O melhor a fazer é perseverar nas políticas que deram certo, de apoio ao avanço da economia e do emprego
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QUEM VIAJA frequentemente ao exterior sabe que, lá fora, virou moda falar bem do Brasil. São comuns os elogios à resistência da economia brasileira durante a crise global e as apostas na volta do crescimento sustentado. O festejado economista Jim O'Neill, criador do "acróstico" Bric, previu na semana passada que o Brasil deverá crescer em ritmo anual superior a 5% durante muitos anos. Que Deus o ouça. Investidores dão mostra de acreditar nisso. Bilhões de dólares estão sendo aplicados em ações de empresas brasileiras, o que fez o índice da Bolsa de São Paulo subir cerca de 130% desde o pior momento da crise. O efeito colateral perverso dessa injeção de recursos é a valorização exagerada do real. O cenário da crise está rapidamente sendo substituído por outro, de retomada. Os melhores indícios dessa nova situação, porém, não vêm do mercado de investimentos nem de antevisões externas, mas da economia real. Talvez tenha passado despercebido um dado relevante nesse contexto, divulgado pela Fiesp na semana passada. Pela primeira vez desde agosto de 2008 -mês que antecedeu ao desastre da economia americana- a indústria de São Paulo voltou a ampliar, em termos reais, o número de postos de trabalho. Em setembro, já expurgados os efeitos sazonais, houve crescimento de 0,20% no emprego industrial paulista, o que significou mais 14 mil vagas. No país, a reação da indústria também foi forte: contratação líquida de 123 mil trabalhadores em setembro. Nada é mais importante que o emprego em uma economia. Por isso, vale refletir sobre as razões que levaram o Brasil a essa recuperação na oferta de trabalho enquanto muitos países continuam sem luz no fim do túnel. Entre as lições que aprendemos nesta crise, uma diz respeito à importância do mercado interno, que se revelou robusto e reagiu rapidamente aos estímulos fiscais. Já dá para afirmar sem receio que milhares de empregos -talvez milhões- foram poupados no país porque houve redução de tributos sobre vários itens, desde automóveis até material de construção e eletrodomésticos. Se os resmungos mal-humorados dos ortodoxos fiscalistas tivessem sido ouvidos, o impacto da crise no consumo interno e em toda a economia teria sido muito maior. Servem essas constatações também para refrear a ganância fiscal do setor público em todos os níveis. Com a superação da crise, além da volta da carga total do IPI, ressurgem ideias sobre a recriação da CPMF e de outros tributos, inclusive um sobre exportação de minérios. Na área municipal, como noticiou a Folha, São Paulo pretende impor reajustes de até 357% no IPTU, que teriam forte impacto sobre pequenos negócios e sobre o consumo local. Outra lição é sobre a importância do crédito. Os momentos mais aflitivos da crise interna se deram quando houve o fenômeno que o mercado chamou de "empoçamento de liquidez". Os bancos tinham recursos, mas não os emprestavam, com medo de calote. Passada essa fase, a volta do crédito, embora caro, ajudou a recolocar a economia nos trilhos. O melhor que se pode fazer neste momento, portanto, é entender as lições e perseverar nas políticas que deram certo, de apoio ao crescimento da atividade econômica e do emprego. Estímulos fiscais e creditícios, dosados na medida das necessidades, permanecem sendo instrumentos importantes para sustentar o crescimento, sem receios conservadores.
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