COLUNA PAINEL

Sem dó nem piedade

Folha de S. Paulo - 07/12/2008
 

O Poder Judiciário será especialmente atingido pelos cortes que a crise vai impor ao Orçamento de 2009. Cerca de 80 obras espalhadas pelo país, em especial novas sedes para a Justiça Federal, estarão entre as primeiras a entrar na tesoura.
A cúpula do Judiciário já pressiona a Comissão Mista de Orçamento a rever pelo menos parte dos cortes. Deputados e senadores, porém, não se mostram nem um pouco preocupados em acalmar a aflição dos juízes, que em seu entender avançaram sobre funções do Legislativo em decisões recentes a respeito de temas como fidelidade partidária e nepotismo.

Clareira
Na contramão da ambiciosa meta de redução do desmatamento anunciada dias atrás pelo governo federal, a verba prevista no Orçamento de 2009 dentro da rubrica "desenvolvimento sustentável do agronegócio" é 7,54% inferior à deste ano. 

Adeus às ilusões
Um experiente intérprete de pesquisas olhou o Datafolha mais recente -70% de ótimo/bom para Lula; 42% da população confiando que a crise no Brasil será só "marolinha"- e resumiu a situação com um ditado popular: "Quanto mais alto o coqueiro, maior o tombo". Como assim? "As pessoas acharem que não haverá crise é muito ruim para o Lula". Por quê? "Porque haverá". 

S.O.S
Aécio Neves recebe na terça-feira representantes de toda a cadeia produtiva ligada à mineração, que tem peso expressivo na economia de Minas. Ainda nesta semana, o governador tucano pretende anunciar medidas nas áreas de impostos e de tarifas de energia para estimular o setor, particularmente exposto aos efeitos da crise global. 

Demolândia 1
O aeroporto de Congonhas é hoje o lugar mais fácil para encontrar políticos do DEM de todo o país. Com a eleição de Gilberto Kassab, eles não batem mais ponto só em Brasília. 

Demolândia 2
Deputados federais do PSDB-SP temem pela reeleição em 2010. Kassab vem aí, dizem, com chapa do DEM capaz de batê-los em seus próprios redutos.

Bateu...
Do ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), alinhado com o PMDB da Câmara, sobre a insistência de senadores do partido em disputar a presidência da Casa: "Eles precisam parar de tratar o Sarney como moleque. Se um homem da estatura do Sarney diz que não é candidato apenas para depois fazer o contrário, seria molecagem. Não posso acreditar nessa possibilidade". 

...e bateu
Sobre Renan Calheiros (PMDB-AL), animador maior de uma candidatura que confronte a de Tião Viana (PT-AC), Geddel diz: "Em nome de uma vingança contra quem supostamente lhe fez algo de ruim, ele é desleal com Michel Temer, que foi leal com ele". O pleito de Renan & cia. dificulta a eleição de Temer na Câmara. 

A partilha
Em busca de apoio mais ou menos homogêneo nos grandes partidos, os negociadores da candidatura de Temer desenham uma Mesa Diretora em que o PT ocuparia a vice-presidência, o PSDB, a primeira-secretaria (que cuida do orçamento da Câmara), e o DEM, a segunda vice ou a corregedoria. 

Franciscano
Paulo Okamotto, amigo do peito de Lula e presidente do Sebrae, foi modesto na campanha deste ano. As prestações de contas registram apenas R$ 1.000 destinados pelo "doador universal" a Marcos, filho do presidente que tentou se eleger vereador em São Bernardo. 

Migração
A rede hoteleira do litoral do Rio Grande do Sul detectou aumento de 30% na demanda por vagas para o verão. Em muitos casos, são turistas que abandonaram o plano de ir a Santa Catarina, castigada pelas enchentes. 

Tiroteio


"Se algo assim fosse dito em qualquer Legislativo do país, o caso iria parar no Conselho de Ética. Mas se trata do presidente da República." 

Do senador 
JARBAS VASCONCELOS (PMDB-PE), sobre o "sifu" de Lula ao mencionar a crise econômica em discurso no Rio de Janeiro.

Contraponto

Sangue do meu sangue

Em 1962, concorriam a deputado estadual na Bahia os dois filhos do então governador, Juraci Magalhães: Jutahy e Juracy Júnior. Como demonstração de unidade, Juracy propôs ao irmão:
-Eu voto em você, e você vota em mim.
Jutahy não topou:
-Eleição é coisa séria!
No dia da votação, Juracy voltou a procurar o irmão:
-Mesmo sem acordo, dei meu voto a você.
Mas a alegada nobreza do gesto foi logo desmascarada. Na seção de Juracy, seu irmão não recebeu nenhum voto.
Para o bem da harmonia familiar, ambos foram eleitos.

ÉLIO GASPARI

Lulômetro


O Globo - 07/12/2008
 

Em setembro passado, o mago Warren Buffett botou US$10 bilhões no banco Goldman Sachs. Foi uma demonstração de confiança no sistema financeiro. O bilionário comprou a ação a US$121 e, na semana passada, ela valeu US$70. Em tese, Buffett perdeu US$4,2 bilhões. (Em 2002, o Goldman Sachs criou o Lulômetro, um derivativo de terrorismo eleitoral.) 

Se Buffett tivesse optado por comprar dólares no Brasil a R$1,80, com a cotação encostando nos R$2,50, teria ganhado perto de US$4 bilhões. 


Vice do Nordeste 


Pelo andar da carruagem, o senador pernambucano Jarbas Vasconcelos (PMDB) será o candidato a vice-presidente na chapa do tucano José Serra. 

Lero-lero
 

Quando o governo não sabe o que fazer, anuncia que tratará da reforma tributária. Quando seu projeto atola, deixa o assunto para depois e informa que cuidará da reforma política. 

Cumprida a escrita da primeira mágica, Nosso Guia parte agora para a segunda, aos cuidados do jurista-companheiro João Paulo Cunha, cuja meteórica passagem pelo cardinalato parlamentar confundiu-se com a ascensão e queda do mensalão. 

Protecionismo 


De quem ganhou muito dinheiro no comércio exterior: 


"Tudo indica que a próxima fase da crise trará um surto de medidas protecionistas. Elas nada terão a ver com desastrosas barreiras erguidas em 1930. O protecionismo virá disfarçado por medidas de proteção social, ambiental e sanitária. Quem produz seja lá o que for com mão-de-obra aviltada, agressões ecológicas ou desleixo sanitário deverá lutar por seus negócios". 


O pós-Lula começou, com ele no Planalto 


O governo Lula começou a terminar no dia 26 de outubro, no meio da crise econômica mundial, quando o PT perdeu a eleição em São Paulo e José Serra, um dos candidatos da oposição, elegeu Gilberto Kassab. 

Naquela noite desmancharam-se o Brasil do pré-sal, a base triunfalista do projeto eleitoral do poste Dilma Rousseff e a funcionalidade do discurso da "marolinha". 

Nosso Guia está diante de uma adversidade que lhe nega o papel que melhor desempenha. Não pode mais culpar os outros ("Bush, resolve tua crise") nem propor idéias exóticas (uma reunião de todos os presidentes dos Banco Centrais, inclusive a doutora Siosi Mafi, do reino de Tonga). Constrangido, Lula carrega a bola de ferro da taxa de juros insana imposta por um ente extraconstitucional chamado Copom. 

Ele, que não veste smokings, vê-se metido na casaca de maestro de uma ekipekonômica cuja sabedoria universal quebrou o mundo. Uma enrascada: não pode ser o que gosta de parecer e é obrigado a continuar parecendo-se com o que não gosta de ser. 

Em abril passado Lula chegou a pensar (e a agir) para mudar o rumo da política econômica do seu governo. A conquista do "investment grade" pelo Brasil anestesiou-lhe a audácia e, dali em diante, passou a dizer que "o Brasil vive um momento mágico". 

A idéia segundo a qual um presidente pode rolar a crise econômica injetando otimismo no mercado demanda uma precondição: o discurso não pode agredir a realidade. Os juros altos agravarão os efeitos da crise internacional sobre o Brasil. Quando uma economia paga 13,75% ao ano e perde US$7,1 bilhões num só mês, aquilo que poderia ter sido um remédio virou veneno. 


Os dois anos de governo que restam serão difíceis, e a maneira como Nosso Guia e a nação petista lidarão com a adversidade haverá de marcar a história da sua gestão. Num quadro de dificuldades econômicas e fortalecimento de candidaturas oposicionistas, não se pode prever qual será o grau de ferocidade com que os companheiros irão à campanha, muito menos o nível de desembaraço que oferecerão aos aloprados com suas sacolas de lona. Ressalve-se que se percebe no tucanato um certo encanto pelo adestramento de mastins, bem como uma habilidosa manipulação de aloprados com malas Vuitton velhas. 

Pode parecer um exagero a afirmação de que o governo de Lula já começou a terminar, mas o senador Garibaldi Alves (PMDB) e o deputado Arlindo Chinaglia (PT) deram um sinal premonitório: ambos gazetearam uma cerimônia organizada por Lula no Planalto. Isso aconteceu no dia 28 de novembro, uma sexta-feira. Os dois tinham mais o que fazer em seus estados. Como se diz nos palácios, em fim de governo só quem bate à porta é o vento. 


A diplomacia dos camelôs de armas 


Triste fim de uma política externa bufa. O presidente que, em junho de 2003, propôs a taxação do comércio internacional de armas para financiar um fundo capaz de "dar comida a quem tem fome" tornou-se avalista da venda de cem mísseis de ataque ao Paquistão, um dos países mais pobres do mundo, com renda per capita de US$2.900 anuais, 50 milhões de habitantes vivendo abaixo da linha da pobreza e 50% de analfabetos. (Os militares comem 40% do PIB.) Pior: Nosso Guia autorizou a venda dessas armas ao Paquistão numa época em que precisa do apoio da Índia para fingir que ressuscita as negociações comerciais da rodada de Doha. 

O acerto dos mísseis é de R$255 milhões. Uma miséria se comparado aos bilhões comprometidos por brigadeiros, generais, empreiteiros e industriais irrespon$ávei$que transformaram o Brasil num fornecedor de serviços, tecnologia e armas para o ditador Saddam Hussein. 

A cruz do Ipea 


Durante o mandarinato do professor Roberto Mangabeira no ministério-do-sei-lá-o-quê, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Ipea, fechou seu Centro Internacional de Pobreza. Financiado pela ONU, ele foi uma referência mundial para estudos sociais e funcionava desde 2004. Chegou a ter 19 funcionários. 

O doutor pretende criar um centro de estudos de relações internacionais. Talvez para ter um lugar onde possa falar inglês. 


O Ipea busca espaço para a instalação de 25 pessoas em Belém, onde pretende abrir uma representação. É provável que faça coisa parecida em Natal. 

Atualmente o instituto funciona apenas em Brasília, com uma pequena filial no Rio, onde foi fundado. 


Memória seletiva 


Dois repórteres do "The Times" (Ben Mcintyre e Paul Orengoh) mostraram que Barack Obama amaciou a história dos penares de seu avô durante o período em que foi encarcerado, em 1949, pelo regime colonial inglês. 

Nas suas memórias, Obama transcreveu as lembranças da terceira mulher de Hussein Onyango Obama, a quem chama de "vovó Sarah". Em 12 linhas, ela conta que o marido foi acusado de participar da revolta nativista dos quenianos e preso "por mais de seis meses". Mais tarde, teria sido inocentado. 

Aos repórteres do Times, "vovó Sarah" contou que o marido ficou dois anos numa prisão de segurança máxima, sofrendo uma rotina de torturas. 

Não há documento que registre o reconhecimento de sua inocência. 


(O texto da reportagem, infelizmente em inglês, está no sítio do "The Times". Basta passar no Google o título "Beatings and abuse made Barack Obama"s grandfather loathe the British".)

NOVA CALCINHA

Vou comprar para os leitores do blog!

PARA...HIHIHIHI

DESEJO DE GRÁVIDA

Amor... amo-or!

-Hummm?!
-Acorda...
-Hummm?!
-Acoorda!!!!
- Desorientado e assustado, o sujeito se levanta e pergunta:
-O que aconteceu?!
-Estou com desejo...
-Desejo???
-É... de comer carne de urubu...
-Urubu??? Mas onde vou achar um bicho desses, agora???
-Vai no lixão...
-Tá louca!!! Eu não vou a lixão algum!!! Se quiser, pinte um frango de preto mate e coma!!!
-Puta da vida, ela fala:
-Nunca se arrependa se nosso filho nascer com carinha de urubu. 
Nove meses se passam. Chega o dia do parto e, quando o Cara vai ver seu filho querido, vê que seu herdeiro é pretinho, pretinho. O Retardado cheio de remorso corre para a casa de sua mãe e diz:
-Mamãe, eu não quis dar carne de urubu para a minha esposa quando ela estava grávida e sentiu desejo. Agora meu filho nasceu preto como o bicho!!! 
A mãe, bem humorada, consola o filho que está em prantos:
-Esquenta não, filho... quando eu estava grávida de você, tive desejo de comer carne de Touro, não consegui... você nasceu chifrudo, e nem percebeu!!!

ELIANE CANTANHÊDE

Bota tsunami nisso!

Folha de São Paulo

BRASÍLIA - A oposição tem como líquido e certo que José Serra será presidente da República, crente que a crise econômica irá explodir empresas e empregos e, com eles, os 70% de popularidade de Lula e o palanque de Dilma Rousseff.
Pode ser? Tudo pode, mas há três fatores para contrariar a certeza.
O primeiro é que, aqui e alhures, considera-se que nenhum país escapa da crise, mas o Brasil tem indicadores macroeconômicos sólidos, bom colchão em dólares (ainda...) e mercado interno robusto.
O segundo é que a popularidade de Lula, faça chuva, faça sol, mensalão ou cuecão, fale ele o palavrão que falar, tem sido uma rocha.
E o terceiro é que o mesmo Datafolha que apurou os 70% de Lula completou a informação: 78% dos brasileiros estão otimistas e achando que a vida vai melhorar em 2009.
Mais: 58% acreditam que serão pouco afetados, e 10%, nada afetados. Crise? Que crise?
Os brasileiros, portanto, ainda acreditam em Papai Noel e que a crise é só uma marolinha, enquanto o tsunami devora 1,2 milhão de vagas em três meses e 533 mil num único mês nos EUA. E está vindo.
Isso demonstra má informação e confiança quase mística em Lula.
Com motivo. Nos anos de bonança externa, durante seu governo, a renda e o emprego aumentaram, a classe C virou metade da população, o PAC alimentou votos para cima e o Bolsa Família, para baixo.
Lula, portanto, tem que reduzir ao mínimo o efeito da crise no eleitor de carne e osso (baixando juros, por exemplo?) e fazer como no mensalão, no dossiê, na crise aérea, na guerra da Abin e da PF: fingir que não é com ele. O que der certo contra a crise, o mérito é dele; o que der errado, a culpa é do Bush, do mercado, do liberalismo, dos astros.
Para eleger Dilma, Lula tem que calibrar o equilíbrio entre o tamanho da crise e sua popularidade.
Um tsunami, para afetar seu projeto, tem que ser de bom tamanho.
Senão Lula fura 2009 e surge em 2010 na crista da onda.

JOÃO UBALDO RIBEIRO

A POPULARIDADE DO HOMEM

ESTADO DE SÃO PAULO

Tenho andado em contato assíduo com Itaparica. Como já lhes contei aqui, arrombaram minha casa e fui obrigado a tomar providências. Creio que não contei que os ladrões não acharam nada para levar, porque felizmente nossas pratarias Rochedo e nossos cristais Cica estavam a salvo, na casa de minhas primas Saldanhas. Sim, para não saírem desmoralizados, eles levaram toda a fiação elétrica da casa, imagino que tencionando vender o cobre por peso, sem saber que poderiam obter melhor preço em qualquer museu, já que aquela fiação, ao que sei, deve ser anterior a meu nascimento, ocorrido em meados do século passado, na mencionada casa.

Mais velha que ela, talvez, só a janela atacada, cujo arrombamento deve ter sido feito com duas leves pressões do polegar e da qual não sobrou nada. Como não se fazem mais janelas no padrão dela, sua substituta teve que ser produzida de encomenda, o que, junto com o custo das grades, me saiu um pouco caro, mas nada de importante, só os olhos da cara mesmo.

E hoje estou contente, porque, como também disse antes, Itaparica não fica a dever a nenhuma grande capital e agora também todo mundo lá mora ou quer morar atrás de grades.

Isso mesmo tem se repetido em todos os círculos sociais da ilha. Já se pode ter medo de ficar sozinho em casa, já se pode contar como foi o assalto e assim por diante. Antigamente, vamos reconhecer, Itaparica era um atraso só, passavam-se anos e anos sem que ninguém matasse ou assaltasse ninguém. Nenhum carioca ou mesmo baiano de Salvador pode mais querer nos diminuir com os ares sofisticados de quem mora em cidades inseguras e está habituado a todo tipo de notícia policial.

Mas não é possível agradar a todos, principalmente quando há má vontade, como — ele há de me desculpar, mas o primeiro dever do jornalista é para com a verdade — no caso de Zecamunista. Não tem nada que o governo faça que ele não caia de pau em cima, em discursos tão ribombantes que até as prateleiras do bar de Espanha chegam a tremer. Isso mesmo, segundo eu soube, lhe foi dito por Lourenço Divino Beiço, na happy hour do bar de Espanha, onde o clima era pacífico e calmo até a chegada do incorrigível subversivo.

— Não se pode falar nada de Lula que você não esculhambe — disse Divino Beiço. — Também assim é demais.

— Não tem nada que Lula o quê? — perguntou Zecamunista, pondo a mão em concha atrás da orelha.

— Como é que é? Não tem nada que Lula o quê? — Não tem nada que Lula faça que você não esculhambe.

— Repita, que eu não estou percebendo bem, acho que estou ficando surdo depois de velho, repita aí, pelo amor do proletariado.

— Você já ouviu, não tem nada que Lula faça que você não esculhambe.

— Por aí se vê como você não tem razão, já começa com uma mentira.

— Mentira não, todo mundo aqui é testemunha.

— Prova testemunhal não quer dizer nada diante da lógica. E a lógica diz que eu nunca esculhambei nada que Lula fez pela simples razão de que ele nunca fez nada! Sacou, sacou? Como é que eu ia esculhambar nada? — Olhe aí você já esculhambando, dizendo que o homem não fez nada.

— E não fez mesmo! Desde o começo do governo dele que o Brasil só tem ido na embalagem, na banguela.

Agora que a barra está pesando, você vai ver. E não teve mudança nenhuma, a educação não melhorou, a saúde não melhorou, a segurança não melhorou, nada melhorou! Diga aí uma coisa que melhorou.

— Ah, digo várias. Eu digo, digo assim... É porque...

— É porque o que você vai me dizer é que Zoião já pegou três bolsas família, uma da legítima e mais duas com as raparigas dele, que todo mundo, inclusive você, que não precisa, pega cesta básica, que ele já deu emprego no governo a gatos e cachorros e outras besteiras alienadas, era isso o que você ia me dizer. Eu quero saber o que é que melhorou! Estrada está pior. Porto está pior. Trem não tem. Até aviação está pior, o que é que está melhor? — E o que é que você me diz da popularidade dele? Pronto, eu fico com essa, o que é que você me diz da popularidade dele? — Eu digo que vocês são burros e não sabem de nada do que estão falando.

— Certo, certo, nós todos somos burros, o inteligente é você. Eu vou lhe fazer uma pergunta, uma pergunta muito simples. O que é que o sujeito quer, quando entra na política? — Aqui é pra se fazer. O negócio é entrar, ir subindo e se fazendo pelo meio do caminho, sair pobre e magro é vergonha.

— Exatamente. Como em qualquer outra profissão. E aí eu lhe pergunto: Lula se fez ou não se fez? — Se ele se fez? Um cara que sai do nada e que nunca estudou nem trabalhou chega a presidente da República, cercado de todas as mordomias possíveis, com tudo do bom e do melhor, claro que ele se fez.

— E então? Ele se fez muito bem mesmo, mudou muito, perdeu até a cara de pobre. E você está por cima da carne-seca, que nem ele? — Eu? Que pergunta mais besta, eu?— Pois é. E o inteligente é você, o burro é ele. Morda aqui, Zeca, o brasileiro admira muito é quem soube se fazer na vida.

BRUNA TALARICO

O jeitinho brasileiro, quem diria, faz 200 anos

Com a vinda da família real para a colônia começou a troca de favores

JORNAL DO BRASIL

O jeitinho brasileiro é onipresente e seu significado, categórico na construção da identidade nacional. Todo mundo sabe o que é e todo mundo sabe que tem. Mas o que ninguém sabe é que o mulato inzoneiro pode ter nascido bem aqui, sobre a Guanabara e sob o abraço do Cristo Redentor. E há 200 anos.

A troca de favores, base do jeitinho que consagrou o povo da terra do pau brasil – e da cachaça, do bumbum e do samba, pra exaltar o lado bom – começou de maneira literária. Com a vinda da família real para o Brasil, em 1808, a publicação de impressos passou a ser permitida a partir da aprovação prévia da Imprensa Régia. E, com a legalização das impressões, surgiu, no mesmo ano, o sistema das dedicatórias: tanto uma afirmação pública de lealdade e submissão ao soberano quanto uma demonstração da crença na concessão em troca de benefícios.

– O objetivo era abrir caminhos e mantê-los abertos. Oferecer uma obra era esperar receber um cargo público, por exemplo – ilustra Ana Carolina Delmas, mestre em história pela Uerj, traçando um paralelo com a permanência de cargos públicos dentro de algumas famílias e grupos de amigos. – O que são esses políticos todos que têm cargos importantes e empregam a família inteira? É uma troca de favores, a essência da dedicatória no século 19 você vê hoje como conhecimento e troca de favor.

Nesse contexto, incluem-se os cargos de confiança que, para a historiadora, já ilustram semanticamente a permanência das relações de privilégio na sociedade.

– Não é cargo de meritocracia, é cargo de confiança. A pessoa não é escolhida em uma entrevista, e sim pelo conhecimento com alguém de dentro – enfatiza. – A gente ainda tem muito dessas relações de favor, mesmo não impressas em dedicatórias. Dá para entender muito bem a essência do que somos hoje.

A prática, que se concentrava no Rio de Janeiro por conta da proximidade com a corte portuguesa, ilustra o início do século 19 no Brasil e mostra que o carioca já tinha, desde então, noções de sociabilidade às vezes não atribuídas à época.

– É um problema. Ainda estamos muito apegados às instituições. Somos assim: envolvidos na pessoalidade, por mais que queiramos dizer que não – argumenta, ressaltando que, no entanto, o caráter específico das dedicatórias é outro. – A gente nunca parou de fazer. Agora é mais afetiva que o sistema de interesses, dedicamos os livros aos amigos, à família, e a quem a gente gosta.

Para a psicanalista Alice Bittencourt, o brasileiro ainda usa e abusa do jeitinho para compensar a insegurança de pertencer a um país onde as leis não são respeitadas. E um ciclo vicioso é iniciado quando, por não acreditar nas regras, não as cumpre, nem exige seu cumprimento.

– O brasileiro se sente inferiorizado e, de certa forma, acha que não tem capacidade para fazer valerem seus direitos. A partir daí, vai dando seu jeitinho: não cumpre a lei porque não se sente capaz nem de cumpri-las e nem de fazê-las cumprir – critica. – A gente tem a cultura um pouco nesse sentido, para tudo a gente dá um jeito.

AUGUSTO NUNES

Sete Dias

JORNAL DO BRASIL

Otimismo na tempestade – Lula acha que doente em estado grave não deve ouvir más notícias


"Você é feliz?", perguntou o jornalista a Tonia Carrero. "Sou", fez uma ligeiríssima pausa a grande atriz. "Várias vezes ao dia". Bela, talentosa, vencedora, rica, bem-sucedida – o que estaria faltando a essa rainha dos palcos? Nada. Ocorre que Tonia pensa. Quem tem a cabeça em bom estado, e não concede férias ao cérebro, sabe que não existe a dor que nunca passa, mas não se pode ser feliz o tempo inteiro. É assim com as pessoas. É assim, por conseqüência, com os países.

Não no Brasil, ressalvam os resultados da pesquisa divulgada na quinta-feira pelo Datafolha. O governo Lula é considerado ótimo ou bom por 70% dos entrevistados – o maior índice obtido por um presidente desde o fim da ditadura. O levantamento também garante que 61% estão plenamente satisfeitos com a situação econômica e 78% acreditam que a vida vai ficar ainda melhor em 2009.

"Os brasileiros ainda não sentiram os efeitos da crise econômica", acha Mauro Paulino, diretor do Datafolha. Segundo a pesquisa, 72% sabem, bem ou mal, que problemas financeiros andam tirando o sono de muita gente. Longe daqui.

Já faz algum tempo, Lula deu por resolvidos problemas acumulados em cinco séculos de incompetência, avisou que logo cuidaria do pouco que restava, comunicou que nunca antes neste país houve um governante tão formidável e ordenou ao Brasil que fosse feliz todos os dias.

Quem tem motivos para viver em estado de graça no paraíso que Deus poupou de catástrofes naturais e Lula blindou contra desastres econômicos? Só os napoleões de hospício, os que babam na gravata e os que acordam e dormem torcendo pelo insucesso do ex-operário genial.

A seqüência de pesquisas avisa que a tribo hoje não passa de 7% e caminha para a extinção. Em contrapartida, a grande maioria acatou a decretação da felicidade permanente e resolveu ficar mais feliz sempre que se conjugam um claro sinal de perigo e uma maluquice do Grande Pastor.

A marca dos 70% foi alcançada ao fim dos três dias em que Lula jurou que haverá emprego para todos e a Vale demitiu 1.300. Lula explicou que a crise vai fortalecer o Brasil, embora a inflação tenha ficado mais musculosa. Deve-se presumir que, graças à medonha conjunção dos astros ocorrida na quinta-feira, a próxima pesquisa acusará outro salto no índice de popularidade. Excitado com a cavalgada do dólar, uma das muitas evidências de que a marolinha quer ser tsunami quando crescer, Lula fundiu a indigência intelectual com o apreço pela vulgaridade e foi à luta.

"Quando o mercado tem uma dor de barriga, e nesse caso foi uma diarréia braba, quem é chamado? O Estado", berrou no meio do improviso. Em seguida, incorporou um médico examinando o doente em estado grave para justificar o otimismo inabalável. "O que você fala? Dos avanços da medicina ou olha pra ele e diz: meu, sifu?". Sabe-se agora que o doutor Lula acha que o Brasil sifu. Só não conta para não apavorar o doente.

 Esse secretariado é de meter medo

Abalados pela nomeação de Jandira Feghali para secretária das Culturas, milhares de cariocas quase foram a nocaute com as duas pancadas desferidas por Eduardo Paes. Levou-os às cordas a criação de uma Secretaria do Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida chefiada por Cristiane Brasil, filha de Roberto Jefferson e mãe de idéias de alta periculosidade. E continuam grogues com a promoção de Chiquinho da Mangueira a secretário de Esportes. Falta só um Babu para que, concluída a formação do secretariado, o prefeito eleito do Rio seja obrigado a lidar com algum processo por formação de quadrilha ou bando.

Três cardeais e um milagreiro

O silêncio dos cardeais Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Aécio Neves sugere que a sereníssima trindade tucana não decifrou por inteiro o mistério da Paraíba, protagonizado pelo irmão Cássio Cunha Lima. Sempre mais ansiosos, os representantes do baixo clero do PSDB decidiram que o erro do bispo nordestino foi fechar os olhos à trama forjada por outras igrejas. Se a trinca avalizar a absolvição do suspeito, ficará estabelecido que ocorreu na diocese de João Pessoa não uma compra de votos no atacado, mas o milagre da multiplicação dos cheques. Nesse caso, o suposto pecador é mais que um inocente. É meio santo.

 Natal do perdão esquece ministro

Líder do movimento Impunidade para Todos, fundado para lutar pela uniformização do tratamento dispensado aos fora-da-lei engravatados, o escritor Wilson Gordon Parker não entende por que o Natal do perdão esqueceu Paulo Medina, ministro do Superior Tribunal de Justiça reduzido a réu pelo STF. Em uma semana, Paulinho da Força foi resgatado pelo bando multipartidário de comparsas, Daniel Dantas soube que não cumprirá uma pena bem mais branda que a merecida, Cássio Cunha Lima conseguiu ficar no velho esconderijo. Por que Medina ainda não foi premiado com o habeas corpus preventivo?

DOMINGO NOS JORNAIS

Globo: Desemprego no Brasil pode ir a 9% em 2009

Folha: Crise reduz investimentos em R$ 40 bi

Estadão: Governo prepara medidas para baixar custo do dinheiro

JB: Rio lidera rota do tráfico de animais

Correio: Crack, a droga que assombra Brasília