sexta-feira, julho 24, 2009

CLÓVIS ROSSI

Um poste chamado Mercosul


Folha de S. Paulo - 24/07/2009


Quem fica parado é poste, ensina José Simão, meu filósofo favorito. O Mercosul está parado há tanto tempo que virou poste e, como tal, uma inutilidade. Tornaram-se obsoletas as suas duas lógicas principais. O Mercosul proporcionou, de fato, nos seus primeiros muitos anos, um impulso nas trocas de mercadorias entre os países membros, mas o ímpeto esgotou-se.
A segunda lógica era a contida em uma canção política da mexicana Amparo Ochoa, que dizia "juntos/ codo a codo/somos mucho más que dos". A expectativa era que Brasil e Argentina, os dois grandes do bloco, ombro a ombro, se tornassem mais fortes ante o "concerto das nações", como diria outro dos meus favoritos, Carlos Heitor Cony, no seu esforço por resgatar expressões em desuso.
O fato é que o Brasil conquistou por direito próprio, independentemente do Mercosul, papel relevante no G14 e nos dois G20 (comercial e financeiro), gerentes das discussões planetárias (das discussões, mas não das soluções, o que é outra história para outra hora).
O Brasil já deixou a Argentina falando sozinha nas negociações da Rodada Doha, ao aceitar proposta do mundo rico que os argentinos recusavam. Não acho que tenha sido uma atitude bonita. Sou dos ingênuos que ainda acreditam em solidariedade dos mais fortes para com os mais fracos.
O problema é que a solidariedade está se transformando em abraço de afogados. O Brasil não consegue dar certos passos que são de seu interesse sem ser puxado para baixo por seus parceiros quando os interesses de cada parte divergem.
O único caminho para tirar o Mercosul da catatonia seria a tal de coordenação de políticas macroeconômicas, já ensaiada uma e cem vezes, sem resultados. Fora isso, nem é preciso enterrar o Mercosul. Pode ficar por aí como obelisco a uma boa intenção frustrada.

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