O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a operar uma estratégia eleitoral com o objetivo de controlar as duas Casas do Congresso a partir das eleições de 2014, o que garantiria ao PT a consolidação de sua hegemonia. Para isso, preserva as candidaturas próprias do PT nos estados de maior colégio eleitoral — como o Rio de Janeiro —, nos quais poderia eleger mais deputados federais, e entrega a cabeça das chapas para o PMDB e outros aliados na disputa dos governos de estados menores, que elegem menos deputados, mas três senadores, como os grandes colégios eleitorais.
Lula faz juras de amor ao governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), que tenta viabilizar o vice, Luiz Fernando Pezão (PMDB), como sucessor, ao mesmo tempo em que garante a legenda para o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), que desafia o candidato oficial. No Espírito Santo, Lula tenta convencer o ex-governador Paulo Hartung (PMDB) a abrir a vaga do Senado para o ex-prefeito de Vitória João Coser (PT) e concorrer ao Palácio Anchieta contra o governador Renato Casagrande (PSB), que pleiteia a reeleição.
Essa estratégia foi parcialmente executada nas eleições passadas, quando Lula conseguiu desalojar do Senado a maioria dos seus desafetos pessoais na oposição, como os senadores Arthur Virgílio Neto (PSDB-AM), Heráclito Fortes (ex-DEM-PI), Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Jorge Bornhausen (ex-DEM-SC). Agora, o ex-presidente da República tenta matar dois coelhos com uma só cajadada: garantir uma posição mais confortável para o Palácio do Planalto nas relações com o Congresso, cujo controle absoluto passaria do PMDB para o PT, e reduzir as tensões entre as duas legendas na montagem dos palanques de 2014.
É mais ou menos como naquela história do Mané Garrincha, à véspera do jogo entre Brasil e União Soviética na Copa de 1958. O técnico Vicente Feola levou Garrincha para o canto da concentração e explicou o que ele deveria fazer em campo: “Mané, você pega a bola e dribla o primeiro beque. Quando chegar o segundo, você dribla também. Vai até a linha de fundo e cruza forte para trás, para o Vavá marcar”. Malicioso, Garrincha respondeu: “Tudo bem, seu Feola, mas o senhor já combinou com os russos?” O problema de Lula é combinar com os caciques do PMDB, principalmente o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), cuja reeleição para o cargo, em 2015, subirá no telhado se a estratégia de Lula for bem-sucedida.
Como se sabe, no Rio de Janeiro, no Ceará, em Pernambuco, na Bahia, no Maranhão, no Paraná e no Rio Grande do Sul, as relações entre as duas legendas são ruins. São estados com muito poder na convenção nacional do PMDB, que poderia até retaliar o avanço petista na suas bases com um veto à coligação com a presidente Dilma Rousseff. O PMDB também tem sérias contradições eleitorais com o PT em Mato Grosso do Sul, em São Paulo, em Minas Gerais, em Roraima e no Acre. O que garante a aliança do PMDB com Dilma, hoje, são estados de menor colégio eleitoral, como Santa Catarina, Espírito Santo, Paraíba, Rio Grande do Norte, Alagoas, Tocantins, Amapá e Rondônia, além de Pará e Amazonas, que abrigam o grosso do eleitorado nortista.
Como o PMDB depende da manutenção de suas posições nos estados para manter a hegemonia no Congresso e preservar a influência no governo federal — que passa pela confirmação do vice-presidente Michel Temer (PMDB) na chapa da reeleição —, a estratégia de Lula é arriscada e exige muita precisão. Qualquer descuido pode pôr a perder a reeleição de Dilma. O que não falta no Congresso é gente predisposta a traições, principalmente quando a própria sobrevivência corre perigo.
Miscelânea
Pesquisa / A pesquisa CNT-MDA divulgada ontem mostra a presidente Dilma Rousseff em posição confortável, mas em ponto morto do ponto de vista da corrida eleitoral: a aprovação do governo melhorou pouco (39% de positivo, 37,7% de negativo e 22,7% de regular) e a da presidente da República manteve praticamente o mesmo patamar (58,8% de aprovação e 38,9% de desaprovação). No cenário principal, a petista seria eleita no primeiro turno, com 43,5% dos votos, contra Aécio Neves, com 19,3%; e Eduardo Campos (PSB), com 9,5%. Quando entra na simulação no lugar de Eduardo Campos, Marina Silva (PSB) arranca 22,5% dos votos, contra 40,6% de Dilma e 16,5% de Aécio. Ou seja, leva a eleição para o segundo turno. É aí que mora o perigo: Marina pode transferir votos para Eduardo Campos e embananar a reeleição.
Diplomacia/ Em baixa nas pesquisas, o presidente socialista da França, François Hollande, aguarda, sem sucesso, a confirmação da visita ao Brasil, prevista para dezembro. Quem cuida do assunto é o assessor especial Marco Aurélio Garcia, que anda enrolando o novo embaixador francês Denis Pietton. Apesar das críticas do governo francês à espionagem norte-americana no Brasil, Dilma empurra a visita com a barriga por causa da novela dos novos aviões de caça que a Força Aérea Brasileira pretende adquirir, assunto pelo qual Holland tem grande interesse
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