Vai começar a retirar moeda da economia; Essa política está listada entre aquelas em que os Estados Unidos tossem e provocam pneumonia no resto do mundo;E o Brasil não está imunizado contra isso
O Fed (banco central dos Estados Unidos) avisou quarta-feira que está preparando a retomada da alta dos juros. Ou seja, vai começar a retirar moeda da economia. Essa política está listada entre aquelas em que os Estados Unidos tossem e provocam pneumonia no resto do mundo. E o Brasil não está imunizado contra isso.
Por enquanto, a política do Fed, presidido por Janet Yellen (foto), ainda é de injeção de dólares por meio da compra de títulos. Mas o ritmo já é de reversão. Em dezembro de 2013, ainda comprava US$ 85 bilhões por mês. De lá para cá, essa ração mensal é cortada à proporção de US$ 10 bilhões por mês. Em outubro, espera-se que esse processo conhecido como tapering (afunilamento) se estancará.
A ata da última reunião do Fed (julho) divulgada quarta-feira ainda menciona a necessidade de observar um intervalo entre o fim do tapering e a retomada da alta dos juros, se o comportamento da economia americana continuar favorável.
O quadro é hoje de recuperação, os relatórios sobre o desempenho da atividade econômica mostram que, depois de um longo período de estagnação, o crescimento anualizado do PIB no segundo trimestre alcançou 3,0%. E as estatísticas que medem o comportamento do mercado de trabalho acusam melhora.
O principal recado do Fed é o de que não vai ficar parado. Pode voltar a puxar pelos juros assim que sentir que há condições. Isso pode acontecer no segundo trimestre de 2015 ou ainda no primeiro.
É elevadíssima a oferta de moeda no mundo, coisa aí de mais de US$ 5 trilhões. Mas o aviso de que o enxugamento não tardará deve atuar como fator de escassez de moeda forte no mundo.
E o Brasil com isso? Ao longo de 2012 e de 2013, o governo brasileiro denunciava a superabundância. A presidente Dilma se queixava do “tsunami monetário” e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, da “guerra cambial”. Acusavam a política dos grandes bancos centrais – e não só a do Fed – de inundar o mercado internacional com dinheiro emitido do nada. Uma boa fatia dessa massa monetária desembarcou no Brasil, o que ajudou a provocar valorização cambial (alta do dólar em reais), fator que passou a tirar a competitividade do produto brasileiro.
Mas essa retórica parou na segunda metade de 2013. Em junho, o governo se queixava do movimento contrário: o de que a simples perspectiva de reversão da política do Fed reduziu o fluxo de moeda estrangeira para o Brasil, passou a puxar as cotações do dólar para cima e, com o encarecimento dos produtos importados, a inflação disparou por aqui.
A reação do governo foi zerar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) na entrada de capitais destinados às aplicações em renda fixa. Ou seja, foi voltar a incentivar a entrada de recursos, não importando se fossem especulativos. Para mantê-los por aqui, o Banco Central tratou de estabilizar as cotações do câmbio por meio de operações de swap, equivalentes à venda de moeda estrangeira, cujo estoque hoje é de US$ 92 bilhões.
A operação de retirada de dólares pelo Fed acontece justamente quando o governo brasileiro faz o contrário do que pretendia: passou a atrair capitais. Mais ainda, acontece num momento em que crescem as incertezas sobre o comportamento da economia brasileira a partir de 2015, sob um novo governo, com ou sem Dilma Rousseff.
Desaquecimento
Julho foi mês de Copa do Mundo e de mau desempenho não só da seleção, mas de toda a atividade econômica. Mas, independentemente desse fator, já se aprofunda o desaquecimento do mercado de trabalho, como mostram os dados acima, do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). A outra estatística, a que aponta para a procura de emprego, continua prejudicada pela greve dos funcionários do IBGE.
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