FOLHA DE SP - 22/07
SÃO PAULO - Na carta que enviou sábado à direção do PT, a presidente Dilma Rousseff usou nove vezes a palavra "novo" e suas variações ao interpretar o significado dos protestos de junho e dizer como os políticos deveriam responder a eles. No artigo que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva escreveu na semana passada para tratar do assunto, a palavra só é usada três vezes.
Examinados lado a lado, os dois textos expõem diferenças sutis entre a presidente e seu padrinho político. Os dois concordam ao descrever as manifestações como uma espécie de subproduto dos avanços ocorridos no país após a chegada do PT ao poder, e ao apontar o desejo de maior participação nas decisões políticas como principal reivindicação das ruas.
Mas cada um vai para um lado na hora de oferecer o remédio. Dilma insiste na realização de um plebiscito para a reforma do sistema político, dando ênfase a uma ideia rechaçada até no seu partido. Lula, que incluiu no artigo uma referência oblíqua a esse fiasco, acha que a prioridade agora deveria ser reatar os laços que uniam o PT aos movimentos sociais na época em que os petistas é que faziam barulho nas ruas.
Lula só diz o nome de sua sucessora uma vez no artigo. Após celebrar a energia das manifestações, o ex-presidente diz que "outra boa notícia" de junho foi a iniciativa tomada por Dilma ao defender o plebiscito e investimentos em educação, saúde e transporte público. Num lapso significativo, Lula ignorou dois pontos da agenda da presidente, o combate à corrupção e o equilíbrio fiscal.
Dilma cita o antecessor duas vezes em sua mensagem ao PT. Primeiro, para dizer que sempre esteve ao lado dele e, depois, para sugerir que continuem todos "juntos". Num momento em que berzoinis, falcões e vaccarezzas não param de fazer intriga contra Dilma e as pressões para que Lula volte a se candidatar nas próximas eleições só crescem, o recado da presidente parece simples: não há futuro para a nau petista sem ela.
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