro que podem. Mas precisam saber que esse não é o correto. E, se não souberem o correto, não poderão ler aquilo que os vai preparar para a vida profissional e para a cidadania.

Vamos falar francamente: uma pessoa que se expressa mal, que conhece poucas palavras e poucas construções, é uma pessoa que pensa mal, que compreende pouco.

Os alunos de Xangai foram muito bem no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês) - o teste internacional para jovens do ensino médio, aplicado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A prova avalia o conhecimento da língua, Matemática e Ciências. Na imensa China, entre 1,35 bilhão de habitantes, falam-se muitas línguas e muitos dialetos. Mas há uma língua oficial, escrita e falada, na qual os chineses estão alcançando posições de ponta na ciência e na tecnologia. Ensinam a língua intensamente.

Os alunos brasileiros vão mal no Pisa. Apresentam baixíssimo índice de compreensão de textos. Não sabem Português, e esse é um problema social e econômico. A baixa educação simplesmente condena à pobreza.

Dizer aos meninos, em livros didáticos, que "nós pega o peixe" está certo não é apenas um equívoco, é um crime. E discutir essas teses é perda de tempo, energia e dinheiro.

É como se tivessem desistido. Como não se consegue ensinar o Português, então vale o modo errado. E quem pensa diferente é preconceituoso. E então não precisa ensinar mais nada, não é mesmo?

Nossos professores, educadores e linguistas deveriam concentrar seus esforços num tema: como ensinar a língua culta para todos os alunos das escolas públicas e rapidamente. Conseguido isso, depois que nossas notas no Pisa alcançarem os primeiros lugares, então, tudo bem, vamos discutir as variações e os modos populares.

Nada de mais. O ex-vice-presidente da República e ex-senador Marco Maciel tem certamente uma ampla experiência política para transmitir. Mas não em assuntos de turismo e trânsito na cidade de São Paulo.

Mesmo assim, o prefeito Gilberto Kassab o nomeou conselheiro da São Paulo Turismo e da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), cargos que exigem uma reunião mensal e pagam R$ 6 mil ao mês, cada.

Maciel aceitou. E desistiu das vagas na quinta-feira, 15 dias depois de ter sido nomeado. Disse que vai continuar lutando pelos "princípios sociais-liberais".

O prefeito não falou nada. Nomeou, desistiu, pronto, não tem nada de mais.

E, entretanto, os dois políticos revelaram um total descaso pelo cidadão (e contribuinte) paulistano.

O trânsito em São Paulo é um desastre. A cidade se pretende de "turismo de negócios", mas não tem hotéis nem centros de convenção suficientes nem estádio para a Copa do Mundo. Não há nenhum programa estrutural do prefeito para esses dois gargalos da metrópole.

Ou seja, nem Kassab poderia ter nomeado nem Maciel ter concordado. Só desistiram porque pegou mal na imprensa. Nenhum pedido de desculpas. Danem-se os moradores presos no trânsito.

GOSTOSA

JOSÉ GOLDEMBERG - O futuro da energia nuclear


O futuro da energia nuclear
JOSÉ GOLDEMBERG
O Estado de S.Paulo - 16/05/11

Existem tecnologias que resolvem problemas importantes e vieram para ficar. Outras atravessam um "período de ouro", perdem importância ou até desaparecem.

Automóveis, por exemplo, desenvolvidos no início do século 20, mudaram a face da civilização como a conhecemos. E mesmo que as reservas mundiais de petróleo se esgotem, soluções técnicas vão ser encontradas para mantê-los circulando.

Outras tecnologias promissoras enfrentaram problemas e foram abandonadas. Um bom exemplo é o dos zepelins, enormes balões cheios de hidrogênio que abriram caminho para viagens aéreas intercontinentais na década de 1930, época em que a aviação comercial ainda engatinhava. Mas bastou o acidente com o Hindenburg, zepelim alemão que se incendiou em Nova Jersey (EUA), em 1937, para selar o destino dessa tecnologia.

A energia nuclear parece atravessar um desses períodos críticos: ela teve uma "época de ouro" entre 1970 e 1980, quando entraram em funcionamento cerca de 30 novos reatores nucleares por ano. Após o acidente nuclear de Three Mile Island, nos Estados Unidos, em 1979, e em Chernobyl, na Ucrânia, então parte da União Soviética, em 1986, o entusiasmo por essa tecnologia diminuiu muito e desde então apenas dois ou três reatores entraram em funcionamento por ano. Houve uma estagnação da expansão do uso dessa energia.

As causas dessa estagnação são complexas: por um lado, a resistência do público, preocupado com os riscos da energia nuclear; e, por outro, razões mais pragmáticas, como o seu custo elevado.

Apesar desses problemas, a produção de energia nuclear não resulta em emissões de gases responsáveis pelo aquecimento da Terra, que é o caso quando se produz energia elétrica com combustíveis fósseis, como carvão ou gás natural. As preocupações com o efeito estufa levaram vários ambientalistas a apoiar uma "renascença nuclear".

Mas eis que acontece o desastre de Fukushima, com gravidade comparável à de Chernobyl, afetando diretamente centenas de milhares de pessoas e espalhando inquietações sobre o efeito da radiação nuclear numa vasta área do Japão e de países vizinhos.

O setor nuclear tem tentado minimizar a gravidade do acidente no Japão, atribuindo-o a eventos raríssimos, como um terremoto de alta intensidade seguido por tsunami, que dificilmente ocorreriam em outros locais. Essa é uma estratégia equivocada, que pode satisfazer engenheiros nucleares, mas não os setores mais esclarecidos da população e governos de muitos países.

Reatores nucleares contêm dentro deles uma enorme quantidade de radioatividade e o problema é sempre o de evitar que ela se espalhe, como se verificou em Chernobyl. Sucede que não é preciso um terremoto e um tsunami para que isso aconteça. Bastam falhas mecânicas e erros humanos, como ocorreu em Three Mile Island. Segurança total não existe.

É possível melhorar o desempenho dos reatores e torná-los mais seguros, mas isso acarretará custos mais elevados, o que tornará a energia nuclear ainda menos competitiva do que já é em relação a outras formas de geração de eletricidade. Além disso, a grande maioria dos reatores nucleares atualmente em uso começou a funcionar 30 ou 40 anos atrás e forçosamente eles terão de ser "aposentados" em breve - os de Fukushima funcionam há mais de 40 anos. A redução da vida útil dos reatores diminuirá, certamente, sua competitividade econômica.

Mais ainda, será preciso resolver de vez o problema do armazenamento permanente dos resíduos nucleares, que se arrasta há décadas. Até hoje os elementos combustíveis usados, que são altamente radiativos, são depositados em piscinas situadas ao lado dos reatores - e um dos problemas em Fukushima foi a radioatividade liberada quando o nível da água da piscina baixou. Só nos Estados Unidos existem essas piscinas ao lado dos 104 reatores lá existentes. Em Angra dos Reis a situação é a mesma.

Finalmente, há o problema de quem pagará pelas compensações para a população atingida pelos acidentes nucleares. Os limites fixados pelos governos para cobrir esses danos são atualmente muito baixos e deverão aumentar muito.

Como resultado dessas inquietações e incertezas, está em curso uma reavaliação, em grande número de países, sobre o futuro da "renascença nuclear" e da sobrevivência da própria opção do uso de reatores nucleares para a geração de eletricidade. Alguns países já adotaram o que se chama de "estratégia de saída", pela qual novos reatores não serão construídos.

A Bélgica e a Suíça já adotaram essa política, bem como o Chile e a Alemanha. A China suspendeu a autorização para a construção de mais usinas até que seja feito um reestudo completo das suas condições de segurança. Nos Estados Unidos, acaba de ser abandonado o projeto de construção de dois reatores no Estado do Texas, os primeiros a serem iniciados após mais de 30 nos de moratória nuclear.

Outros países, provavelmente, seguirão o mesmo caminho, sobretudo os que dispõem de outras opções mais econômicas e menos perigosas para a geração de energia elétrica. Esse é, claramente, o caso do Brasil, onde existe um amplo potencial hidrelétrico a explorar, bem como a cogeração de eletricidade nas usinas de açúcar e álcool, e também a energia eólica. A Agência Internacional de Energia Atômica reduziu sua projeção de novos reatores nucleares no mundo para 2035 em 50%.

Alguns países, como a França, onde quase 75% da eletricidade tem origem nuclear, e até mesmo o Japão, que não tem muitos recursos naturais, aumentarão o uso do gás, o que, consequentemente, aumentará as emissões de carbono. Haverá, nesse caso, escolhas difíceis. Mas o aquecimento global ocorrerá num horizonte de tempo longo e prevenir novos acidentes nucleares é uma tarefa urgente.