sábado, janeiro 15, 2011

CELSO MING

As pressões da hora
Celso Ming 
O Estado de S.Paulo - 15/01/11

A economia vai relativamente bem, principalmente quando os resultados são comparados com os dos países ricos. E não há mais divergência entre os analistas, o Brasil tem um brilhante destino a cumprir na sociedade global, se o brasileiro não fizer besteiras demais.

Isso posto, não dá para adiar as soluções. Neste início de mandato, a nova presidente Dilma Rousseff tem de armar uma equação complicada.

A inflação está solta demais, vai sendo agravada pelos desastres do clima, pela alta das commodities e pelos reajustes dos preços administrados fortemente influenciados pela disparada do IGP-M, de 11,39%. É uma avalanche que precisa ser contida.

O consumo continua aquecido e isso explica a maior parte da inflação. Para combater a alta de preços, o instrumento clássico é a redução do volume de dinheiro na economia (alta dos juros), mas esse recurso aumenta os custos, restringe a atividade econômica, atrai mais moeda estrangeira e tende a valorizar demais o real.

A excessiva valorização do real, por sua vez, tira competitividade do produto brasileiro porque o encarece em dólares. E, no entanto, não dá para seguir restringindo a entrada de recursos externos, porque os programas de investimento são imensos e não é possível abrir mão do concurso do capital estrangeiro. Além disso, há forte liquidez lá fora e as empresas brasileiras precisam de capital de giro mais barato em moeda estrangeira. Elas bem que têm aproveitado. No ano passado, levantaram empréstimos no exterior de US$ 21,3 bilhões e os bancos pegaram mais US$ 14,2 bilhões. Apenas nestas duas primeiras semanas do ano, as empresas brasileiras captaram, por meio de colocação de bônus, US$ 2,7 bilhões. Apesar do efeito sobre o câmbio, não se pode fechar essas portas. Enfim, há uma dura guerra a travar.

Se há guerra, tem mulher no meio, diziam os antigos, desde os tempos de Helena de Troia. Os franceses acreditam nisso ainda hoje: "cherchez la femme", recomendam eles. No caso dos desequilíbrios da economia, os clássicos sugerem uma pista que quase sempre funciona: "Procure o rombo orçamentário, porque o problema é fiscal".

Também nesse caso a saída óbvia é derrubar as despesas públicas de modo a restabelecer a disciplina orçamentária e trabalhar arduamente para reduzir o custo Brasil (carga tributária alta demais, juros altos, falta de infraestrutura, etc.). Mais austeridade reduz a dívida, achata os juros, deixa de atrair dólares em excesso, contém o consumo, aumenta a poupança interna, enfim, concorre para reequilibrar a economia.

Desta vez, o governo federal está sendo ainda mais pressionado pelas urgências, especialmente pelos programas inadiáveis de investimento que tem pela frente, como o pré-sal, o PAC, a Copa do Mundo, a Olimpíada. Além de ter de recorrer mais aos capitais privados, não pode deixar a inflação escapar e não pode restringir demais a entrada de capitais internacionais.

Nos seus primeiros pronunciamentos, a presidente Dilma Rousseff lembrou a necessidade de apertar os cintos. É ordem velha de guerra, quase nunca acatada, porque sempre está sujeita às pressões da hora. Mas eficiência administrativa é menos palavras de ordem e mais firmeza de condução. E isso ainda fica para se ver.

Retificação

O leitor Kiyotaka Yamamoto pegou um erro de cálculo na Coluna de ontem que tratou do custo das reservas externas. Por isso, vão republicados aqui dois parágrafos com a revisão dos valores.

Os números certos

Para sustentar reservas de US$ 290 bilhões, o Banco Central mantém no mercado R$ 485 bilhões em títulos. Os US$ 290 bilhões em moeda estrangeira comprados pelo Banco Central e aplicados no mercado internacional rendem mais ou menos 2% ao ano, o que dá US$ 5,8 bilhões ou R$ 9,7 bilhões (e não R$ 11,4 bilhões como ficou dito). Em contrapartida, o País tem de pagar pelos R$ 485 bilhões da operação de esterilização juros de 10,75% ao ano, o que implica gasto de US$ 31,2 bilhões ou R$ 52,1 bilhões. A diferença entre o rendimento das reservas e os juros pagos em reais para mantê-las é de US$ 25,4 bilhões ou R$ 42,4 bilhões (e não de US$ 24,4 bilhões ou R$ 40,7 bilhões, como o publicado), volume equivalente às projeções dos custos de construção do trem-bala.

Um comentário:

José María Souza Costa disse...

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