quinta-feira, junho 16, 2011

CONTARDO CALLIGARIS - Por que acaba um casal?


Por que acaba um casal?
CONTARDO CALLIGARIS 
FOLHA DE SÃO PAULO - 16/06/11

Nossa cultura romanceia o namoro, mas imagina o casamento como se fosse uma "tumba do amor"


NO DOMINGO passado, Dia dos Namorados, um amigo mandou flores para sua mulher com este bilhete: "Posso ser seu namorado ou continuo sendo apenas seu marido?".
A frase foi bem recebida. É que, para nós, "namorado e namorada" pode ser muito mais do que "marido e mulher". Em regra, nossa cultura romanceia o namoro, mas imagina o casamento como uma tragicômica "tumba do amor".
Na última sexta, na Academia de Ideias de Belo Horizonte, durante um bate-papo com João Gabriel de Lima sobre meu último livro, ao falar de amor e casais, eu propus o seguinte: 1) todos tendemos a amarelar diante de nosso próprio desejo; 2) o casamento nos permite acusar alguém de nossa própria covardia -assim: eu quero fazer isso ou aquilo, mas tenho preguiça e medo; por sorte, agora que me casei, posso dizer que desisto porque assim quer minha parceira; 3) um casal, para valer a pena, não deveria servir para justificar as desistências de nenhum de seus membros; ao contrário, ele deveria potencializar os sonhos e os desejos de cada um dos dois.
Uma mulher me lembrou, com razão, que até esse tal casal que vale a pena pode acabar. E perguntou: por quê?
Existe uma sabedoria popular resignada sobre a duração de um casal. Os sentimentos do namoro viveriam, no casamento, uma decadência progressiva inelutável. E os casais continuariam unidos mais por inércia do que por gosto.
Alguns dizem que a rotina e a proximidade desgastam os sentimentos. Ou seja, o apaixonamento sempre é fruto de alguma idealização, e de perto ninguém parece ideal por muito tempo. Será que o remédio seria manter a distância para não enxergar as falhas do outro?
Respondo: amar não significa não enxergar os defeitos do outro, mas achar graça neles. Uma amiga perde um celular por semana; ela sabe que uma relação amorosa está acabando no dia em que seu homem, em vez de achar graça na sua desatenção, irrita-se com seu descuido.
Outros acusam o tédio. A novidade (valor mor da modernidade industrial) seria o ingrediente essencial (e, por definição, efêmero) do casal feliz. Ou seja, felizes são só os recém-casados.
Respondo: todos nós, neuróticos, amamos a repetição e a praticamos com afinco. A rotina, portanto, não deveria nos afastar do amor.
Volto, portanto, à pergunta: por que um casal acaba? Levantei a questão no Twitter, e @M_Angela_ Jesus me escreveu que, segundo Anaïs Nin, os casais não morrem nunca de morte natural, mas por falta de cuidados, de atenções e de esforços.
A citação me levou a pensar nos meus próprios casamentos fracassados; não cheguei a resultado algum, salvo o fato de que não deveríamos chamar necessariamente de fracasso um amor que acaba; erigir a duração em valor é uma ideia perigosa, que pode transformar separações bem-vindas e necessárias em processos laboriosos e infinitos.
No meio dessas reflexões, no domingo, fui assistir a "Namorados para Sempre", de Derek Cianfrance, que me tocou fundo, por ser justamente a história de um amor que não é mais possível. Isso, sem que os protagonistas consigam saber por que "não dá mais": nenhum deles é o vilão da crise, e nenhum deles é capaz de dizer o que está errado e deveria mudar para que o casal tivesse uma chance.
A julgar pela idade aparente da filha, o casal do filme dura há mais ou menos cinco anos. Em cinco anos, os namorados que, no primeiro encontro, haviam dançado e cantado na rua, cheios de alegria e de encantamento, transformaram-se num casal de estranhos que se encaram antes de se enxergar.
O que aconteceu? Não há resposta. Essa é a força do filme, que acua cada espectador a se perguntar o que foi que aconteceu a cada vez que ele ou ela amou, e o amor se perdeu.
Não é preciso que haja discordância brutal, traição ou desamor para que um casal se perca. Claro, é sempre possível racionalizar e apontar causas: no caso do filme, ao longo dos cinco anos, talvez ela tenha "crescido" profissionalmente (como se diz) e alimente agora ambições que ele não pode compartilhar porque, para ele, o casamento e a filha continuam sendo as únicas coisas que importam. Pode ser.
Mas talvez o fim de um amor seja um fenômeno tão misterioso quanto o apaixonamento. Talvez existam duas mágicas opostas, igualmente incontroláveis, uma que faz e outra que desfaz.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE


Jabuti na árvore
SONIA RACY
O ESTADÃO 16/06/11


De segunda-feira até ontem na hora do almoço, o preço das ações do Banco Panamericano, na BM&F/Bovespa, havia subido nada menos que... 18%. Tudo por conta de rumores de que o Panamericano estaria conversando com seu rival BMG na intenção de montar banco único.
A Comissão de Valores Mobiliários está acompanhando.

Sherlock

Foi parar nas mãos de investigadores digitais, o e-mail apócrifo distribuído na internet, antecipando nomes de agências classificadas na concorrência publicitária do BB.
Busca-se a origem das informações que caíram na rede.

Estranhamento


Azedou de vez o relacionamento entre Antonio Patriota e Mauro Vieira, embaixador em Washington.
Não, nada a ver com a ameaça de greve dos funcionários lotados por lá, que brigam por melhores condições de trabalho. E sim pelo pedido (mais um) de prorrogação do aluguel do escritório onde funciona provisoriamente a embaixada, em Georgetown. Gota d"água do descontentamento.
O prédio da representação brasileira está em reforma há quase dois anos.

A bela e as feras

Manuela d"Ávila fez giro por Bangu ciceroneada por Junior, do AfroReggae, anteontem. A presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara se dispõe a pensar portas de saída para os presos: "O AfroReggae não vai arrumar emprego para todo mundo quando eles saírem daqui", brincou ela.
Os dois continuaram o tour ontem por Vigário Geral e pelo Complexo do Alemão, no Rio.

Deita, vai


Hotéis top passarão a receber técnicos do Ministério do Turismo à paisana. Eles terão, inclusive, que testar durante a madrugada os serviços 24 horas. Tudo para seguir as novas regras para classificação hoteleira.

Back to the future
Adriane Galisteu pediu e a Playboy atendeu. A apresentadora quer a mesma equipe que a fotografou nua, em 1995, para repetir o sucesso histórico de vendagem. São eles: J.R. Duran, Marco Antonio Biaggi e Kaká Moraes.
Semana que vem em Capri e Porto Fino, na Itália.

Cabo de guerra


Vem se somar aos percalços que enfrenta o Corinthians na construção do seu estádio, uma exigência da Odebrecht. A empreiteira só assinará contrato definitivo se a obra for contratada em sistema de administração com preço em aberto. Em outras palavras, funciona assim: a cada etapa, avalia-se o custo e define-se preços.

O alvinegro reluta em concordar com a proposta. E ameaça contratar outra construtora, a Serpal, ligada ao Grupo Advento.

O fato é que o time tem até dia 26 para se decidir. Data em que Fifa define a abertura da Copa de 2014.

Reforço


O Ipem acaba de cassar a licença de duas oficinas que eram autorizadas a fazer manutenção de bombas de combustível. Foram detectadas irregularidades nos aparelhos revisados por esses estabelecimentos. Como por exemplo, o "roubo" de 400ml a cada 20 litros abastecidos.
As informações estão sendo enviadas para a Polícia Civil.

Homônimo

A Barney"s, de Nova York, está vendendo, com exclusividade, bolsa de designer L"Wren Scott batizada de ... Lula. Curiosa, uma consumidora brasileira foi atrás do motivo pelo qual a namorada de Mick Jagger teria batizado este seu produto com o nome do ex-presidente do Brasil.
Não, não é uma homenagem ao petista. Na verdade, Lula é o nome da sogra do Rolling Stone.

Sem peso extra


Sonia Braga, que desfila hoje para Adriana Degreas, fez um único pedido à grife: como vem do frio de Nova York, precisa de um... casaco.
Não quer carregar um trambolho na viagem.

Na frente

Organizadores do Beirutaço, sábado, a favor da manutenção do restaurante Frevo, há 55 anos na Oscar Freire, tentam a adesão de José Serra. Que já defendeu, em seu Twitter, o Cine Belas Artes.

Abre, hoje, na Fundação Gulbenkian, em Lisboa, mostra de Kboco. Em setembro, o artista estreia individual na Lu Magnus em Nova York.

O Bradesco BBI trabalhou na venda do Baú da Felicidade, assessorando SS.

Ricardo Robertoni inaugura hoje o The Grand, espaço para carros raros e esportivos. No Bom Retiro.

Célia Euvaldo abre mostra, sábado, na Lemos de Sá.

Correção para a coluna esquecer: a capital do Uruguai é... Montevidéu

FAUSTO MACEDO - Chamado de 'criminoso', delator diz que prefeito 'vendeu a alma'


Chamado de 'criminoso', delator diz que prefeito 'vendeu a alma'
FAUSTO MACEDO
O ESTADÃO - 16/06/11

Amigos de infância em Corumbá (MS), Dr. Hélio e Aquino trocaram acusações em artigos de jornais de Campinas


Rotulado de criminoso pelo prefeito de Campinas, Dr. Hélio (PDT), o delator Luiz Augusto Castrillon de Aquino, que revelou ao Ministério Público elos do suposto esquema de corrupção e fraudes em licitações na administração municipal, foi à réplica. "O grande ato de luxúria não foi cometido por mim, mas por você, ao vender a própria alma ao diabo para se eleger prefeito no primeiro mandato."

O capítulo inaugural do embate foi o artigo A máscara da infâmia, da lavra de Dr. Hélio, publicado terça-feira no jornal Correio Popular, de Campinas. O prefeito ataca Aquino, que foi seu amigo de infância e presidiu, entre 2005 e 2008, a Sanasa, companhia de saneamento da cidade. Dr. Hélio aponta sua ira também para os promotores do Gaeco - braço do Ministério Público que combate crime organizado e atribui à primeira-dama, Rosely Nassim, o comando de quadrilha para recebimento de propinas.

"Para conseguir a indulgência, o criminoso Luiz Aquino, ex-presidente da Sanasa, faz um acordo com os inquisidores do Gaeco para livrar sua pele, em troca de mercadoria mais valiosa: a honra e a credibilidade conquistada em dois mandatos como prefeito de Campinas", escreveu Dr. Hélio.

Aquino foi à forra e também escreveu um artigo no qual rebate o libelo do desafeto. Traz uma mensagem enigmática. "Lembra-se das incontáveis reuniões com os credores realizadas em hotéis na cidade de São Paulo até altas horas da noite? Desde antes do primeiro dia do seu primeiro mandato de prefeito você já começava a pagar essa dívida, nomeando pessoas desqualificadas para o alto escalão, que Campinas não conhecia e não conheciam Campinas. Já se esqueceu?"

"Todo esse processo remete à Idade Média", escrevera Dr. Hélio. "Um homem desqualificado, flagrado com provas materiais e gravações que mostram o envolvimento dele e seus comparsas num esquema de desvio de dinheiro da Sanasa, de repente sai das instalações do Gaeco "canonizado" e beneficiado por uma surpreendente delação premiada."

"Discordo quando você diz que não tenho credibilidade. Não fiz acusações, mas reconheci meus erros e vou responder por eles. Aliás, o senhor falando em credibilidade? O senhor tem saído nas ruas? O senhor desceria a 13 de Maio hoje sem escolta?"

O prefeito disse que sua mulher, Rosely, pedira a exoneração "desse sujeito em 2008, quando surgiam os primeiros indícios de irregularidades na sua gestão à frente da Sanasa". "A mim custava crer que uma pessoa, que conheço desde a infância, pudesse cometer esse tipo de traição. Quando garoto, nunca me roubou uma bola de gude. Agora, adulto, fez despertar sua falta de caráter e seu instinto criminoso."

ROBERTO MACEDO - Brasil com miséria e sem lógica


Brasil com miséria e sem lógica
ROBERTO MACEDO
O Estado de S.Paulo 16/06/11

A presidente Dilma Rousseff mudou o lema programático do governo. De Um País de Todos passou a País Rico é País sem Pobreza. Houve quem dissesse que Um País de Tolos representaria melhor o que se via no governo anterior, dada a distância entre o discurso e a prática, bem como a forma enganosa de atribuir à pessoa do presidente resultados advindos principalmente da dinâmica da economia internacional e nacional.

Em sua lógica, essa forma caracterizava um sofisma, do seguinte tipo: se veio depois que cheguei - e foi algo bom -, foi por minha ação. Tal como um comandante de navio encalhado num banco de areia que atribuiu a si o desencalhe depois de a maré subir.

A presidente Dilma demonstra maior cuidado ao falar, mas adotou o novo lema aparentemente sem maior reflexão. A pobreza existe mesmo em países ricos, seja pelo critério de rendimentos, seja pelas demais condições de vida, como o acesso à educação e a serviços de saúde de boa qualidade. É muito fácil demonstrar que na sua generalidade a afirmação do novo lema é falsa, pois basta um exemplo em contrário. Tomemos um país ricaço onde há pobreza: os Estados Unidos.

No site www.presidencia.gov.br, bem no alto à direita, no desenho que incorpora o lema, passei o cursor e este adquiriu a forma de mãozinha, indicando que levaria a outra página. Cliquei e veio uma em branco, sintomática de um significado vazio.

Na busca de seu lema-sonho, a presidente lançou no início deste mês o Plano Brasil sem Miséria (PBSM). Ora, sonhar acordado também tem sua eficácia se impulsionar uma ação que, embora sem alcançar um objetivo inatingível, permita torná-lo mais próximo.

Ótimo! Para compensar o uso de sofisma, um tanto professoral, eu diria tô nessa, pois também sonho com um Brasil sem miséria. Interessado, cliquei com o cursor mãozinha na figura do plano e cheguei a uma página com várias conexões de informações sobre o PBSM.

A primeira página é encimada pelas fotos de dois jovens. O primeiro segura um cartaz com esta afirmação: "O Brasil cresceu porque a pobreza diminuiu". Aí já pensei tô fora, pois entendo que com as mesmas palavras o correto seria dizer que a pobreza diminuiu porque o Brasil cresceu. O segundo cartaz se assenta no primeiro e incorpora a sua fragilidade lógica ao dizer: "Já pensou quando acabarmos, de vez, com a miséria?".

Esses cartazes me trouxeram à lembrança um anúncio de duas páginas com o mesmo teor nos seus títulos, que o governo fez publicar nos jornais ao anunciar o PBSM. A sensação que seus títulos me trouxeram é a de que os publicitários que os prepararam devem ser os mesmos do governo anterior, ou da sua campanha sucessória, pois insistem em sofismar, desta vez assim: o Brasil cresceu, e isso foi - inegavelmente - acompanhado pela passagem de milhões de pessoas para classes de rendimentos mais elevados, e com diminuição das desigualdades entre classes. Mas daí se conclui, pelo primeiro cartaz, que a também inegável redução da miséria foi o que fez o Brasil crescer economicamente.

Pela ordem: esse crescimento veio principalmente do impulso dado pela expansão da economia mundial no período. Aí estamos falando de estímulos de fora para dentro, de centenas de bilhões de reais, e que, no seu total no período, devem ter entrado pela casa dos trilhões. Houve também o estímulo do crédito interno, que numa conta aproximada cresceu perto de R$ 1 trilhão entre o início e o fim do governo Lula. Com isso a economia cresceu mais, fortaleceu-se, a arrecadação de impostos aumentou muito, e isso permitiu ao governo ampliar programas sociais como o Bolsa-Família e o piso do valor de benefícios permanentes do INSS.

Ora, ao realizar esses programas o governo retirou recursos de segmentos da sociedade e transferiu-os para outros grupos. Se esse processo implicou maior crescimento, isso precisaria ser demonstrado, se ainda não o foi por pesquisadores que se dedicam ao assunto. Mesmo supondo já demonstrado - e, se não fosse, também se poderia argumentar pelo mérito social de programas como o Bolsa-Família -, vale lembrar que a escala desses programas é mínima, se comparada com os estímulos anteriormente citados. Por exemplo, os recursos do Bolsa-Família alcançam perto de R$ 15 bilhões, muitíssimo distantes das cifras dos estímulos inicialmente citados. E, vale insistir, sem estes últimos não haveria os mesmos recursos para programas mais voltados para a pobreza. Ou seja - e talvez meus colegas economistas me critiquem por elaborar sobre o óbvio -, sem crescer bastante não se avançará com maior rapidez no alívio da miséria.

Há mais problemas na concepção do PBSM, a começar pela sua definição dessa mesma miséria, pelo critério renda, pois é direcionado às pessoas que vivem em lares cuja renda familiar é de até R$ 70 por pessoa por mês, estando nessa situação 16,2 milhões de brasileiros. Ora, pode-se dizer que pessoas com renda um pouco ou mesmo bem acima desse valor também estão numa situação miserável. E não apenas pela renda em si, mas, entre outros aspectos, por não terem acesso adequado a uma boa educação e a bons serviços de saúde, estes a começar do saneamento básico, cuja carência leva a uma vida miserável. E, repita-se, mesmo com renda bem superior a míseros R$70 por mês. Mas isso é assunto para futuros artigos.

Dada a minha ênfase nas questões econômicas, lembro que o crescimento dos anos recentes não deverá repetir-se nos próximos, pois, em particular, o estímulo externo não deverá ser o mesmo. Assim, há que concentrar atenção em planos e recursos que nos livrem de míseros 4% de crescimento do produto interno bruto (PIB) nesse período à frente. Sem isso o sonho da presidente Dilma e de todos nós continuará muitíssimo distante.

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Coxas confiantes


Coxas confiantes
LUIS FERNANDO VERISSIMO
O GLOBO - 16/06/11

Certa vez interrompi a leitura entusiasmada de um romance no trecho em que a heroína estava prestes a se entregar ao narrador porque não conseguia entender como as coxas dela podiam ser confiantes. Coxas confiantes?! Mas estava ali, o narrador entre as coxas confiantes da moça. Mais tarde deduzi que o tradutor do inglês confundira “thrusting” com “trusting” e que as coxas eram para ser ativas, metidas – “ávidas” em linguagem figurada – em vez de cheias de
boa fé, mas aí já passara o entusiasmo.
Nos romances antigos, além de coxas animadas, as pessoas tinham estremecimentos. Hoje, com o ritmo trepidante da vida moderna, ou as pessoas só estremecem quando passa um caminhão ou não se nota mais um estremecimento no sentido literário. Ou talvez “estremecimento” seja como “muxoxo”, uma daquelas coisas que só acontecem em livros. Eu até hoje nunca vi um muxoxo na chamada vida real. Mas como não sei exatamente como é um muxoxo talvez tenha visto e não tenha reconhecido.
Também nunca vi uma sombra passar pelo semblante de alguém como acontecia, repetidamente, nos livros. É linguagem figurada, eu sei, como as coxas ávidas, ou “olhar perdido”, mas a tal sombra aparecia tanto na literatura que me convenci de que, como o estremecimento, devia ser algo que existiu e simplesmente caiu de
moda.
Passei boa parte da minha adolescência com a expectativa de encontrar um colo arfante fora dos livros, mas não tive sorte. Encontrei seios latejantes, mas era o coração delas que latejava, se bem que menos do que o meu. Os livros eróticos eram cheios de inchaços e deflagrações nos lugares mais estranhos do corpo. Mas o relato sexual sempre foi um desafio para a literatura.
Nos livros antigos as pessoas também empalideciam muito, a qualquer pretexto. Hoje ainda ficam pálidas, por anemia ou medo, mas nunca por constrangimento como antigamente.
E as pessoas ruborizavam! Ninguém mais ruboriza. No Brasil, há uns bons 50 anos não se tem notícia de que alguém tenha ruborizado.

CLAUDIO HUMBERTO



“O perigo está em o ministro levar a sério sua própria brincadeira”
GUSTAVO FRANCO, EX-PRESIDENTE DO BC, SOBRE GUIDO MANTEGA (FAZENDA) FALAR EM CALOTE

LOBBY DOS CAÇAS: DASSAULT LEVA POLÍTICOS A PARIS 
Pelo menos cinco políticos, quatro de oposição, foram convidados a participar em Paris, entre 19 e 23 deste mês, de “seminários” sobre segurança, com todas as despesas pagas, incluindo o hotel 5 estrelas Sofitel Saint-Honoré. Oficialmente, o convite é do parlamento francês, mas está por trás a Dassault, fabricante dos caças Rafale. No dia 22, haverá recepção oferecida a eles pela GIE Dassault-Snecma-Thalès.

PERTURBADOR 
O convite foi transmitido aos parlamentares, segundo dois deles, pelo próprio ministro Nelson Jobim (Defesa), ontem, em seu gabinete.

NEGÓCIO BILIONÁRIO 
A Dassault participa da concorrência pública para fornecer aviões de combate (caças) ao Brasil, num negócio de mais de R$ 10 bilhões.

BANCADA DO MICO… 
Paris aguarda os senadores Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), mas este último admite recusar.

…TAMBÉM NA CÂMARA 
Devem embarcar na excursão a Paris os deputados Eduardo Azeredo (PSDB-MG), Hugo Napoleão (DEM-PI) e Carlos Zaratini (PT-SP).

DILMA FORÇA CONVIVÊNCIA DE INIMIGOS NO TURISMO 
A presidente Dilma pode ter cometido outro erro político primário, ao impor o ex-deputado Flavio Dino (PCdoB-MA) para presidir a Embratur, órgão subordinado ao Ministério do Turismo e controlado pelo PMDB de José Sarney. Na terça, Dilma pediu ao vice Michel Temer para convencer Sarney e a filha, governadora Roseana, retirar o veto a Flávio Dino, ferrenho opositor da família, e nomeá-lo ao cargo. Sarney aquiesceu, mas o PMDB, não. A nomeação pode até não se confirmar.

FRACASSO ANUNCIADO 
Não há perigo de dar certo: na Embratur, Flávio Dino será subordinado do ministro Pedro (Turismo), do grupo de Sarney, ao qual faz oposição.

INVERSÃO POLÍTICA 
Outro sinal do erro de Dilma: o subordinado Flávio Dino é politicamente mais importante no Maranhão que o novo chefe, ministro Pedro Novais.

ESPELHO MEU 
Conforme esta coluna antecipou, o novo arcebispo de Brasília é dom Sérgio da Rocha, hoje em Teresina. O papa Bento XVI já o nomeou.

PALOCCI FEZ ESCOLA?
Políticos baianos não falam outra coisa: o governador Jaques Wagner (PT) vai morar no “Mansão Leonor Calmon”, um dos prédios mais luxuosos lançados no estonteante Corredor da Vitória, em Salvador. Cada apartamento, ali, custa entre R$ 3,7 milhões e R$ 5,2 milhões.

ATO PATRIOTA 
O chanceler Antonio Patriota mandou muito bem, admitindo o princípio da reciprocidade para espanhóis que nos visitam. Há anos, brasileiros são barrados, humilhados e deportados ao desembarcarem em Madri.

LIXO NO DF: AMEAÇAS… 
O negócio do lixo é uma sujeira no Distrito Federal. O advogado Gustavo do Vale Rocha registrou queixa, na 10ª DP, depois que o pai dele foi interceptado no trânsito, ao sair de casa, para ouvir a ameaça de dois bandidos: “Seu filho pode ser recolhido como lixo, na rua…”

…E CASO DE POLÍCIA 
Gustavo do Vale Rocha defende desde 2007 a empresa Delta, que obteve na Justiça a anulação do contrato de duas empresas rivais para o serviço de coleta de lixo no DF. A Justiça considerou que os valores eram superfaturados. A OAB-DF decidiu acompanhar a investigação.

RESERVA MORAL 
O jantar de despedidas oferecido pelo advogado Estenio Campelo, em Brasília, deu a dimensão de como é querido e admirado o ministro Ubiratan Aguiar, que vai se aposentar no Tribunal de Contas da União.

POVO COMO REFÉM 
Vai sobrar para a população, que paga tudo isso: policiais militares se mobilizam para uma “operação tartaruga” a partir de 5 de julho de todo o País, pressionando a Câmara dos Deputados a votar o projeto que fixa um piso nacional para a categoria, estimado em R$ 3 mil mensais.

CELSO DANIEL, A NOVELA 
A Justiça paulista negou o recurso de Marcos Bispo, único condenado pelo assassinato, em 2002, do prefeito de Santo André, Celso Daniel. A expectativa do Ministério Público é de que o Tribunal de Justiça decida até o fim do ano pelo júri popular em Itapecerica da Serra.

É O AMOR 
João Alberto (PMDB-MA) encontrou Agnaldo Timóteo no corredor do Senado: “E tu, como vais?” Timóteo: “Continuo vereador em São Paulo e viajo pelo Brasil cantando músicas que exaltam o amor”.

PENSANDO BEM... 
Se a ministra Ideli Salvatti (Relações Internacionais) vai atender respeitando a “hierarquia”, o da Pesca já pode segurar o anzol.

PODER SEM PUDOR
OPORTUNISMO IN NATURA 
A droga de ex-ministro Carlos Minc é tão exibido que certa vez encontrou um jornalista no Largo da Carioca, centro popular e palco de manifestações no Rio. O repórter disse a ele que infelizmente a pauta aquele dia não era meio ambiente, o mote do oportunista, e que estava atrás de outros personagens para a matéria.
– E é sobre o quê? – perguntou Minc, curioso.
– É sobre um surto de gripe na cidade – respondeu o repórter.
– Olha! Eu estou com essa gripe! – exclamou de pronto.
E virou personagem da matéria.

QUINTA NOS JORNAIS

Globo: STF garante livre expressão e libera Marcha da Maconha

Estadão: Aneel critica Eletropaulo, mas diz haver concessionárias piores

Folha: Câmara aprova sigilo para orçamentos da Copa-2014

Correio: Um terço dos condenados no DF cumpre pena nas ruas

Valor: PMDB está do "lado do bem", diz Temer

Jornal do Commercio: Greve enfraquecida

Zero Hora: Critério de promoção dos professores será alterado por decreto