FOLHA DE SP - 28/06
SÃO PAULO - O Congresso está dando a demonstração empírica de por que os protestos são importantes. Em poucas horas, foram resolvidas matérias cuja tramitação se arrastava havia anos, como a PEC 37, ou décadas, a exemplo das novas regras para o Fundo de Participação dos Estados. Nada como um pouco de pressão para fazer deputados e senadores esquecerem suas agendas pessoais e trabalharem.
Daí não decorre que todas as reivindicações das ruas possam ou devam ser atendidas. Qual é o sentido de isentar integralmente da tarifa de ônibus estudantes, e não desempregados de meia idade, por exemplo? E, se formos estender o benefício a todos que o "mereçam", a corda estoura do lado dos passageiros pagantes e dos contribuintes.
A democracia direta, em que falam mais alto as emoções e a generosidade dos cidadãos, tem lá os seus riscos. A Califórnia, o Estado mais rico do país mais rico do mundo, esteve perto de quebrar alguns anos atrás, entre outros motivos porque, ao longo das décadas, os eleitores ali aprovaram em plebiscito uma série de leis que ampliaram o gasto público e limitaram a capacidade do governo de arrecadar impostos.
Mais complicado ainda, algumas delas eram medidas que, analisadas isoladamente, faziam todo o sentido, como igualar o gasto per capita em educação, evitando que se abrisse um fosso na qualidade de ensino entre os distritos ricos e os pobres. O conjunto da obra, entretanto, revelou-se bastante problemático.
Uma das supostas vantagens da democracia representativa é colocar profissionais para cuidar dessas coisas. Pelo menos em teoria, o político é um sujeito que, sem desconectar-se dos clamores da população, faz a lição de casa, estudando a matéria de que trata a lei a ser aprovada e analisando suas implicações gerais.
Precisamos ter muito cuidado com aquilo que desejamos e mais ainda com o que conseguimos.
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