O ESTADÃO - 23/11/11
Nesta terça-feira foi a vez de um dos mais importantes jornais de Economia e Finanças do mundo, o Financial Times, de Londres, de chamar a atenção para o enorme impulso do comércio entre a América Latina e a Ásia: entre 1999 e 2009, cresceu seis vezes, para US$ 230 bilhões anuais.
De lá para cá essa expansão não parou. Ao contrário, acentuou-se. Nessa terça, coincidentemente, o Clarín, de Buenos Aires, avisava que em 2010 o comércio entre os dois grupos de países cresceu 40% (sobre 2009), encabeçado pelos negócios entre Brasil e China, que aumentaram 56%.
O gráfico mostra o que se passou desde o ano de 2001 entre Brasil e China. Até outubro de 2011, as exportações brasileiras para chineses subiram nada menos que 1.852% e as importações, 1.936%.
Essas exportações do Brasil produziram amarração tão forte que, há algumas semanas, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, mostrou preocupação com indícios de que a economia da China poderia desacelerar. Teme que o esfriamento do forno chinês provoque um tranco nas exportações brasileiras.
O que interessa aí é que começa a se delinear na cabeça de autoridades brasileiras o que se poderia ver como nova dependência econômica, não mais do império americano, mas do antigo Império do Meio - como o dragão chinês era chamado nos tempos de Confúcio.
Laços com a China estão se estreitando não só na área comercial, mas também na política. A simples partilha da sigla Brics (Brasil, Rússia, Índia e China e, depois, África do Sul) já é especial. Embora seja invenção de um analista de banco (Jim O"Neill, do Goldman Sachs), dirigentes dos Brics se encontraram oficialmente como bloco em eventos internacionais de cúpula, para examinar propostas e atitudes ante a crise. A última reunião foi no âmbito do G-20, em Cannes, quando analisaram eventual contribuição para saneamento de finanças da área do euro.
De todo modo, para o bem e para o mal, negociações entre Brasil e China são cada vez mais intensas. Gigantes industriais como a Foxconn têm projetos de grande envergadura para o País. E, não é nada, o Brasil exporta mais de US$ 35 bilhões por ano para a China e já não ficou mais tão simples cutucar o dragão com vara curta - como pediam tantos empresários brasileiros contra a forte concorrência provocada pela entrada de produtos chineses a uma fração do preço pago por similar nacional.
O sentimento de neodependência é, principalmente, atitude equivocada. São os chineses que mais precisam do fornecimento de matérias-primas, alimentos e energia de outros emergentes, sobretudo do Brasil.
Esse equívoco carece de tratamento que, do ponto de vista das políticas públicas, exige reformas de base, mais educação e qualificação da mão de obra brasileira para o salto de produtividade sem o qual o futuro do Brasil não chegará nunca.
Em Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs) vai pintando, para todo o ano de 2011, entrada líquida de US$ 65 bilhões, volume excepcional para um ano de crise global como este. Não há indício de que o volume em torno de US$ 5 bilhões por mês deva cair nos próximos meses.
Retificação. O leitor Ricardo Gonçalves adverte que Papandreou, Berlusconi e Zapatero não foram chefes de Estado, como ficou dito na Coluna passada. Foram, sim, chefes de governo. O chefe de Estado da Espanha, por exemplo, é o rei Don Juan Carlos I.
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