O Estado de S.Paulo - 02/02
Há 60 anos - os coroas se lembram disso - a novidade nas listas de material escolar era a caneta tinteiro. Nos anos 50, apareceram as esferográficas e já não era preciso enfrentar derrames desastrosos de tinta e o emprego dos mata-borrões. Agora, a novidade é mais clean e mais cara: os tablets.
Mesmo que persista certa desconfiança de familiares e professores sobre o uso de dispositivos eletrônicos móveis na sala de aula, gestores do ensino público e particular começam a correr atrás da adaptação do conteúdo didático para formatos digitais, uma vez que, antes mesmo de largar as fraldas, um número cada vez maior de crianças já tem mais o que fazer com os dedinhos do que roer unhas.
Para o ano letivo de 2014, o Ministério da Educação (MEC) aplicou R$ 67 milhões em ferramentas digitais complementares aos livros impressos. Essa quantia corresponde a 6% do total de R$ 1,1 bilhão gasto por meio do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) em material dos ciclos Fundamental e Médio (veja o gráfico). O edital de compra para 2015 já prevê a aquisição de livros digitais e obras multimídia, com vídeos, animações, mapas interativos e outros recursos associados aos textos escritos.
O diretor de Ações Educacionais do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Rafael Torino, avisa que aí vai um primeiro sinal: "Este é um processo gradual de inserção digital. Não será obrigatório e não será uma substituição pura e simples dos livros impressos". Em 2013, também foram repassados R$ 140 milhões para as redes estaduais para a compra de 460 mil tablets para professores do Ensino Médio. E aí está mais um obstáculo a ser enfrentado. Não é qualquer professor que sabe lidar com essas modernidades.
Na rede privada de ensino, cada vez mais as escolas deixam aos alunos a escolha entre livros digitais ou impressos. Mas as estratégias variam de instituição para instituição.
No Colégio Visconde de Porto Seguro, em São Paulo, por exemplo, para cada R$ 1 destinado à compra de computadores, tablets e lousas digitais, outros R$ 5 são investidos na capacitação dos professores, que se reúnem em grupos destinados a aprender o uso dessa tecnologia. Em Brasília, o Centro Educacional Sigma investiu cerca de R$ 3 milhões, não só na aquisição de equipamentos e softwares, mas também na melhoria das instalações elétricas e na distribuição de sinal de internet sem-fio. A lista do material escolar do Ensino Médio se limita a um caderno de anotações e ao tablet, equipamento que leva a vantagem de poder ser usado nos anos seguintes.
Para Dilermando Piva Júnior, autor do livro Sala de Aula Digital, a maioria das escolas e das editoras não está preparada para a mudança. "Não basta colocar o livro no tablet, é preciso planejar e desenvolver conteúdos específicos", observa. A presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), Amábile Pacios, acredita que a transição para formatos digitais é irreversível, mas ainda não passou de algumas escolas do eixo Sul e Sudeste. "É o Brasil. Enquanto há escolas passando para o 3D, alguns Estados ainda não têm cobertura de banda larga"...
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