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FOLHA DE SÃO PAULO - 05/11/09
LONDRES - Duas informações sobre o papel do Estado, ambas aqui do Reino Unido.
Primeira: investir pesadamente no sistema público de saúde faz bem para a saúde do público.
Foi o que fez o governo trabalhista nestes anos em que está no poder. Resultado: o número de cirurgias não emergenciais efetuadas no sistema privado caiu de 14,6% em 1997 para 10,6% no ano passado, conforme a "Revista do Mercado de Atenção à Saúde", que o "Financial Times" chama de "bíblia da indústria de saúde privada".
Pode parecer óbvio que investir dá resultados, mas aqui, como no Brasil, houve momentos (ou ainda há) em que se aceitava por conformismo ou por convicção que era inútil pôr dinheiro público em saúde, porque a eficiência do setor privado levaria o público a migrar cada vez mais para ele.
Tratava-se de uma evidente distorção, que fingia ignorar o fato de que a grande maioria não pode pagar cirurgias ou tratamento médico (no Reino Unido, no ano passado, 900 mil pacientes foram tratados no setor privado, contra 7,7 milhões dos que foram atendidos pelo NHS, o National Health Service, sigla que quase chegou a ter a má fama do INSS brasileiro).
Segunda informação: o "Financial Times" diz que a rainha vai anunciar ainda neste mês que quem não conseguir em 18 meses tratamento no setor público ganha o direito de ir a um hospital privado e o governo paga a conta. Idem para quem estiver com suspeita de câncer e não for examinado por um especialista em duas semanas.
Dessas anotações surgem duas dúvidas: se o governo brasileiro (qualquer que seja) decidir fazer um investimento maciço nos serviços de saúde, haveria resultados ou boa parte dos recursos iria para o ralo? Dois: algum candidato se anima a assumir o compromisso que a rainha deve anunciar aqui? Se sim, quantos acreditariam?
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