O PMDB de Kassab
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 11/10/11
BRASÍLIA - O PT nasceu em 1980 para unir sindicalistas, intelectuais, igrejeiros e militantes de partidos clandestinos na luta contra a ditadura militar e pela justiça social.
O PFL, depois rebatizado DEM, surgiu em 1985 para tentar reaglutinar a direita não corrupta que defendera as Diretas-Já e se opusera à candidatura Maluf à Presidência. O projeto era dar a volta por cima do apoio ao regime militar e representar os interesses do capital (grande, médio e pequeno) nos novos tempos de redemocratização.
O PSDB foi a união de intelectuais com alguns dos melhores nomes do cenário político brasileiro: Franco Montoro, Mário Covas, José Richa... Era a turma cansada do PMDB e contra a potencial candidatura Quércia ao Planalto (que, afinal, só se materializaria em 1994).
E o PSD de Kassab? Surge agora, num momento de política em baixa e políticos sendo execrados, para unir sabe-se lá quem com quem, acomodar descontentes de DEM, PMDB, PTB, PR... sem representar interesses de segmento algum e sem grandes nomes políticos nacionais. Por quê? Não se sabe. Para quê? Suspeita-se.
Lula foi a síntese do PT na sua origem. Jorge Bornhausen, do PFL/DEM. Fernando Henrique, dos tucanos. Talvez a síntese do PSD seja Henrique Meirelles, que tinha jeitão de PFL, elegeu-se pelo PSDB, filiou-se ao PMDB e tornou-se presidente do Banco Central no governo do PT. Qualquer partido serve.
A ambição de Meirelles era, ou continua sendo, ser presidente da República. Ele, porém, topa ser governador, aceita o Senado, contenta-se com a Câmara e acaba de trocar o domicílio eleitoral de Goiás para São Paulo -será para disputar a prefeitura? Qualquer coisa serve.
Inchado, o novo partido tem adesões a mais e ideologia e programa de menos. Está pronto para pular no governo Dilma ou em qualquer outro. O PSD de Kassab começa, assim, exatamente por onde o PMDB acaba.
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