terça-feira, agosto 07, 2012

Os mosqueteiros de Dilma DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 07/08


Se os advogados não conseguirem tirar a pecha de mensalão das costas do PT, Dilma será a candidata e, como a turma dela sabe da preferência da chefe por planejamento, um grupo de quatro ministros trabalha informalmente no sentido de avaliar a conjuntura para uma campanha pela reeleição 
Com o ex-presidente Lula liberado oficialmente pelos médicos para voltar aos palanques e levar uma vida normal, os petistas voltaram a especular sobre uma possível candidatura dele à reeleição em 2014. Ele ainda é a maior estrela do PT, tem o maior Ibope. Só não será candidato se não quiser. Mas, na visão de alguns, falta a Lula a absolvição de seu partido no mensalão. E, como o próprio ex-presidente declarou recentemente que não concorrerá a um terceiro mandato, a sucessora, Dilma Rousseff, já tem dentro do governo um núcleo de ministros que, nas horas vagas, encarrega-se de discutir a perspectiva de a atual presidente concorrer ao segundo mandato. 
São quatro os ministros escalados para essa tarefa: o da Educação, Aloizio Mercadante; o das Comunicações, Paulo Bernardo; a da Casa Civil, Gleisi Hoffmann; e o de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, amigo de Dilma de longa data. Políticos da base aliada foram informados de que esse grupo costuma se reunir, no mínimo, uma vez ao mês para conversar sobre conjuntura política e as possibilidades de reeleição. A ideia é deixar tudo preparado para colocar esse projeto em prática, se for esse o caminho mais seguro. 
No momento, integrantes do governo acreditam que, pelo menos até onde a vista alcança, esse caminho não apresenta grandes percalços. O governo Dilma tem uma avaliação que bate a do antecessor, Lula. Está totalmente descolada dos escândalos que afligem o PT. Logo, se os advogados de defesa não conseguirem tirar a pecha de mensaleiro do partido e a economia não der sinais de exaustão, ela é a candidata. E, como seguro morreu de velho, quer estar preparada para encarar o desafio. 

Por falar em defesa...Ontem, a defesa dos réus da Ação Penal 470 estrearam na tribuna do Supremo Tribunal Federal, focados em tentar extirpar a sombra da formação de quadrilha que pesa sobre a antiga cúpula do PT e as acusações de compra de voto ou seja, o mensalão. Mas, no caso do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, alguns atentos advogados consideram que a parte técnica foi muito bem explorada ao dizer que não há testemunho sobre a acusação de que, enquanto ministro, Dirceu controlava tudo, inclusive o PT. Ou seja, muitos concordam que a tese de formação de quadrilha é fraca. 
Mas faltou dizer que José Dirceu era sim, influente no partido — algo que qualquer político sabe. Na avaliação de alguns advogados, a perspectiva de a defesa não reconhecer a influência de José Dirceu no PT enfraquece argumentos em favor do ex-ministro. Afinal, não é segredo que Dirceu sempre teve — e ainda tem — grande ascendência sobre a legenda. Talvez, por economia de tempo, os advogados não tenham se debruçado sobre o fato de Dirceu influenciar, sim, as decisões do PT ao ponto de ser hoje um de seus maiores líderes. 

Por falar em economia...Das variáveis conhecidas hoje, só a economia pode atrapalhar Dilma. E, diante da paralisação das obras do PAC e dos tropeços na Petrobras, área que a presidente domina, isso não é impossível. Não por acaso, os partidos aliados ao governo estão zonzos em relação ao futuro. Eles têm consciência de que Dilma é bem avaliada, de que o governo está em alta nas pesquisas, mas não engolem o jeitão da presidente. Muitos torcem veladamente pelo sucesso do senador Aécio Neves (PSDB-MG), hoje na casa dos 15% das intenções de voto, ou mesmo do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), na faixa dos 7%. Não acham difícil que um dos dois se saia bem nas urnas, ultrapassando a herdeira de Lula. O PT sabe dessas agruras. Por isso, vai logo anunciar em breve seu apoio formal a Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) para presidir a Câmara dos Deputados. Assim, enquanto Dilma enrola o PMDB em relação a cargos em estatais e agências reguladoras, conforme já dissemos aqui, os petistas afagam Alves na esperança de evitar problemas no Congresso.

Por falar em Congresso...Os políticos acreditam que esse esforço concentrado analisará as medidas provisórias em pauta e adeus. Há uma combinação entre os integrantes da base de não deixar o parlamento muito ativo neste período de julgamento do mensalão. Uma caixa de ressonância a menos para um caso que constrange tanto o PT. 

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