VALOR ECONÔMICO - 08/11
A cada ciclo eleitoral as campanhas têm se iniciado com uma antecedência cada vez maior, tornando letra morta a regra que veda a busca de votos antes de julho do ano eleitoral. O jogo presidencial de 2014 começou abertamente ainda no início de 2013, quando o ex-presidente Lula lançou Dilma Rousseff à reeleição. Embora movimento mais que previsível, tratou-se de um dos raros tropeços estratégicos de um líder com reconhecida habilidade, já que a precipitação do debate desencadeou articulações, exigências por espaços na máquina e fissuras na base que demorariam mais alguns meses para aflorar - e que comprometeram o desempenho do governo sob diversos aspectos.
A despeito das atribulações na base, dos deslizes na economia, e da falta de grandes projetos e avanços a mostrar aos eleitores, a presidente segue como favorita para 2014. Embora seja cedo para cravar avaliações sobre o fenômeno e suas consequências, as manifestações de junho aparentemente não foram capazes de alterar o cenário eleitoral. Ao voltarem-se, em grande medida, contra toda a classe dirigente, os protestos socializaram o desgaste entre as principais forças políticas. E nesse jogo o governo tem quase sempre a vantagem do empate: se todos são iguais, por que mudar?
Já a aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva deve afetar ao menos as estratégias dos demais postulantes, com potencial de dano maior aos tucanos, com quem deverá disputar uma das vagas no segundo turno. Se conseguir se consolidar como principal alternativa ao governo, avançará sobre espaço político, retórico e simbólico hoje dominado pelo PSDB - já ameaçado, por conta própria, de embrulhar-se entre um candidato claudicante, porém apoiado pela máquina, e outro sem sustentação interna, mas aparentemente decidido (a atrapalhar?).
Ao buscar posição e discurso novos entre governo e oposição, a aliança pode dar mais corda a processo já em curso (em parte ligado aos protestos recentes): uma inflexão no debate público, com a inclusão social e a estabilidade e desenvolvimento econômicos (temas dominantes nas últimas disputas) sendo articulados a questões como eficiência dos serviços públicos, sustentabilidade ou qualidade de vida. De qualquer forma, resta torcer para que o debate seja menos indigente que o de 2010, quando acusações mútuas sobre a religiosidade dos candidatos e outros temas pautados por grupos fundamentalistas (e disseminados principalmente a partir da Internet, cada vez mais distante de se estabelecer como uma esfera pública de debate racional ao estilo habermasiano) se colocaram no centro da discussão , fazendo daquela campanha a de nível mais baixo desde 1989.
Despontam como maiores desafios iniciais da nova chapa a atração de partidos para a coligação e a costura de apoios e palanques regionais, rompendo as estratégias de isolamento impulsionadas por PT e PSDB. Mais difícil ainda, no entanto, será harmonizar os interesses e plataformas do PSB e da Rede, e os egos e personalidades de Eduardo e Marina - ainda mais se ela ratificar sua condição de candidata a vice-presidente. A despeito do abraço pragmático no governador pernambucano, a ex-ministra possui algumas convicções fortes e uma leitura voluntarista (por vezes messiânica) acerca do fazer político e dos caminhos para ganhar e governar, temperada com doses calibradas de ingenuidade. Em 2010, por exemplo, sua campanha presidencial lançou o jogo online Um mundo , no qual, a partir da vontade de Marina de construir um mundo melhor , propunha-se que cada um construísse o seu próprio mundo e compartilhasse as bandeiras que norteiam a candidatura com os amigos . Confrontada recentemente pelos entrevistadores do Roda Viva, ela se esquivou do debate mais profundo e do posicionamento firme acerca de questões relevantes da agenda atual, afirmando que no eventual governo PSB-Rede tudo será construído coletivamente no plano de uma nova política , aliando-se aos empresários do bem (inclusive os do agronegócio) e aos melhores de cada partido para decidir e governar.
Ao discurso oco e despolitizante (que possui alguma ressonância junto a certos estratos da classe média) Marina parece ter acrescentado generalidades que, em certa medida, já embutem as dificuldades que se avizinham para a unificação de plataforma e estratégias com Eduardo Campos. Enquanto Marina ainda navegava no mundo de Poliana de sua Rede (embora pressionando o TSE para abrir uma exceção e facilitar a criação do partido), o governador se movimentava com apetite no jogo real da política, atropelando vozes dissonantes internas (como os irmãos Gomes no Ceará e a liderança do diretório estadual do Rio de Janeiro) e costurando alianças com nomes que nem o mais contorcionista dos líderes políticos poderia caracterizar como expoentes de uma nova política - como o deputado Ronaldo Caiado ou a família Bornhausen. A primeira fricção pós-aliança não tardou a acontecer, levando ao afastamento de Caiado (e do DEM) do projeto de Eduardo Campos - ao que Marina reagiu pregando que a Rede representaria para o PSB uma oportunidade de depuração .
Quando a campanha esquentar, os mundos de Poliana e da realpolitik certamente irão se atritar diversas vezes. Marina irá se adaptar ao projeto pessoal de Eduardo Campos, ou tentará depurar o neoaliado e as alianças que vêm sendo costuradas há tempos? Como ela e o grupo mais programático da Rede articularão suas ideias sobre Código Florestal e preservação ambiental com a visão de mundo tecnocrática de Campos e seu círculo? Eis algumas das incógnitas de 2014.
A despeito das atribulações na base, dos deslizes na economia, e da falta de grandes projetos e avanços a mostrar aos eleitores, a presidente segue como favorita para 2014. Embora seja cedo para cravar avaliações sobre o fenômeno e suas consequências, as manifestações de junho aparentemente não foram capazes de alterar o cenário eleitoral. Ao voltarem-se, em grande medida, contra toda a classe dirigente, os protestos socializaram o desgaste entre as principais forças políticas. E nesse jogo o governo tem quase sempre a vantagem do empate: se todos são iguais, por que mudar?
Já a aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva deve afetar ao menos as estratégias dos demais postulantes, com potencial de dano maior aos tucanos, com quem deverá disputar uma das vagas no segundo turno. Se conseguir se consolidar como principal alternativa ao governo, avançará sobre espaço político, retórico e simbólico hoje dominado pelo PSDB - já ameaçado, por conta própria, de embrulhar-se entre um candidato claudicante, porém apoiado pela máquina, e outro sem sustentação interna, mas aparentemente decidido (a atrapalhar?).
Ao buscar posição e discurso novos entre governo e oposição, a aliança pode dar mais corda a processo já em curso (em parte ligado aos protestos recentes): uma inflexão no debate público, com a inclusão social e a estabilidade e desenvolvimento econômicos (temas dominantes nas últimas disputas) sendo articulados a questões como eficiência dos serviços públicos, sustentabilidade ou qualidade de vida. De qualquer forma, resta torcer para que o debate seja menos indigente que o de 2010, quando acusações mútuas sobre a religiosidade dos candidatos e outros temas pautados por grupos fundamentalistas (e disseminados principalmente a partir da Internet, cada vez mais distante de se estabelecer como uma esfera pública de debate racional ao estilo habermasiano) se colocaram no centro da discussão , fazendo daquela campanha a de nível mais baixo desde 1989.
Despontam como maiores desafios iniciais da nova chapa a atração de partidos para a coligação e a costura de apoios e palanques regionais, rompendo as estratégias de isolamento impulsionadas por PT e PSDB. Mais difícil ainda, no entanto, será harmonizar os interesses e plataformas do PSB e da Rede, e os egos e personalidades de Eduardo e Marina - ainda mais se ela ratificar sua condição de candidata a vice-presidente. A despeito do abraço pragmático no governador pernambucano, a ex-ministra possui algumas convicções fortes e uma leitura voluntarista (por vezes messiânica) acerca do fazer político e dos caminhos para ganhar e governar, temperada com doses calibradas de ingenuidade. Em 2010, por exemplo, sua campanha presidencial lançou o jogo online Um mundo , no qual, a partir da vontade de Marina de construir um mundo melhor , propunha-se que cada um construísse o seu próprio mundo e compartilhasse as bandeiras que norteiam a candidatura com os amigos . Confrontada recentemente pelos entrevistadores do Roda Viva, ela se esquivou do debate mais profundo e do posicionamento firme acerca de questões relevantes da agenda atual, afirmando que no eventual governo PSB-Rede tudo será construído coletivamente no plano de uma nova política , aliando-se aos empresários do bem (inclusive os do agronegócio) e aos melhores de cada partido para decidir e governar.
Ao discurso oco e despolitizante (que possui alguma ressonância junto a certos estratos da classe média) Marina parece ter acrescentado generalidades que, em certa medida, já embutem as dificuldades que se avizinham para a unificação de plataforma e estratégias com Eduardo Campos. Enquanto Marina ainda navegava no mundo de Poliana de sua Rede (embora pressionando o TSE para abrir uma exceção e facilitar a criação do partido), o governador se movimentava com apetite no jogo real da política, atropelando vozes dissonantes internas (como os irmãos Gomes no Ceará e a liderança do diretório estadual do Rio de Janeiro) e costurando alianças com nomes que nem o mais contorcionista dos líderes políticos poderia caracterizar como expoentes de uma nova política - como o deputado Ronaldo Caiado ou a família Bornhausen. A primeira fricção pós-aliança não tardou a acontecer, levando ao afastamento de Caiado (e do DEM) do projeto de Eduardo Campos - ao que Marina reagiu pregando que a Rede representaria para o PSB uma oportunidade de depuração .
Quando a campanha esquentar, os mundos de Poliana e da realpolitik certamente irão se atritar diversas vezes. Marina irá se adaptar ao projeto pessoal de Eduardo Campos, ou tentará depurar o neoaliado e as alianças que vêm sendo costuradas há tempos? Como ela e o grupo mais programático da Rede articularão suas ideias sobre Código Florestal e preservação ambiental com a visão de mundo tecnocrática de Campos e seu círculo? Eis algumas das incógnitas de 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário