CORREIO BRAZILIENSE - 08/11
Ao mesmo tempo em que brasileiros se beneficiam em 522 milhões de consultas anuais pelo Sistema Único de Saúde (SUS), outros tantos milhões pagam caro o preço do agravamento de suas doenças na espera infindável por tratamentos especializados. Mais de três anos podem se passar até a cirurgia curativa de varizes, isso se não aparecerem úlceras nas pernas, quando a demora é muito maior; pacientes com cálculos na vesícula biliar podem levar de dois a mais anos para serem operadas, e muitos deles não o serão por via laparoscópica por ausência injustificável do instrumental necessário na grande maioria dos hospitais públicos do país. Um ano e meio, no mínimo, tem sido a espera por cirurgias de hérnias que incapacitam e desempregam; imagine nove meses na expectativa de uma colonoscopia diagnóstica e nada menos que centenas de dias para a avaliação inicial dos pacientes com tumores malignos. Faltam vagas e profissionais especializados.
Quanto ao câncer, ainda se discute a obrigatoriedade de cirurgiões oncológicos nas equipes das Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacons). Nos Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Cacons) exigem, inexplicavelmente, biópsias realizadas e laudos escritos para marcarem a primeira consulta dos pacientes, mesmo sabendo todos que nos níveis da assistência ambulatorial das cidades brasileiras não se consegue esse feito nem com a rapidez necessária nem com a segurança imprescindível ao diagnóstico precoce das malignidades. Além do mais, nas biópsias, cortes e corantes específicos, customizados pela interação continuada, diária, entre cirurgiões e patologistas, fazem toda a diferença na tipificação acertada dos tumores, no correto tratamento oncológico protocolar.
Em oncologia, o tempo é o senhor da razão entre a cura e o sofrimento. "Diagnostica câncer quem nele pensa frente a qualquer sintoma", comentou o radioterapeuta da Universidade de Chicago professor Bruce Minsky. A sobrevida aos tumores é diretamente proporcional ao tratamento precoce e sob evidências cientificamente comprovadas. Após mais um Congresso Brasileiro de Cirurgia Oncológica, o XI (em outubro, em São Paulo), se sai com a certeza de que, na luta contra o câncer, tem de se travar uma batalha a cada minuto. No Brasil, são estimados cerca de 519 mil novos casos todos os anos.
Quanto à prevenção e ao tratamento, existem inúmeras divergências entre americanos, europeus e brasileiros sobre iguais fundamentos. Porém, o que se viu, com certeza, é que o mundo está diante das assinaturas genéticas e dos marcadores tumorais específicos, das identidades moleculares, das drogas alvo-inteligentes e dos tratamentos personificados. Confirmou-se as cirurgias utilizando robôs como segurança científica aos princípios da radicalidade, à possibilidade da cura oncológica. Quando é que os brasileiros comuns, não autoridades, aqueles usuários necessários do SUS, vão ter acesso pleno e a tempo a tudo isso? Até agora têm morrido muito antes, vítimas do SUS caro, do SUS da espera.
Fatores prognósticos e preditivos dos tumores malignos foram exaustivamente discutidos, bem como elegibilidades e seleções criteriosas para protocolos de tratamentos. Muita seriedade nas opiniões. Ouviram-se, e não por poucas vezes, notabilíssimas vozes credenciadas e globalizadas responderem: "Ainda não faço, precisamos de mais evidências", atitudes responsabilíssimas.
Embora neste século 21 o progresso da ciência disponibilize tecnologias que possibilitam a constante evolução dos conhecimentos médicos sobre as neoplasias, à prática da medicina cabe parcela importante, porém muito pouco decisiva. O reconhecimento de que a saúde é um dos direitos fundamentais do homem leva a participação do Estado a ter responsabilidades intransferíveis sobre os múltiplos fatores causais da doença maligna, que pode atingir uma em cada três pessoas ao longo da vida adulta. Segundo Robert N. Proctor, professor de história da ciência da Universidade de Stanford, "o câncer poderá nos acometer do Meio Ambiente em que vivemos, do ar que respiramos, dos alimentos que ingerimos, da água que utilizamos, das atividades que exercemos, da sociedade que construímos e até do governo que elegemos".
Até quando vamos esperar o SUS acessível, igualitário e contemporâneo à evolução da ciência do seu tempo? Na atual conjuntura, vitimizado por politicagens de ocasião, pode mesmo é continuar sendo caro, a preço das dores incessantes e das vidas perdidas.
Quanto ao câncer, ainda se discute a obrigatoriedade de cirurgiões oncológicos nas equipes das Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacons). Nos Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Cacons) exigem, inexplicavelmente, biópsias realizadas e laudos escritos para marcarem a primeira consulta dos pacientes, mesmo sabendo todos que nos níveis da assistência ambulatorial das cidades brasileiras não se consegue esse feito nem com a rapidez necessária nem com a segurança imprescindível ao diagnóstico precoce das malignidades. Além do mais, nas biópsias, cortes e corantes específicos, customizados pela interação continuada, diária, entre cirurgiões e patologistas, fazem toda a diferença na tipificação acertada dos tumores, no correto tratamento oncológico protocolar.
Em oncologia, o tempo é o senhor da razão entre a cura e o sofrimento. "Diagnostica câncer quem nele pensa frente a qualquer sintoma", comentou o radioterapeuta da Universidade de Chicago professor Bruce Minsky. A sobrevida aos tumores é diretamente proporcional ao tratamento precoce e sob evidências cientificamente comprovadas. Após mais um Congresso Brasileiro de Cirurgia Oncológica, o XI (em outubro, em São Paulo), se sai com a certeza de que, na luta contra o câncer, tem de se travar uma batalha a cada minuto. No Brasil, são estimados cerca de 519 mil novos casos todos os anos.
Quanto à prevenção e ao tratamento, existem inúmeras divergências entre americanos, europeus e brasileiros sobre iguais fundamentos. Porém, o que se viu, com certeza, é que o mundo está diante das assinaturas genéticas e dos marcadores tumorais específicos, das identidades moleculares, das drogas alvo-inteligentes e dos tratamentos personificados. Confirmou-se as cirurgias utilizando robôs como segurança científica aos princípios da radicalidade, à possibilidade da cura oncológica. Quando é que os brasileiros comuns, não autoridades, aqueles usuários necessários do SUS, vão ter acesso pleno e a tempo a tudo isso? Até agora têm morrido muito antes, vítimas do SUS caro, do SUS da espera.
Fatores prognósticos e preditivos dos tumores malignos foram exaustivamente discutidos, bem como elegibilidades e seleções criteriosas para protocolos de tratamentos. Muita seriedade nas opiniões. Ouviram-se, e não por poucas vezes, notabilíssimas vozes credenciadas e globalizadas responderem: "Ainda não faço, precisamos de mais evidências", atitudes responsabilíssimas.
Embora neste século 21 o progresso da ciência disponibilize tecnologias que possibilitam a constante evolução dos conhecimentos médicos sobre as neoplasias, à prática da medicina cabe parcela importante, porém muito pouco decisiva. O reconhecimento de que a saúde é um dos direitos fundamentais do homem leva a participação do Estado a ter responsabilidades intransferíveis sobre os múltiplos fatores causais da doença maligna, que pode atingir uma em cada três pessoas ao longo da vida adulta. Segundo Robert N. Proctor, professor de história da ciência da Universidade de Stanford, "o câncer poderá nos acometer do Meio Ambiente em que vivemos, do ar que respiramos, dos alimentos que ingerimos, da água que utilizamos, das atividades que exercemos, da sociedade que construímos e até do governo que elegemos".
Até quando vamos esperar o SUS acessível, igualitário e contemporâneo à evolução da ciência do seu tempo? Na atual conjuntura, vitimizado por politicagens de ocasião, pode mesmo é continuar sendo caro, a preço das dores incessantes e das vidas perdidas.
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