A agonia de Berlusconi
CELSO MING
Sabe-se lá quanto tempo durará a agonia de Silvio Berlusconi à frente do governo da Itália. Nesta terça-feira, depois de perder maioria no Congresso, admitiu que voltaria para casa depois que fosse aprovado seu programa de ajuste.
Embora mais baixa em relação ao PIB do que a dívida grega, a dívida da Itália é uma enormidade (1,9 trilhão de euros). Em 12 meses, vencerão 300 bilhões de euros, o que obrigará o Tesouro italiano a recorrer a refinanciamentos para rolar o principal mais os juros.
Nesta terça, o prêmio de risco da Itália, ou seja, o adicional cobrado pelos investidores para ficar com seus títulos, saltou para o recorde de 4,95% (acima do que os investidores aceitam para rolar títulos da Alemanha). Em termos absolutos, os juros cobrados para o lançamento dos títulos da Itália saltaram para 6,73% ao ano, cada vez mais próximos dos 7% – nível considerado ponto de não retorno, a partir do qual a dívida fica insustentável.
Mas a questão deixou de ser técnica. Tornou-se eminentemente política. Berlusconi, o cavaleiro de nervos de Teflon, é reconhecido por sua enorme competência em não se deixar trair pelas pressões dos mercados e dos políticos. No entanto, nas últimas semanas, perdeu a confiança tanto dos mercados como dos políticos. Até mesmo seu poder de resistir a pressões passou a trabalhar contra ele.
Pesou contra Berlusconi a percepção geral de que não tem interesse nem condições políticas para colocar em marcha um programa de austeridade que viesse a ser capaz de reverter a atual trajetória das despesas de governo e da dívida pública. Assim, cada dia de permanência sua no governo passou a ser entendido como um dia perdido para a recuperação da economia – na expressão usada em editorial pelo principal jornal da Espanha, o madrilenho El Pais.
O problema é que não basta remover Berlusconi. Sua saída do governo é como o fim de um casamento: é condição necessária, mas pode não ser suficiente para passar uma vida a limpo. Por começar do zero, um novo governo poderá contar com a boa vontade geral, mas terá de mostrar muito mais serviço para reverter a queda no precipício.
O desemprego na Itália estava nos 8,3% da força de trabalho em setembro. A atividade econômica evolui pouco acima de 0,5% ao ano, mas a perspectiva de recessão em toda a área do euro não acena com grandes melhoras da economia (veja ao lado a ficha da Itália).
Se as condições de rolagem da dívida se deteriorarem na Eurolândia, como tanta gente prevê, e se a Itália for obrigada a renegociar as condições de sua dívida, não haverá blindagem suficiente no Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF). Os líderes do euro concordaram, em princípio, em expandir sua capacidade de assistência de liquidez de 440 bilhões para 1,3 trilhão de euros, no entanto, não explicaram como farão isso.
Quer dizer, se a Itália não aguentar e pedir socorro, sobrará o Banco Central Europeu, como emprestador de última instância. Mas, se esse passo for dado, emitirá moeda, atropelará contratos e colocará ainda mais em risco o futuro do euro .
Confira
O gráfico mostra a evolução do rendimento (yield) pago no mercado secundário pelos títulos de 10 anos da Itália.
Entenda. Quanto mais desvalorizado um título no mercado, maior é seu rendimento. Ou seja, quanto menor é o valor de mercado de um título, menor é o desembolso pelo seu novo tomador. Como os juros embutidos no título não mudam, o rendimento sobe, porque menos dinheiro foi desembolsado para a compra do título. Essa situação acaba sendo repassada também para o mercado primário (emissões de novos títulos).
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