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O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), está que não se aguenta para abrir uma polêmica sobre os rumos da economia na era do pré-sal. Não fez isso ainda porque não quer um confronto aberto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pretende esperar a campanha eleitoral para se digladiar com a candidata petista à sucessão presidencial, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Nos meios empresariais, Serra já bate na tecla de que o Brasil caiu numa armadilha macroeconômica: os maiores juros do mundo; a taxa de câmbio mais valorizada do planeta; e uma explosão de gastos correntes sem precedentes com moeda estável (argumenta que no governo Sarney houve explosão de gastos, mas a inflação era de dois dígitos ao mês). |
terça-feira, janeiro 05, 2010
BRASÍLIA -DF
JANIO DE FREITAS
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COM O ATRASO denunciado em uma quantidade inqualificável de mortes, o prefeito de Angra dos Reis adota uma providência administrativa que o põe à frente dos mais de 5.000 prefeitos brasileiros, no que seja respeito ao próprio dever, coragem política e contribuição social. Tal medida de Juca Brandão é a que proíbe construções e ampliações em 15 morros de Angra. Ao menos até que as perícias de geotécnica manifestem-se sobre a segurança das áreas. |
MERVAL PEREIRA
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A grande discussão política que domina os debates sobre a próxima eleição presidencial de outubro é se o presidente Lula terá a capacidade de transferir sua popularidade para a candidata que tirou do bolso de seu colete, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. E se a eleição será plebiscitária. |
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
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"Em 2010, teremos o menor desconforto social da história brasileira", diz Octavio de Barros, diretor do Depec (Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos) do Bradesco. |
HELOISA MAGALHÃES
A Telebrás provoca arrepios
Valor Econômico - 05/01/2010 |
Ficou para fevereiro o lançamento pelo governo federal do Plano Nacional de Banda Larga. Estava previsto para o fim de janeiro mas, devido ao período de férias presidenciais e do ministro das Comunicações, Helio Costa, as agendas precisaram ser revistas, diz Cezar Alvarez, assessor direto do presidente Lula e coordenador das políticas de inclusão digital do governo. De qualquer forma, o plano ainda não está totalmente pronto. Alvarez contou que uma equipe trabalhou, entre os feriados de Natal e Ano Novo na montagem do projeto. Mas uma definição, por enquanto, parece clara: a rede da Eletronet vai ser incorporada ao Plano Nacional de Banda Larga e o novo veículo para prestar o serviço deverá ser a Telebrás. O que se sabe é que, além da reação de boa parte da sociedade civil brasileira, que sente arrepios quando se fala em reviver estatais, dentro do próprio governo o assunto causa polêmica. O Ministério das Comunicações lidera as reações contrárias quando o tema é a volta da Telebrás, a presença estatal em mercados que exigem pesados investimentos e que podem ser operados pelas empresas privadas. A discussão no setor é que mesmo ativando a rede da Eletronet não seria necessário reviver a Telebrás. Os argumentos contra passam pela constatação de que existem Eletronorte, Eletrosul, Furnas e Chesf, estatais que já oferecem capacidade de rede para telecomunicações. Bastaria criar um mecanismo de coordenação, como um comité do próprio setor elétrico onde estão as empresas. Aliás, as quatro companhias fecharam contratos com a Eletronet quando esta foi criada. Mas hoje a questão é política. A área de energia está ligada ao PMDB e a infraestrutura de rede voltada para a oferta de banda larga ficaria atrelada ao ministro das Minas Energia, Edison Lobão, e seus aliados. Por outro lado, ainda não está claro o que Telebrás vai fazer. Há dúvidas se irá operar um serviço ou vai oferecer infraestrutura. Se for serviço de banda larga existe um complicador jurídico, pois enquadram-se em serviços privados. Ou no Serviço de Comunicação Multimidia (SCM), que é prestado em regime privado, ou no Serviço Móvel Pessoal (SMP), mas, como diz o nome, é móvel e onde está hoje a terceira geração da telefonia celular. A Telebrás foi montada para coordenar o planejamento integrado e a estrutura financeira das concessionárias em regime público, e para passar para regime privado, como é definido para quem presta banda larga, seria necessário uma lei para garantir a transformação, avaliam especialistas. Outro complicador é de ordem técnica e econômica. Uma empresa para realizar prestação de serviços e causar impacto no mercado precisa de expressivo orçamento de investimentos e projeto operacional em horizonte de médio prazo. A pergunta ainda não respondida é qual o orçamento que o governo federal estaria planejando para ativar a Telebrás, se este for realmente o plano gestado no Planalto. Alvarez, que é moderado em suas posições, nega-se a divulgar números e detalhar a proposta. Argumenta, entretanto, que não faz sentido deixar de lado uma rede com pouco uso como a da Eletronet. Frisa que serão usadas "todas as infraestruturas disponíveis do governo para transformar o ativo de fibra óptica do sistema Eletronet". Admite que também não faria sentido e nem há recursos para replicar as redes das operadoras privadas, mas a proposta é o governo atuar como "elemento regulador para dar conta das discrepâncias do mercado privado de banda larga", afirma. É conhecido que onde não há concorrência o preço do serviço de banda larga sobe. As operadoras não escondem que, quando não têm exigências fixadas pela Anatel, buscam privilegiar a presença nas cidades mais populosas e nas áreas onde é maior o poder aquisitivo da população. Alvarez cita estudo do J.P. Morgan. O resumo, publicado pelo noticiário "Teletime News", mostra que, onde há apenas as concessionárias de telefonia, o preço do serviço de banda larga de 1 a 2 Mbps é R$ 118, e pode cair para pouco mais de metade, quando há a presença da Net e da GVT. De acordo com o assessor do presidente Lula, o que vem sendo montado é a articulação de uma política pública com serviços privados, mas estimulando a competição, passando pelo "constrangimento da indução e do subsídio" e que "nenhum instrumento está fora da cesta de hipóteses" do plano de governo. Alvarez destaca que a questão da rede é um ponto de uma proposta muito mais ampla e ambiciosa para reduzir o fosso do acesso ao mundo digital entre os de baixa e alta renda .Um lado interessante do projeto é toda uma articulação de políticas públicas para ampliar o acesso da população não só à banda larga como também ao computador, uma vez que é grande o percentual de pessoas que não sabe usar e, talvez por isso, acabe não tendo interesse de navegar pela internet. A estratégia é também criar condições para que o preço dos computadores continue caindo - em dezembro, o ministro Mantega anunciou a reedição da medida de isenção de PIS e Cofins. Ontem, foi publicada no "Diário Oficial da União" portaria interministerial para criação de novos 3 mil telecentros no país, que serão somados aos 5,5 mil existentes. Os interessados em sediar, sejam prefeituras ou organizações não governamentais, têm 60 dias para apresentar propostas. O governo fica responsável pelo investimento, que prevê a instalação em local de fácil acesso, uma área com 10 estações de trabalho, 11 estabilizadores, um roteador wireless, uma impressora a laser, uma câmera para monitoramento remoto. Também é oferecido treinamento e apoio-bolsa aos monitores. Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (Pnad) relativa ao ano de 2008 mostrou o fosso digital. O volume de pessoas que usam a internet vem crescendo, mas os dados mostraram que 65,2% da população brasileira (104,7 milhões de pessoas) não utilizou a rede nos três meses anteriores à data da entrevista. Os principais motivos foram a falta de interesse, com 32,8% do total; a falta de conhecimento para navegar, com 31,6% do total; e a falta de acesso a um microcomputador, com 30% do total. Heloísa Magalhães é chefe da redação do Rio de Janeiro |
PAUL KRUGMAN
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Segundo o noticiário econômico, o próximo relatório sobre o emprego poderá mostrar que, pela primeira vez em dois anos, estão sendo criados empregos nos EUA, e o próximo relatório sobre o Produto Interno Bruto (PIB) provavelmente apontará para um sólido crescimento no final de 2009. Haverá inúmeros comentários otimistas - e os apelos, que já ouvimos antes, para que acabem os estímulos e se suspendam as medidas do governo e do Federal Reserve (Fed, banco central americano) destinadas a amparar a economia, se tornarão ainda mais fortes. |
ELIANE CANTANHÊDE
prefere caça sueco a francês
FOLHA DE SÃO PAULO - 05/01/10
Contrariando Lula e Jobim, FAB opta por caças suecos
Aeronáutica recomenda compra do Gripen NG, o mais barato dos finalistas do FX-2
Relatório técnico contraria preferência pública pelos franceses manifestada pelo governo federal; decisão final cabe ao presidente
O caça francês Rafale, da empresa Dassault, ficou em terceiro e último lugar no relatório técnico que o Comando da Aeronáutica entregou ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, sobre o projeto FX-2, de renovação da frota da FAB. O Gripen NG, da sueca Saab, ficou em primeiro lugar na avaliação, e o F-18 Super Hornet, da norte-americana Boeing, em segundo.
O resultado tende a gerar constrangimentos no governo e mais atrasos para a decisão final sobre o projeto de compra de 36 caças, ao contrapor a avaliação técnica da Aeronáutica pró-suecos à preferência política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da área diplomática pela oferta que foi apresentada pelos franceses.
A decisão pró-Rafale chegou a ser anunciada em nota conjunta assinada pelos presidentes Lula e Nicolas Sarkozy, em setembro passado, mas o governo brasileiro recuou depois da repercussão negativa na FAB e entre os concorrentes, já que a avaliação técnica nem sequer havia sido concluída.
Agora, o governo está num impasse: ou passa por cima do relatório da FAB e fica com os Rafale, ou desagrada o governo francês e opta pelo Gripen NG. Formalmente, o presidente Lula está liberado para escolher qualquer um dos três.
Conforme a Folha apurou, o "sumário executivo" do relatório da FAB, com as conclusões finais das mais de 30 mil páginas de dados, apontou o fator financeiro como decisivo para a classificação do caça sueco: o Gripen NG, até por ser monomotor e ainda em fase de projeto (se baseia no Gripen atual, uma versão inferior em performance), é o mais barato dos três concorrentes finais.
A diferença de valores é tanto no quesito preço do produto como no custo de manutenção. A Saab diz que ofereceu o Gripen pela metade do preço do Rafale, ou seja, algo na casa dos US$ 70 milhões. Afirma que a hora-voo de seu avião é quatro vezes menor do que a do francês, o que a Dassault rejeita: como o Rafale tem duas turbinas, é mais caro de operar, mas teria melhor performance.
Quem vai arcar com todos esses custos, durante os cerca de 30 anos de vida útil do jato, é a FAB, que considera a questão prioritária.
Pesou também o compromisso de transferência de tecnologia. O Gripen NG é um projeto em desenvolvimento que oferece em tese mais acesso a tecnologias para empresas futuramente parceiras, como a Embraer. Há a promessa genérica de produção final no Brasil, mas de resto o Rafale também diz isso. O problema é que o francês é um produto pronto, supostamente com menor taxa de transferência de conhecimento de produção.
O relatório da FAB não considerou como negativo o fato de o jato sueco ser monomotor, já que em aviões modernos isso é visto com um problema menor na incidência de acidentes.
Já o Rafale apresentou três obstáculos, na análise da FAB:
1) Continuou com valores considerados proibitivos, ao contrário do que o presidente da França, Nicolas Sarkozy, havia prometido a Lula.
2) O prometido repasse de tecnologia foi considerado muito aquém da ambição brasileira. Trata-se de um "produto pronto", que teria, ou terá, dificuldades para ser vendido a outros países a partir do Brasil.
3) A Embraer, consultada pela Aeronáutica, declarou que, se fosse o Rafale, não teria interesse em participar do projeto, pois lucraria muito pouco em tecnologia e em negócios.
O relatório foi feito pela Copac (Comissão Coordenadora do Programa Aeronaves de Combate) e ratificado pelo Alto Comando da Aeronáutica no dia 18 de dezembro.
Jobim voltou ontem à noite a Brasília pronto para se reunir com o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito. Oficialmente, para ganhar tempo, a versão do governo é que a FAB ainda não lhe entregou o documento.
O ministro já sabe do resultado desde uma viagem que fez com Saito à China e à Ucrânia, no final do ano. Os dois aproveitaram uma escala justamente em Paris para discutir a questão com o presidente da Copac, brigadeiro Dirceu Tondolo Noro, que, conforme a Folha apurou, foi chamado de última hora a viajar à capital francesa para encontrá-los.
É uma das grandes compras em curso no mundo, e pode bater os R$ 10 bilhões.
Em entrevista à Folha em dezembro, Jobim admitiu que tinha interferido para mudar as regras do relatório da Copac, mas sem assumir que a intenção era evitar que a FAB indicasse um favorito que não batesse com o do Planalto.
ROBERTO NICOLSKY
Crescimento insustentável
FOLHA DE SÃO PAULO - 05/01/10
Exportamos cinco toneladas de soja ou quatro de minério de ferro pelo preço de um laptop, cuja produção gerou mais empregos e renda
FELIZMENTE o Brasil já superou os principais reflexos da recente crise econômica mundial. Mas mesmo assim a economia brasileira, que entre 2006 e 2008 cresceu a uma taxa média de cerca de 5% ao ano, em 2009 não repetirá esse desempenho e deverá até encolher um pouco, conforme as estatísticas irão mostrar. A questão a se discutir, portanto, é se o modo de crescer que o governo vem praticando é sustentável.
O crescimento brasileiro tem sido puxado, principalmente, pelos produtos agropecuários, extrativos e primários. São as chamadas commodities, de muito pouco valor por unidade física. Crescemos também produzindo para o mercado interno mediante a expansão do crédito, o que levou famílias a consumir mais, mas também a aumentar muito o seu endividamento. O inconveniente desse tipo de crescimento é que ele se sustenta no crescimento, bem mais acelerado, de outros países, como a China. Os preços de commodities são definidos pela demanda do mercado mundial, e se nos últimos anos têm estado elevados é porque a China compra muito. São fatores que fogem ao nosso controle e qualquer mudança pode paralisar o nosso crescimento, exatamente como aconteceu neste ano.
Esses fatores, em conjunto com a apreciação do real frente ao dólar, geram uma forte pressão de substituição da produção interna por produtos importados, principalmente aqueles de maior intensidade tecnológica e maior valor agregado. Ou seja, exportamos cinco toneladas de soja ou quatro de minério de ferro pelo preço de um laptop, cuja produção gerou muito mais empregos e renda. A indústria brasileira de transformação, que agrega tecnologia e deixa o produto pronto para o consumidor final, está crescendo bem menos do que o PIB. A nossa economia é cada vez mais produtora de commodities agropecuárias e minerais, de produtos básicos e de serviços simples, como o comércio.
A indústria instalada no país, seja eletrônica, farmacêutica, de máquinas e equipamentos etc., importa mais e mais componentes com os quais finaliza ou monta os produtos, sem que o governo aja na defesa da renda e dos empregos industriais. Já tivemos a quinta indústria de bens de capital do mundo e hoje temos apenas a décima quarta, com muito menos conteúdo tecnológico próprio. Isto é a desindustrialização! Entre 2006 e 2008, o deficit do comércio exterior em produtos de maior valor agregado e alta intensidade tecnológica quadruplicou, alcançando US$ 51 bilhões, enquanto exportávamos cada vez mais commodities.
A consequência dessa inconsistente política industrial é que o crescimento da indústria de transformação tem sido inferior ao do PIB. Só em 2008, enquanto a produção interna bruta total cresceu 5,08%, a indústria de transformação registrou um acréscimo de apenas 0,85%, perdendo quatro pontos percentuais de participação no PIB, o que significa menor oferta de empregos de qualidade nos centro urbanos e menor massa salarial na economia.
Mas é possível crescer mais do vimos crescendo? Claro que sim, pois esse é o desempenho de países como China e Índia, que têm crescimento entre 9% e 11% por ano puxado pelas suas manufaturas. Durante a crise que acarretou a redução do nosso PIB deste ano, a China cresceu 8,9% e a Índia 6,5% ao ano.
Como seria possível termos um desempenho semelhante? Colocando o nosso foco no desenvolvimento rápido da indústria de transformação mediante investimentos na acelerada agregação de inovações tecnológicas com preservação ambiental e sem reduzir as atividades agropecuárias e de mineração. Ou seja, ao invés de apenas esburacarmos cada vez mais a nossa terra e desmatarmos as nossas florestas para fazer pastos ou plantar soja, devemos usar a nossa criatividade para desenvolver e agregar as inovações que o mercado mundial quer em nossos produtos, de uma maneira compatível com a sustentabilidade -as chamadas tecnologias verdes-, tornando-nos altamente competitivos e disputando esse mercado até com produtores asiáticos, que ainda não têm uma ação ambiental consistente.
Este é o caminho para o país crescer de modo sustentável: investir pesadamente no desenvolvimento de tecnologia nacional e na incorporação de inovações em nossas manufaturas para que elas atendam o mercado global, gerando empregos qualificados e renda bem distribuída, sem prejudicar o meio ambiente. Fala-se que podemos crescer mais de 5% em 2010. É possível, se o rápido crescimento da China deixar, pois, como visto, esse modelo é para nós um crescimento insustentável.
ROBERTO NICOLSKY é doutor em física e diretor-geral da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec).
PAINEL DA FOLHA
No ano em que se dedicou a consolidar o nome da ministra Dilma Rousseff como candidata do PT à sua sucessão, o presidente Lula bateu o recorde de exposição à imprensa, segundo contabilidade do próprio Palácio do Planalto. De acordo com os números, Lula concedeu 260 entrevistas no ano passado -média de cinco por semana. Em 2008, foram 182. No ano eleitoral de 2006, somaram apenas 92.
O crescimento se explica pelo aumento dos contatos com veículos regionais e internacionais. Das 117 entrevistas exclusivas no ano passado, 52 foram para imprensa estrangeira, especialmente interessada nos seguintes assuntos: crise internacional e a organização da Copa-2014 e da Olimpíada do Rio, em 2016.
Talheres. Lula chamou o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), para uma reunião na segunda quinzena do mês junto de outros "dois ou três peemedebistas". Depois do desgaste da "lista tríplice" para escolher o vice de Dilma, avisou que a conversa tratará de "tudo sobre 2010".
Débito... Uma cena chamou a atenção dos frequentadores de uma pizzaria em Brasília anteontem: o ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau jantava acompanhado de duas pessoas. Na saída, pediu a conta, deixou o dinheiro na mesa e seguiu para o carro.
...ou crédito? Imediatamente, um garçom saiu em disparada atrás de Rondeau ao perceber que faltava dinheiro. O engano foi logo resolvido pelo ex-ministro, investigado pela Polícia Federal por fraudes no setor elétrico.
Autarquia. Após as mortes no Suriname, a Comissão de Relações Exteriores do Senado votará no retorno do recesso um projeto de Valdir Raupp (PMDB) que cria a Secretaria de Apoio a Brasileiros no Exterior -apesar de o Itamaraty possuir uma estrutura similar. Como o projeto já obteve o aval da CCJ, se aprovado, a decisão é terminativa.
Poeira. Um grupo de tucanos se reuniu na Paraíba no final de semana para ver o show da cantora Ivete Sangalo. Os mais animados eram os senadores Cícero Lucena, anfitrião, e Marisa Serrano (MS).
Zíper. Ambientalistas, ONGs e deputados se queixam do silêncio do ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) sobre o decreto de 2009 de Sérgio Cabral (PMDB) que permitiu maior ocupação em áreas protegidas, como o local da tragédia em Angra de Reis.
Currículo. Em férias pela Amazônia, Minc tem mandato de deputado estadual e foi secretário da área na gestão Cabral. "Até a Marina Silva já apareceu para falar do assunto", provoca um deputado.
Negócios 1. Especialistas em questões ambientais de Angra lembram que, no final de 2007, a cidade foi alvo da Operação Carta Marcada da Polícia Civil, que prendeu funcionários da prefeitura acusados de montar um esquema de fraude em licenças ambientais para liberar obras.
Negócios 2. Na lista de presos, suspeitos de desviarem R$ 80 mi dos cofres públicos, estavam o ex-presidente da Câmara Municipal Carlinhos Santo Antônio, o ex-secretário de Meio Ambiente Marco Antônio de Paula Silva e empresários.
Retard. O ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) desistiu de vistoriar Angra dos Reis, conforme havia sido anunciado. Ele foi desaconselhado por Cabral e pelo vice, Luiz Fernando Pezão, que argumentaram dificuldade de acesso à região.
Espera. Com exceção à assistência emergencial às vítimas no Rio, o Ministério da Integração Nacional só vai bater o martelo sobre o tamanho dos repasses às regiões atingidas pelas chuvas depois de receber relatórios com dados concretos dos prejuízos.
Tiroteio
"O Lobão deveria primeiro aprender um pouco sobre como evitar apagões para depois dar palpite em questões ambientais."
Contraponto
Sem filtro Um dos ministros mais plugados no Twitter na Esplanada, Paulo Bernardo (Planejamento) passou a virada do ano conectado. A deputada Manuela D'Ávila (PC do B-RS) aproveitou para deixar uma mensagem:
-Ministro, eu o vi na TV agora a pouco. Além da pauta positiva sobre o salário mínimo, vi que tomou sol! Já eu não dei sorte... Ótimo ano!
Conhecido pelo bom-humor, Paulo Bernardo respondeu na hora:
-Obrigado! Você deve ter reparado que estou ainda mais brilhante, com a careca tostadinha...
RODRIGO CONSTANTINO
Correlação e causalidade
O Globo - 05/01/2010 |
Uma falácia lógica muito comum é assumir que dois eventos que ocorrem em sequência cronológica estão necessariamente interligados através de uma relação de causa e efeito. O galo canta antes do nascer do sol, mas este não nasce porque o galo canta. Infelizmente, a arte de manipular dados vem ganhando cada vez mais terreno, com efeitos nefastos para a sociedade. A estatística não pode ser a “refinada técnica de torturar os números até que eles confessem”. Tomemos como exemplo a taxa de crescimento econômico nacional. Muitos, numa análise simplista, chegam à conclusão de que o governo Lula causou o crescimento acelerado dos últimos anos, sem levar em conta as inúmeras e complexas variáveis que influenciam tal crescimento, como, por exemplo, o contexto mundial. Crescer 4% ao ano enquanto os demais países emergentes crescem 6% ou mais não é um desempenho tão louvável assim. Se o preço das commodities que exportamos subiu, se houve uma abundância de capital no mundo, se a taxa de juros permaneceu artificialmente reduzida nos países desenvolvidos, nada disso faz parte desse julgamento superficial. Basta verificar o crescimento econômico e atribuí-lo à gestão atual, como se o mérito fosse do governo. Não é assim que se faz uma análise séria. E quando colocamos uma lupa nos dados, com o auxílio de uma sólida teoria econômica, o que emerge pode ser oposto à intuição inicial. O governo Lula contou com muita sorte durante seu mandato, onde fatores externos, como o crescimento chinês, favoreceram bastante o país. Seu maior mérito foi não ter feito aventuras na macroeconomia. Já as reformas estruturais que poderiam ter colocado o Brasil na rota do crescimento sustentável foram todas deixadas de lado. Aquilo que o governo chama de medidas “anticíclicas” contra a crise não passa de estímulos insustentáveis à demanda agregada. Inchar os gastos públicos de forma permanente e expandir o crédito através dos bancos estatais não é receita de crescimento sustentável. Faltam investimentos produtivos e reformas estruturais, e os gargalos de sempre poderão limitar o crescimento a mais um voo de galinha. O longo prazo foi sacrificado em prol do foco imediatista eleitoreiro. O economista francês do século XIX, Frédéric Bastiat, chamou a atenção para aquilo que se vê, e aquilo que não se vê. Um bom economista deveria ser capaz de enxergar um horizonte distante, evitando as armadilhas da miopia. Somente assim ele poderia compreender o custo de oportunidade das medidas econômicas. Se o governo anuncia um programa de gastos através da impressão de moeda, ele deve alertar para a inflação à frente. Se o governo aumenta os repasses para famílias mais pobres, ele deve considerar o aumento dos impostos, que retira da iniciativa privada recursos que poderiam estar gerando novos empregos. Se o governo aumenta o salário mínimo, ele deve projetar seu impacto negativo no nível de emprego formal. Enfim, analisar as medidas do governo somente com base em seus efeitos imediatos é um perigoso equívoco. A pergunta que todos deveriam fazer é: qual a alternativa? Se o governo não retirasse do setor privado determinado recurso, como este seria aplicado? Se o governo tivesse feito as reformas estruturais, qual teria sido o crescimento no período? Não basta comparar taxas de crescimento entre governos. Correlação não é causalidade. O sol não brilhou mais forte no Brasil porque o galo cantou mais alto; o galo é que está cantando mais alto porque o sol começou a brilhar mais. |
SONIA RACY - DIRETO DA FONTE
Decretos assinados na virada do ano, e que José Serra deve anunciar hoje, estenderão até o fim de junho um pacote de incentivos fiscais que venceram dia 31. Um deles suspende o ICMS devido na importação de bens de capital sem similar nacional, concedida a 119 setores industriais. Além disso, foram beneficiados com a renúncia fiscal mais 24 segmentos.
"Foram escolhidos os setores que geram maior quantidade de empregos por renúncia fiscal", explica Mauro Ricardo Costa, da Fazenda. Com o pacote de hoje, a desoneração - uma das saídas adotadas no início de 2009 para enfrentar a crise - se estende a 143 áreas.
Desoneração 2
Nas contas da Secretaria da Fazenda, a medida vai aliviar o caixa de cerca de 90 mil empresas - e os setores selecionados respondem por 1,2 milhão de empregos. As novas áreas incluem motores elétricos, equipamentos hidráulicos, geradores, pneumáticos e carrocerias.
Outro decreto estica até o fim de março a redução para 12% da carga tributária de setores de couro, vinho, brinquedos, laticínios e perfumes, entre outros.
Guerra dos bispos
Quando a briga é entre bispos, o prejudicado vai queixar-se a quem? No Ceará, à Secretaria de Segurança.
Foi o que fez d. Angelo Pignoli, da Diocese de Quixadá. Mergulhado há meses em uma guerrinha particular com o bispo anterior, d. Adélio Tomasin, ele se diz até ameaçado de morte.
Aposentado por idade, d. Adélio continuou morando na cidade e se desentendeu com o sucessor, que queria inspecionar sua gestão. A briga já passou pela CNBB e foi parar no Vaticano.
Geraldo na madruga
Geraldo Alckmin deu um novo passo para ficar mais próximo de Serra.
Largou antigos hábitos e passou a acessar regularmente o e-mail. E as conversas entram madrugada adentro.
Voo solo
Fernando Gabeira decidiu: melhor brigar sozinho do que mal acompanhado.
Consultou o TSE sobre a possibilidade de sair para o Senado... sem suplente.
Teleguiados
Empresas estrangeiras de aviões não pilotados, usados pela polícia para vigilância, tentam fechar negócios no Brasil a mil por hora.
É que duas empresas nacionais estão com modelos prontos para lançar na praça.
Viagra do B
Um Viagra genérico nacional está pronto para ser lançado na praça. A Eurofarma só aguarda o fim da patente do produto da Pfizer.
Que, dependendo de decisão judicial, expira este ano.
Alta e magra
Madonna está sofrendo para encontrar a protagonista ideal de seu novo longa, sobre a duquesa de Windsor - a americana Wallis Simpson, por quem Eduardo VIII abdicou ao trono da Inglaterra, em 1936.
As britânicas Keira Knightley e Cate Blanchett já recusaram o papel.
Menos, Mel
Cerca de 300 manifestantes, em sua maioria mulheres, estão acampadas em frente à prisão de Veracruz, no México, contra... Mel Gibson. O motivo? As gravações de seu novo filme, How I Spent My Summer Vacation.
O diretor quer que os detentos sejam removidos, para fazer seu longa-metragem.
Para todas
E a moda brasileira acaba de ganhar novo desfile... para maiores. Dia 24, na Fashion
Weekend Plus Size, as modelos tamanho GG sobem na passarela montada na Casa das Caldeiras.
Na frente
As últimas investidas de Tiger Woods vão para as telas: Hollywood já prepara filme sobre o campeão de golfe, a ser lançado em dois meses. Uma coisa assim, bem real...
Gilberto Gil interrompe as férias de verão e faz show de lançamento de seu DVD Banda Dois. Dia a 15, no Teatro Castro Alves, em Salvador.
Matthew McConaughey explicou em seu site oficial a origem do nome Vida, escolhido por ele e sua mulher, a modelo brasileira Camila Alves, para a filha que acaba de nascer. Life, em português...
O sacrifício anda valendo a pena. Ivete Sangalo contabiliza menos seis quilos, em 15 dias. Mantém a dieta até o carnaval.
Definido: Ana Paula Arósio e Wagner Moura vão dividir o set de O Homem do Futuro, de Cláudio Torres, que começa a ser rodado esse ano.
O cineasta Karim Aïnouz foi escolhido como homenageado do Festival de Tiradentes, a partir do dia 22.
Jô Soares vai levar para Lisboa um espetáculo só com poemas de Fernando Pessoa - seu velho ídolo. Em 2007, Jô gravou o CD Remix em Pessoa.
Esta o pessoal da prefeitura não esperava. Ao distribuir refeições a moradores de rua, na Mooca, um grupo deparou com um deles dormindo, entre cobertores e papelão, com cartaz na parede: "Já jantei."
Interinos: Doris Bicudo, Gabriel Manzano Filho, Pedro Venceslau e Marilia Neustein.
CARLOS BRICKMANN
Masmorras para todos
FOLHA DE SÃO PAULO - 05/01/10
Lei é uma regra geral a ser aplicada; não pode haver uma lei para cada caso, dependendo dos aplausos ou vaias da opinião pública
FERNANDO de Barros e Silva é um jornalista competente e respeitado, escreve num dos principais jornais do país, e isso é ruim: amplia a credibilidade de uma tese já popular, a de que os suspeitos devem pagar pelos crimes que lhe foram atribuídos como se já tivessem sido condenados por eles (Folha, 28/12, pág. A2). Habeas corpus, um instrumento democrático que há mil anos é a base dos direitos humanos, vira coisa ruim, suspeita -afinal de contas, se há tanta gente que não consegue habeas corpus, que estranhos poderes terá quem o consegue? E quais os argumentos secretos que comovem a Justiça? O advogado, o profissional dedicado à defesa dos direitos humanos, é sempre pago "a peso de ouro".
Já o Estado, que joga seu peso, sua estrutura e sua equipe, a mais bem paga do funcionalismo público, a serviço da condenação (lembremos os julgamentos americanos: "O Estado da Califórnia contra Fulano de Tal"), parece que é grátis. Ninguém, nem Fernando de Barros e Silva, lembra o custo da acusação.
Chama a atenção, no embasamento das teses dos defensores da masmorra imediata e irrestrita, uma importante falha: tudo o que é dito pode ser invertido e terá o mesmo valor (ou seja, nenhum). É verdade que muitas pessoas estão presas preventivamente sem que tenham sido julgadas; é verdade que poucas têm os pedidos de soltura examinados pelo Supremo Tribunal Federal; é verdade que poucas veem seu pedido atendido "em apenas quatro meses" pelo presidente do Supremo.
Mas é verdade que muitas pessoas cometem homicídios em série e não são identificadas nem presas (portanto, comete-se uma injustiça com o Maníaco do Parque, que fez a mesma coisa e está na cadeia). É verdade que muita gente cometeu crimes do colarinho branco e não foi apanhada (portanto, Bernard Maddoff, tadinho, está sendo tratado pior do que eles).
É verdade que muitos traficantes de drogas vivem como se respeitáveis fossem -que se conceda a liberdade, portanto, ao tão injustiçado Fernandinho Beira-Mar).
Quanto ao tempo, como já ensinava aquele notável físico, é relativo.
"Apenas quatro meses" talvez não sejam um período tão curto para quem está encarcerado.
Do caso em si, sei apenas o que li nesta Folha. Conheço pouquíssimo o médico Roger Abdelmassih, não simpatizo nem antipatizo com ele, como pessoa. Se for culpado, seus atos serão inqualificáveis: hediondez é pouco, repugnância é pouco. Mas não se pode esquecer, mesmo ao tratar com pessoas portadoras dos mais baixos instintos, que apesar de tudo são pessoas, são seres humanos; têm direito à defesa, têm direito a advogados, têm direito a ver a lei respeitada. Lei é uma regra geral a ser aplicada num número indefinido de casos futuros.
Não pode haver uma lei para cada caso, dependendo dos aplausos ou apupos da opinião pública. Nem se pode fazer uma lei para punir especificamente um caso já ocorrido.
A tentação, aqui, é citar o episódio narrado nos Evangelhos em que a opinião pública prefere salvar Barrabás e crucificar Jesus Cristo. Mas não é preciso buscar o episódio em que o público indignado prefere um criminoso a um santo. Basta-nos um exemplo nacional: o advogado Heráclito Fontoura de Sobral Pinto. Era anticomunista, católico de ir à missa todos os dias, contrário à violência.
Mas, em nome dos direitos humanos, defendeu o líder comunista Luís Carlos Prestes, que havia liderado a revolta de 1935, e o dirigente comunista alemão Harry Berger, em cuja defesa, já que toda a legislação era ignorada, chegou a invocar a Lei de Proteção aos Animais. Berger, de tão torturado nas masmorras, acabou enlouquecendo.
Sobral Pinto tem algumas frases clássicas, destinadas a advogados, mas que certamente se aplicam à coluna irritada de Fernando de Barros e Silva: "As paixões afastam a serenidade e a imparcialidade da Justiça." "Devemos confiar indefectivelmente na virtude da Justiça." "Enfrente a ilegalidade e o autoritarismo com firmeza e certeza na vitória final do bem."
E lembremos o notável Ulysses Guimarães, parceiro desta Folha na articulação da monumental campanha das diretas-já, que sepultaria o regime militar. Antes de entrar na vida pública, foi presidente do Centro Acadêmico 11 de Agosto e advogado Ele falava sobre política, mas poderia falar sobre direito ou sobre o atual jornalismo da indignação, de pouca reportagem e muitos adjetivos (para ele, aliás, política era tudo). Dizia Ulysses: "Política não se faz com o fígado. Não é função hepática".
CARLOS BRICKMANN, jornalista e consultor de comunicação, é diretor da Brickmann & Associados. Foi editor e repórter especial da Folha e editor-chefe da "Folha da Tarde" (1984 a 1991).
MÍRIAM LEITÃO
Ritmos diferentes
O GLOBO - 05/01/10
A venda de carros no mercado interno fechou o ano com um número inesperado: 3.141.000 automóveis.
Para um ano que começou em ponto morto, foi uma arrancada: 11% sobre 2008. Em 2010, as vendas devem crescer 8%. As exportações tiveram queda de 40%. “Nem posso culpar o câmbio porque na verdade o mundo não compra, os mercados lá fora encolheram”, diz Jackson Schneider, da Anfavea.
Os primeiros dados de balanço e previsão dos setores mostram uma economia em recuperação, mas com preocupações à frente. O superávit comercial vai cair de novo, em 2010, para US$ 12 bilhões ou US$ 10 bilhões.
As exportações só se seguram pelo preço das commodities e pela demanda chinesa, segundo a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). O superávit comercial de US$ 1,8 bi em 2008 com os Estados Unidos caiu para déficit de US$ 4,4 bilhões em 2009.
— Isso é resultado de sete anos sem uma única missão governamental para promover exportação para a maior economia do mundo.
O governo desprezou o mercado americano, que era de 25% das nossas exportações em 2002 e agora absorve apenas 10% — diz José Augusto de Castro, vicepresidente da AEB.
O agronegócio mais uma vez garantirá o saldo positivo.
Para se ter uma ideia, o superávit do setor será de US$ 53 bilhões. O cenário previsto pelo economista Fábio Silveira, da RC Consultores, é de superávit de US$ 10 bilhões em 2010. Isso significa que o agronegócio terá um resultado positivo de US$ 53 bi, enquanto o setor industrial produzirá um resultado negativo de US$ 43 bi.
O câmbio só não preocupa muito porque o principal problema ainda é a falta de compradores.
Por enquanto. Schneider disse que quando a situação na economia internacional melhorar, o Brasil não poderá competir.
— Na hora em que retomar a demanda externa, o Brasil estará em condições piores do que seus competidores por causa do câmbio — disse o presidente da Anfavea.
No agronegócio, o câmbio também não é a preocupação central agora, por um motivo: a escalada dos preços internacionais das commodities agrícolas.
— O café, que exportou US$ 4,4 bilhões em 2009, vai exportar US$ 4,5 bilhões em 2010. O açúcar vai de US$ 8 bilhões para US$ 9 bilhões. A soja em grão sairá de US$ 13 bilhões para US$ 14 bilhões.
Quem não teve preço melhor, aumentará o volume, como a carne, que deve exportar US$ 10,5 bilhões este ano, um pouco mais do que os US$ 9,8 bilhões do ano passado — diz Fábio Silveira, da RC.
José Augusto de Castro, da AEB, acha que o setor exportador se sustenta por causa de uma disparada nos preços, que, na visão dele, é prova de que estão se formando novas bolhas.
— O açúcar teve aumento de preço de 105%, algodão, de 55%, café, 20%, suco de laranja, 90%. O aumento de 14% da soja não parece muito, mas está havendo supersafra nos Estados Unidos, Brasil e Argentina, e os preços sobem. No setor de metálicos também há fatos estranhos: o que justifica o cobre ter subido 153%, o alumínio, 81%, e o zinco, 129%, numa economia que ainda está em crise? As commodities negociadas em bolsa estão virando ativos financeiros pelo excesso de liquidez — diz Castro.
A economia entra assim em 2010. Com alguns bons motivos para comemorar um final feliz em vários setores, mas com preocupações em outras áreas. No setor automobilístico, a diferença é gritante. Em novembro de 2008, as vendas caíram 25%. Entraram fracas no ano e foram se recuperando aos poucos.
— A crise chegou pela ponta do crédito. O consumidor ia até a loja, tinha vontade de comprar o carro, mas não tinha crédito. O Banco Central tomou todas aquelas medidas de liberação de compulsório e de compra de carteira de veículos.
A situação melhorou.
O que trouxe de volta mesmo o consumidor foi a queda do IPI. O movimento foi ajudado pelas promoções e descontos dos fabricantes e do varejo e a gente chegou a um excelente resultado — diz o presidente da Anfavea.
Para 2010, o setor está prevendo que as vendas vão chegar a 3,4 milhões de veículos leves, excluindo tratores e caminhões. Mesmo se a demanda lá fora melhorar, ele não se anima.
Acha que o dólar não ajuda.
O setor de aço tem um quadro de recuperação, mas bem menos colorido. Marco Polo de Mello Lopes, do Instituto Aço Brasil, diz que o setor fechou o ano com queda de 20% de produção em relação a 2008, mas houve um momento em que a ocupação da capacidade instalada mal chegava a 50%. Chegou ao fim do ano em 80%: — Nós precisamos da exportação porque o mercado interno não consome tudo, mas o mundo tem excedentes e a grande interrogação é a China: ela continuará comprando ou vai exportar seus excedentes? Executivos e consultores mostram um cenário com sinais contraditórios. Schneider, da Anfavea, disse que os três maiores anúncios de investimento no mundo, no setor automobilístico, foram feitos no Brasil: da GM, Ford e Volks. Marco Polo, do setor siderúrgico, acha que a demanda por aço só vai crescer quando forem iniciados investimentos para a Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016. Os exportadores acham que o Brasil tem perdido oportunidades, o câmbio vai atrapalhar, e o saldo comercial vai encolher.