O Estado de S.Paulo - 16/06
Economia se apresenta em números e desmenti-los é tarefa inglória, ainda que comum a todos os governos em dificuldades. Geralmente reagem aos analistas e críticos com analogias que tentam rotulá-los de derrotistas. Em tempos de campanha eleitoral antecipada esse tipo de reação é mais agressiva e, mais das vezes, primária.
Atacar os críticos não muda os resultados, mas a contaminação do processo político pelo eleitoral induz à prática, porque é preciso apontar culpados, ainda que apenas pela repercussão que dão aos maus resultados de um governo. Assim, a semana passada foi de negação, com o governo na defensiva, preso a uma política de desonerações ineficiente, a desmentir o que os números insistem em confirmar.
Ainda com a presidente firme nas pesquisas, seus próprios adversários reconheciam que evitar sua reeleição seria tarefa viável somente se acompanhada por uma queda da economia e, mesmo assim, com efeito real no bolso do eleitor. Pois bem, a inflação está aí, "resistente", como definiu o Banco Central, a produzir a queda do índice de aprovação da presidente. Os investimentos prosseguem estagnados, apesar dos esforços do governo para reverter o quadro, aumentando inclusive a margem de lucros de empresários.
Mas o problema continua sendo o clima de desconfiança gerado pela percepção de que o governo não tem uma política econômica clara, titubeia ante os índices negativos e consolida gradativamente a expectativa negativa de futuro - a pior de todas, pelo seu efeito paralisante no presente.
A pressão por mudanças de pessoas, que começa a ficar clara sobre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, por exemplo, resulta exatamente da percepção de que é preciso renovar expectativas, muito embora isso não resolva o problema por si só.
O contexto fica mais difícil com as dificuldades de articulação das alianças eleitorais nos Estados, que produz pressão da base aliada sobre a presidente, agora mais fragilizada com a queda nas pesquisas. Seu poder impositivo diminui na proporção que o de seus interlocutores, principalmente do PMDB, aumenta.
O desarranjo da economia aumenta a consistência dos candidatos que disputarão 2014: Aécio Neves (PSDB), com um programa que enfatizou a inflação, cresceu e se juntou a Marina Silva (Rede) na casa dos 15%, enquanto Eduardo Campos, do PSB consolida-se na casa dos 7%, com viés de alta.
Tantos candidatos eleitoralmente fortes, em cenário adverso, respondem pela convicção geral, inclusive a não admitida pelo Planalto, de que a reeleição no primeiro turno, como previu o PT em tempos mais favoráveis, é, hoje, um sonho cada vez mais distante.
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