O GLOBO - 09/02/12
Como a indústria instalada no Brasil — brasileira ou não — começa a perder mercado para produtos importados, que se ergam barreiras às compras no exterior, em nome do salvamento de empregos e renda no mercado interno.
Na realidade, trata-se de mais uma daquelas conclusões erradas do "senso comum".
Indiscutível que há uma conjuntura mundial complexa, em que desalinhamentos de taxas de câmbio — a brasileira, valorizada — se somam à retração de mercados importantes como o americano e europeu e forçam a China e outras plataformas de exportação orientais a ser bem mais competitivas do que já eram.
Porém, fechar o país, por meio de barreiras alfandegárias, é a pior decisão que um governo pode tomar.
Caso do brasileiro.
Nos veículos, Brasília aumentou em 30 pontos percentuais o IPI sobre modelos com menos de 65% de conteúdo fornecido pela área do Mercosul.
Depois, voltou-se contra o acordo comercial assinado com o México, para também fechar esta porta de entrada de automóveis.
E, agora, planeja partir contra as importações de têxteis, com a arma do aumento do IPI.
Os conhecidos pendores protecionistas latentes no PT dão estridente sinal de vida.
Assim como a eclosão da crise mundial, a partir de Wall Street, no final de 2008, serviu de biombo para a abertura das comportas dos gastos em custeio, cujo subproduto político foi a eleição de Dilma, agora, a superoferta de produtos industrializados asiáticos serve de justificativa para a ressurreição da ideia da reserva de mercado.
Cercar o país de barreiras para forçar a vinda de fábricas, de tão tosco não chega a ser uma política industrial.
O Brasil, assim, se equipara ao protecionismo da Argentina, país que se converteu em pária global, intoxicado por overdose de heterodoxias kirchneristas.
Em recente artigo no GLOBO, o economista Rogério Werneck derrubou, com números, a ideia de que o Brasil estaria sob inundação de um tsunami de importações: de 2000 a 2010, o peso das importações no consumo de bens industrializados aumentou de 11,6% do PIB para 19%, dados da Fundação de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) e Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Não configura qualquer desastre.
Outro aspecto fundamental nesta "invasão" é que boa parte das importações é de componentes e insumos que fazem a indústria brasileira ser mais competitiva interna e externamente.
Ou seja, caso os devaneios protecionistas avancem, a indústria brasileira, já bastante integrada no mundo, padecerá com a ruptura de linhas de suprimento.
O terremoto/tsunami no Japão e as inundações na Tailândia mostraram o que isso significa: os desastres naturais afetaram montadoras de veículos no mundo todo.
Em vez de erguer barreiras vetadas pela OMC para conter importações, o melhor caminho é aplicar políticas de aumento do poder de competição dos produtos industrializados nacionais, sem depender do câmbio.
Alguns dos pontos a atacar são conhecidos: impostos, infraestrutura, burocracia, qualificação da mão de obra.
O protecionismo tarifário é o menos inteligente e eficaz dos meios.
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