FOLHA DE SP - 21/12
Eu me disporia a deportar todo o Congresso para o Mali, ninguém ia sentir a menor falta, quer apostar?
JÁ QUE esta é a última coluna do ano, que tal falar sobre o assunto que deveria ser o mais comentado nas festinhas da firma?
A manobra dos congressistas para fraudar as regras dos royalties do pré-sal não fez a ficha cair? A esta altura eu me disporia a deportar todo o Congresso para a costa do Mali, ninguém ia sentir a menor falta, quer apostar? Bem, talvez do Romário quando a TV mostrasse replays de gols da Copa de 1994.
A esta altura, até aquele ajudante de Papai Noel que nunca saiu de sua toca coberta de neve lá na Lapônia já conseguiu perceber que se não fosse este Congresso de quinta não teria havido mensalão, certo?
Pessoal fala que a construção da usina de Belo Monte é um escândalo ou que FHC deixou o país à beira do colapso energético, mas alguém por acaso já analisou a regulamentação para consórcios de energia?
Sujeito precisa ter licença disto e daquilo, tem de ser dono de uma terra das dimensões da Suíça, precisa do consentimento da turma do ambientalismo... Ou seja, o empreendedor entra com o panetone e o governo com a mandioca. Em valores corrigidos pela taxa Selic. Por isso nada anda ou anda apenas para conseguir arrancar uma grana do BNDES lá pra frente.
Nestes dias, um empresário tipicamente Fla-Flu, ou seja, que considera todo petista corrupto, acha que houve aparelhamento de Estado etc, veio me dizer que acha um escândalo as "cláusulas sigilosas" nos contratos das obras da Copa.
Cito o exemplo por ser uma argumentação típica de "torcedor" que não prima pela objetividade. Veja: obras podem levar até cinco anos para começar depois de licitadas porque quem perde vai lá e impugna o processo. O que se tentou evitar neste caso foi o atraso, isso não quer dizer que não tenha havido lisura. Mas o pessoal já sai misturando tudo e bradando "Rosemary!", "Mutreta!", tudo na mesma frase.
Ninguém está dizendo que quem não abusou não deva se explicar diante do juiz -não é mesmo, Rosemary? Mas é equivocado procurar um bicho-papão a cada esquina. A revista "The Economist" pediu a cabeça de Mantega e a galera vibrou. Isso tem algum significado especial? Ué? Os ventos da crise de 2008 finalmente bateram e os preços das commodities caíram. Alguém achou que iam ficar eternamente em alta? Muito pior do que o Mantega ou a atual gestão linha "gerentona" é a qualidade do nosso Congresso -e contra isso ninguém faz Fla-Flu.
Já se vão décadas das eleições diretas e até hoje nenhum presidente conseguiu passar nem sequer pacotes básicos 1.0 de reformas fiscal, previdenciária e do Judiciário.
Não fossem as tais medidas provisórias e a moeda de troca dos cargos, diga-me, meu dileto leitor: como o/a presidente governaria?
Já me vejo processada por desacato por algum excelentíssimo que se dirá ofendido, me chamará de antidemocrata e invocará o respaldo dos votos recebidos. Um beco sem saída criticar parlamentares.
Só não estamos totalmente perdidos porque, apesar das forças ocultas que operam dentro e fora do Congresso, temos um país tão pujante que vai deixando a capitania para trás para assumir seu posto como potência -e isto a despeito de nossas toscas regrinhas eleitorais, de um Legislativo inominável e de um Judiciário composto por umas loucas de Chaillot que pudemos ver neste ano do que são capazes para ser empossadas.
Tivemos quatro presidentes que magistralmente seguiram em frente promovendo a continuidade do trabalho do antecessor. Não faz sentido ficarem nossos empresários e a elite de picuinha num Fla-Flu sem fim. Por que não miram no entorno em vez de centrar sempre no mesmo alvo?
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