quinta-feira, novembro 05, 2009

RICARDO BONALUME NETO

Pacto de EUA e Colômbia é detalhista

Folha de S. Paulo - 05/11/2009


ESTA LÁ , com todas as letras: EUA e Colômbia se comprometem neste novo acordo suplementar de defesa a respeitar a soberania e a não intervir em terceiros países. Mas não há dúvida de que o venezuelano Hugo Chávez, ou um de seus aliados na esquerda latino-americana, buscará pelo em ovo no minucioso texto.

Muito mais que descrever operações militares potenciais, o acordo dá detalhes que regulam o cotidiano dos militares americanos e seus dependentes em sete bases colombianas, desde o pagamento ou não de impostos e taxas ao uso de uniformes, até questões de correio e telecomunicações.

O texto do acordo, de 25 artigos com quase 6.000 palavras, não usa nenhuma vez o termo "combate". O Congresso dos EUA proíbe seus militares de entrarem em combate na Colômbia. Seu papel é de meros assessores, além de apoiarem o uso das bases por aviões e navios de guerra americanos.

O texto deixa claro que o objetivo é cooperar em ações contra drogas e terrorismo, que é como os EUA e a Colômbia definem as atividades de grupos irregulares como as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que combatem o Estado colombiano.

Em termos militares, o acordo revela as áreas de cooperação: "interoperabilidade, procedimentos conjuntos, logística e equipamento, treinamento e instrução, trocas de inteligência, capacidades de vigilância e reconhecimento, exercícios combinados e outras atividades mutuamente definidas, a fim de lidar com ameaças comuns à paz, estabilidade, liberdade e democracia".

Não há nada de muito espetacular nessas definições. Há anos existe uma tendência mundial de operações e exercícios militares entre forças de vários países; o caso mais óbvio é o das missões de paz. Parte fundamental no processo é ter procedimentos operacionais padronizados, por exemplo na área de comunicações.

O uso das bases dentro da rede mundial americana de transporte aéreo também deverá ser detalhado em arranjos posteriores. Os países deverão estabelecer conjuntamente os procedimentos para entrada, sobrevoo e pouso de aeronaves do governo dos EUA, "consistentes com a lei colombiana".

Convém repetir o óbvio: se quiserem atacar um dia a Venezuela ou outro país que considerem hostil, os EUA não precisarão de bases na Colômbia. Além de causar transtornos diplomáticos ao anfitrião, seria militarmente desnecessário.

Bases no Caribe permitem a bombardeiros alcançar a Venezuela diretamente. As distâncias das bases da fronteira com a Venezuela são irrelevantes.

Um -dos 11- porta-aviões nuclear dos EUA carrega 85 aviões de combate, mais poderio que a maioria das forças aéreas latino-americanas.

Ironicamente, o Brasil já firmou pactos similares com os EUA. Um deles foi assinado em maio de 1942, já com os dois países envolvidos na Segunda Guerra, contra Alemanha e Itália. Mas uma versão preliminar fora assinada em outubro de 1941, antes mesmo que os dois entrassem na guerra.

Os EUA entraram em guerra em dezembro de 1941, e o Brasil, só em agosto de 1942. Ou seja, por mais de meio ano o país estava em estado de nem paz, nem guerra, com aviões e navios dos EUA realizando missões de patrulha ao longo do litoral brasileiro. Eventualmente essa esquadra americana na América Latina foi batizada de 4ª Frota, agora recriada.

Como a Colômbia, o Brasil fez questão de prover a vigilância das suas bases com seus próprios soldados e permitiu a construção de prédios pelo aliado, que depois da guerra reverteram a controle brasileiro (como prevê o acordo entre Washington e Bogotá).

Mas, com a entrada do país na guerra, o Brasil fez algo que nem os colombianos estão fazendo. Por motivos operacionais óbvios, a pequena força aeronaval brasileira ficou sob comando dos EUA. A Força Naval do Nordeste era, de fato, parte da hoje "polêmica" 4ª Frota.

EUGÊNIO BUCCI

A mulher embargada pela ditadura cubana

O Estado de S. Paulo - 05/11/2009


Há pouco mais de 15 anos, neste mesmo jornal, comentei a decrepitude da ditadura cubana - decrepitude, sim, já naquela época. Foi no Caderno2, onde assinei, por dois anos, uma coluna semanal sobre TV, chamada Sintonia Fina. No dia 16 de julho de 1994, minha coluna se dedicou a um bom documentário sobre Cuba, levado ao ar no programa Documento Especial, do SBT. Reproduzo, a seguir, trechos do parágrafo final do velho artigo, cujo título foi A utopia virou refém da tirania em Cuba.

"A Revolução cubana, 35 anos atrás, deve ter sido de uma euforia magnífica, de uma dignidade sem par. Hoje, ela é um poço de desencanto. Ou de desespero. (...) Por certo, e isso ninguém contesta, em Cuba as crianças não morrem de fome como aqui. Nem ficam sem escolas como aqui. Mas somos obrigados a reconhecer, ainda que seja tarde: a utopia virou refém da tirania. Para os cubanos, a escassez é a regra; o padrão de sobrevivência, humilhante. E na "bolsa negra" ninguém acha liberdade para comprar."

Na década de 90, a "bolsa negra" - o mercado ilegal - já tinha ocupado todos os espaços da vida social em Cuba. Uma reportagem esplêndida de Humberto Werneck, publicada em maio de 1994 na revista Playboy, contou em detalhes como isso aconteceu. Sob o título Viver em Cuba ¡no es fácil!, o longo relato - que mais tarde seria republicado no livro Habana Vieja, com fotos de Claudio Edinger (DBA, 1997) - descreveu em detalhes os malabarismos da sobrevivência em Havana, cujos moradores eram sufocados por cerceamentos políticos e práticos. No plano político, tinham de declarar em gestos e palavras sua total anuência à discurseira fálica dos ícones do regime: homens barbudos, revólver na cinta e charuto na boca, que se esganiçavam ao microfone. No plano prático, muito mais premente, tinham de recorrer a métodos heterodoxos se quisessem driblar a fome. No plano político, fingiam concordar para se safar. No plano prático, transgrediam para se alimentar.

Numa de suas passagens inesquecíveis, a reportagem narrava os apertos dos cubanos que começaram a criar porcos dentro do apartamento, sem que as autoridades percebessem, para depois vendê-los na "bolsa negra". Eram tempos de desespero. A União Soviética já não podia subsidiar a economia e, com isso, a subsistência virou um desafio de vida ou morte para a imaginação e para a fibra de cada um. Werneck sintetizou muito bem esse estado de coisas: "Sem gasolina e sem automóvel, sem gás e sem fósforos, sem rum e sem charuto, sem luz, sem sabonete. Falta tudo para o povo. Tudo, menos criatividade."

Em 1994, muitos ainda acreditavam que as escolas e os hospitais em Cuba funcionassem direito. Eu, por exemplo, acreditava que lá as necessidades básicas estariam atendidas. Só o que parecia injustificável era a ditadura, embora não se possa falar em justiça social e em direitos humanos num país em que não há liberdade. Agora, em 2009, o quadro é bem pior. Já não se pode dizer que a ditadura exista "apesar" das conquistas sociais. Ao contrário, a opressão fardada só está lá para ocultar à força o fiasco das tais "conquistas sociais". As estatísticas oficiais não são confiáveis. No plano político, o regime é uma usina de falsificações. No plano prático, um despachante da escassez.

Em 1994, a cubana Yoani Sánchez não tinha 20 anos de idade. Estava apenas começando a se cansar dos comícios intermináveis de Fidel Castro. Agora, em 2009, ela está farta, como deixa bem claro no blog que criou em abril de 2007, Generación Y: "Estou cansada do macho envolto no seu uniforme verde-oliva, do adjetivo "viril" associado à coragem, dos pêlos no peito mandando mais que as mãos na escumadeira. Toda a minha progesterona aguarda que essa parafernália tão robusta dê lugar a palavras como "prosperidade", "reconciliação", "harmonia" e "convivência"."

Como fazer um blog em Cuba também "no es fácil", pois o acesso à internet é controlado pela polícia, Yoani foi obrigada a lançar mão da velha criatividade dos cubanos para postar seus artigos na rede. Um de seus truques é se passar por turista alemã e entrar na rede dentro dos hotéis internacionais. Ela teve ainda de aprender a conviver com agentes da repressão que a seguem por toda parte e, mais de uma vez, levaram seu marido, o jornalista Reinaldo Escobar, a prestar esclarecimentos. "O machismo tem só um lado positivo", ela escreve. "Confrontados com o dilema de quem prender, era meu marido que levavam toda hora."

O esforço deu resultado. Generación Y transformou sua autora em celebridade mundial. Em 2007 ela foi eleita uma das cem pessoas mais influentes do mundo pela revista Time. Depois foi agraciada com vários prêmios internacionais, mas não pôde recebê-los pessoalmente porque o governo não lhe concede a autorização para sair do país. Yoani Sánchez está sob embargo do regime. Sob bloqueio.

Amanhã à noite, ao lado do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) e do professor e editor Jaime Pinsky, vou participar de um debate, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, para marcar o lançamento do primeiro livro de Yoani Sánchez no Brasil: De Cuba, com Carinho (Editora Contexto). A obra reúne relatos que ela publicou no blog. São crônicas inspiradas, com flagrantes de uma realidade em que a "normalidade" é ultrajante. Dona de um estilo literário que se lê com prazer, Yoani pensa com desenvoltura, sem escorregar pelas pregações doutrinárias. É uma "intelectual verdadeira", como a define o posfácio de Demétrio Magnoli. Ela repudia os que lhe dizem que discordar do governo é trair a pátria.

Ah, sim: amanhã, como é óbvio, Yoani Sánchez não estará conosco. O seu corpo continua sob embargo, acorrentado à ilha dos irmãos Castros. Mas as suas ideias escaparam e seguem escapando, para bem da verdade e da melhor criatividade do povo cubano.

Eugênio Bucci, jornalista, é professor da ECA-USP

BRASÍLIA - DF

Prioridade quase zero


Correio Braziliense - 05/11/2009



Se houvesse um ranking das prioridades do governo Lula levando em conta a execução do Orçamento da União, de zero a dez, a Segurança Pública receberia 1,18. Por incompetência do Ministério da Justiça ou ação deliberada para contingenciar no Tesouro os investimentos da pasta. No mínimo, é um absurdo em tempos de política anticíclica. “O ministro Tarso Genro está mais preocupado com a campanha ao governo do Rio Grande do Sul do que com a situação da segurança pública nas regiões metropolitanas do país, como Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador”, dispara o líder do PSDB, José Aníbal (SP).

Segundo o levantamento da assessoria técnica do PSDB, com base nos dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), somente 11,8% do Orçamento de 2009 foram executados até agora, o que corresponde a um gasto de R$ 99,9 milhões, de um total de R$ 847,6 milhões previstos. É dramática a execução do Fundo Penitenciário, que gastou apenas R$ 22 mil dos 119 milhões disponíveis. Os fundos nacionais da Polícia e da Segurança Pública executaram, respectivamente, 4,7% e 9,7% da previsão. A Polícia Rodoviária Federal, 1,7%, e a Polícia federal, 7,2%. O Pronasci, menina dos olhos do Ministério, gastou 22,6% dos recursos disponíveis.

Recado

O líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), manteve o relatório que apresentou publicamente, mas já negocia com os governadores do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e do Espírito Santo, Paulo Hartung, uma saída para o impasse. Quem vai bater o martelo da nova proposta do governo, porém, é o presidente Lula, que pediu calma aos dois governadores peemedebistas. O presidente da Câmara, Michel Temer (SP), virou bombeiro no incêndio.

Regresso

Deputados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo tentarão levar para segunda-feira a votação do parecer sobre a partilha no marco regulatório do pré-sal. Avaliam que, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em viagem à Inglaterra, será mais difícil negociar uma proposta satisfatória.

Ações



O líder do PR, Sandro Mabel (foto), de Goiás, melou a aprovação do relatório do deputado João Maia (PR-RN) na comissão especial que examina a proposta de capitalização da Petrobras. A proposta prevê a participação do fundo dos trabalhadores que compraram ações da Petrobras com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) na compra de novas ações, mas sem utilizar novos recursos do FGTS. Se depender de Mabel, a capitalização da Petrobras irá para o fim da fila de votações.

Soldos

O presidente Lula deve sancionar o novo Plano de Cargos e Salários da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal na próxima terça-feira. O deputado Ciro Nogueira (PP/PI) pega carona para estender o plano aos demais estados, elevando o piso de todos os policiais militares e bombeiros do país para R$ 4 mil

Florestas



O DEM trocou o relator do projeto de nova lei florestal no Senado — de autoria do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) — que está em discussão na Comissão de Meio Ambiente. O mineiro Marcos Montes substituiu o baiano Jorge Khoury. A manobra é patrocinada pela senadora Kátia Abreu (foto), do DEM-TO, presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), para atropelar a comissão especial que discute o novo Código Florestal encaminhado pelo governo à Câmara. A ofensiva ruralista rachou a oposição e a base governista.


Barganha/ A liberação das emendas parlamentares foi posta na mesa pelos líderes do chamado baixo clero como condição ao cumprimento do cronograma de votação do marco regulatório do pré-sal. Lembram que o governo precisará de 257 votos para aprovar o desejado regime de urgência dos quatro projetos para atingir o objetivo de votá-los, até o fim do ano, na Câmara dos Deputados.

Litígio/ Parlamentares que contribuíram com o extinto Instituto de Previdência dos Congressistas (IPC), entre 1999 e 2004, vão ingressar na Justiça contra a Receita Federal. A briga dos congressistas é para que os valores descontados no período sejam aproveitados pelo INSS para cálculo do valor das aposentadorias. A Receita não aceita a integralização dos valores.

Aposentados/ Houve quem sugerisse, na reunião de líderes da Câmara dos Deputados, que não fosse marcada sessão extraordinária depois de novo adiamento na votação do reajuste dos aposentados. O raciocínio: os pensionistas, que não pouparam governistas de vaias, teriam mais algumas horas nas galerias para pressionar os parlamentares.

Poetas/ Recital, com mesa redonda sobre política cultural, reúne Ferreira Gullar, Antônio Cícero e Alex Varela, hoje, às 18h, no Centro de Artes Hélio Oiticica (Rua Luís de Camões, nº68, Centro), no Rio de Janeiro. A entrada é franca.

Concílio

Os nove governadores do Nordeste se reúnem hoje em Fortaleza para debater uma pauta comum da região para a votação do pré-sal, que deve ser iniciada na Câmara na próxima terça-feira. Além de petróleo, discutirão também financiamentos do Banco Mundial para a região.

ROBERTO MACEDO

Não há bom PAC sem Papi

O Estado de S. Paulo - 05/11/2009


Em contraste com seu nome, o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal segue em baixa velocidade. Em lugar de assumir a culpa, o que mancharia o currículo de sua candidata presidencial, a ministra Dilma Rousseff, o governo escolheu um bode expiatório, o Tribunal de Contas da União (TCU), acusado de paralisar obras do PAC. O TCU deve ter suas razões. Presumo também que trabalhe por amostragem, e deve ter fiscalizado apenas uma pequena parcela das obras que o governo empacotou no PAC. E desde 2003 o atual governo convive com o TCU. Por que só reclama agora?

O PAC é também marcado pela sua pequena dimensão em face das necessidades nacionais. Outra marca é a sua maternidade, atribuída pelo presidente Lula à mesma ministra. Ora, esta última característica do PAC, mais o seu reduzido tamanho e sua idade, fazem lembrar um Baby PAC.

Para superar seu tamanho diminuto, o PAC precisaria de um Papi, um Plano de Aceleração da Poupança e do Investimento. A poupança é dada pela diferença entre renda e consumo e o investimento é aquela parcela da produção destinada à expansão da capacidade produtiva, na forma, por exemplo, de novas fábricas, máquinas, fazendas e obras de infraestrutura.

Na avaliação dessas duas variáveis, os economistas olham os países por suas taxas de poupança e de investimento como proporção do seu produto interno bruto (PIB). Em cada país, as duas costumam mostrar valores não muito distantes e a crise econômica internacional em andamento serviu para evidenciar a necessidade de o Brasil ampliá-las, pois os países que as têm mais elevadas viram seu PIB cair muito menos que o brasileiro.

Tomando-se a taxa de investimento, na China ela alcança perto de 40% do seu PIB. Com a crise, esse país teve sua taxa de crescimento do PIB reduzida de valores perto de 10% ao ano para cerca de 8% em 2009, conforme as últimas previsões. Na Índia, que investe um valor próximo de 30% do PIB, seu crescimento passou de uma taxa próxima de 8% ao ano para uma previsão perto de 6% neste ano.

Já o Brasil é marcado por taxa de investimento inferior até mesmo à dos países desenvolvidos, onde valores próximos de 20% são comuns. Dado que já são ricos, não precisam investir tanto. Quem os visita percebe claramente, por exemplo, sua infraestrutura muito melhor que a nossa. Numa visão mais geral, são países já construídos.

Há muito tempo neste país - e em forte contraste com a grande e premente necessidade de o seu PIB crescer mais - a taxa de investimento é muito baixa, e caiu ainda mais com a crise. O Brasil é um país em construção, mas com poucas obras, e mal equipadas. Segundo os dados mais recentes do IBGE, no segundo trimestre de 2009 essa taxa de investimento alcançou ridículos 15,7% do PIB, depois de ter alcançado sofríveis 18,5% no segundo trimestre de 2008, vindo de apenas 14,8% no segundo trimestre de 2003!

Em contraste com a China e a Índia, o PIB brasileiro, sem a força de uma taxa de investimento maior, cresceu 5,1% em 2008, causando enorme satisfação a quem se contenta com pouco e não pensa no futuro. O impacto da reduzida taxa de investimento foi mais claro em 2009, em que as previsões para o crescimento do PIB se situam em torno de um valor pouco acima de zero!

Quanto à taxa de poupança, na segunda-feira este jornal publicou ampla matéria sobre o assunto, mostrando que nossa poupança interna, que em 2007 estava em reduzidos 17,5% do PIB, caiu em 2008 para 16,9% e estima-se que este ano ficará em 14,4%. Tal poupança é claramente insuficiente para as nossas necessidades de investir e crescer. Só não leva a um desastre maior porque ainda contamos com a poupança que vem de outros países, a qual subiu de 0,2% do PIB em 2007 para 2% do PIB em 2008, devendo alcançar 1,3% do PIB em 2009. Somando essas duas poupanças, a nacional e a que vem do exterior, chega-se a valores próximos das taxas de investimento mencionadas. E essas de poupança são também muito baixas se observarmos os países que crescem mais. A matéria também calcula que em 2010 a poupança externa subiria rapidamente para 5,3% do PIB, enquanto a interna ficaria ainda menor(!), estimada em 13,4% do PIB.

Assim, no Brasil há esse quadro em que a poupança interna é muito baixa e precisa ser completada pela poupança externa. Mesmo assim, no total é pequena e os investimentos que enseja são muito reduzidos. Uma das razões mais importantes é que os estímulos para poupar no Brasil são fracos. Em particular, muitas pessoas parecem acreditar que cabe ao governo prover suas necessidades em matéria de aposentadoria e saúde, o que ele faz muito mal, exceto para os seus funcionários, que assim têm razões ainda menores para poupar.

Outro grave problema, e também ligado a esse, pois financia a festa de consumo, é a carga tributária muito alta no Brasil, alcançando 36%(!) do PIB. Mas, mesmo assim, o setor público, excluindo estatais, investe muito pouco. Conforme dados de 2007 levantados pelo economista José Roberto Afonso, e objeto de matéria neste jornal em 21/6, com esse setor investindo apenas 1,7%(!) do PIB o Brasil aparecia em penúltimo lugar entre 135 países relacionados segundo essa taxa em ordem decrescente.

Dessa forma, em termos de crescimento do PIB o governo é como uma máquina que com seus impostos retira muito dinheiro de quem poderia investir mais que ele, prejudicando assim esse crescimento. Precisaria poupar e investir mais, além de estimular os cidadãos e as empresas na mesma direção.

É clara, portanto, a necessidade de ampliar nossas taxas de poupança e de investimento. Sem um Papi forte e eficaz o PAC não tem condições de fazer jus ao nome, mesmo tendo sua mãe ao lado de um tutor com faixa presidencial.

Roberto Macedo, economista (USP e Harvard), professor
associado à Faap é vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo

JULIANO BASILE

Delegados criticam foro privilegiado e excesso de recursos na Justiça


Valor Econômico - 05/11/2009

Reunidos em Fortaleza para discutir as causas da impunidade, 375 delegados da Polícia Federal estão fazendo uma lista com pedidos de mudanças que atingem diretamente os tribunais superiores de Brasília. Eles vão pedir a revogação da súmula do Supremo Tribunal Federal (STF) que restringiu o uso das algemas; o fim do foro privilegiado, que leva autoridades, como ministros de Estado, deputados e senadores, a julgamento apenas no STF; e a reforma do Código de Processo Penal, com a meta de reduzir o número de recursos que torna os processos contra autoridades uma saga sem fim nos tribunais superiores de Brasília.

A lista deverá ser concluída amanhã no encerramento do Congresso da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF). A avaliação geral dos delegados que participam do encontro é a de que eles trabalham todos os dias para combater o crime, fazem operações, efetuam prisões e, mesmo assim, existe uma forte sensação de impunidade no Brasil. Um dos principais motivos é o fato de os processos envolvendo pessoas com foro privilegiado não chegarem a julgamento final.

"Menos de 5% dos processos criminais no STF e no Superior Tribunal de Justiça são julgados. Com isso, não tivemos qualquer condenação de autoridades desde 1988", disse o presidente da ADPF, delegado Sandro Torres Avelar. Para ele, o Brasil vive, hoje, sob o estigma da impunidade relativa. "A impunidade é relativa a ter ou não como contratar bons advogados. Ela é relativa ao acusado ter ou não foro privilegiado."

O delegado Wilson Damázio, diretor do Sistema Penitenciário Federal, responsável por todos os presídios do país, contou que, hoje, existem 470 mil pessoas presas. Mas, não há nenhum preso entre aqueles que possuem foro privilegiado.

Para os delegados, o problema não é a ausência de condenações por tribunais superiores a autoridades. É a farta aceitação de recursos judiciais para que advogados possam protelar a decisão. "A sensação de impunidade é absurda", disse Ricardo Saadi, delegado responsável pela Operação Satiagraha. "Avaliadores do Gafi [Grupo de Ação Financeira Internacional, uma organização que reúne diversos países no combate ao crime] me perguntam por que há tão poucas condenações por lavagem de dinheiro no Brasil. Expliquei a eles que aqui há muitos recursos." Saadi contou que atua na Delegacia de Combate aos Crimes Financeiros de São Paulo, desde 2002. Em nenhum dos casos em que participou houve condenação. Em apenas dois houve prisão. Um deles porque o preso era o famoso traficante colombiano Juan Carlos Abadia.

Para o delegado Aldair da Rocha, Superintendente da PF no Ceará, o STF deveria revogar a súmula das algemas - que obriga os juízes a justificar o uso delas em pessoas acusadas - e aprovar outras súmulas vinculantes de modo a reduzir a quantidade de recursos. "Há processos que ficam cinco, dez anos sem sentença. Apura-se o escândalo, leva-se à Justiça e nada acaba acontecendo."

Outro problema é que o sistema criminal, do qual a PF faz parte, é frequentemente apontado como violador de direitos e garantias fundamentais. É a visão de que o Estado não pode agir em excesso, como, por exemplo, na exposição de pessoas algemadas - fato que levou o STF a aprovar a súmula. "Mas, não há nada mais violador desses direitos do que a prática de um crime", disse o juiz federal Sérgio Moro. "Para proteger as pessoas precisamos de um processo penal eficiente", completou.

O juiz federal Nino Oliveira Toldo acredita ser urgente a alteração do atual Código de Processo Penal para reduzir o número de recursos. "O código vai completar 70 anos e está na idade de se aposentar compulsoriamente", afirmou. "Se não tivermos um sistema processual que cumpra com duração razoável e seja efetivo, não teremos como superar essa sensação de impunidade", disse o juiz.

ANA CAROLINA CABRAL-MURPHY

Brasil-China: livre comércio, lixo tóxico e lógica econômica


Valor Econômico - 05/11/2009

Brasil deve ir com cuidado; o que os chineses mais querem é ter acesso a matérias-primas e bens primários a preço baixo

Há quase duas décadas, as políticas de incentivo econômico para os empresários americanos transferirem a produção de bens de consumo, com alto teor poluidor, para países como China e México, vêm aumentando. Isso tornou a indústria norte-americana menos competitiva e desequilibrou a balança comercial dos Estados Unidos, contribuindo para a valorização do dólar e fazendo com que cerca de 70% da economia norte-americana ficasse dependente do setor de prestação serviços. O Brasil corre o risco de trilhar esse mesmo desequilíbrio.

Quando Larry Summers, o atual diretor do Conselho Econômico Nacional dos Estados Unidos, trabalhou como economista-chefe do Banco Mundial, ele ficou notório por sua inteligência, sagacidade, mas também por ter assinado um memorando - em conjunto com o economista Lant Pritchett - que continha mensagens que foram interpretadas como um alerta de que o livre comércio não iria beneficiar o meio ambiente nos países em desenvolvimento. Esse argumento foi desbancado pelo Prof. Jagdish Bhagwati em seu livro em defesa da globalização.

Na imprensa, o memorando continha a caligrafia de Summers explicando sarcasticamente que "a lógica econômica por trás de despejar um monte de lixo tóxico no país de menor salário é impecável". Ao entrar para a administração de Bill Clinton, Summers trabalhou com políticas de incentivo econômico para os empresários americanos transferirem a produção de bens de consumo com alto teor poluidor, principalmente para a China. Com o passar dos anos, isso tornou a indústria norte-americana menos competitiva.

Na China, os incentivos fiscais foram recebidos sem um planejamento estratégico para a obtenção de um crescimento sustentável dos parques industriais. O resultado foi a rápida contaminação dos principais rios, solo, lençol freático e do ar nas grandes cidades e regiões industriais. A China hoje detém um dos piores índices de emissão de CO2 do mundo para as grandes cidades. De acordo com a Agência Europeia do Meio Ambiente (European Environment Agency - EEA) e o Conselho Mundial de Energia (World Energy Council), as projeções de emissões de CO2 para a China tendem a dobrar. Várias áreas do país estão sufocadas pelo excesso de monóxido de carbono e pela péssima administração do lixo industrial.

A maioria dos trabalhadores chineses é de migrantes internos, considerados ilegais ao se transferirem de uma província chinesa para outra. Como imigrante ilegal, passa a ser pago com salário abaixo do piso aceitável pelo Partido Comunista. O trabalhador é considerado um foragido e perde todos os seus direitos de educação e assistência médica do governo. Assistência que, dentro do "modelo do governo comunista", é motivo de orgulho. Esse é o resultado do "boom" de exportação de produtos baratos, manufaturados a custo baixo, utilizando migrantes internos oprimidos pelo regime.

Uma das estatísticas pouco divulgadas sobre a China é que esses "migrantes", apesar de receberem um salário abaixo do piso mínimo nacional, em seu trabalho ilegal, são computados pelo governo central como recebendo o piso mínimo nas suas cidades de origem. Assim, as províncias continuam a receber verbas federais pela população ausente que se deslocou. Cidades como Xangai e Shenzen passam a cobrar impostos mais altos para contrabalançar a explosão urbana não computada pelo governo central (Beijing).

As estatísticas de renda fornecidas pela China para os dados do Banco Mundial (World Development Indicators), tendem a colocar a receita média de um trabalhador chinês acima dos dados reais que dificilmente são verificados. O país raramente permite a entrada de jornalistas e pesquisadores estrangeiros para conduzir pesquisas sociais ou auditorias independentes, sem o filtro do governo.

Os resultados questionáveis de PIB e a paridade de consumo PPP (Purchasing Power Parity) criam pressão adicional para a China exportar seus produtos a um preço abaixo do mercado e acumular reservas em moedas estáveis em prol dos seus índices macroeconômicos. Em um mercado racional, sem arbitragem ou interferências de Beijing, a moeda chinesa (o Renmimbi) deveria apreciar. Para evitar novas revoltas contra as políticas de migração interna, inflação acima de 10% ao ano, a falta de transparência dos governos locais e a baixa assistência social, os economistas precisam abrir novos mercados para manter essa parte da população ocupada e adotar novos pacotes econômicos para aumentar as exportações.

O plano que foca no aumento da demanda interna é discurso "para inglês ver". Quem conhece a cultura chinesa sabe que vai demorar entre 10 a 20 anos para essa população criar uma cultura de consumo. Com exceção dos estudos do professor Charles Calomiris, os números de demanda na China são extremamente questionáveis por motivos demográficos e culturais não tão óbvios assim.

O Brasil corre o grave risco de entrar no mesmo ciclo vicioso em que os EUA estiveram nas últimas décadas ao aceitar a moeda chinesa como meio de pagamento para a exportação de bens primários - dado que a demanda industrial para bens de consumo chineses está em declínio na Europa e EUA. Ao diversificar suas reservas com a obtenção de yuans, o Brasil terá que reinvestir essa moeda no próprio mercado chinês, comprando bens de consumo secundários, investindo e/ou transferindo unidades da indústria brasileira para cidades chinesas. Isso é um erro porque vai reduzir a capacidade competitiva da indústria brasileira e pode ferir a indústria nacional de bens secundários, fazendo com que o Brasil fique fadado a exportar bens primários e matérias-primas.

Se analisado com cautela dentre as políticas monetárias chinesas, o Banco da China não tem nenhum tipo de incentivo substancial para garantir a apreciação do renmimbi. Ao contrário, um dos únicos interesses comerciais da China com o Brasil é ter acesso a matérias-primas e bens primários a preço baixo. Assumindo-se uma desvalorização da moeda, o Brasil irá correr um alto risco de ficar atrelado a flutuações de uma moeda instável.

Ana Carolina Cabral-Murphy é pesquisadora da Columbia University de Nova York (EUA).

FERNANDO DANTAS

Cartilhas diferem, e podem não funcionar

O Estado de S. Paulo - 05/11/2009


Diante do problema da valorização do real, o Ministério da Fazenda e o Banco Central (BC) mostram mais uma vez que seguem cartilhas distintas - que, porém, podem ser episodicamente complementares. E provavelmente inócuas.

A Fazenda do ministro Guido Mantega, com sua moderada inclinação heterodoxa, foi a primeira a sacar o seu instrumento, introduzindo uma taxação de 2% nos capitais que vêm em busca de títulos de renda fixa e ações no Brasil. Agora, o BC parece estar disposto a reagir, trazendo de novo à baila a recorrente agenda da liberalização cambial.

Se a lógica da Fazenda é a de emperrar um pouco a entrada de dinheiro, a do BC é a de lubrificar a saída. Nos dois casos, o que se busca é reduzir a quantidade de dólares que é vendida no mercado cambial brasileiro, que empurra para baixo a cotação da moeda americana ante o real.

Os analistas, de maneira geral, são céticos em relação a ambas as estratégias, já que a valorização do real tem causas fundamentais que dificilmente serão afetadas por medidas tão tímidas quanto as do cardápio da Fazenda e do BC. A visão mais comum é que um País que sai da crise global em tão boa forma está destinado a crescer vigorosamente.

O problema é que, por possuir estruturalmente um baixo nível de poupança doméstica, o Brasil precisa de capital externo para fechar as suas contas, já que o consumo e o investimento ultrapassam o PIB - em termos simplificados, gasta-se mais do que a própria renda. Como o mundo confia no Brasil e está disposto a financiá-lo, os capitais vêm a rodo, mas a resultante de todo esse processo é o câmbio valorizado.

O IOF de 2% da Fazenda é considerado insuficiente para mexer de forma significativa nessa equação. Ele pode, por outro lado, suavizar um pouco processo, o que é possível até que já tenha feito. Embora seja impossível separar o que é efeito das vicissitudes dos mercados internacionais e o que pode ser atribuído ao IOF, o fato é que o dólar vem se sustentando (até agora, pelo menos) acima de R$ 1,7 desde a introdução do tributo no dia 20 de outubro - dias antes, chegou a fechar em R$ 1,699.

No caso das medidas liberalizantes que o BC cogita implantar, como autorizar que fundos de varejo invistam no exterior, a sensação inicial é de que podem ser ainda mais inócuas do que as da Fazenda. A razão é simples. Sempre que a agenda de liberalização cambial volta à tona, a motivação básica - no fundo - é que não tem sentido impedir que os investidores façam o que eles não querem fazer mesmo. Isso é, no momento, todo mundo quer trazer dinheiro para o Brasil, e não tirá-lo do País. Assim, para que restringir as aplicações lá fora?

Sempre é possível, é claro, que haja algum represamento dos fluxos de capital para fora do País por causa das restrições de uma legislação antiquada. Assim, ao removê-las, não é impossível que governo tenha algum ganho na sua luta contra a valorização. Porém, diante do apetite geral por ativos brasileiros, escancarar as portas para a saída de capitais não parece uma medida eficaz.

Alexandre Pavan Póvoa, diretor-executivo do Modal Asset Management, acha inclusive que, por ser o tipo de medida que colhe aplausos dos investidores, a liberalização cambial pode até tornar o Brasil mais atraente. Afinal, a ideia de que a porta de saída está bem aberta sempre agrada a quem está entrando. Póvoa apoia passos nesse sentido, mas não porque considere que sejam uma maneira de deter a valorização cambial no curto prazo.

CELSO MING

Poupança fraca


O Estado de S. Paulo - 05/11/2009
Demorou para que os analistas entendessem que, além da saúva, um dos principais males do Brasil é o baixo nível de poupança, que em geral não ultrapassa 16% ou 17% do PIB, enquanto a maioria dos países asiáticos poupa em torno de 35% e a China, campeã em poupança, vai para incríveis 44% do PIB.

Esse fato é mais impressionante quando se considera que o trabalhador chinês ganha uma ninharia. Há alguns anos, quando assumia mais o discurso sindicalista do que o da escalada bolivariana na América Latina, o atual assessor especial de Política Externa da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, sempre que podia observava que o salário chinês era tão baixo que o regime de trabalho da China deveria ser considerado semiescravidão. E, no entanto, ainda que ganhando como semiescravo, o trabalhador médio chinês poupa mais de 40% do que ganha.

O alto padrão de poupança exibido pelos países asiáticos é a principal razão pela qual é descabida a insistente recomendação de alguns economistas de que a economia brasileira deva adotar o modelo asiático de desenvolvimento, especialmente na condução da política cambial. Quem poupa muito consome pouco e não pode contar com aposentadoria financiada pelo setor público, como acontece na China. E quem consome pouco ou dispensa capital estrangeiro ou determina onde ele pode ser investido, como também faz a China.

O brasileiro adora consumir e faz questão de um regime previdenciário gastador. O funcionário público, por exemplo, passa cerca de 25 anos contribuindo com 10% do seu salário para receber aposentadoria equivalente ao salário integral pelos 30 a 40 anos restantes de sua vida e ainda acha que o Estado (ou a sociedade) está pagando uma insignificância pelos valiosos serviços prestados durante seu tempo de ativa.

O baixo nível de poupança do Brasil é o principal entrave ao desenvolvimento econômico. Quem poupa pouco investe pouco, e quem investe pouco tem de se contentar com um crescimento econômico proporcional ao tamanho do investimento. É por isso que a China pode garantir um avanço do PIB da ordem de 10% ao ano e o Brasil, num período bom, não consegue emplacar mais do que 5%.

E não é só isso. Para obter crescimento econômico sustentável é preciso garantir poupança externa, que se faz ou por meio do endividamento externo ou por meio do aumento dos investimentos estrangeiros. E, num momento como o atual, em que não há o que chegue para financiar os projetos do pré-sal e do PAC, as obras da Copa do Mundo de 2014 e as da Olimpíada de 2016, e num momento em que a ficha do Brasil ainda não foi indelevelmente deteriorada pela gastança pública, é óbvio que a substancial entrada de capitais estrangeiros concorre para a valorização do real e, consequentemente, para reduzir ainda mais a fraca competitividade do produto brasileiro.

O baixo nível de poupança do País é uma das mais importantes razões pelas quais os juros são o que são no Brasil. E os juros altos exigem que a administração das contas públicas seja mais rigorosa do que nos países ricos, de maneira a não provocar maior deterioração no perfil do endividamento público.

Se o Brasil colhe o que colhe é porque planta o que planta. As coisas têm consequência.

Confira

Mais texto - O Fed (banco central americano) manteve os juros próximos de zero por cento e indicou que a folga monetária continuará por um período prolongado. O texto veio mais longo e lá estão mais claras as condições da estratégia de saída.

VINÍCIUS TORRES FREIRE

Tucanos fritos e aflitos

FOLHA DE SÃO PAULO - 05/11/09


EM SEMINÁRIO, TUCANOS SE MOSTRAM OTIMISTAS COM O PAÍS E DESORIENTADOS SOBRE O QUE DIZER NA CAMPANHA DE 2010

"2010 VAI ser muito pior que 2006", dizia ontem Luiz Carlos Mendonça de Barros ao final de uma palestra no Instituto FHC (iFHC). "Vai ser muito melhor", diz rindo, da plateia, o próprio FHC. Mendonça de Barros, ex-ministro do governo tucano, economista, acabara de terminar uma apresentação muito positiva a respeito da economia brasileira nos próximos dez anos, período no qual o Brasil poderia crescer entre "4% e 6%" ao ano. Mas Mendonça de Barros, claro, referia-se às perspectivas eleitorais da oposição em 2010, "piores" devido à "sensação de conforto" com a economia e, em especial, ao do crescimento forte e contínuo das vendas do comércio, mesmo nos piores momentos da crise.
O seminário no iFHC tratava de "O Brasil pós-crise: uma agenda para a próxima década". Mas o subtexto geral da conversa era o que a oposição pode dizer numa campanha que deve ocorrer sob grande "aplauso popular" (no dizer de FHC).
Mendonça de Barros enumerava os fatos. Após 2002, houve grande melhoria no comércio externo. A dívida externa praticamente desapareceu e, assim, também o grave constrangimento externo ao crescimento. Crescem o salário mínimo e a massa de salários. O mercado interno é grande e crescente. O país é supercompetitivo nos produtos em que a demanda mais cresce (commodities). Há estabilidade política, favorecida pelo surgimento da "nova classe média". O ambiente institucional é melhor que o de outros emergentes. Mesmo as burocracias estatais, algumas tão criticadas antes da crise, são vistas como um fator de estabilidade, em especial no exterior (bancos públicos inclusive).
Mas o "software pirata" (no dizer de Mendonça) que Lula usou para tocar a economia até antes da crise não funciona mais (isto é, uma política macroeconômica semelhante à de FHC). O Brasil tem agora "problemas de rico", como o real forte, que se fortalecerá ainda mais dado o sucesso econômico e ao redirecionamento das carteiras dos grandes investidores institucionais do mundo, que colocarão mais por aqui.
Mas a infraestrutura é ruim, e a carga tributária, incompatível com esse novo ambiente de real continuamente forte. Sem redução de impostos, reformas, melhorias na competitividade, a indústria pode naufragar e o país pode perder potencial.
Por que o governo do PT não muda? Porque ignora como fazê-lo, porque retomou seu gosto pelo estatismo, dado o sucesso que experimentou com as políticas anticíclicas, com muita intervenção estatal.
Mas o país fechará o ano no azul e Lula não deve deixar o BC elevar juros em ano eleitoral. "Vamos ter de aguentar o Mantega", diz Mendonça. "Não vamos, não; não é preciso temer o Mantega", diz FHC.
"O comportamento eleitoral pode diferir do cotidiano. Lula tem 70% de popularidade, sua candidata tem 16%, e (José) Serra tem 40%. As pessoas não pensam em bloco nem votam pensando no passado. É preciso despertar confiança [no eleitor, indicar outras possibilidades para o futuro]". Mas, ontem, no iFHC, essas possibilidades de futuro eram apenas uma campanha por impostos menores e críticas que mostrem as indecisões e inércia do governo em relação a problemas estruturais.

GEORGE SOROS

Uma nova arquitetura mundial

VALOR ECONÔMICO - 05/11/09



A escolha do mundo agora é entre capitalismo internacional e capitalismo estatal


O mundo enfrenta hoje outra escolha desoladora entre duas formas diferentes de organização


Vinte anos depois da queda do Muro de Berlim e do colapso do comunismo, o mundo está enfrentando outra escolha desoladora entre duas formas fundamentalmente diferentes de organização: capitalismo internacional e capitalismo estatal. A primeira, representada pelos Estados Unidos, faliu, e a última, representada pela China, está em ascensão. Seguir a trilha da menor resistência levará à desintegração gradual do sistema financeiro internacional. Um novo sistema multilateral baseado em princípios mais sólidos precisa ser inventado.

Apesar da dificuldade de obter cooperação internacional em torno da reforma reguladora em etapas, ela pode ser conseguida num grande pacto que reorganize todo o sistema financeiro. Uma nova conferência de Bretton Woods, como aquela que estabeleceu a arquitetura financeira internacional pós-Segunda Guerra Mundial, é necessária para estabelecer novas regras internacionais, incluindo o tratamento de instituições financeiras que sejam grandes demais para falir e o papel dos controles de capital. Ela também teria de reformular o Fundo Monetário Internacional (FMI), para refletir melhor a hierarquia social predominante entre os Estados e rever seus métodos de atuação.

Além disso, um novo Bretton Woods teria de reformar o sistema monetário. A ordem do pós-guerra, que tornou os EUA um país mais igual que os demais, gerou desequilíbrios perigosos. O dólar já não desfruta a confiança e a certeza de antigamente, porém nenhuma outra moeda pode assumir o seu lugar.

Os EUA não deveriam se esquivar do uso mais disseminado dos Direitos Especiais de Saque (SDRs, na sigla em inglês) do FMI. Considerando que os SDR são denominados em várias moedas nacionais, nenhuma moeda isolada poderia desfrutar uma vantagem injusta.

A gama de moedas incluídas nos SDR precisaria ser ampliada, e algumas das moedas recém-agregadas, incluindo o renmimbi, podem não ser plenamente conversíveis. Isso, por sua vez, permitiria à comunidade internacional pressionar a China para que abandone sua âncora cambial ante o dólar e seria a melhor forma de reduzir desequilíbrios internacionais. Além disso, o dólar continuaria sendo a moeda de reserva preferida, contanto que seja administrada de forma prudente.

Uma grande vantagem dos SDR é que eles permitem a criação internacional de moeda corrente, que é especialmente útil em tempos como o atual. O dinheiro poderia ser direcionado aonde fosse mais necessário, ao contrário do que está acontecendo atualmente. Um mecanismo que permita a países ricos que não necessitam de reservas adicionais transferir suas verbas aos que necessitarem estaria prontamente disponível, usando as reservas de ouro do FMI.

Reorganizar a ordem mundial exigirá se estender para além do sistema financeiro e envolver as Nações Unidas, especialmente a filiação ao Conselho de Segurança. Esse processo precisa ser iniciado pelos EUA, mas China e outros países em desenvolvimento deveriam participar como iguais. Eles são membros hesitantes das instituições de Bretton Woods, que são dominadas por países que já não são dominantes. As potências ascendentes devem estar presentes na criação desse novo sistema para assegurar que sejam adeptos atuantes.

O sistema não poderá sobreviver na sua forma presente, e os EUA têm mais a perder em não se posicionarem na vanguarda da sua reforma. Os EUA ainda estão numa posição de liderar o mundo, mas, sem uma liderança previdente, sua posição relativa provavelmente continuará erodindo. O país não consegue mais impor a sua vontade sobre os demais, como tentou fazer a administração de George W. Bush, mas ele poderá liderar um esforço conjunto para envolver o mundo desenvolvido e o mundo em desenvolvimento, restabelecendo, a liderança americana de forma aceitável.

A alternativa é assustadora, pois uma potência em declínio que vem perdendo seu predomínio econômico e político, mas que ainda preserva a supremacia militar constitui uma mistura perigosa. Costumávamos ser tranquilizados pela generalização de que países democráticos buscam a paz. Após a era Bush, essa regra não se aplica mais, se é que já se aplicou.

Na verdade, a democracia está envolta em graves problemas na América. A crise financeira causou adversidade a uma população que não gosta de enfrentar realidade dura. O presidente Barack Obama acionou o "multiplicador de confiança" e alega ter contido a recessão. Se houver uma "recaída" da recessão, porém, os americanos ficarão suscetíveis a todos os tipos de alarmismo e demagogia populista. Se Obama fracassar, a próxima administração ficará seriamente tentada a criar alguma distração dos problemas do país - a um grande risco para o mundo.

Obama tem a visão certa. Ele crê em cooperação internacional, no lugar da filosofia da lei do mais forte da era Bush-Cheney. O aparecimento do G-20 como principal instância de cooperação internacional e do processo de avaliação por especialistas, acertado em Pittsburgh, são passos na direção certa.

O que está faltando, porém, é um reconhecimento generalizado de que o sistema está falido e precisa ser reinventado. Afinal, o sistema financeiro não desmoronou de todo, e o governo Obama tomou uma decisão consciente de reviver os bancos com subsídios dissimulados, em vez de recapitalizá-los compulsoriamente. Essas instituições que sobreviveram deterão uma posição de mercado mais sólida do que nunca, e resistirão a uma reestruturação sistemática.

A liderança da China precisa ser ainda mais previdente que Obama. A China está substituindo o consumidor americano como motor da economia mundial. Como é um motor pequeno, a economia mundial crescerá em ritmo mais lento, mas a influência crescerá rapidamente.

Por enquanto, o público chinês está disposto a subordinar sua liberdade individual à estabilidade política e ao progresso econômico. Mas isso pode não continuar indefinidamente - e o resto do mundo jamais subordinará a sua liberdade à prosperidade do Estado chinês.

À medida que a China se tornar uma líder mundial, ela precisará se transformar numa sociedade aberta que o resto do mundo esteja disposto a aceitar como uma líder mundial. Da forma como estão as relações de poderio militar, a China não tem nenhuma alternativa ao desenvolvimento harmonioso e pacífico. Na verdade, o futuro do mundo depende disso.

DIRETO DA FONTE

Ecos tardios

SONIA RACY

O ESTADO DE SÃO PAULO - 05/11/09


Grupos neonazistas que atuam no Brasil podem estar mais bem articulados do que imagina nossa vã sociologia. Marcelo Itagiba, da comissão da Câmara que investiga o tema, descobriu conexões interestaduais entre organizações.
Quando terminar seu relatório, o deputado pedirá que a Polícia Federal faça investigação nacional.

Ecos tardios 2
A partir de documentos do Itamaraty, Itagiba também estuda a nebulosa passagem pelo Brasil de Franz Stangl, responsável pelo campo de concentração de Treblinka, na Polônia.
Há suspeitas de que o carrasco, que viveu 16 anos por aqui, tenha mantido contato e doutrinado grupos nazistas brasileiros.

Sabático
Aloizio Mercadante, em tour pela Europa, ficou de almoçar com Boni no restaurante do hotel George V, em Paris. Nada, nada de pré-sal no cardápio...

Festa adiada
Fritz Henderson, da GM, não vem mais ao Brasil no dia 9. O cancelamento da venda da Opel o obrigou a viajar para a Europa e adiar encontro com Lula e também com Yeda Crusius.
O que levou José Carlos Pinheiro Neto, da GM brasileira, a constatar: "Dá mais trabalho cancelar uma festa do que montá-la."

Volta por cima
A nova diretoria da Philips recebeu sinal verde da matriz para voltar a investir.
Quer ser a maior em equipamentos médicos de última geração, produzindo por aqui aparelhos de ressonância magnética e de tomografia computadorizada.

Maria Vik Beatriz
Gravura de Maria Bonomi acaba de ganhar companhia de peso. Será colocada ao lado de obras de Vik Muniz e Beatriz Milhazes na casa de um consultor da Tate Modern, de Londres.
Foi comprada durante exposição da artista na Gallery 32.

Mau olhado
Geyse Arruda, a moça do vestidinho curto da Uniban, está mesmo no inferno astral. Foi assaltado, na manhã de terça, o mercadinho Ganha Pouco de Diadema onde a estudante trabalha.
Fidel Pereira, dono do lugar, jura que os dois episódios não têm ligação.

Nenhum ouvido
Comecinho de noite da terça, Michel Temer ameaça encerrar a sessão por falta de quórum. "Encéééeerra!!!", gritou Rita Camata
Petistas acharam que era campanha por Serra e retrucaram: "Diiiiiiiilma!!"
Temer achou melhor recomeçar os trabalhos.

No som e no mapa
O ouvido afiado dos índios, mais a iniciativa dos passageiros de rapidamente soltar o localizador de emergência - ELT - foram cruciais para salvar as nove vidas do C-98 Caravan que caiu quinta passada, em um rio no Amazonas.
Captado por um satélite, o sinal do ELT foi repassado ao Salvaero. Juntando todas as informações, a FAB precisou o local da queda.

Saindo do forno
A morte de Claude Lévi-Strauss não pegou a Cosac Naify de calça curta. A editora, dona de 7 títulos do antropólogo, tem programado o lançamento de O Homem Nu para agosto de 2010.

Plano bê
Enquanto se especula se Madonna e filhos chegam nos próximos dias ao Rio, na paralela é dada como certa a vinda de Beyoncé para o réveillon. A moça já teria até reserva no Copa.

A Rodada rodou
Tudo indica que o governo Lula não acredita mais em Doha e muito menos no Mercosul: empresários paulistas têm sido chamados para opinar sobre acordos bilaterais com o Chile, o México e a África do Sul.

Na frente

Miguel não tirou seu pai Abílio Diniz da rotina diária. Nasceu ontem de madrugada. Veio cheio de saúde, para alegria de Geyse.
Membros do Facebook podem baixar, gratuitamente, uma edição em espanhol do clássico de Claude Lévi-Strauss, Tristes Trópicos.

Fernando Alterio, da Time For Fun, comemora 10 anos do Credicard Hall. Terça, com show de Donna Summer.

Bráulio Mantovani faz imersão total no roteiro de Tropa de Elite 2. Acaba mais uma fase do filme de Zé Padilha, a ser rodado no começo de 2010.

Matheus Nachtergaele parte hoje para NY. Seu filme, A Festa da Menina Morta, será exibido no MoMA.
Começa amanhã o Festival Porto Amazônia, evento gastronômico e cultural sobre os povos da região. No Porto Rubayat, em São Paulo.

A próxima edição do Fashion Rio, em janeiro, ganhou o original tema de... Rio Olímpico e Maravilhoso.
Juiz do Canadá aplicou pena severa em garoto de 12 anos acusado de vandalismo: confiscou seu Nintendo Wii.

RUBENS HARRY BORN

A ministra optou pelo atraso

O GLOBO - 05/11/09


É de grande apreensão a noticia de que a ministra Dilma Rousseff exigiu revisão da proposta apresentada pelo Ministério do Meio Ambiente para que o país seja menos ambicioso no esforço de limitar as emissões de gases de efeito estufa, a fim de permitir maiores taxas de crescimento econômico do Brasil. Também é preocupante o fato de que os governantes considerem que somente a redução de 80% do desmatamento e o fomento aos agrobiocombustíveis são respostas suficientes aos desafios de fazer o país transitar para uma sociedade de baixo carbono.

Posturas como a defendida pela ministra Dilma Rousseff revelam concepções ultrapassadas de desenvolvimento, em que o "crescimento econômico" por si seria a forma de prover dignidade e qualidade de vida, e que tal crescimento necessariamente implica em desconsiderar questões de segurança e integridade ambiental.


A premissa implícita nesta posição é de que seguiremos usando modelos de desenvolvimento e tecnologias que estão intimamente vinculados às causas antrópicas do aquecimento global: forte dependência da exploração e uso de combustíveis fósseis; geração de energia elétrica a partir de grandes usinas hidroelétricas, termoelétricas e nucleares; sistema de transporte rodoviário para cargas e pessoas; uso inadequado e ocupação descontrolada do território para atividades altamente impactantes, nas cidades ou no meio rural.

É certo que precisamos de investimentos em infraestrutura, tais como escolas, postos de saúde, geração de energia com base em fontes renováveis, transporte público limpo e eficiente, e que todas atividades humanas geram emissões de gases de efeito estufa. Mas é no mínimo falta de visão achar que o Brasil não pode trilhar para uma trajetória de sustentabilidade que concilie o bem-estar de sua população com maior zelo ambiental e responsabilidade internacional.

Faltam menos de 50 dias para a 15ª Conferência das Partes (CoP-15) da Convenção Quadro da ONU sobre Mudança de Clima, na qual se espera sejam tomadas decisões políticas que reorientem as atividades econômicas e sociais a fim de buscar reverter o aquecimento global. O Brasil pode e deve ter um papel de liderança para a adoção de políticas globais e nacionais condizentes com o enfrentamento da crise climática. E esse enfrentamento pode gerar inúmeras oportunidades de empregos "verdes", em atividades social, econômica e ambientalmente sustentáveis, e portanto servir de resposta para a "outra" crise - a financeira - cujos elementos vinculam-se também à noção de crescimento ilimitado e a qualquer custo. Mudar hábitos de consumo ou sistemas e tecnologias de produção pode significar tanto melhor saúde, qualidade de vida, diminuição de custos, e simultaneamente, promoção da qualidade ambiental, mitigação do aquecimento global e geração de empregos.

RUBENS HARRY BORN é coordenador-adjunto da organização não governamental Vitae Civilis.

TODA MÍDIA

Em progresso

NELSON DE SÁ

FOLHA DE SÃO PAULO - 05/11/09


O "Financial Times" publica hoje e adiantou ontem em texto e PDF um caderno especial de dez páginas sobre investir no Brasil. Destaca longas entrevistas, inclusive vídeo, com Lula e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, cotado para ser o presidente do Banco Central. Ocupando metade da capa, um anúncio do Bradesco. Nas páginas internas, várias estatais, mais Andrade Gutierrez e Votorantim.
No enunciado da primeira página, "Louvor olímpico põe selo no progresso". Na home page do caderno, "Superpotência pronta para alimentar o mundo". Ao longo dos 36 textos, temas como o Bolsa Família que "faz diferença de verdade"; a aspiração de ser destino turístico global, mas também a violência no Rio; e o "forte crescimento depois de breve queda".

FARAÔNICO
O correspondente do "Le Monde", Jean-Pierre Langellier, viajou até a "Bacia do São Francisco", de onde enviou a longa reportagem "Os trabalhos faraônicos para irrigar o Nordeste", sobre a transposição de Lula. Para o outro lado, ouviu d. Luiz Cappio e Ivan Valente, do PSOL.

FRANÇA VS. ESPANHA
"Wall Street Journal" e "FT" acompanham cada movimento da francesa Vivendi e da espanhola Telefônica, em sua competição pelo controle da tele GVT, do Paraná. Ontem, destacaram que a segunda elevou a oferta de compra.
É para que a Vivendi "não tenha chance" de entrar no país, opinou ontem mesmo o "FT", em sua coluna Lex.

POTÊNCIA LATINA
O espanhol "El País" publicou o artigo "Brasil, grande potência latina". Abre dizendo que "parece que o Brasil se cansou de ser o país do futuro e se prepara para interpretar o papel de grande potência". Convoca para um evento político-institucional sobre o país, em fundação de Madri.

E AFRICANA
O sul-africano "Independent" deu a reportagem "Disputa pela África: Brasil ganha terreno da China", do "correspondente de investimentos na África" da Reuters.
Em suma, a "China lidera, mas quem acha que Pequim já costurou o continente só precisa olhar o passaporte de Lula" -que antes de estrear na Europa, em 2007, já teria viajado seis vezes à África.

O LADO ESCURO
Sob o título "Ajudaremos Colômbia e Venezuela a vigiarem sua fronteira", o assessor de Lula, Marco Aurélio Garcia, "um dos artífices da decolagem definitiva do Brasil em política externa", deu entrevista em Madri ao "El País". Primeira pergunta e resposta, já em tradução do portal UOL:
"O Brasil está preparado para assumir o lado escuro -crítica, imagem negativa- de ser um líder mundial?"
"Tentamos não assumir a ideia do Brasil como potência, por uma questão do que devem ser as relações na região."

RENASCIMENTO PURO
Nas primeiras páginas de ontem nos EUA, em papel, as vitórias republicanas em New Jersey e Virginia foram destacadas como "punição dos eleitores a Obama e os democratas", no dizer da "Economist".
Mas os sites de "New York Times", "Washington Post" e outros já passaram ontem para o significado dos resultados para os próprios republicanos em "renaissance". Na preparação para as eleições de meio de mandato em 2010, terão que avaliar a ação de Sarah Palin, por exemplo, que fez campanha em Nova York contra uma republicana moderada, que terminou abandonando a disputa e o partido -e apoiando um democrata, que venceu.