FOLHA DE SP - 20/01
BRASÍLIA - No começo de seu segundo mandato, Lula foi abençoado por uma mudança na metodologia utilizada pelo IBGE para medir o crescimento da economia do país, com revisão dos resultados apurados nos anos anteriores.
De um dia para o outro, o Brasil estava melhor do que se imaginava. Anos tidos como fracos se tornaram razoáveis, e os medíocres passaram a bons; o presente, que de fato mostrava progressos, já estava ótimo.
Era apenas, obviamente, uma nova métrica --ninguém havia ficado mais rico ou mais pobre. Mas imagem não é pouca coisa: os indicadores mais favoráveis facilitaram a obtenção do ambicionado grau de investimento, atestado de solidez concedido por agências especializadas. A retomada econômica ficou mais evidente e virou trunfo político.
Passados os anos de bonança, com Dilma Rousseff a caminho de sua campanha reeleitoral, o IBGE inaugurou uma nova e mais completa medição dos índices de desemprego. Desde a manhã da última sexta-feira, o mercado de trabalho não é mais tão favorável como parecia.
Apurado em todo o país, o percentual de desocupados não está mais abaixo dos 6%, patamar que encorajou especialistas e propagandistas a falar em pleno emprego --e tratado por Dilma, nos momentos de maior entusiasmo, como a menor taxa do mundo (uma das menores, ao menos) ou de nossa história.
O índice divulgado foi de 7,4%, numa diferença grande o bastante para levar o desemprego nacional a superar, por exemplo, o dos Estados Unidos, que mal e mal se recuperam de uma crise de raras proporções.
A fotografia mais ampla mostra ainda o que o Brasil tem de precário e desigual: 61 milhões em idade de trabalhar estão fora do mercado; no Nordeste, um em cada dez busca uma vaga sem conseguir.
De novo, apenas uma nova métrica. Mas imagem não é pouca coisa, ainda mais perto da eleição.
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