terça-feira, fevereiro 15, 2011

NELSON VASCONCELOS - Conexão Global

McLuhan na ativa
NELSON VASCONCELOS - Conexão Global
O GLOBO - 15/02/11

O canadense Marshall McLuhan certamente estaria se divertindo com a permanente e já velha discussão sobre o futuro da indústria da mídia em tempos de internet. Foi ele o primeiro sujeito a declarar, por exemplo, que "o usuário é o conteúdo"- como bem sabem os sites hoje. E escreveu isso há mais de 40 anos, bem antes de a internet existir tal qual a conhecemos. 
McLuhan morreu em 1980. Voltar a ele neste momento tem tudo a ver, não só porque a situação obriga, como também porque estamos no ano em que se comemora seu centenário de nascimento. Data nobre.
De tempos em tempos,seus livros voltam a ser discutidos - embora estejam longe de ser leitura fácil. São herméticos, e a gente finge que os entende.
Ou só os entende quando são filtrados por gente como Douglas Coupland, que acaba de lançar lá fora "Marshall McLuhan: You know nothing of my work!" ("Você não sabe nada sobre meu trabalho"), ainda sem perspectiva de ser publicado
aqui. É uma pequena biografia do professor canadense, ótima distração para quem está de molho ou fugindo do calor - ou ambos. Douglas Coupland é romancista, habilidade que poderia ter deixado de lado em alguns trechos do livro, que só tem 200 páginas. Mas vá lá. Por trazer de volta o fantasma do McLuhan, está valendo a encomenda. O canadense costumava dizer que moldamos as ferramentas e, em seguida, elas nos moldam. As pessoas, no fim das contas, são reinventadas pelas tecnologias.
Tudo a ver com nossa dependência da internet, ou não? A ver também com nossa relação com a informação e com o entretenimento (se é que existe diferença entre essas duas coisas). Ou, ainda, com o jeito com que a Wikipedia modificou as pesquisas escolares das crianças... E as redes sociais? E o jeitão colaborativo da internet, que está modificando as relações de trabalho?
Esse McLuhan , por mais que fosse meio maluco, ainda vai longe. Mesmo com suas idiossincrasias, ele só queria que a Humanidade fosse um pouco melhor, ao entender como a mídia a influencia. E vice-versa. 
A propósito de dizer que "o usuário é o conteúdo": a hagiografia de Arianna Huffington começa a ser reescrita pelos seus inúmeros blogueiros.
Agora que o HuffPost está por cima da carne seca, eles querem ser remunerados pelo que escrevem. Há anos o fazem de graça, por amor à causa. Mas não lhes parece justo que trabalhem de graça também para a AOL, sua nova "empregadora".
Tem a ver. O que era um projeto virou um negócio pesado. Quem o fez crescer saudável merece a recompensa. Só que, pelo jeito, Arianna não pensa bem assim. Haverá uma dissidência? Em breve, cenas dos próximos capítulos...

@SARNEY Começou a circular pela rede, sábado, o simpático apelo de uma americana que, por capricho do destino, assina-se @SARNEY no Twitter. Diz a mensagem dela, em inglês: "Povo do Brasil, pelo amor do doce menino Jesus, eu não sou José Sarney.
O nome dela mesmo é Sarah Law Wu. Vive no Colorado. No perfil, escreveu em português um aviso para os brasileiros: "Eu não sou José Sarney!". E explicou para os gringos "I am not José Sarney, a lawyer, or a Brazilian lawyer. I know its confusing."Pelo jeito, consultou a Wikipedia, onde consta que o Sarney é advogado. Não sabe de nada.
Sarah tem sofrido com o assédio de tuiteiros brasileiros com suas mensagens supostamente direcionadas para o nosso eterno presidente do Senado - que, por sinal, deve ignorar completamente o Twitter e qualquer rede social. Diz ela em outra mensagem:
"Tenho sido confundida com ele (Sarney) há muito tempo, mas piorou com a crise do Mubarak. Parece que todo mundo o odeia intensamente".
Mas nem tudo é sofrimento. Ontem ela resumiu as mensagens que recebeu no fim de semana, após repentina fama no Twitter brasileiro:
"Um pedido de casamento, um convite para o samba, e um monte de abraços e beijos dos meus novos amigos no Brasil".
É disso que o povo gosta. 

ConveniênciaHá três semanas comentei aqui que a arrogância pode ser um pecado fatal para as grandes empresas (assim como para qualquer sujeito que está no poder).
Citei que Nokia e Microsoft, por exemplo, estavam caindo nesse erro ao não reconhecer que deveriam sair do conforto de sua liderança e mudar o quanto antes - já que o mercado assim exige. Demorou, mas resolveram fazer algo. Estão de namoro firme, na luta contra seus inimigos Google e Apple. Só que é um casamento de conveniência. Não tem química ali. Isso costuma gerar um desgaste que ainda provocará muito chororô. E este já começou, aliás. Funcionários da Nokia estão reclamando do fato de a empresa adotar o Windows Phone 7, deixando de lado seu velho Symbian. Uma pena. O Symbian foi bom enquanto durou, mas parece que ficou mesmo para trás. O negócio é saber se seu substituto conseguirá pegar os concorrentes numa indústria tão dinâmica 

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