O GLOBO - 23/07
Os índices mais recentes mostram a inflação menos vigorosa, mas dentro num cenário de desaceleração que pode motivar pirotecnias de efeito eleitoral
Acumulada em doze meses, a inflação para os consumidores, medida pelo IPCA-15 (índice que serve como uma prévia para a variação que o IBGE apura no mês cheio), ficou em 6,51%. Acima do teto da meta, portanto. Mas, considerando-se apenas o percentual mensal, limitou-se a 0,17%.
Já era esperado que os alimentos dessem uma contribuição para o recuo da inflação nesse período do ano, porém outros itens também vêm colaborando, o que é positivo. A política monetária restritiva, com juros básicos elevados para o patamar de 11% ao ano, está funcionando, ao que tudo indica.
O outro lado da moeda é que o ritmo da atividade econômica desacelerou. Os prognósticos do mercado financeiro apontam para um crescimento abaixo de 1% em 2014.
Tratando-se de um ano eleitoral, o governo pode se sentir tentado a recorrer a pirotecnias, para ostentar um resultado melhor e não ser criticado pelos adversários por erros cometidos anteriormente na condução da política econômica. Medidas “salvadoras”, na atual conjuntura, podem reacender a fogueira (já incandescente) da inflação e ainda pôr a perder ajustes feitos até aqui e que serão úteis para recuperação da economia a partir do ano que vem.
Mesmo com baixo crescimento, a economia brasileira vem convivendo com níveis baixos de desemprego e manutenção da massa salarial. É um trunfo que o governo tem em mãos. Para que a economia retorne ao caminho da recuperação, será preciso reconquistar a confiança dos que produzem, investem, poupam e consomem. Se os responsáveis pela política econômica não caírem na tentação de medidas salvacionistas, terão dado um bom passo nessa direção, pois assim darão provas de que reviram equívocos.
Há uma extensa agenda de iniciativas, no plano microeconômico, que podem ser adotadas nos meses restantes do atual governo. A simplificação tributária prevista na ampliação do SuperSimples é uma delas, por exemplo. As autoridades acenam com a possibilidade de remover obstáculos burocráticos que atravancam a vida econômica do país; se avançarem nesse campo, não serão acusadas de demagogia política e nem acentuarão desequilíbrios macroeconômicos.
O debate sobre os rumos futuros da economia brasileira será inevitável, e necessário, no decorrer da campanha eleitoral. O país precisa saber o que os pretendentes a governar o Brasil a partir de 2015 pensam sobre o tema. Mas o debate será pobre se ficar restrito aos dados conjunturais. Para o país, o mais importante é que na atual administração a política econômica não seja conduzida a prejudicar ainda mais um processo de recuperação a partir do ano que vem. É o que se espera de um governo que se candidata à reeleição.
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