2008, a crise jamais acabou
VINÍCIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 05/08/11
Fim da fantasia da volta do crescimento, colapso europeu e pânico entre bancos derrubam mercado
OS COLAPSOS em vários mercados financeiros seriam um prenúncio do apocalipse maia de 2012? Da segunda vinda da Grande Recessão?
A resposta é assunto de profeta. O que deve de uma vez por todas ficar claro, porém, é que não se sai sem dor de catástrofe como a de 2008: a bandalha da finança desregulamentada com governos que o dinheiro grosso comprou ("capturou", como diz a economia política).
As euforias do início de 2010 e de 2011 eram apenas isso: festa de investidores que viam os preços dos ativos financeiros se valorizarem rapidamente, dada a oferta colossal de dinheiro barato pelos bancos centrais, em especial o dos EUA.
A economia real estava mesmo na lama: setor imobiliário em depressão, famílias na grande pindaíba (superendividadas), desemprego abissal, salários estagnados ou cadentes, bancos reticentes em emprestar, empresas cheias de caixa, mas reticentes em investir. O caldo engrossou de novo, agora, porque:
1) caiu a ficha de que os EUA não estão crescendo nada: indústria, serviços, consumo e renda estagnaram em julho. Pior, revisões de dados mostraram que a recessão fora mais profunda, e a recuperação, ainda mais pífia do que o sabido;
2) ficou ainda mais claro, depois do acordo de redução do deficit público nos EUA, que não virá estimulo adicional via gastos do governo. Na eurolândia, muito mais quebrada e "ortodoxa" do que os EUA, a hipótese de haver estímulo fiscal (gasto público) é ainda mais improvável. Logo, de onde virá o piparote para a retomada da demanda (consumo), do crescimento?;
3) o "pacote de socorro" para a Grécia, apesar da bajulação da mídia financeira mundial, era pouco e se acabou. O mercado continuou achando que a Grécia vai calotear;
4) mais grave, a perspectiva de crescimento pífio provocou ainda mais descrença na capacidade da Itália de pagar suas dívidas (se o país cresce menos e a poupança do governo não aumenta, aumenta também o peso relativo da dívida);
5) dada a percepção de que Grécia, Portugal e, talvez, Itália, irão para o vinagre, os donos do dinheiro passaram a cobrar retorno ("juros") ainda maiores para deter títulos da dívida desses países, o que pode apressar a quebra deles;
6) dado tal cenário, bancos europeus voltaram a temer o risco de quebra de seus pares: o empréstimo interbancário ficou mais difícil. Passou a faltar oxigênio na praça.
Isto posto, o Banco Central Europeu avisou que vai voltar a comprar títulos da dívida de Portugal e Grécia (indiretamente, os financia), mas não de Itália e Espanha (o que apavorou ainda mais os mercados).
O BCE avisou ainda que vai emprestar dinheiro para bancos com pouco oxigênio (isto é, reconheceu o início de pânico entre bancos).
Por fim, o "governo da Europa" reconheceu que é preciso mais dinheiro para cobrir rombos (na Itália e sabe-se lá onde mais): reconheceu que o caldo entornou.
O resto da história de ontem é "psicologia da manada". Houve fuga em massa para títulos do governo dos EUA e da Alemanha. As curvas de juros da dívida desses países estão ficando "achatadas", em tese prenúncio de recessão.
Mas pode não vir colapso imediato. O mais provável, por ora, é uma lenta saída do lamaçal de 2008. Coisa que pode levar 5, 10 anos.
OS COLAPSOS em vários mercados financeiros seriam um prenúncio do apocalipse maia de 2012? Da segunda vinda da Grande Recessão?
A resposta é assunto de profeta. O que deve de uma vez por todas ficar claro, porém, é que não se sai sem dor de catástrofe como a de 2008: a bandalha da finança desregulamentada com governos que o dinheiro grosso comprou ("capturou", como diz a economia política).
As euforias do início de 2010 e de 2011 eram apenas isso: festa de investidores que viam os preços dos ativos financeiros se valorizarem rapidamente, dada a oferta colossal de dinheiro barato pelos bancos centrais, em especial o dos EUA.
A economia real estava mesmo na lama: setor imobiliário em depressão, famílias na grande pindaíba (superendividadas), desemprego abissal, salários estagnados ou cadentes, bancos reticentes em emprestar, empresas cheias de caixa, mas reticentes em investir. O caldo engrossou de novo, agora, porque:
1) caiu a ficha de que os EUA não estão crescendo nada: indústria, serviços, consumo e renda estagnaram em julho. Pior, revisões de dados mostraram que a recessão fora mais profunda, e a recuperação, ainda mais pífia do que o sabido;
2) ficou ainda mais claro, depois do acordo de redução do deficit público nos EUA, que não virá estimulo adicional via gastos do governo. Na eurolândia, muito mais quebrada e "ortodoxa" do que os EUA, a hipótese de haver estímulo fiscal (gasto público) é ainda mais improvável. Logo, de onde virá o piparote para a retomada da demanda (consumo), do crescimento?;
3) o "pacote de socorro" para a Grécia, apesar da bajulação da mídia financeira mundial, era pouco e se acabou. O mercado continuou achando que a Grécia vai calotear;
4) mais grave, a perspectiva de crescimento pífio provocou ainda mais descrença na capacidade da Itália de pagar suas dívidas (se o país cresce menos e a poupança do governo não aumenta, aumenta também o peso relativo da dívida);
5) dada a percepção de que Grécia, Portugal e, talvez, Itália, irão para o vinagre, os donos do dinheiro passaram a cobrar retorno ("juros") ainda maiores para deter títulos da dívida desses países, o que pode apressar a quebra deles;
6) dado tal cenário, bancos europeus voltaram a temer o risco de quebra de seus pares: o empréstimo interbancário ficou mais difícil. Passou a faltar oxigênio na praça.
Isto posto, o Banco Central Europeu avisou que vai voltar a comprar títulos da dívida de Portugal e Grécia (indiretamente, os financia), mas não de Itália e Espanha (o que apavorou ainda mais os mercados).
O BCE avisou ainda que vai emprestar dinheiro para bancos com pouco oxigênio (isto é, reconheceu o início de pânico entre bancos).
Por fim, o "governo da Europa" reconheceu que é preciso mais dinheiro para cobrir rombos (na Itália e sabe-se lá onde mais): reconheceu que o caldo entornou.
O resto da história de ontem é "psicologia da manada". Houve fuga em massa para títulos do governo dos EUA e da Alemanha. As curvas de juros da dívida desses países estão ficando "achatadas", em tese prenúncio de recessão.
Mas pode não vir colapso imediato. O mais provável, por ora, é uma lenta saída do lamaçal de 2008. Coisa que pode levar 5, 10 anos.
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