BC já cortou juros com inflação em alta e expectativa deteriorada
O governo acredita que o Banco Central (BC) não está disposto a reduzir a taxa de juros (Selic) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A percepção é a de que a preocupação do BC "ainda é com a inflação". Uma importante fonte de Brasília diz, porém, que a "situação" forçará o Copom a mudar de opinião até 3 de setembro.
Uma das razões para apostar nisso está na atividade econômica. É provável que o PIB tenha recuado no segundo trimestre, depois de ter crescido apenas 0,2% entre janeiro e março. A equipe econômica, por dever de ofício, ainda acha que, entre abril e junho, o PIB cresceu alguma coisa. O BC tem a mesma crença, mas, no mercado, já há quem projete três trimestres de crescimento negativo, o que caracteriza uma recessão.
O outro dado a ser levado em conta é a inflação corrente. O IPCA-15 de julho, indicador que dá a prévia do mês, foi de apenas 0,17%, com deflação em quatro itens: alimentação e bebidas (-0,03%), transportes (-0,85%), educação (-0,07%) e comunicação (-0,10). Com o fim da Copa do Mundo, que inflacionou preços de passagens aéreas e hotéis, respondendo por 50% do IPCA de junho, os preços devem continuar recuando, inclusive, porque o governo não pretende autorizar reajustes dos combustíveis e de energia elétrica antes da eleição.
Um outro aspecto a considerar são os indicadores de confiança, que estão em níveis quase tão baixos quanto estavam no fim de 2008 e início de 2009, quando o Brasil passou por uma recessão em decorrência da crise mundial. Índices de confiança baixos sinalizam baixo consumo das famílias e retração de investimento das empresas.
Um dado que tem impressionado quem acompanha de perto a economia brasileira é o mercado de trabalho. A geração líquida de empregos, calculada a partir de dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, mostra que, nos últimos quatro meses, o resultado líquido foi negativo (ver gráfico). É a primeira vez que isso ocorre desde abril de 2009. Nos 15 anos de vigência do regime de metas para inflação, esse fato só ocorreu antes duas vezes - em março de 2003 e entre julho e setembro de 1999, quando a economia também passou por recessão.
No comunicado da semana passada, o Copom repetiu o texto da reunião anterior, de maio, quando decidiu interromper o ciclo de alta da taxa de juros. Ao deixar claro que tomou a decisão de manter o juro inalterado "neste momento", o Comitê ensejou interpretações de que, no encontro de setembro, pode reduzir a Selic. Se não admitisse essa possibilidade, teria retirado do texto a locução adverbial de tempo.
Não se tenha dúvida de que é razoável a chance de o Copom cortar os juros em setembro. Há muito o Comitê vem trabalhando com a ideia de que suas decisões decorrem do estado da economia naquele momento. A locução "neste momento" deixa isso ainda mais claro.
Na prática, os diretores do BC têm 42 dias para reunir argumentos sólidos que justifiquem a necessidade de redução dos juros. Até lá, não se devem esperar dados animadores da atividade econômica, muito antes pelo contrário. A tendência é só piorar, como antecipam os indicadores de confiança e as expectativas do mercado.
No dia seguinte à leitura do mercado de que o Copom deixou a porta aberta para reduzir os juros em setembro, surgiram reações atribuídas à equipe econômica (que neste caso, obviamente, é o Banco Central), segundo as quais, essa interpretação é equivocada. Uma delas se refere ao fato de que, entre as últimas duas reuniões do Copom, a inflação acumulada em 12 meses aumentou e rompeu o teto de 6,5% e as expectativas para o ano fechado de 2014 e 2015 também pioraram.
Uma ponderação se faz necessária: a atual diretoria do BC já reduziu juros nas duas situações, ou seja, quando a inflação em 12 meses estava em alta e quando as expectativas se deterioravam. A rigor, desde meados de 2010, o BC não consegue controlar as expectativas dos agentes econômicos.
O que o BC tenta fazer, agora, é evitar que, diante da piora evidente da atividade econômica, seja obrigado a reduzir os juros num movimento que surpreenda o mercado, como fez em agosto de 2011. Quer evitar, portanto, um cavalo de pau. Como o mercado, movido por indicadores econômicos cada vez mais fracos, continuará apostando na queda dos juros no curto prazo, o Copom deve apenas sancionar essa visão.
A opinião do mercado, ao contrário do que se acredita, não mudou necessariamente em relação ao Copom de setembro. Nos últimos dias, o mercado de juros reagiu muito mais ao avanço do candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, nas pesquisas do segundo turno da eleição do que às ações do Banco Central. Os juros dos contratos mais longos estão caindo porque os operadores começam a acreditar na chance de Aécio derrotar Dilma Rousseff.
É bem provável que a ata da última reunião do Copom, que será divulgada amanhã, tenha um texto muito parecido com a do encontro de maio, refletindo uma maior preocupação do BC com a inflação. É um documento fadado, entretanto, a envelhecer técnica e politicamente ao longo dos próximos 40 dias.
O governo acredita que o Banco Central (BC) não está disposto a reduzir a taxa de juros (Selic) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A percepção é a de que a preocupação do BC "ainda é com a inflação". Uma importante fonte de Brasília diz, porém, que a "situação" forçará o Copom a mudar de opinião até 3 de setembro.
Uma das razões para apostar nisso está na atividade econômica. É provável que o PIB tenha recuado no segundo trimestre, depois de ter crescido apenas 0,2% entre janeiro e março. A equipe econômica, por dever de ofício, ainda acha que, entre abril e junho, o PIB cresceu alguma coisa. O BC tem a mesma crença, mas, no mercado, já há quem projete três trimestres de crescimento negativo, o que caracteriza uma recessão.
O outro dado a ser levado em conta é a inflação corrente. O IPCA-15 de julho, indicador que dá a prévia do mês, foi de apenas 0,17%, com deflação em quatro itens: alimentação e bebidas (-0,03%), transportes (-0,85%), educação (-0,07%) e comunicação (-0,10). Com o fim da Copa do Mundo, que inflacionou preços de passagens aéreas e hotéis, respondendo por 50% do IPCA de junho, os preços devem continuar recuando, inclusive, porque o governo não pretende autorizar reajustes dos combustíveis e de energia elétrica antes da eleição.
Um outro aspecto a considerar são os indicadores de confiança, que estão em níveis quase tão baixos quanto estavam no fim de 2008 e início de 2009, quando o Brasil passou por uma recessão em decorrência da crise mundial. Índices de confiança baixos sinalizam baixo consumo das famílias e retração de investimento das empresas.
Um dado que tem impressionado quem acompanha de perto a economia brasileira é o mercado de trabalho. A geração líquida de empregos, calculada a partir de dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, mostra que, nos últimos quatro meses, o resultado líquido foi negativo (ver gráfico). É a primeira vez que isso ocorre desde abril de 2009. Nos 15 anos de vigência do regime de metas para inflação, esse fato só ocorreu antes duas vezes - em março de 2003 e entre julho e setembro de 1999, quando a economia também passou por recessão.
No comunicado da semana passada, o Copom repetiu o texto da reunião anterior, de maio, quando decidiu interromper o ciclo de alta da taxa de juros. Ao deixar claro que tomou a decisão de manter o juro inalterado "neste momento", o Comitê ensejou interpretações de que, no encontro de setembro, pode reduzir a Selic. Se não admitisse essa possibilidade, teria retirado do texto a locução adverbial de tempo.
Não se tenha dúvida de que é razoável a chance de o Copom cortar os juros em setembro. Há muito o Comitê vem trabalhando com a ideia de que suas decisões decorrem do estado da economia naquele momento. A locução "neste momento" deixa isso ainda mais claro.
Na prática, os diretores do BC têm 42 dias para reunir argumentos sólidos que justifiquem a necessidade de redução dos juros. Até lá, não se devem esperar dados animadores da atividade econômica, muito antes pelo contrário. A tendência é só piorar, como antecipam os indicadores de confiança e as expectativas do mercado.
No dia seguinte à leitura do mercado de que o Copom deixou a porta aberta para reduzir os juros em setembro, surgiram reações atribuídas à equipe econômica (que neste caso, obviamente, é o Banco Central), segundo as quais, essa interpretação é equivocada. Uma delas se refere ao fato de que, entre as últimas duas reuniões do Copom, a inflação acumulada em 12 meses aumentou e rompeu o teto de 6,5% e as expectativas para o ano fechado de 2014 e 2015 também pioraram.
Uma ponderação se faz necessária: a atual diretoria do BC já reduziu juros nas duas situações, ou seja, quando a inflação em 12 meses estava em alta e quando as expectativas se deterioravam. A rigor, desde meados de 2010, o BC não consegue controlar as expectativas dos agentes econômicos.
O que o BC tenta fazer, agora, é evitar que, diante da piora evidente da atividade econômica, seja obrigado a reduzir os juros num movimento que surpreenda o mercado, como fez em agosto de 2011. Quer evitar, portanto, um cavalo de pau. Como o mercado, movido por indicadores econômicos cada vez mais fracos, continuará apostando na queda dos juros no curto prazo, o Copom deve apenas sancionar essa visão.
A opinião do mercado, ao contrário do que se acredita, não mudou necessariamente em relação ao Copom de setembro. Nos últimos dias, o mercado de juros reagiu muito mais ao avanço do candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, nas pesquisas do segundo turno da eleição do que às ações do Banco Central. Os juros dos contratos mais longos estão caindo porque os operadores começam a acreditar na chance de Aécio derrotar Dilma Rousseff.
É bem provável que a ata da última reunião do Copom, que será divulgada amanhã, tenha um texto muito parecido com a do encontro de maio, refletindo uma maior preocupação do BC com a inflação. É um documento fadado, entretanto, a envelhecer técnica e politicamente ao longo dos próximos 40 dias.
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