terça-feira, outubro 20, 2009

AUGUSTO NUNES

VEJA ON-LINE

O ministério dos doidos de pedra

20 de outubro de 2009

O diplomata Samuel Pinheiro Guimarães, 69 anos, bem mais novo que a cabeça, é um casuísmo reincidente. Em 2003, como não era embaixador de 1ª classe, não poderia assumir o comando da secretaria-geral do Itamaraty. Um decreto esperto removeu a exigência, Samuel instalou-se no posto e logo virou um terço de chanceler. Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores, e Marco Aurélio Garcia, conselheiro do presidente para complicações cucarachas, ficaram com os terços restantes. Enquanto Amorim viajava e Garcia tramava com Hugo Chávez a invasão da Colômbia ou um ataque de surpresa aos Estados Unidos, Samuel ficou por aqui tomando conta da casa.

Nesta semana, escapou da aposentadoria compulsória com o traslado para primeiro escalão do governo federal. Diplomatas vão para casa aos 70 anos. Ministros não têm idade para encerrar o expediente. Ficam enquanto o presidente quiser. Como Lula gosta muito do nomeado, Samuel estará hospedado até dezembro de 2010 no gabinete do ministro de Assuntos Estratégicos, inventado para que Roberto Mangabeira Unger brincasse de arquiteto do futuro da nação. A escolha de Samuel sugere que o titular do cargo deve ser pinçado entre candidatos ao hospício.

Em 2005, por exemplo, sempre ao lado de Cuba e contra o imperialismo ianque, o secretário-geral conseguiu excluir a prova de inglês dos exames eliminatórios para o ingresso na carreira. No mesmo ano, resolveu que todos os diplomatas prestes a assumir um posto no Exterior, ou de passagem pelo Brasil para um período de reciclagem no Palácio Itamaraty, teriam de ler três livros: ”Pensamento Econômico Brasileiro”, de Ricardo Bielschowsky, “Biografia do Barão de Rio Branco”, de Álvaro Lins, e “Brasil, Argentina e Estados Unidos”, de Moniz Bandeira, com prefácio de Samuel Pinheiro Guimarães. Ele mesmo.

De lá para cá, ninguém escapou da tarefa, cumprida numa sala ao lado do gabinete do chefe. O mestre mantinha a tensão na estratosfera com sucessivas incertas. Em seguida, submetia os alunos a sabatinas orais. Se complicou a vida dos colegas, procurou facilitar a vida dos interessados na profissão que escolheu. O Instituto Rio Branco sempre formou 40 diplomatas por ano. O secretário-geral acha que tudo vai melhorar com fornadas anuais de 400. Ainda não conseguiu emplacar a ideia. Mas continua tentando.

“Ninguém sabe o que vem por aí, porque ele é chegado a soluções meio doidas”, avisou um embaixador aposentado quando soube que Samuel seria o chefão do Itamaraty. O deslocamento para o primeiro escalão do Executivo prorrogou o prazo de validade da frase. Ainda bem que o ministério não existe.

LEVANDO FUMO

JANIO DE FREITAS

Sem um toque especial


Folha de S. Paulo - 20/10/2009


O helicóptero abatido por bandidos no Rio foi um toque diferenciado em fato que não passou de corriqueiro


DEBELAR HOJE um confronto com bandidos ou entre grupos deles é, para a polícia, nada mais do que amanhã mudar de lugar para fazer a mesma tarefa. Essa é uma das muitas sínteses possíveis da dramaticidade vivida pelo Rio, e em processo de instalação na maioria das cidades mais populosas, pelo país afora. O que fazer, ao menos no caso mais agudo do Rio?
A única resposta de sinceridade inquestionável é simples: ninguém sabe. Porque a pergunta conduz a outra síntese possível da dramaticidade. Para vencer de fato a situação atual, haveria muitas mortes, dado que a bandidagem já constitui verdadeira força armada, destemida e entrincheirada em áreas que a favorecem; se a situação atual não for vencida, haverá cada vez mais mortes, muitas mortes, porque a força da bandidagem aumenta em armas, em extensão dos núcleos onde se aquartela e se autoalimenta para reposição das perdas humanas. Um dilema que ninguém, entre governantes, "especialistas" e políticos, quer admitir.
A admissão seria onerosa. Mais fácil é sair-se com subterfúgios. Lula, repetido por muitos outros: "As obras do PAC acabaram com a criminalidade no Dona Marta", e já estão acrescentadas outras favelas. Os traficantes e os assaltantes foram trabalhar em atividades lícitas? Ou, com moradia eventualmente em outro lugar, continuam assaltando, matando, traficando?
Desastres aéreos têm propriedade excepcional de comover a opinião pública. Os naufrágios com dezenas ou mais de centena de mortos ocorrem no Amazonas com frequência, as mortes no trânsito são dezenas ou centenas a cada dia, mas nenhum exemplo assim causa abalo equivalente ao de um desastre aéreo, digamos, com cem mortes. Por isso, o helicóptero abatido por bandidos no Rio foi um toque diferenciado em fato que, no mais, não passou de corriqueiro, é diário -com 12 mortos, 6 ou 16, 2 ou 9, bandidos reais ou bandidos depois de defuntos, passantes adultos e passantes crianças, e policiais. O anormal, o escândalo, foi o helicóptero.
Não é verdadeira a explicação oficial de que o acontecido no morro dos Macacos "é um problema específico de uma região, de um ponto da cidade muito localizado". Não é. A cada dia acontece algo do gênero em uma parte da cidade. Logo, o problema não está em tal ou qual ponto, está na cidade, agora mesmo começando ou se preparando em uma favela de Copacabana ou do Méier, ou na Linha Amarela, ou no caminho do aeroporto, em um elevado central, em qualquer lugar, de qualquer forma. O que não se sabe é só isso: onde e como. O quando é todo dia.
O sonho também merece o seu lugar: a solução poderia vir de um nível extraordinário de crescimento econômico, com seus frutos voltados não mais para a concentração na minoria ultramínima e, afinal, dirigidos a distribuir-se em proporções sedutoras para a mobilização das camadas sem perspectivas e sem estímulos positivos. Mas sonhos sonhos são.
A realidade que se apresenta ao Rio é a tendência a maior favelização nos próximos anos. Com a atração de maneiras de ganhar algum dinheirinho nos preparativos da Copa de 2014 e na Olimpíada de 2016. E não há o menor indício de que isso fosse pensado em qualquer instância de governo.

BENJAMIN STEINBRUCH

Perseverança


Folha de S. Paulo - 20/10/2009

O melhor a fazer é perseverar nas políticas que deram certo, de apoio ao avanço da economia e do emprego



QUEM VIAJA frequentemente ao exterior sabe que, lá fora, virou moda falar bem do Brasil. São comuns os elogios à resistência da economia brasileira durante a crise global e as apostas na volta do crescimento sustentado.
O festejado economista Jim O'Neill, criador do "acróstico" Bric, previu na semana passada que o Brasil deverá crescer em ritmo anual superior a 5% durante muitos anos. Que Deus o ouça. Investidores dão mostra de acreditar nisso. Bilhões de dólares estão sendo aplicados em ações de empresas brasileiras, o que fez o índice da Bolsa de São Paulo subir cerca de 130% desde o pior momento da crise. O efeito colateral perverso dessa injeção de recursos é a valorização exagerada do real.
O cenário da crise está rapidamente sendo substituído por outro, de retomada. Os melhores indícios dessa nova situação, porém, não vêm do mercado de investimentos nem de antevisões externas, mas da economia real.
Talvez tenha passado despercebido um dado relevante nesse contexto, divulgado pela Fiesp na semana passada. Pela primeira vez desde agosto de 2008 -mês que antecedeu ao desastre da economia americana- a indústria de São Paulo voltou a ampliar, em termos reais, o número de postos de trabalho. Em setembro, já expurgados os efeitos sazonais, houve crescimento de 0,20% no emprego industrial paulista, o que significou mais 14 mil vagas. No país, a reação da indústria também foi forte: contratação líquida de 123 mil trabalhadores em setembro.
Nada é mais importante que o emprego em uma economia. Por isso, vale refletir sobre as razões que levaram o Brasil a essa recuperação na oferta de trabalho enquanto muitos países continuam sem luz no fim do túnel. Entre as lições que aprendemos nesta crise, uma diz respeito à importância do mercado interno, que se revelou robusto e reagiu rapidamente aos estímulos fiscais.
Já dá para afirmar sem receio que milhares de empregos -talvez milhões- foram poupados no país porque houve redução de tributos sobre vários itens, desde automóveis até material de construção e eletrodomésticos. Se os resmungos mal-humorados dos ortodoxos fiscalistas tivessem sido ouvidos, o impacto da crise no consumo interno e em toda a economia teria sido muito maior.
Servem essas constatações também para refrear a ganância fiscal do setor público em todos os níveis. Com a superação da crise, além da volta da carga total do IPI, ressurgem ideias sobre a recriação da CPMF e de outros tributos, inclusive um sobre exportação de minérios. Na área municipal, como noticiou a Folha, São Paulo pretende impor reajustes de até 357% no IPTU, que teriam forte impacto sobre pequenos negócios e sobre o consumo local.
Outra lição é sobre a importância do crédito. Os momentos mais aflitivos da crise interna se deram quando houve o fenômeno que o mercado chamou de "empoçamento de liquidez". Os bancos tinham recursos, mas não os emprestavam, com medo de calote. Passada essa fase, a volta do crédito, embora caro, ajudou a recolocar a economia nos trilhos.
O melhor que se pode fazer neste momento, portanto, é entender as lições e perseverar nas políticas que deram certo, de apoio ao crescimento da atividade econômica e do emprego. Estímulos fiscais e creditícios, dosados na medida das necessidades, permanecem sendo instrumentos importantes para sustentar o crescimento, sem receios conservadores.

GOSTOSA


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BRASÍLIA - DF

Carimbo conjunto


Correio Braziliense - 20/10/2009



Ao sacramentar hoje o compromisso com o PT para 2010, os artífices da aliança pelo PMDB pedirão algo que confira mais recheio à parceria do que a vice na chapa da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. No acordo pré-nupcial a ser levado à mesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deverá constar uma cláusula de fusão programática para as eleições. Na prática, um aval para que a marca PMDB saia colada à de Lula e Dilma no período eleitoral.

O carimbo conjunto seria um trunfo da ala peemedebista que defende a adesão imediata a Dilma para esvaziar a resistência de grupos do partido reticentes com o fraco desempenho da candidata nas recentes pesquisas eleitorais. E a cereja do bolo do acordo que ainda terá de ser aprovado, em março, na convenção nacional do PMDB.

Divisão// Já irritada com a indefinição do PSDB na corrida presidencial, a Executiva Nacional do DEM não economizou nas críticas à atuação dos tucanos no Congresso. Os “demos” queixam-se de que estão sozinhos na oposição ao governo do PT e de terem assumido sozinhos o fardo de bater em questões como restituição do Imposto de Renda e conflito agrário.

Sem prestígio

Sem cargos no primeiro escalão desde a saída de José Múcio Monteiro do Ministério de Relações Institucionais, o PTB pleiteia a vaga de Marcos Lima na Subsecretaria de Assuntos Legislativos da Presidência. Alas petebistas, que têm 8 senadores e 22 deputados, considera que o partido está subvalorizado na base governista.

Predileto

Primeiro nas cotações para substituir Marcos Lima, o adjunto Neuri Mantovani enfrenta forte resistência à sua indicação. Deputados queixam-se de sua ligação com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), sob bombardeio na Casa e possível alvo de uma CPI por conta da destruição de um laranjal em Borebi (SP), há duas semanas.

Longo adeus



Descontente com a entrega do comando da comissão do Código Florestal à bancada ruralista da Câmara, parte da bancada do PV na Casa enxerga motivos para precipitar o distanciamento do partido em relação ao governo. Os verdes consideram que o governo foi complacente com a eleição de um representante do agronegócio para presidir o debate sobre a legislação ambiental. “Sem alinhar à oposição, queremos assumir uma postura de maior independência diante dessa postura”, conta Edson Duarte (foto), líder do PV na Casa.

Onipotência


Relator da proposta que cria a Petro-Sal, o deputado Luiz Fernando Faria (PP-MG) quer criar um conselho superior para analisar eventuais vetos da estatal a decisões de consórcios encarregados da exploração do pré-sal. O governo é contrário a reduções nos poderes da estatal na gestão dos contratos. As empresas petrolíferas são contra uma Petro-Sal com poderes absolutos. O parecer deve ser lido amanhã.

Tentativa



Advogado de Roberto Jefferson (foto) no caso do mensalão, Luiz Francisco Corrêa Barbosa apresentou ontem, ao Supremo Tribunal Federal, pedido para que o ministro Joaquim Barbosa, relator do processo, suste o prazo para que as defesas dos 39 réus enviem as perguntas da audiência do presidente Lula, que será ouvido como testemunha. Numa jogada jurídica, Luiz Francisco tenta fazer com que Lula seja ouvido como réu.

Três Ps/ Motivo de angústia no DEM, a demora do PSDB em definir seu candidato ao Palácio do Planalto tem embolado disputas internas nos estados. Pará, Paraíba e Paraná têm tucanos em pé de guerra pela candidatura ao governo estadual. “A definição do nome para presidente desenrolaria o quadro”, avalia o senador Álvaro Dias (PR), concorrente do prefeito de Curitiba, Beto Richa, pela indicação.

Legado/ O senador Mão Santa (PSC-PI) estampou na entrada da Terceira Secretaria do Senado um enorme cartaz amarelo, presenteado pela Sociedade de Ensino Superior do Piauí, com os dizeres: “1000 discursos no Senado”. Sem projetos apresentados, o folclórico parlamentar tem como marca ter chegado ao milhar de pronunciamentos na tribuna.

Bisbilhotice/ Sob risco de ouvir nova reprimenda do corregedor do Senado, Romeu Tuma (PTB-SP), por ter vestido uma cueca vermelha sobre o terno para um programa humorístico, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) atribuiu à Polícia Legislativa a razão da primeira bronca que levou, ao hospedar simpatizantes do italiano Cesare Battisti em seu gabinete. Queixou-se de que estava tendo sua vida acompanhada pelos policiais.

SERGIO ZVEITER

Cipoal jurídico


O Globo - 20/10/2009

Ao instalar a comissão de juristas que vai elaborar o projeto do novo Código de Processo Civil, o Congresso Nacional deu o primeiro passo para uma das reformas mais urgentes no âmbito do Judiciário brasileiro. Essa reforma, como está anunciada, contribuirá para resolver um dos principais entraves na prestação da justiça, que é a morosidade na tramitação dos processos.

A tradução desse problema em números dá a dimensão da importância do trabalho dessa comissão para os milhares de cidadãos que recorrem diariamente aos tribunais em busca de proteção jurídica. Levantamento promovido pelo Conselho Nacional de Justiça comprova o que há muito se sabia, mas que faltava ser medido: nada menos que 39,5 milhões de ações corriam em varas judiciais do Brasil até outubro do ano passado.

Pior. Desse total, 187.400 estavam estacionadas havia mais de cem dias à espera de sentença. Outros 595.600 processos permaneciam, pelo mesmo tempo, sem decisão sobre os pedidos feitos pelas partes. Com isso, chega-se ao absurdo de 783 mil ações paradas por falta de decisão. O que se tem no Brasil é um cipoal jurídico.

Sem que se discuta o universo de causas que levam a esse disparate, hoje ninguém mais duvida que entre os principais vetores desse problema estão a enorme tecnicalidade e o formalismo do nosso Código de Processo Civil.

O cidadão reclama, com absoluta razão, que a Justiça é demorada. Mas, como lembra o ministro do Superior Tribunal de Justiça Luiz Fux, que preside a comissão, a culpa da demora não é do juiz. O juiz não tem outro recurso senão seguir a lei. O Código de Processo Civil é pródigo em instrumentos que abrem passagem para toda sorte de documentos juntados aos processos e de recursos interpostos pelas partes. Isso permite não só que advogados experientes empurrem os processos indefinidamente, em prejuízo das partes prejudicadas, como entope as varas judiciais.

Como diz a jurista Teresa Arruda Alvim, relatora-geral da comissão, “a cada espirro do juiz cabe um recurso”.

O espírito da reforma que se espera deve ser a celeridade na prestação da justiça. A simplificação do processo, para torná-lo um instrumento ágil para o cidadão. O reforço do instituto da jurisprudência, com a valorização do princípio da isonomia. Para causas iguais, soluções iguais.

Como está, o Código abre espaço para que as partes se manifestem a cada milímetro avançado pelo processo.

Além disso, muitas questões que poderiam ser resolvidas extrajudicialmente, em cartórios, como se fez com o divórcio, ou com os inventários mais simples, são ainda decididas nas varas judiciais.

Se a intenção do legislador ao permitir tantas interferências e tecnicalidades no processo foi dar garantia de justiça, o excesso de formalidades e caminhos nos meandros da lei produz efeito contrário, em prejuízo da sociedade.

Essa reforma, como tem sido prometida, precisa ser entendida como uma exigência da cidadania.

COMIDA RICA EM CARBOIDRATOS


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VINÍCIUS TORRES FREIRE

A xepa da banana, o dólar e o IOF

Folha de S. Paulo - 20/10/2009

Taxar capital externo deve mexer pouco no câmbio; medida não mexe com o pior da especulação no mercado



O IOF sobre investimento externo em ações e renda fixa deve afetar parte pequena do mercado cambial, embora tenda a elevar o custo de capital para empresas. Mais importante, a medida sugere que o governo padece de: 1) interpretação ingênua do que ocorre no mercado; 2) incapacidade de inventar e adotar medidas que contenham excessos especulativos. Isto é, a Fazenda não consegue mexer com o Banco Central -e com bancos.
O mercado de dólares não funciona como uma xepa de feira. Quando sobra banana madura no final da feira, liquida-se a fruta pelo preço possível, sempre mais baixo que no início da manhã. Para o feirante, é melhor ganhar algum pela banana do que jogá-la fora, sem ganhar nada.
Faz meses, o BC tem comprado todo o "saldo do fluxo cambial" (isto é, a sobra de dólares no mercado) e mais um pouco. Logo, aparentemente, não sobram dólares bastantes para que ocorra uma xepa, na qual a moeda americana perderia ainda mais valor em relação ao real.
Porém, o dólar continua a se desvalorizar, como é evidente. Logo, o mercado de dólares não parece funcionar como uma feira de bananas. Mas os mercadores de moedas (bancos) levam em conta oferta e procura. Parece contraditório, mas o mercado de câmbio tem lá suas mumunhas, depende do mercado de juros, não opera apenas à vista e é global, o que enrola muito a avaliação das causas do "real forte".
Imagine-se que se forme uma fila para a compra de bananas baratas, no fim da feira. Imagine-se ainda que o feirante, ao notar que há muito comprador para bananas maduras, possa adquirir frutas no atacado e a baixo custo de financiamento. A banana barata e a juro zero é o dólar. O BC compra a grande oferta de banana. Os bancos são os feirantes.
Em resumo, tudo se passa como se a promessa de compra de dólares (bananas) pelo BC estimulasse os bancos (feirantes) a trazer ainda mais dólares para o país (pois há a expectativa de baixa adicional do dólar, e não só aqui). Mas há ainda outras tecnicalidades do mercado de câmbio que afetam os preços.
De menos incerto, sabe-se que o mercado crê na entrada de muitos dólares no país, via investimento "produtivo", nas finanças e via comércio exterior. O dólar perde valor no mundo todo e "custa" pouco (tomar empréstimo em dólar é muito barato). Dada a garantia de que alguém comprará os dólares que se desvalorizam, financiar-se em dólares, no exterior, para oferecer empréstimos em reais é um bom negócio. Em suma, a lei da oferta e da procura funciona, mas por mecanismos mais complicados. E a variação excessiva do real depende ainda de outras condições, como a liberdade dos bancos de "especular" com moedas; ou das compras ou vendas do BC.
Escrever "especulação" é pedir para ser tachado de ingênuo ou coisa pior. Porém, como definir uma variação de preço de R$ 1,60 para R$ 2,50, e de volta a R$ 1,70 em um ano?
Esse foi o preço do dólar num país que não viveu crise cambial, que tinha R$ 200 bilhões de reservas, deficit externo e fiscal controlados etc. A volta do IOF pouco deve afetar a especulação (afora a de curtíssimo prazo). E é difícil imaginar alguma medida de curto prazo a fim de evitar a tendência de alta do real.

CELSO MING

Pedágio para os capitais


O Estado de S. Paulo - 20/10/2009


A decisão de taxar a entrada de capitais com um Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de 2%, é um jeito de "fazer alguma coisa" para tentar reverter a queda do dólar no câmbio interno.

Esse pedágio vem para encarecer o dinheiro que vem de fora, sem que ele tenha tido tempo de render alguma coisa. Como avisou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a ideia é conter a entrada de capitais especulativos, que se destinem tanto para o mercado de renda fixa (compra de títulos) como para o mercado de ações. O objetivo é cobrar o imposto apenas na entrada e não na saída, tanto maior quanto menor for o tempo de permanência, como anteriormente anunciado.

Em outubro do ano passado, o governo retirou o IOF de 1,5% na entrada de capitais que instituíra em março de 2008, mas alcançava apenas as aplicações estrangeiras em títulos do Tesouro. A decisão não chegou a reverter a tendência do câmbio. Mas, desta vez, a alíquota é mais alta. E alcança também os negócios da Bolsa.

Será inevitável certo impacto tanto na cotação do dólar como no mercado de ações. Mas fica difícil avaliar previamente as proporções desses efeitos. As ações de empresas brasileiras são mais negociadas em Nova York do que em São Paulo e, para aplicação nas bolsas estrangeiras, não há imposição de IOF.

No caso dos negócios com ações, pode-se esperar dois efeitos colaterais. Primeiro, haverá migração dos negócios que normalmente seriam feitos na Bolsa de São Paulo para as bolsas estrangeiras, especialmente para a de Nova York. E, segundo, como as bolsas estrangeiras negociam apenas ações (ou ADRs) de empresas grandes (large caps), parece inevitável, também, que as ações de empresas menores (small caps) sejam relativamente mais prejudicadas do que as das grandes.

O ministro Mantega avisou ontem que pretende apenas atingir o exagero na entrada de capitais. Além disso, o alvo é o chamado capital especulativo. A ideia de atingi-lo pode ser equivocada. Se o capital é especulativo, vem para cá apenas para morder um dinheiro fácil e, em seguida, levantar voo. Se é assim, a valorização do real que eventualmente tenha provocado na entrada seria prontamente invertida por ocasião da saída.

Em geral, intervenções assim têm pouco alcance. Nas primeiras semanas deverão provocar impacto no câmbio, mas não têm força para reverter uma tendência firme. Servem, no entanto, para mostrar serviço.

O governo precisa sequiosamente de capitais externos para financiar as obras da Copa e da Olimpíada, para o pré-sal, para o PAC, para a capitalização da Petrobrás e tanta coisa mais. E o sinal que está passando é de que não quer qualquer capital.

De todo modo, é estranho que mexidas no câmbio, ainda que aparentemente superficiais, como esta, sejam antecipadas a conta-gotas para os mercados. O câmbio define o preço mais importante de uma economia. Não se pode ser leviano com matéria dessa importância. Se é para fazer mudança no câmbio, ela tem de ser feita e anunciada como fato consumado. Não pode ser preanunciada com balõezinhos de ensaio, como aconteceu desde quinta-feira da semana passada, com tempo suficiente para quem quisesse fazer posições ou se desfazer delas no mercado futuro.

Confira

Buracão - O governo dos Estados Unidos reconheceu que o rombo orçamentário no ano fiscal que terminou em setembro foi de US$ 1,4 trilhão. É algo mais baixo do que o previsto, mas, ainda assim, o maior déficit desde 1945, o último ano da 2ª Grande Guerra.


Esse rombo equivale a nada menos que 10% do PIB americano. (O de 2008 foi de 3,2%.) Em princípio, exigiria uma ação rápida e decidida em direção ao equilíbrio orçamentário.


O problema é que Obama enfrenta enorme pressão para distribuir novos recursos públicos para socorrer os mutuários dos planos habitacionais.

GUERRA CIVIL

FERNANDO DE BARROS E SILVA

A cueca do Suplicy


Folha de S. Paulo - 20/10/2009

Além de país da piada pronta, agora somos o país da piada ao contrário: o "Pânico na TV" decidiu proteger Eduardo Suplicy de si mesmo. A pedido do senador, o programa humorístico exibido domingo à noite concordou em retirar do ar a cena em que ele, vestindo uma cueca vermelha sobre o terno, corria imitando o Super-Homem pelo salão azul do Senado.
O espírito cívico de Sabrina Sato e sua turma deu chance para que o corregedor da Casa, Romeu Tuma, se apressasse em fazer aquilo de que mais gosta: arquivar investigações contra os colegas. Salvo também pelo "Pânico", o xerife, desta vez, foi poupado de vexame maior.
Sim, porque a cena de Suplicy com a cueca vermelha é obviamente ridícula e inadequada, mas sugerir, no Senado de José Sarney, dos atos secretos e dos compadrios descarados, que brincar de Super-Homem configure quebra de decoro parece -aí sim- piada de salão.
Não será se agarrando ao moralismo mais tacanho que os senadores irão reparar seu notório descaso pela moralidade pública. E não foi por causa dos talentos artísticos de Suplicy que o Congresso -e em particular o Senado- se tornou parada obrigatória do "Pânico".
De resto, é muito ilustrativo dos hábitos machistas que vários dos marmanjos eleitos ali se prestem ao papel de assistentes de palco de Sabrina Sato, desempenhando sorridentes diante das câmeras os números mais lamentáveis.
Suplicy, nesse aspecto, se beneficia da fama de sonso. Há quem o considere uma presa fácil da mídia, mas também quem aponte sua habilidade para atrair as atenções sobre si. Em qualquer caso, o senador do PT lembra uma criança grande.
Ele talvez seja o Brás Cubas do Senado. A renda mínima é seu emplastro, sua ideia fixa, o brinquedo da sua vida. Da cueca às políticas públicas, tudo parece se infantilizar e assumir feições lúdicas nas mãos de Suplicy. Deixemos Eduardinho brincar de super-herói com sua amiguinha. Que mal há nisso?

DIRETO DA FONTE

Um banho de alegria

Sonia Racy

O ESTADO DE SÃO PAULO - 20/10/09

Não só de horário de verão viverá a economia de energia dos brasileiros. A Agência Nacional de Energia Elétrica está propondo banho mais barato fora do horário de pico - entre 18 e 21 horas. Com isso, calcula que vai gerar 15% de economia nas contas de luz.
A agência vai abrir audiência pública para implantação de sistema de medição eletrônica inteligente, o chamado Smart Grid. Aprovada a idéia, as medidas serão implementadas no fim de 2010 - o que dará um ano para as distribuidoras se adaptarem e fazerem a reestruturação tarifária por faixa de horário.
Preços? A Aneel fixará um teto, a partir do qual as empresas trabalharão.

O rei do açúcar

Jamal Al Ghurair, proprietário da Al Khaleej Sugar, a maior refinaria de açúcar do mundo, confirmou presença entre os 1,6 mil convidados do "Sugar & Ethanol Dinner", na quinta-feira, em São Paulo.
Com direito a discurso de abertura de Luciano Coutinho, do BNDES.

Roleta brasileira

Vai haver maior controle na entrada de capitais? Entre o diz-que-diz, com Lula dizendo que não e a Fazenda insinuando que sim - BC mudo -, os mercados brasileiros não estavam tão nervosos ontem.
É que souberam que, no comando desses estudos, estaria Emílio Garófalo, funcionário do BC e um dos técnicos que mais entendem de câmbio no Brasil. Os estrangeiros, por sua vez, prefiriram zerar posições cambiais e sair.

Roleta 2

No aguardo das medidas, Guido Mantega aproveitou o sábado para um roteiro cultural. Visitou Matisse na Pinacoteca e foi todo ouvidos na Sala São Paulo.

Uma praça para ela

Elza Soares fará o show de encerramento do Dia da Consciência Negra, dia 20 de novembro.
Onde? Na Praça da Sé.

Briga de gigantes

Grande expectativa na brasileira T4Fun. A empresa de entretenimento é finalista em duas categorias do Billboard Touring Awards 2009, dia 5, em Nova York.
Na "Top Promoters", concorre com Live Nation e AEG Live. Em "Top Independent Promoter", as rivais são MCD, Dublin e Michael Coppel Presents.

Sem proteção

Em liminar, o STJ deu razão à Nike contra a taxação de US$ 12, 47 por par de tênis trazido da China.

Dilma Jolie?

Já corre pela internet um "Cordel da Dilma", criado no Ceará pelo repentista Zé Piaba. Diz ele:
"A mulher, que era emburrada/ Anda agora sorridente/ Acenando para o povo/ Alegre, mostrando o dente/ E os baba-ovos gritando:/ É Dilma pra presidente!"
E mais adiante: "Eu já vi um deputado/ Dizendo no Cariri/ Que Dilma é linda e charmosa/ Igual não existe aqui/ É capaz de ser mais bela/ Que a Angelina Jolie."

3 vezes Cacilda

Nem terminou Cacilda!! e Zé Celso Martinez Corrêa já bola, para 2010, a Cacilda!!! Nos moldes de Os Sertões e dividida em 2 peças de 3 horas e meia.
Convidadas para revezar-se no papel - haja fôlego... -, Bete Coelho, Giulia Gam, Juliana Galdino e Maria Padilha.

Tijolo sustentável

Para discutir e incentivar práticas de sustentabilidade na construção civil, Fabio Barbosa, do Santander, reúne-se hoje com empresários do setor.
No evento Obra Sustentável.

New Maestro

Depois de Caminho das Indias, Márcio Garcia toma rumo novo: vai dirigir o primeiro longa brasileiro em 3D, da Total Filmes. O Golpe será rodado ano que vem.

Minha voz sim, mas meus cabelos

Mecha "preservada" do cabelo de Elvis Presley, cortada em 1958, quando ele serviu ao Exército, foi... vendida.
Saiu por U$ 18.300,00 em leilão, anteontem, nos EUA.


NA FRENTE


Hélio Castro Neves vai ser pai. A namorada do piloto da Fórmula Indy, a colombiana Adriana Henao, está grávida de uma menina: Mikaella.

A mostra O Pequeno Príncipe, na Oca, que abre amanhã, completa ciclo dos eventos patrocinados pelo Bradesco. Dentro do Ano da França no Brasil.

A Johnson&Johnson investe em novos talentos das artes plásticas. Carla Barth e João Lelo estreiam suas "exposições"... nas tiras do Band-Aid.

Começa amanhã o Milano Film Festival , no ICIB - Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro.

Ana Paula Junqueira aceitou o convite e coordena o concurso Cidade Tiradentes Models. Dia 29 de novembro.

A it-girl do momento, a inglesa Daphne Guinness - herdeira da cervejaria -, desfilava semana passada em Paris com um modelo assinado por Pedro Lourenço.

Rodrigo Lombardi e Pedro Neschling jogam futebol, sábado, no Clube Escola de Santo Amaro Joerg Bruderno. Em prol do Centro de Apoio à Criança Carente com Câncer Cândida Bermejo.

Alexandre Rossi lança o livro Adestramento Inteligente, quinta, na Saraiva do Higienópolis. Ensina como tratar animais.

Jaques Chulam lança, hoje, o livro Surfista, Ex-drogado, Ex-traficante. Na Livraria da Casa do Saber, no Itaim.

Ronaldo Fenômeno será homenageado no seminário que discute a mudança na legislação paulista para receber a Copa. Dia 9, na Assembleia.

Até o The New York Times registrou a invasão do que chamou de... "Monkey Hill".

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO

SANDRA POLÓNIA RIOS

Brasil e Argentina: discutindo a relação

O ESTADO DE SÃO PAULO - 20/10/09


O relacionamento entre Brasil e Argentina se assemelha ao de um casamento que já não satisfaz às expectativas dos cônjuges, mas vai sendo mantido, administrando os conflitos diários e abrindo mão das ambições e planos de longo prazo. Desde o início desta década, os dois países vêm se concentrando na administração dos conflitos comerciais de curto prazo e têm sido incapazes de definir objetivos e estratégias conjuntas para o longo prazo.

Brasil e Argentina seguem caminhos opostos em suas estratégias de inserção internacional. Enquanto o primeiro aumenta sua integração à economia global e ganha projeção nos foros econômicos mundiais, o segundo adota atitudes essencialmente defensivas, isolando-se do mundo na expectativa de recuperar seu projeto de industrialização.

A falta de uma agenda argentina de internacionalização de sua economia tem repercussões negativas também para sua relação com o Brasil. Ao abrir mão de seus interesses ofensivos em termos de abertura de mercados externos, o país não constrói uma agenda positiva em relação ao Brasil e concentra seus esforços na proteção de sua indústria.

Por seu lado, o governo brasileiro, que atribui elevada importância política ao relacionamento com o vizinho, adota a estratégia que alguns chamam de "paciência estratégica" combinada com unilateralismo benévolo. Incapazes de mobilizar outros instrumentos de cooperação - como a oferta de financiamento -, as autoridades brasileiras contemporizam com as medidas protecionistas argentinas.

O problema dessa estratégia é que, à margem do "baixo equilíbrio" que caracteriza atualmente as relações intergovernamentais bilaterais, se consolidou uma densa rede de negócios, que inclui não só operações comerciais, mas investimentos diretos e desenvolvimento de diversos tipos de parcerias. Esses atores têm interesses concretos e podem contribuir para o reforço da integração econômica entre os dois países.

A discussão da relação também deve levar em consideração que o mundo atual apresenta opções múltiplas para todos os países. Isso significa que não existe um "destino manifesto" que necessariamente levará ao estreitamento das relações econômicas bilaterais. Para aproveitar as oportunidades existentes e elevar o patamar do relacionamento será necessário construir uma agenda bilateral positiva para o longo prazo.

Em 2011 teremos novos governos nos dois países. O período de campanha eleitoral é propício para fomentar o debate sobre estratégias de longo prazo. Buscando aproveitar essa oportunidade, o Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes) e a Universidad de San Andrés, de Buenos Aires, lançaram no mês de outubro a iniciativa "Diálogo Argentina-Brasil".

Esse movimento reúne um pequeno grupo de acadêmicos, empresários e políticos dos dois países que se dispôs a aprofundar as discussões das relações bilaterais e de suas perspectivas. Duas perguntas foram propostas ao grupo como estímulo ao debate: 1) O que caracteriza atualmente as relações bilaterais? 2) O que não pode deixar de ser feito nos próximos cinco anos para levar a relação a um novo patamar?

Em sua primeira reunião, em Buenos Aires, o grupo coincidiu com o diagnóstico de que a relação se encontra em um "equilíbrio baixo", que não condiz com as expectativas do passado e com as possibilidades e oportunidades que existem para o adensamento do relacionamento.

O novo contexto internacional traz novos desafios e oportunidades para a cooperação bilateral. Entre os temas que o grupo considerou que deveriam ser incorporados à agenda estão: segurança alimentar e oferta de proteínas para grandes mercados consumidores; energia renovável, biocombustíveis e tecnologia; integração energética; integração em alguns segmentos dos mercados de capital e cooperação nas negociações de mudanças climáticas e no G-20. As visões e recomendações do grupo serão reunidas em um documento a ser discutido em nova reunião, que será realizadano início do próximo ano.

A administração dos conflitos comerciais pontuais não pode ser o único foco dos governos. Tanto para lidar com a nova agenda temática quanto com a agenda tradicional (comércio e investimentos) é preciso convergência e estabilidade de regras. Contemporizar com o protecionismo e abrir mão da discussão de regras não parece ser a melhor contribuição do Brasil ao desenvolvimento do vizinho nem ao futuro das relações bilaterais.

*Sandra Polónia Rios, economista, é diretora do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes)

TODA MÍDIA

Imposto e "high speed"

NELSON SÁ

FOLHA DE SÃO PAULO - 20/10/09

Manchete de Reuters Brasil, "Brasil Econômico", UOL e outros, "Capital estrangeiro será taxado em 2% a partir de terça", hoje. Pouco depois, era o quinto destaque na home page do "Wall Street Journal", "Brasil busca resfriar o real quente".

Pouco antes, o londrino "Financial Times" saudava a estreia da "quente" Bovespa em "CEP (complex event processing), uma plataforma de alta velocidade (high-speed trading) para estrangeiros".
Antes ainda, manchete do "Valor", "Fim da crise agita bancos à procura de milionários". Goldman, Morgan Stanley, JP Morgan, Itaú Unibanco disputam a "gestão de fortunas (private banking)".


ZONA DE RISCO
Enunciado no londrino "Observer", com foto do Pão de Açúcar, "Brasil, Índia e China devem agora formar parte central dos portfólios". E na "Adviser", revista do "FT", "Todo um novo mundo", sobre oportunidades nos Brics e outros emergentes "como a Venezuela".
Por outro lado, o site financeiro TheStreet.com alertou: "Fundos dos mercados emergentes entram em zona de risco". Estão "pegando fogo, mas em quase todos os casos no passado eles desabaram pouco depois de alcançarem retorno de 100% ao ano", como agora.

A POTÊNCIA A ACOMPANHAR

O mesmo "FT" dá o título acima para a coluna de "negócios e sociedade" em que Michael Skapinker relata sua primeira viagem ao Brasil e aposta no país como "a maior notícia do próximo ano" e "por muitos anos mais", mencionando a economia, os Jogos e até o Rio, com toda a violência.


POTÊNCIA NUCLEAR?
Andres Oppenheimer, colunista do "Miami Herald", fala à Efe sobre o lançamento de seu livro "Estados Desunidos das Américas". No título, "Oppenheimer diz que Brasil pode arrastar América Latina para maior pragmatismo", como teria feito a China na Ásia.
Na coluna, na mesma linha: "Brasil potência nuclear? Provavelmente não". Cita a aposta de Lula de que o país será a quinta economia em dez anos e opina que o Brasil "quer se manter um bom cidadão global".

COMPETIÇÃO ARMADA
No "New York Times", "Venda de jato francês revela mercado duro para empresas de armamentos", dizendo que as exigências à Dassault no Brasil "ilustram as pressões da competição num mercado global mais apertado".

JOGOS DE GUERRA
Na manchete do peruano "La Razón", "Chile inicia seus joguinhos de guerra", sobre os exercícios do Chile com EUA, França, Brasil e Argentina. A BBC diz que o treino, segundo o Chile, visa a "forçar um país a respeitar as leis".


DEPOIS DO TERROR
Os comandos do tráfico foram manchete nos portais e telejornais, mas sem enunciado definido, destacando as operações no Rio, a polêmica quanto à ordem dada de um presídio federal, discurso de Lula etc.
A Reuters Brasil, em manchete ao longo da tarde, focou R$ 100 milhões da União para "reforçar a polícia no Rio", no anúncio do governador. E o "Jornal Nacional" voltou à repercussão em agências e sites.

"WEEDS"

drudgereport.com

Do "NYT" ao Drudge Report (acima, anunciando "Tempos chapados"), o Departamento de Justiça de Barack Obama "decidiu não perseguir mais o uso medicinal de maconha", inclusive "aqueles que distribuem".


A TV SALVA

foreignpolicy.com

Na nova "Foreign Policy", "Como a TV ainda pode salvar o mundo". Em texto focado nos emergentes, Índia em especial, a revista cita os estudos que mostram como as novelas da Globo, por exemplo, reduziram a natalidade no regime militar _e sugere que isso poderia se repetir em outros.
Sublinha que "o papel menos positivo da Globo, em termos de enviesamento do noticiário", tem como contraponto hoje, no mundo e no Brasil, "a proliferação dos canais". Citando Collor, avalia que os "controladores da TV tem menos poder para mudar eleições".


A CRISE CONTINUA
Cinco dias depois de anunciar que não vai mais vender o "Boston Globe", porque suas "finanças melhoraram", o "New York Times" anunciou um programa de demissões para "eliminar cem vagas" em sua própria redação, 8% do total, por "queda na publicidade".

CHEGANDO

ELIANE CANTANHÊDE

O joio e o trigo

FOLHA DE SÃO PAULO - 20/10/09



BRASÍLIA - Sarney se deu bem, Renan está firme e forte, Jader faz o caminho de volta, os comissionados continuam numa boa, os terceirizados de lá não saem. Tudo estaria na santa paz no Senado não fosse uma curiosidade: quem parece à beira de um ataque de nervos são justamente os concursados.
Alguns, até velhos amigos, enviam e-mails irados porque escrevi sobre a "vaga sensação" de que alguns concursos são usados para "lavar" vagas de apadrinhados. Então, vamos começar do começo.
Os terceirizados são necessários, e deve haver mesmo uma cota de assessores comissionados que conheçam a história, a agenda, o Estado do senador. Desde que não sirvam como porta de entrada para tramoias nem que eles tenham mais poder que os concursados.
Comissionados e terceirizados vão, e os concursados ficam. A estes deveriam caber as diretorias (reais), os principais cargos (reais), as melhores funções (reais), porque saem da elite de universidades de todo o país, passam por exames dificílimos, especializam-se em áreas áridas como orçamento, finanças, defesa, regimento, ambiente, energia e vai por aí afora.
Dito isso, acrescenta-se: eles devem ser os maiores interessados em que não haja a mais vaga sensação de que os mandachuvas são também capazes, entre tantas coisas, de usar concursos para "lavar" vagas de apadrinhados pré-escolhidos.
Essa sensação existe. E, quanto mais provas e concursos, maiores as chances de fraudes e irregularidades. A fiscalização, pois, tem de aumentar na mesma proporção.
Um raciocínio tão elementar atiçou traumas às vezes irracionais e criou carapuças imaginárias. Cobrar rigor e que se eliminem quaisquer suspeitas, por mais vagas que sejam, não é condenar concursos e concursados. É exatamente o oposto: defender os concursos e os reais concursados. Quem nunca ouviu falar em separar o joio do trigo?

PAINEL DA FOLHA

Ambiente carregado

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 20/10/09

Diante do aumento da tensão entre ruralistas e ambientalistas, Lula reunirá nesta semana os ministros da área para discutir duas opções ao decreto que fixa em 11 de dezembro o prazo para regularizar terras no país: 1) enviar uma MP enxuta ao Congresso para resolver o problema de pequenos e médios produtores; 2) aprovar emendas a um projeto em fase final de tramitação, do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), que afrouxa regras de licenciamento ambiental.

Nos dois casos, a ideia é se aproximar ao máximo da pauta dos ruralistas, que ameaçam preparar, na comissão encarregada do novo Código Florestal, um parecer avançando sobre áreas indígenas e quilombolas.

Por decreto - Lula encomendou estudo jurídico para saber se é possível atualizar os índices de produtividade rural apenas com sua canetada. A resposta foi positiva. O presidente está irritado com Reinhold Stephanes (Agricultura), que se recusa a endossar os números produzidos

Torcida - O presidente manifestou a auxiliares a impressão de que Ciro Gomes (PSDB) estava ‘emocionado’ na visita ao rio São Francisco e ‘quase, quase’ declarou apoio à candidatura presidencial de Dilma Rousseff (PT).

Nem vem - Caciques do PSB têm resposta pronta quando alguém pergunta o que fazer com Paulo Skaf se Ciro vier para SP: ‘Ninguém prometeu ao Skaf que o candidato a governador seria ele’.

Minhas férias - Lula fez o fotógrafo da Presidência exibir mais de uma vez para Álvaro Uribe imagens da viagem ao São Francisco. ‘Maravilhoso’, comentou o colombiano sem muito entusiasmo.

Cara... - Em meio ao alvoroço causado pela decisão da Justiça Eleitoral de SP de cassar o mandato dos vereadores que receberam doações de campanha da Associação Imobiliária Brasileira, comentava-se na Câmara o fato de não haver ninguém do PT na lista.

...e coroa - Em 2006, a AIB doou para deputados estaduais e federais petistas como Adriano Diogo, Rui Falcão, Paulo Teixeira, Antonio Palocci e José Eduardo Cardozo.

Petro 1 - Relatório do deputado João Maia (PR-RN) terá dispositivo permitindo aos trabalhadores que compraram ações da Petrobras em 2000 usarem de novo até 50% do saldo do FGTS na abertura de capital da empresa.

Petro 2 - Pelo texto, os recursos dos trabalhadores serão aportados no Fundo FGTS-Petrobras, que terá assegurado o direito de acompanhar a capitalização da empresa na era pré-sal. O relatório fica pronto amanhã, depois que a comissão ouvir o ministro Guido Mantega.

Não gostei 1 - Militares e arapongas colecionam ressalvas ao Plano Nacional de Inteligência. Alegam que ficaram de fora itens importantes como a proteção de agentes e autorização para a Abin fazer escutas. Os descontentes, porém, não devem se manifestar na apresentação a Lula, hoje.

Não gostei 2 - Sindicalistas reagiram contra a decisão de tirar da Abin e entregar ao Gabinete de Segurança Institucional o comando do sistema de inteligência. Nota da Delegacia Sindical da Abin vê na decisão ‘revanchismo’ dos militares, à frente do GSI.

Como o chefe - O sobrenome é Adams. Mas é pelo prenome famoso, Luís Inácio, que todos no governo chamam o procurador-geral da Fazenda, provável substituto de José Antonio Toffoli na Advocacia Geral da União.

Pano rápido - Presidente da Assembleia baiana, Marcelo Nilo (PDT) arquivou sua proposta que previa aposentadoria vitalícia de R$ 12 mil para a ex-governadores. Ele quer ser vice na chapa de Jaques Wagner (PT) em 2010.

Tiroteio

O vício no TCU é de origem. O critério para escolher os ministros deveria ser técnico, jamais político.

Do presidente nacional da OAB, CEZAR BRITTO , sobre relatório do ministro Raimundo Carreiro, indicado para o tribunal pelo Senado, recusando as recomendações dos técnicos para punir a ‘farra aérea’ no Congresso.

Contraponto

Placar combinado

Dilma Rousseff foi a convidada de honra da inauguração, ontem, do novo estádio de Araraquara, no interior de São Paulo. A petista dividiu o palanque com o prefeito Marcelo Barbieri (PMDB), aliado de Orestes Quércia, por sua vez líder da ala peemedebista compromissada com José Serra (PSDB). Barbieri chamou a ministra para dar o pontapé inaugural, mas ela declinou:

- Posso apitar o jogo, mas não sei chutar a bola...

E emendou:

- Olha, o Lula gosta muito de futebol! Quando ele vier aqui, você vai ter de deixar ele marcar um gol...