quinta-feira, janeiro 14, 2010

MÍRIAM LEITÃO

Orgulho e dor


O Globo - 14/01/2010

Metade dos haitianos tem menos de 18 anos. São crianças. A médica Zilda Arns dedicou sua vida às crianças. Salvou incontáveis vidas no Brasil, espalhava seu trabalho pelo mundo, morreu no país que mais precisava de ajuda. O Haiti é o país mais pobre do Ocidente, diz o Banco Mundial. Sobre essa extrema privação é que aconteceu a devastação de um terremoto histórico

O Brasil tem tido sabedoria, estratégia, autoridade na condução dos trabalhos da missão da ONU no Haiti. Com sabedoria, estratégia e solidariedade, Zilda Arns construiu uma rede poderosa de voluntários que se espalhou pelo Brasil salvando vidas.

Quando a missão brasileira chegou ao Haiti, em 2004, a maior preocupação da ONU era com as gangues formadas por ex-integrantes das forças armadas haitianas que haviam sido extintas em 1994. E foi nesse ponto que os militares brasileiros começaram a trabalhar, segundo me contou ontem o general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, primeiro comandante da Missão da ONU: — Nosso primeiro trabalho foi neutralizar os ex-militares, fomos prendendo, dissuadindo, desarmando e dissolvendo os grupos.

Depois, foi preciso mostrar coragem.

— Nós entrávamos nas áreas de conflito, numa cidade quase completamente favelizada que é Porto Príncipe, mas saíamos logo depois.

Os integrantes das gangues diziam que nós tínhamos medo deles, e assim evitavam que a comunidade cooperasse conosco.

Decidimos ocupar a primeira grande favela, Belair, que ficava perto do Palácio Presidencial — esse que acaba de ruir. Isso mostrou aos bandidos que não tínhamos medo e fortaleceu nossa relação com a população.

Depois, fomos para Cité Soleil — conta.

Mas tudo mudou mesmo quando chegou a companhia de engenharia do Exércio e começou o trabalho de reconstrução de hospitais, escolas, casas.

— Não era esse o nosso trabalho, mas diante da carência de tudo, fomos ganhando a confiança da população assim, construindo, fazendo poço artesiano, refazendo o destruído — diz o general.

A médica Zilda Arns foi chamada pelo irmão, na época cardeal de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, porque ele tinha tido uma ideia: — Zilda, você não quer pensar como a Igreja poderia ensinar às mães a preparar o soro caseiro? Porque se elas tomassem soro, não morreriam com diarreia.

Então eu pensei: quero multiplicar a informação — me disse doutora Zilda numa entrevista.

Ela foi organizando um método para essa multiplicação de informações: treinando voluntárias, educando as mães, organizando grupos, montando rede. As informações que foram sendo multiplicadas eram sobre como preparar o soro caseiro, como e por que manter o aleitamento materno, como preparar a mistura que fortalecia as crianças.

O Brasil, nesse período, por ações de voluntários como Zilda Arns, e atuação governamental, derrubou fortemente a mortalidade infantil. Mesmo assim, as estatísticas mostram que o trabalho que ela estruturou, a partir daquela conversa com Dom Paulo em 1982, fez diferença.

Hoje, a mortalidade infantil brasileira é de 22 em cada 1.000 crianças nascidas vivas. Nas áreas onde a Pastoral da Criança atua, é de 11 por mil. E o espantoso é que a Pastoral atua justamente nas áreas mais pobres do país.

O Haiti tem números terríveis.

Basta olhar esse gráfico para ver. Metade do país é de analfabetos, 80% dos haitianos são pobres, destes, 50% estão em estado de pobreza absoluta.

Só 30% de luz elétrica, só 20% das casas têm água encanada.

O país já foi vítima da mais sangrenta das ditaduras de Papa Doc cuja polícia matou 30 mil pessoas.

É atingido por inundações, como a de 2004, em Gonaives, que deixou mais de dois mil mortos, ou os furacões de 2008.

O que mostra a presença dos brasileiros no Haiti, e a vida de Zilda Arns, é que a tragédia social não é invencível.

Com método, objetivos e solidariedade, ela pode ser derrotada. Hoje é um desses momentos em que os sentimentos se misturam.

Orgulho dos brasileiros que morreram levando paz e solidariedade a um país devasta

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Paulistanos preferem fazer compras à vista, diz pesquisa

FOLHA DE SÃO PAULO - 14/01/10

Mesmo com oferta de crédito disponível, o paulistano gosta é de pagar à vista, segundo levantamento da ACSP (Associação Comercial de São Paulo).
Mais de 70% dizem que não se sentem confortáveis em dividir as compras em várias parcelas. A realidade, porém, é outra. "É a velha história do que se deseja versus o que se consegue fazer. Mesmo que prefiram à vista, um grande número de compras precisa ser feito a prazo", diz Sandra Turchi, superintendente da ACSP.
Produtos mais caros são geralmente adquiridos a prazo, como móveis e eletrodomésticos. Já os mais baratos podem ser pagos no ato da compra. Quase 95% dos alimentos e 74% do vestuário são adquiridos à vista. "O crédito é visto como uma necessidade, e não como uma opção", segundo Márcio Aranha, superintendente-geral da associação.
Quando desejam evitar os juros, os consumidores da baixa renda juntam dinheiro para dar uma entrada e dividir em menos parcelas, quando a prestação cabe no orçamento. Alguns chegam a recorrer à poupança para pagar à vista.
Ainda que os juros sejam indesejados, a maioria (53,1%) desconhece as taxas praticadas. Entre as classes D e E, a desinformação é maior -73,5% não sabem quanto representa a taxa embutida nas parcelas.
Há receio de perda de controle sobre o orçamento, principalmente nas classes baixas. "Como o acesso ao crédito foi muito facilitado, muitos desses consumidores já tiveram alguma experiência ruim. Já se endividaram, então, estão mais precavidos", diz Turchi.
Segundo a pesquisa, 72,4% dos entrevistados das classes D e E receiam comprar a prazo por medo de não conseguirem pagar. O levantamento abordou 800 pessoas em novembro.

DE OLHO NA HOTELARIA
A BSH International, consultoria especializada em investimentos hoteleiros e turísticos, fechou contrato com o grupo hoteleiro jamaicano SuperClubs para gerenciar os ativos do resort Breezes de Búzios, que será inaugurado neste ano. "Após o fechamento desse contrato, de R$ 125 milhões, a BSH passará dos atuais R$ 190 milhões em ativos hoteleiros gerenciados para R$ 315 milhões", afirma José Ernesto Marino Neto, presidente da empresa. A SuperClubs fará a gestão operacional do empreendimento. A meta da BSH é alcançar R$ 400 milhões até o fim do ano.

"LATO SENSU" 1
A inclusão das centrais sindicais no processo de licenciamento de obras de impacto ambiental comprovado, ponto que foi incluído no Programa Nacional de Direitos Humanos e desagradou aos empresários, é só uma questão "lato sensu", segundo o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente).

"LATO SENSU" 2
"A Secretaria dos Direitos Humanos contatou os ministérios para saber de cada um quais eram as ações que tinham a ver com direito das pessoas, da saúde do trabalhador, direitos humanos em geral, "lato sensu"." Minc diz que o trabalhador vai opinar, mas não terá poder de veto, como teme a indústria. "Houve uma primeira portaria, que foi republicada com modificações."

CANDIDO BRACHER
O presidente do Itaú BBA tem na cabeceira os livros "Libertação", de Sándor Márai (Cia. das Letras), e "Contos da Montanha", de Miguel Torga (Nova Fronteira)

NO PANAMÁ
Marcus Vinicius Pratini de Moraes, presidente do Ceal (Conselho Empresarial da América Latina) no Brasil, irá falar em encontro com empresários, na próxima semana, no Panamá, sobre a retomada do crescimento brasileiro após a crise financeira internacional e sobre os efeitos desse novo cenário na parceria com os países da América Latina.

QUILOMBOLAS
O escritório Siqueira Castro Advogados vai defender, em caráter "pro bono", os interesses da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) na causa dos quilombolas, pela regulamentação da identificação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos.

com JOANA CUNHA e ALESSANDRA KIANEK

UM PUTEIRO CHAMADO BRASIL

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

O decreto da incompetência

O Estado de S. Paulo - 14/01/2010

Acuado pela ampla reação contrária ao Programa Nacional dos Direitos Humanos - criticado até por ministros -, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu recuar para evitar custos políticos maiores, mas procurou poupar a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, sua candidata à Presidência da República. Ela é, no entanto, pelo menos tão responsável quanto o secretário de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, pelo embaraço causado ao presidente. De certo modo, sua responsabilidade é maior, porque cabe à Casa Civil a avaliação final de qualquer projeto encaminhado ao chefe do governo. Segundo informação daquela Pasta, só os aspectos legais do programa foram analisados. Isso equivale à confissão de uma falha. É função do gabinete civil não só a "verificação prévia da constitucionalidade e da legalidade dos atos presidenciais", mas também a "análise do mérito, da oportunidade e da compatibilidade das propostas, inclusive das matérias em tramitação no Congresso Nacional, com as diretrizes governamentais". Não é preciso pesquisar a legislação para descobrir esses dados. Tudo isso está nas páginas da Casa Civil, facilmente acessíveis pelo site do Palácio do Planalto.

Não tem sentido, em termos administrativos, lançar sobre o secretário Paulo Vannuchi toda a responsabilidade pela desastrosa publicação do decreto sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos. O secretário fez um péssimo trabalho em todos os sentidos - muito ruim como projeto para o País e politicamente custoso para o governo -, mas o texto foi submetido a uma instância intermediária, antes de chegar ao chefe de governo. O presidente alegou ter assinado sem ler. Não explicou se o fez por aversão à leitura, mas, de toda forma, deve ter confiado no trabalho de seus auxiliares. Se confiou, errou.

Com esse escorregão, a ministra Dilma Rousseff demonstrou de forma irrefutável seu despreparo para mais um cargo federal. Já havia mostrado sua inépcia ao chefiar o Ministério de Minas e Energia, onde sua gestão foi abaixo de inexpressiva. Chamada para a Casa Civil, foi desde o início poupada, pelo presidente, de toda a responsabilidade pela articulação política. Foi-lhe atribuída a gerência dos investimentos federais e, em 2007, o presidente Lula entregou-lhe a coordenação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Mais que isso, ele a nomeou "mãe do PAC". Mais uma vez a ministra demonstrou sua inépcia gerencial, desmentindo novamente sua injustificável fama de executiva.

No ano passado - o de melhor desempenho na execução das obras - o Tesouro desembolsou apenas 65% do valor previsto no orçamento para o programa. Além disso, pouco mais de metade do total desembolsado correspondeu a restos a pagar. Mas o presidente Lula ainda não está saciado. Persistente, decidiu proporcionar à ministra Dilma Rousseff a oportunidade invejável de exibir sua inépcia no posto mais alto da administração nacional, a Presidência da República. Se Lula tiver sucesso, terá contribuído de forma notável para a revisão do Peter Principle, divulgado em 1969 pelo professor Lawrence Johnston Peter: "Numa hierarquia, todo funcionário tende a subir até seu nível de incompetência." Na formulação revista, ampliada e já comprovada em parte, a ascensão pode continuar por níveis de incompetência cada vez mais altos e mais perigosos para a organização ? ou, neste caso, para o País.

Não se sabe se Lula conseguirá transferir para sua candidata prestígio suficiente para permitir sua eleição. Neste momento, ele está empenhado em transferir-lhe um de seus atributos mais invejáveis, semelhante à propriedade principal das panelas teflon. Graças a essa propriedade, nenhum escândalo grudou em sua figura e nenhum erro importante maculou sua imagem, pelo menos perante uma grande parcela dos cidadãos. Ao isentar a chefe da Casa Civil de responsabilidade pelo desastroso decreto, Lula procura transformá-la numa candidata igualmente imune a prejuízos de imagem. Na terça-feira, por exemplo, ele a conduziu ao primeiro grande evento eleitoral de 2010, em Brasília, perante uma plateia de prefeitos, governadores e parlamentares. A cerimônia teve até beija-mão, protagonizado pelo presidente do Congresso, senador José Sarney. Foram liberados na ocasião R$ 3 bilhões para prefeituras, destinados ao programa de habitação popular. Um grande investimento, sem dúvida ? pelo menos na candidatura oficial.

ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE

Cerveja:o orgulho de quem fatura mais

Folha de S. Paulo - 14/01/2010


EM TEXTO anônimo, assinado por um certo Silvio Luiz Reichert (leia aqui) e intitulado "A cerveja e o orgulho de quem faz o melhor" (30/ 12), a multinacional de capital estrangeiro Anheuser-Busch Inbev, proprietária da AmBev, responde ao meu artigo "A cerveja: bebendo gato por lebre" (18/12/09)(leia aqui).
Entretanto, não responde à principal acusação, a saber, o engodo de que foi vítima o governo e o povo brasileiro pela fusão Antártica-Brahma, quebrando princípios e a legislação contra a formação de cartéis com a desculpa de que, fundidas, poderiam enfrentar a competição com multinacionais -para ser o cartel, em seguida, absorvido por empresa estrangeira. Também não foi explicada a prática perversa de coação a cervejarias nascentes para depois absorvê-las e aniquilá-las ou banalizar seus produtos. Pois bem, a mentira tem muitas faces, como se vê em seguida.
1) Maranhão, mentira bem urdida (padre Vieira, "Quinto Domingo da Quaresma"). Diz o echadiço que "a maior parte do malte utilizado pelas grandes indústrias, algo em torno de 65% ou mais, é importado. Mas isso não entrou na conta do autor". Ora, ou o trombeta não sabe ler, ou é intelectualmente apoucado, ou é mal-intencionado, ou os três, pois foi exatamente com a soma da cevada produzida no Brasil com a importada que foram feitas as minhas contas.
2) Patranha, mentira para tolos, crédulos. Afirmei e reafirmo aqui que a taxa de conversão da cevada em álcool é de 0,216 L/kg, e de milho em álcool é de 0,388 L/kg. E o sofista responde com as taxas de rendimento "na composição do extrato originário", o que nada tem a ver com conversão em álcool. Os dados, em todo caso, podem ser encontrados por exemplo no estudo "Culturas energéticas e o etanol", de Tiago Mateus. O leitor interessado também pode encontrar os dados de importação e exportação em www.cnpt.embrapa.br ou www.quercus.pt e com isso repetir os meus cálculos. Cuidado, deputado federal Paulo Maluf (PP-SP), pois está sendo ultrapassado desavergonhadamente em seu recorde mundial.
3) Inverdade, eufemismo (Machado de Assis, "A Semana"). Diz o buzina que "as cervejarias brasileiras de primeira linha não usam conservante (...) porque é ilegal". Será que a legislação brasileira é diferente para cervejas de segunda linha? E quais são as cervejas de segunda linha que, de acordo com a legislação brasileira, podem legalmente intoxicar os brasileiros com conservantes?
4) Embuste, quando é calculada para enganar. Diz o passavante que conservantes não são usados por serem desnecessários. Então para que servem o antioxidante INS 315 e o estabilizante INS 405, como se lê em letras miúdas de quase todos os rótulos de cervejas da AmBev e das demais cervejarias nacionais? Será que a mudança de nomenclatura de "conservante" por seu sinônimo, "estabilizante", satisfaz o legislador brasileiro? Será que o sarabatana estaria chamando o brasileiro de analfabeto, incapaz de ler o rótulo, ou de idiota, pois incapaz de entender o que lê?
5) Patarata é mentira com basófia, ostentação. Diz o estafeta que o lúpulo que é usado no Brasil vem da Alemanha e dos EUA e, portanto, é tão bom quanto o usado naqueles países.
Mais uma vez ofende a inteligência do leitor da Folha e do brasileiro em geral. Importamos vinhos de excelente e de péssima qualidade da França, da Itália etc. Os de baixa qualidade são mais baratos. Importamos bons e péssimos filmes dos EUA.
A diversidade da qualidade do lúpulo alemão é, reconhecidamente, enorme. As cervejas americanas são quase tão "leves, refrescantes e digestivas" e homogeneamente banais quanto as brasileiras. Que o leitor experimente uma dessas vulgares cervejas americanas. (Aliás, se alguém precisa de digestivo, é melhor tomar sal de fruta Eno do que cerveja da AmBev. E o gosto não é muito diferente). Então por que as boas cervejas belgas, inglesas e alemãs que usam lúpulo de boa qualidade não precisam de antioxidantes e estabilizantes?
6) Intrujice, quando se abusa da credulidade de fraternos. E, agora, o maior dos sofismas, o abuso repugnante de um sentimento de brasilidade dentro da mesma técnica que a AmBev elabora suas indecorosas propagandas televisivas, que induzem o cidadão desavisado a consumir suas cervejas pela associação com objetos de desejos primitivos: carros de luxo, mulheres seminuas, fartos banquetes, ou seja, a peta da promessa de sucesso.
Os pífios argumentos do recadista apenas comprovam o baixo nível ético da empresa que o emprega.

ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE , 78, físico, é professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), presidente do Conselho de Administração da ABTLuS (Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron) e membro do Conselho Editorial da Folha .

GOSTOSA

ALOÍSIO DE TOLEDO CÉSAR

Os trapalhões em forma

O Estado de S. Paulo - 14/01/2010


Atribui-se ao presidente Lula o gesto de ter assinado sem ler as muitas páginas do famigerado decreto envolvendo direitos humanos, o qual serve antes de tudo para tornar exposta a falta de visão e de inteligência humanas.

Em situações difíceis enfrentadas por seu governo, ao longo de sete anos, ele sempre saiu de lado, naquele estilo "não sabia de nada". Foi assim quando eclodiu dentro de seu gabinete o escândalo do mensalão e ele não sabia que José Dirceu, a alguns metros dele, incorporava a reputação de estar repassando dinheiro público a aliados, para que aprovassem leis no Congresso Nacional. Não sabia também que os seus companheiros íntimos do partido estavam envolvidos no escândalo até a raiz do último fio de cabelo.

Agora, mais uma vez, os jornais noticiam que Lula continua a sair de lado, ou seja, para não ficar exposto ao dilema de ter lido ou não ter lido o famigerado decreto, determinaria reeditá-lo e deixar clara a ausência de aval do governo. No novo texto o decreto diria apenas que o presidente divulga a conclusão da Conferência de Direitos Humanos, ou seja, que o presidente não está comprometido com isso.

Esse comportamento é bem próprio do estilo Lula de governar, ou seja, o estilo "tô nem aí", sempre voltado para blindá-lo dos desgastes resultantes das besteiras praticadas por seu grupo íntimo. Parece claro que Lula não tem nada que ver com o conteúdo do decreto, mas, infelizmente, o fato de desconhecer suas disposições e de assinar em branco é profundamente comprometedor.

Realmente, o festival de estupidez jurídica enfeixado no decreto é de assustar e poderia servir de hino ao não-saber jurídico. Não parece admissível que Lula, após sete anos de governo, não tenha encontrado em seu grupo íntimo alguém com a necessária lucidez para enxergar essas coisas e impedir que se tornem públicas. Ao contrário, tem-se a impressão de que dentro de seu gabinete, isto é, junto ao seu grupo íntimo, há pessoas que pretendem dinamitar o ano eleitoral, com propósitos ainda não muito claros.

Para se ter uma ideia da insanidade evidente no referido decreto basta observar as restrições que procura impor aos símbolos religiosos. Levada à risca essa imposição, chegaríamos ao absurdo de ter de destruir uma das maiores maravilhas da humanidade, o Cristo Redentor do Rio de Janeiro, assim eleito pelas pessoas de todo o mundo.

A imagem do Cristo Redentor representa a expressão de fé de milhões de seres humanos, mas pelo decreto seria intolerável, porque é um símbolo religioso. Da mesma forma, cada vez que um jogador de futebol fizer um gol e repetir o gesto do sinal da cruz, estará também violentando o decreto.

Isso para não falar nos nomes das cidades. O conhecido jurista Ives Gandra Martins bem observou em entrevista à televisão que as cidades brasileiras com nomes de santos, como São Paulo, São Vicente e tantas outras, terão de mudar de nome para se enquadrarem ao decreto.

É evidente que esses argumentos são usados tão somente para exprimir o absurdo da disposição legal, porque não se poderia mesmo admitir que fossem banidos, expurgados, amaldiçoados símbolos religiosos que são há milênios preferências eleitas de determinadas religiões, como a cruz para os cristãos, a imagem de Buda para os budistas e a estrela de Davi para os judeus.

A investida contra os símbolos religiosos não é coisa nova. É antes uma obsessão tola e juvenil de cristãos do tipo "xiita", ou seja, radicais que se dizem incomodados com as imagens de Cristo expostas em todos os cantos, não só no Brasil como no mundo todo.

Incrivelmente, o decreto do presidente Lula cedeu a essa vocação religiosa radical por pressão dos grupos contrários aos símbolos religiosos e com isso ofende as preferências de milhões de católicos, que são maioria no Brasil. Enfim, agrada aos radicais, mas ofende os católicos.

Outro lado grotesco do decreto é aquele que parece escrito por José Rainha e João Pedro Stédile, os dois políticos que há anos, impunemente, fazem uso do despreparo intelectual dos sem-terra e os transformam em massa de manobra. O decreto procura retirar do Judiciário o poder privativo de decidir sobre as questões envolvendo invasões de terras.

Desde Montesquieu, o Poder que governa não julga nem faz as leis; o Poder que faz as leis não governa e não julga; e o Poder que julga não governa nem faz as leis. É assim no mundo civilizado, sobretudo no mundo democrático.

Não é possível que se procure retirar do Judiciário o poder privativo de decidir tais questões. Qualquer violação a esse Poder estará em afronta aberta às cláusulas pétreas da Constituição federal, ou seja, são disposições afetadas pelo vício de origem de nulidade.

É inacreditável que as pessoas que redigiram ou leram o decreto não se tenham dado conta de que a justiça não pode ser privatizada. Somente nos regimes de força, extremistas e totalitários a justiça de faz nos gabinetes ou é delegada a grupos, como insinua pretender o decreto.

Num coroamento de falta de inteligência, e de que realmente se pretende jogar gasolina na fogueira, reabre-se o confronto entre torturadores durante o regime militar e os integrantes de grupos terroristas que atiraram bombas e, de metralhadora nas mãos, acharam que iriam alcançar a democracia (entre eles, a ministra Dilma Rousseff, com sua reputação de ex-guerrilheira).

De todas essas trapalhadas fica a impressão de que algumas pessoas do grupo íntimo do presidente Lula estão agindo com propósitos ideológicos e pretendem agarrar-se ao último ano de governo para criar uma situação capaz de garantir a continuidade. Difícil pensar que seja só falta de inteligência.

Aloísio de Toledo César, desembargador aposentado, é advogado e jornalista.

ARTHUR VIRGÍLIO

Insensatez


O Globo - 14/01/2010

Sempre recomendo a leitura do livro "A marcha da insensatez" (de Troia ao Vietnã), da historiadora inglesa Barbara Tuchman. Na lenda, o rei Príamo não ouviu Cassandra e ordenou a entrada, nas muralhas de sua cidade, do cavalo abandonado, à beira do oceano, pelos gregos. Para o monarca, seria oferenda a Apolo, pela profanação do seu templo por Aquiles. Ou um tributo a Poseidon, implorando por águas calmas no retorno à casa. Expressão, enfim, de gregos derrotados e símbolo da invencibilidade de Troia. O resto da lenda é bem conhecido.

Napoleão foi aconselhado a não invadir a Rússia, com armas pesadas e no inverno. Hitler, depois, repetiu a temeridade, com armamentos mais pesados ainda. Conheceram a derrota.

Os EUA entraram na guerra do Vietnã para substituir os franceses e, imediatamente, negociar a paz. A insensatez prevaleceu e tudo terminou com a derrota da superpotência, diante do inimigo liderado por Ho-Chi-Min e pelo gênio militar de Giap.

Pois o PNDH-3 (Programa Nacional de Direitos Humanos) é uma insensatez. Confuso, acena com um conjunto de ações que deveriam resultar em 27 proposições legislativas a serem encaminhadas ao Congresso neste ano.

Dá sinal verde para o MST invadir propriedades produtivas à vontade. Tenta, pelo controle estatal, amordaçar a liberdade de imprensa e informação. E, pretendendo investigar torturas e desaparecimentos durante o regime militar, mexe num vespeiro. Reabrir as feridas que a Lei de Anistia mandou fechar e que tanta dor custaram aos brasileiros? Querem punir generais que já morreram? Ou pretendem afrontar os de hoje, que tinham 15 anos quando a violência de ambas as partes foi cometida? Por que a insana vontade de dividir o país, outra vez?

Insensatez que deve ser derrotada. Propus, então, a convocação, para depoimento no Senado, dos ministros da Defesa, da Justiça e da Secretaria dos Direitos Humanos, acompanhados dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Do mesmo modo, propus projeto de Decreto Legislativo que susta (art.49, inc.V, da Constituição), o Decreto 7.037/09, sobre o PNDH-3. Tomei tal atitude por entender que esse diploma entra em flagrante conflito com o texto constitucional.

Minha família sempre foi vítima de golpes e ditaduras. Meu avô presidia o Tribunal de Justiça do Amazonas quando Vargas fechou o Judiciário. Meu pai era líder do governo Goulart no Senado quando o golpe de 64 lhe ceifou a carreira política aos 48 anos. Apesar disso, não considero justo mexer no assunto. É insensatez fazê-lo. É contra o Brasil.

DIFERENTES

MULHERES QUE FAZEM FALTA

RUTH CARDOSO - ZILDA ARNS

MULHERES QUE NÃO FAZEM FALTA
DILMA TERRORISTA - LETÍCIA PLÁSTICA

SE ESSAS DUAS MORREM, NINGUÉM VAI SENTIR FALTA

ARI CUNHA

Zilda Arns morre no Haiti


Correio Braziliense - 14/01/2010

A desgraça se abateu sobre um dos países mais pobres do nosso continente. A avalanche de destroços levou o corpo de dona Zilda Arns. Figura dedicada a acompanhar doentes e pessoas sofridas no mundo, foi atingida pela catástrofe que sufocou o mar do Caribe. Foi o primeiro território descoberto por Cristovam Colombo. País pobre, em dificuldades, ali estava dona Zilda Arns para acompanhar o sofrimento do povo. E se surpreendeu com a brutalidade dos 7 graus da escala Richter. Nunca o país havia sido afetado por tamanho terremoto. Dona Zilda faz o Brasil também sentir sua falta. O governador do Paraná ergueu a bandeira a meio pau, em sinal de luto.


A frase que não foi pronunciada

“A democracia é a primeira vítima da Comissão da Verdade.”
» Pedra de cristal mostrando o futuro.


Na prática

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Até o Ministério da Justiça aderiu ao Facebook, Flickr, Orkut, Twitter e YouTube. Muito boa a iniciativa. Até mesmo para conhecer as fragilidades do sistema.

Devastação

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Falta a presença do ministro Carlos Minc na Bahia. As mineradoras estão dominando tudo. O que era floresta de madeira de lei em Buritirama virou carvão. O povo vê dinheiro e vende tudo.

Reciclagem

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Família animada se reúne para doar sangue no hemocentro. Uma pena o funcionário disponível não trabalhar com a mesma alegria. O resultado ficou entre a revolta e a tristeza. Há solidariedade humana. O hemocentro precisa estar sempre pronto para recebê-la.

Fora

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Com a internet, usar o serviço do 102 é prejuízo. Se não tiver intimidade com o computador, o interessado na busca deve solicitar a um familiar. Nem tanto pelo preço abusivo de R$ 1,40 por informação, mas porque as atendentes não são de Brasília e a chance de receber o número errado é grande.

Colorido

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Sensação dos turistas em Brasília. O Troller, transporte usado pelo Sarah, se diferencia nas pistas da capital. Ele leva em segurança pacientes do Sarah Centro para o Lago Norte.

Cearense

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Por falar em Troller, o novo Troller 2009 T4 é muito mais do que bonito. É brasileiro, turbodiesel, 163 cavalos de potência e deu um show nas enchentes em São Paulo. O que parecia impossível aconteceu. Ele atravessou a água que batia acima do capô.

Respostas

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Criado o blog do Senado para responder às questões divulgadas na imprensa. Para cada notícia, uma resposta. O número de acessos mostra o interesse em saber o que se passa do outro lado.

Sempre

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Só falta a deliberação da CAE para que os portadores de deficiência visual possam ter mais facilidade para reconhecer as cédulas emitidas pelo Banco Central. A implantação será gradativa. O projeto é do senador Flávio Arns, que — como a irmã, Zilda Arns, sempre fez — luta pelos diferentes.

Passado

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FGTS virou estrela do Tesouro. Ano passado, a notícia era de que seria usado para ajudar na construção civil. Agora, para a Copa do Mundo. O dono do dinheiro não é mais o trabalhador.

História de Brasília

Começou bem o sr. Randal do Espírito Santo, na presidência da Novacap. A revisão do contrato de exploração da Lavandaria da Novacap foi uma medida de extrema justiça e de defesa dos habitantes de Brasília. O mesmo arrendatário, sr. Expedito Perdigão, é arrendatário dos Hotéis do Lago, e, para qualquer informação sobre esses hotéis, pergunte a quem mora neles. (Publicado em 22/2/1961)

ROLF KUNTZ

Um decreto não reciclável


O Estado de S. Paulo - 14/01/2010

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende remendar o Programa Nacional de Direitos Humanos - reeditar, na linguagem polida -, segundo informação de Brasília. Pretende, além disso, trocar a expressão "aprova" por "torna público o programa", como se isso o inocentasse das barbaridades contidas no decreto por ele assinado, sem ler, segundo alegou, em 21 de dezembro. Mas é inútil querer mudar. Ao contrário de boa parte do lixo, aquele besteirol autoritário não é reciclável.

O abandono da palavra "aprova" é apenas mais uma tentativa de fugir da responsabilidade por uma iniciativa ruim. Em 2004 o presidente enviou ao Congresso o infeliz projeto do Conselho Federal de Jornalismo - um comitê de censura. Depois, diante do insucesso, alegou haver apenas encaminhado uma proposta apresentada ao governo. Qual será o comportamento mais escandaloso e menos compatível com a dignidade presidencial: 1) alegar ter assinado um decreto de 92 páginas sem ler; 2) remendar a linguagem desse documento para não se comprometer; 3) assumir, como no caso ocorrido no primeiro mandato, o papel de carimbador e despachador de papéis?

Nenhuma dessas questões deve impressionar os menores de idade mental, os demais amantes do autoritarismo e, de modo geral, os aspirantes a uma boquinha ou os já beneficiados pelo aparelhamento da administração. Mas são importantes para os demais cidadãos.

Estes entendem por que o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, descreveu o decreto como fonte de insegurança jurídica. A exigência de mediação entre invasores e vítimas de invasão, antes de se emitir uma ordem de reintegração de posse, não é fonte de preocupação apenas para fazendeiros ou para outros proprietários de imóveis de qualquer tipo.

Essa proposta envolve uma inversão dos padrões de legalidade: joga para segundo plano os direitos da vítima e converte o violador em presumível detentor de direito sobre o objeto de esbulho. Várias outras mudanças contidas no decreto produzirão o mesmo efeito de insegurança, se forem convertidas em lei. A "incorporação dos sindicatos de trabalhadores e centrais sindicais nos processos de licenciamento ambiental de empresas" servirá, na melhor hipótese, para retardar inutilmente a decisão administrativa.

As demais hipóteses são mais assustadoras: como será usado o poder cartorial atribuído a sindicatos e centrais - especialmente àqueles habituados a viver de impostos e à sombra do poder público? Será mais uma privatização, com certeza custosa, de um processo público.

A preocupação demonstrada pelo presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústria de Base (Abdib), Paulo Godoy, é inteiramente justificável. A inclusão de novos participantes no processo cria, segundo ele, "mais um balcão" no caminho de quem precisa obter avais e pareceres. A palavra balcão é usada, aparentemente, no sentido de instância burocrática. Mas essa palavra tem vários sentidos e é prudente levá-los todos em conta, quando se torna mais complicado um esquema de licenciamento.

Não há como consertar um projeto autoritário, tão antidemocrático, em seus objetivos, quanto as fórmulas de controle e de coerção da imprensa concebidas pelo governo e por seus acólitos desde o primeiro mandato e agora reeditadas. A própria noção de direitos humanos é distorcida, para se converter em princípio ordenador de todas as leis, de todos os direitos e de toda a organização social e econômica. É distorcida porque se amolda a uma concepção particular de ordem política, baseada na relação direta entre um poder supremo e grupos sociais arregimentados para sustentá-lo. Congresso e Judiciário são instituições para figuração.

Os grupos de base são sindicatos pelegos, entidades estudantis financiadas pelo governo, "despossuídos" transformados em cidadãos especiais e organizações alimentadas com dinheiro público e mobilizáveis, facilmente, para manifestações políticas e às vezes para ações violentas. Tudo isso é típico do populismo autoritário, instalado abertamente na vizinhança latino-americana, com aplausos do presidente Lula. No Brasil, as bases dessa política são moldadas com mais discrição, mas de forma indisfarçável. Direitos humanos são promovidos, incorporados na lei e defendidos mais seriamente em países onde vigora o Estado de Direito, onde há segurança jurídica e a imprensa é livre de tutela. O decreto, como tantas outras iniciativas do governo Lula, aponta para outra direção.

GOSTOSA PELO SISTEMA DE COTAS DO BLOG

PAINEL DA FOLHA

Plano de voo

Folha de S. Paulo - 14/01/2010
O presidente Lula determinou ontem aos ministros que preparem uma "prestação de contas" sobre programas em andamento e agendou para a próxima quinta-feira uma reunião com toda a equipe da Esplanada. A ideia é ter em mãos já neste mês números atualizados e previsões para elaborar a plataforma eleitoral de Dilma Rousseff, assim como traçar uma agenda de inaugurações de obras pelo país.

No encontro, segundo seus auxiliares, Lula pretende ouvir uma resposta definitiva dos ministros que deixarão o governo para disputar as eleições. Ele também pediu um perfil detalhado de quem são os secretários-executivos das pastas, prováveis herdeiros dos cargos na reta final do governo.


Timing. Reunidos num jantar anteontem na casa da ministra Dilma Rousseff, o seleto grupo engajado na pré-campanha definiu dois momentos cruciais neste início de ano: o congresso do PT (18 de fevereiro) e a despedida da Casa Civil, no "minuto anterior ao prazo definido em lei".

Prioridades. Enquanto o PSOL assiste incomodado à aproximação dos verdes com os tucanos no Rio, um dirigente do PV, de olho no tempo de televisão que a coligação pode dar a Fernando Gabeira, retruca: "Isso não é a preocupação do momento".

Cláusula. O comando verde já impõe condições à aliança: não há hipótese de o vice de Gabeira ser ou ter ligação com o DEM. O PSDB já articula nomes: o deputado Luiz Paulo Corrêa da Rocha, o prefeito de Duque de Caxias, Zito, ou a vereadora Andrea Gouvêa.

Isola. De volta à cena após dias de fervura do escândalo do mensalão, José Roberto Arruda foi evitado pelos demais governadores e prefeitos na cerimônia do PAC da Copa.

Foto. Antes do início dos discursos, espalhou-se tensão entre os governadores para saber quem se sentaria ao lado de Arruda. O premiado foi Jaques Wagner (PT-BA).

Dr.Dolittle. O deputado ACM Neto (DEM-BA) foi surpreendido ontem por um vereador que chegou a seu escritório com um jacaré, encontrado ferido numa rodovia.

Luto. Foi Gilberto Carvalho, chefe de gabinete da Presidência, quem comunicou à família de Zilda Arns que ela era uma das vítimas do terremoto que devastou o Haiti.

Roteiro. Lula tinha viagem programada ao Haiti na segunda quinzena de fevereiro.

Memória 1. Uma das principais divergências de Zilda Arns com o governo Lula ocorreu logo após a eleição de 2002, quando do lançamento do Fome Zero. Ela criticava a distribuição de cupons prevista no programa porque eles "poderiam levar à corrupção".

Memória 2. À época, Zilda sugeriu: "É melhor dar diretamente o dinheiro às mulheres, que têm uma inteligência difusa maior". Dois anos depois, o decreto que criou o Bolsa Família ordenou que o titular do cartão deve ser preferencialmente a mulher.

Meio termo. Não foi preciso muito suor para convencer Nelson Jobim (Defesa) e Paulo Vannuchi (Direitos Humanos) a chegar a um acordo sobre do terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos. De um um lado, não interessava a Jobim colar sua imagem à defesa de militares que praticaram tortura. Do outro, tampouco Vannuchi almejava sair do contencioso com a pecha de revanchista.

Baú. O deputado tucano Eduardo Gomes (TO) recolhe assinaturas de líderes dos partidos na Câmara para instalar uma comissão destinada a analisar o texto do programa de direitos humanos. O grupo também ficaria encarregado de juntar projetos já existentes que tratam dos temas contidos no texto, há anos engavetados na Casa.


Tiroteio

"O ímpeto de legislar do governo ultrapassou todos os limites porque esse documento afronta a Constituição em diversos tópicos."

Do deputado CARLOS SAMPAIO (PSDB-SP), sobre a manutenção de pontos polêmicos no terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos que geraram a crise com segmentos da sociedade.

Contraponto

Tempero baiano O presidente Lula se divertia ontem contando para o governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e um grupo de prefeitos sobre as férias na praia baiana de Inema. Ao narrar as experiências gastronômicas, disse que o ministro Geddel Vieira Lima mandou o prato "cabeça de robalo", feito de caranguejo, à primeira-dama, Marisa Letícia.
-Bem na hora que eu ia começar a comer chegou o Jaques Wagner...-, relatou Lula, sobre os adversários.
Cabral fez ar de preocupado, ao que Lula emendou:
-Mas fui logo avisando que ele não poderia comer porque era presente do Geddel...
No dia seguinte, Wagner enviou um cesto de acarajés.

CLÓVIS ROSSI

Verdade e poder, dois estranhos

FOLHA DE SÃO PAULO - 14/01/10


SÃO PAULO - Roberto Saviano é um jornalista italiano que investigou as máfias de seu país e as conexões com o poder. Produziu um livro, "Gomorra", que lhe valeu uma espécie de condenação informal à morte pelos clãs mafiosos.
No começo de outubro, em ato público de protesto contra os ataques do primeiro-ministro Silvio Berlusconi à mídia, Saviano soltou esta frase: "Verdade e poder não coincidem nunca".
Exagero? Talvez, mas não muito, a julgar por duas notícias dos jornais de ontem, para não pesquisar exemplos anteriores. Primeira: o governo holandês, depois de tomar a decisão de apoiar a invasão do Iraque já em 2002 (a invasão só se deu em 2003), passou a selecionar nos textos dos serviços de inteligência apenas os trechos que se adequassem à linha política já decidida.
Detalhe: estamos falando da civilizada Holanda.
Segunda notícia: o governo grego manipulou estatísticas para tentar esconder o seu formidável deficit público. No dia 2 de outubro, mandou informe à Comissão Europeia dizendo que o deficit em 2009 seria de 3,7%; apenas 19 dias depois, novo informe, em que o deficit saltou para 12,5%.
No Brasil, o Ipea faz questão de dizer que caiu a desigualdade, sem deixar claro que caiu apenas a desigualdade entre salários, que seu próprio presidente, Marcio Pochmann, considera muito menos importante do que a disparidade entre renda do capital e renda do trabalho. Cultiva uma lenda, embaçando a realidade.
São fatos indiscutíveis. Diante deles (e haveria toneladas de outros se espaço houvesse), você decide se vale a pena deixar que o governo (qualquer governo) controle os meios de comunicação, como pretende o Plano Nacional de Direitos Humanos, ou se é mais saudável que você mesmo os controle, mudando de canal ou de jornal na hora em que quiser.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Começou o Big Biba Brasil!

FOLHA DE SÃO PAULO - 14/01/10


Biba, drag, sapata: isso não é uma casa, é uma boate gay! Esse "BBB" devia acontecer na The Week! BBBIBA! BBBAFO!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! Olha a placa numa banca da Paulista: "Compro revista erótica usada"!
E fui dormir dando risada! Abriram o açougue! Começou o "BBB 10"! Oba! Adoro uma acefalia televisiva! Big Brodi Brasil. Big Barriguinha do Bial ou BBBIBA! BBBAFO! Biba, drag, sapata. Isso não é uma casa, é uma boate gay. Esse "BBB" devia ser na The Week! E só tem gente da internet. Ops, INFERNET! O Boninho pegou esse povo no Twitter. E esses são os dois neurônios do Twitter: Twico e Tweco!
E olha a fauna: uma bibinha emo que só grita ADOOOORO! Uma drag queen, a Dimmy Kieer, com seu hit no YouTube "Bixa Linda, Mona Luxo". E por que toda drag quando tá de homem é um dragão? Rarará. Dragão Queen! Uma sapata chamada Angelica! Um modelo de Maringá que é da agência da mulher do Galvão Bueno. Adorei o pedigree!
Aliás, eu adoro as perguntas do Bial: "Qual o maior bem do mundo?". A MAQUIAGEM! Rarará. A GELADEIRA! Eu acho que é a geladeira, verdade! O maior bem do mundo é a geladeira! E o Bial para um personal trainer, um rinoceronte de sunga: "O excesso de autoconfiança pode se confundir com agressividade?". E o rino: "AHHNN? Agora você me pegou, Bial". Rarará! Esse tem massa "moscular". E já posou pra capa de revista gay chamada "Cabo Frio". O quê? Revista gay chamada Cabo FRIO?! E foi gogoboy do cruzeiro da Claudia Leitte. Da Claudia Milk!
Ah, e tem uma professora de linguística. Devia ser professora de linguiça. Ia fazer o maior sucesso na casa. Professora leva a linguiça pro "BBB"! Levar linguiça pro "BBB" é como abrir lata de sardinha em casa de gato. Rarará! Enfim, diz que vai ser o "BBB" da diversidade. Detesto esse termo diversidade sexual. Acho muito ONG, muito USP. Prefiro divertimento. Divertimento sexual. Rarará! É mole? É mole, mas sobe! OU como disse aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!
Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha Morte ao Tucanês. É que aqui em Sampa tem um açougue chamado Big Brother Brasil. Deve ser quando os BBBs vão pra piscina! Rarará! Mais direto, impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil!
E atenção! Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. ""Massa moluscar": massa cinzenta de companheiro molusco! Rarará. O lulês é mais fácil que o ingrêis. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

MERVAL PEREIRA

Democracia direta

O GLOBO - 14/01/10


Uma mudança fundamental na elaboração do Programa Nacional de Direitos Humanos, que o diferencia dos demais divulgados anteriormente, é que, desta vez, o protagonismo ficou com diversas instâncias de representação da sociedade reunidas em infinidades de conselhos e conferências realizadas pelo Brasil afora.

O processo é o mesmo utilizado no governo anterior para auscultar a chamada “sociedade civil”, mas o que antes não passava de sugestões, desta vez, ganhou caráter terminativo, sem que nenhum setor do governo tenha feito uma filtragem das “decisões”.

Esse é um procedimento recorrente no governo Lula na tentativa de ultrapassagem do Congresso, com a criação de diversas instâncias de negociação em que os sindicatos e as ONGs decidem o que o governo vai enviar para uma aprovação quase formal dos deputados e senadores, que passariam a ter um papel meramente simbólico, e são contemplados em troca com quinhões do orçamento e outras benesses governamentais.

A tese de que a democracia representativa já não é suficiente para refletir os verdadeiros anseios populares está por trás desse sistema decisório, e também da defesa da “democracia participativa” ou “direta”, preferida por setores influentes do governo e mais uma vez incluída entre as propostas no plano de direitos humanos.

É claro que democracia não depende apenas do voto direto, também não das consultas populares, mas da criação de um ambiente onde os direitos individuais estejam protegidos e acima da vontade do poderoso da ocasião, seja o guarda da esquina ou o presidente da República.

A democracia representativa está em crise no mundo todo, e a democracia direta surge aqui na América do Sul como uma solução manipuladora de esquerda.

Em diversos textos, o atual ministro da Justiça, Tarso Genro, aborda o que considera ser a falência da democracia representativa, e defende a organização de um novo Estado com “outras formas de participação direta”, surgindo daí a defesa de “instituições conselhistas”.

Entre esses, ele cita especificamente o controle dos meios de comunicação através de “conselhos de Estado”.

O ministro acha que o que chama de “ ritualismo democrático-formal” é uma das causas da decadência do modelo representativo atual.

Também o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, hoje ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo, defende que as camadas mais excluídas da sociedade participem efetivamente das decisões governamentais “através de referendos e plebiscitos”.

Ele considera que as eleições nas democracias representativas sofrem grande influência econômica, o que, na sua opinião, “dificulta a participação das camadas excluídas da população, provocando grandes tensões sociais”.

A questão é que a transformação dessas diversas representações da “sociedade civil” em instâncias decisórias para políticas do governo faz com que apenas os setores mais mobilizados da sociedade surjam como os grandes protagonistas dos tais conselhos, tornando suas decisões representativas não da maioria da sociedade, mas de sua parte mais politicamente ativa.

Seriam interesses fragmentados que ganhariam uma dimensão majoritária que não têm na realidade.

Também as chamadas “consultas diretas”, como referendos e plebiscitos, correm o risco de ter resultados distorcidos, refletindo mais a influência de lobbies e grupos bem financiados do que realmente a vontade majoritária de uma população.

O cientista político Bolívar Lamounier considera que a possibilidade de manipulação é inerente ao instrumento, “pois a autoridade incumbida de propor os quesitos pode ficar muito aquém da neutralidade”.

É por isso que o Congresso, eleito através do voto nacional, deve ser a última instância. A definição de políticas públicas fora da arena congressual não é uma decisão democrática.

Quando o governo negocia com sindicatos o aumento do salário mínimo, por exemplo, e manda ao Congresso uma proposta consensual, consegue impor sua vontade aos parlamentares, que não têm força para discutir um acordo já fechado diretamente entre o governo e os sindicatos.

Mas quando o assunto afeta os interesses da própria base congressual do governo, aí o sistema apresenta suas falhas. O governo tem uma maioria heterogênea que nada tem de ideológica.

É mais uma barreira a que problemas políticos alcancem o governo do que um grupo político unido em torno de um programa. Seria uma maioria “anti-impeachment” montada após a crise do mensalão em 2005.

Estudo do cientista político Gustavo Venturi, citado em recente artigo do ex-porta-voz de Lula André Singer sobre o fenômeno do “lulismo”, mostra que a tendência para a direita do eleitorado de menor escolaridade, associada à renda — já registrada na eleição de 1989 — continuava presente quase duas décadas depois, na eleição de em 2006.

Enquanto os eleitores de escolaridade superior dividiamse por igual entre os campos da esquerda (31%), do centro (32%) e da direita (31%), entre os que frequentaram até a quarta série do ensino fundamental, a direita tinha 44% de preferência, mais do que o triplo de adesão que tinha a esquerda (16%) e o centro (15%).

Assim como a sociedade brasileira, a maioria do Congresso não é de esquerda, o que inviabiliza a aprovação de um programa tão amplo e baseado em ideologia como o apresentado.

Tive a honra de fazer parte do júri do GLOBO que concedeu o Prêmio Faz a Diferença a Dona Zilda Arns em 2003.

Morreu como viveu, ajudando os mais necessitados.

O nome correto do historiador italiano autor do livro “O queijo e os vermes” citado na coluna de ontem é Carlo Ginzburg.

JAPA GOSTOSA

LUIS FERNANDO VERISSIMO

Robert Downey Júnior?!

O GLOBO - 14/01/10


Há muitos casos de “miscasting” – a escolha de um ator errado para determinado papel – na história do cinema. Dois dos mais notórios foram Gérard Depardieu como um Cristovão Colombo com forte sotaque francês, que só faltou dizer “u-la-la” ao avistar a América, e Marlon Brando como Napoleão Bonaparte. Ainda não vi a nova versão do Sherlock Holmes no cinema mas seria difícil imaginar um ator com menos cara de Sherlock Holmes do que Robert Downey Júnior. Não se trata de exigir respeito ao padrão estabelecido nos anos 30 por Basil Rathbone, o Sherlock Holmes “clássico” cuja figura correspondia à descrição do personagem feita pelo seu autor. Houve outros Sherlocks que desviaram do padrão. Também não se trata de rejeitar a ideia de Sherlock como um homem de ação, em vez de um sedentário cerebral. Numa das suas muitas versões através dos anos (até o Billy Wilder fez a sua) Sherlock, interpretado por Nicol Williamson, era levado pelo dr. Watson a Viena, para curar sua dependência em cocaína com Sigmund Freud, e os três acabavam se envolvendo numa acrobática aventura para salvar uma paciente de Freud das mãos de bandidos. No filme, Freud é Alan Arkin e quem faz o arqui-inimigo de Sherlock, professor Moriarty, é Laurence Olivier. Nada contra Sherlocks atléticos e com caras diferentes,
portanto. Mas Robert Downey Júnior?!
Sherlock Holmes deve sua sobrevida no cinema, mesmo mudando de tipos e de estilos, porque encarna a ideia, que nos fascina, da inteligência superior, do supercérebro, humanizados pela excentricidade. Curioso é que seu criador, Conan Doyle, era o oposto da sua criatura. Era um excêntrico em outro sentido. O inventor do símbolo universal da racionalidade e do pensamento lógico acreditava em duendes. Houve uma época em que milhares de pessoas, na Inglaterra, começaram a ver pequenas fadas com asas voando nos seus jardins e Conan Doyle liderou um movimento para que o fenômeno fosse cientificamente investigado. Não se sabe o que Sherlock Holmes diria das estranhas crenças de Conan Doyle. O fato é que em nenhum dos casos investigados por Sherlock Holmes nos livros há qualquer referência ao sobrenatural. Muitos pacatos autores se soltam em seus livros e fazem seus personagens viverem todas as loucuras que eles nunca viveram. Conan Doyle fez o contrário. Nem nos seus mais distantes devaneios, levado pela cocaína, Sherlock Holmes viu qualquer coisa parecida com uma
fadinha.
Mas Robert Downey Júnior?!

ANCELMO GÓIS

TRADIÇÃO CARIOCA

O GLOBO - 14/01/10


A pedido de uma comissão de sambistas que recebeu outro dia, Eduardo Paes criará o Centro de Tradições Cariocas.
Será construído no Terreirão do Samba, com palcos, botequins, espaço para rodas musicais, etc.
A OBRA DE US$ 20 BI
O projeto da refinaria da Petrobras no Maranhão, que hoje começa a sair do papel, passa a ser a maior obra do Brasil: deve custar US$ 20 bilhões.
Mas o governo garante ter uma oferta firme de um grupo japonês, que promete bancar o negócio e receber o pagamento em petróleo.
A conferir.
NIZAN CONTRA O AXÉ
Em seu Twitter, Nizan Guanaes, o grande publicitário baiano, detonou a banda Chiclete com Banana, liderada pelo vocalista Bell.
“Esta indústria do axé personificada em Bell do Chiclete só destrói a Bahia”.
PENSE NO HAITI
A coleguinha Sônia Nolasco, viúva de Paulo Francis, trabalhou durante anos na missão da ONU no Haiti. Há poucos meses, voltou para Nova York, porque contraiu ameba e outros parasitas na ilha caribenha.
– Os parasitas haitianos me salvaram a vida – dizia ontem.
MAS...
Sônia, naturalmente, está tristíssima:
– A minha preocupação é com vários colegas que são meus amigos queridos, e dos quais não tenho notícias.
AMOR EM PEDAÇOS
Estaria chegando ao fim o casamento de Ronaldo Fenômeno com Bia Anthony.
A relação dos dois balança há tempos, e, na virada do ano, piorou. Bia, como se sabe, está grávida. Os dois já teriam chegado a um acordo de separação.
NO AR
Veja como a derrocada da Varig esfarelou a presença de empresas brasileiras no transporte internacional: na medição passageiros por quilômetros transportados pagos, ano passado, as voadoras nacionais (TAM, principalmente) levaram 21.013.209 mil pessoas (pass X km) em rotas para fora do País.
SEGUE...
Este número é um pouco menor que o transportado em 2008 (21.134.868 mil) e bem inferior ao de 1998 (27.747.000 mil), quando a Varig ainda estava na ativa.
Mesmo com o aumento do número de pessoas que viajam para o exterior.
PARA CONCLUIR...
Quem ganha são as empresas estrangeiras que voam para cá e pouco geram em impostos, salários e divisas para o Brasil.
“PROVA DE FOGO”
Nos bastidores desde o escândalo do mensalão, Zé Dirceu, quem diria, acabou no teatro. É que a peça A Prova de Fogo, dirigida por Vera Fajardo, que estreia hoje na Casa da Gávea, trata da ocupação da USP, em 1968, época em que o ex-ministro era líder estudantil.
PENSE NO HAITI 1
O embaixador Antônio Patriota, secretário-geral do Itamaraty, viveu momentos de tensão por causa do trágico terremoto no Haiti.
É que a americana Tânia, sua mulher, que trabalha na ONU, estava em Porto Príncipe, onde serve. Mas está tudo bem com ela.
PENSE NO HAITI 2
O embaixador do Brasil em Porto Príncipe, Igor Kipman, estava em Brasília na hora do terremoto.
Nossos diplomatas que estavam em Porto Príncipe também nada sofreram.