FOLHA DE SP - 22/07
RIO DE JANEIRO - Nos anos 50, numa escapada a Hollywood, Ibrahim Sued entrevistou Edward G. Robinson (1893-1973), astro de clássicos do cinema como "Alma no Lodo" (1931), "Pacto de Sangue"(1944) e "Paixões em Fúria" (1948). Robinson, grande colecionador de pintura e falando duas ou três línguas, era quase um intelectual em comparação com a média dos atores. Isso não o impediu de perguntar a Ibrahim, "Com esse nome, como você pode ser brasileiro?".
Robinson era apenas mais um americano a ver o Brasil como uma espécie de México do sul, com todos os clichês inerentes. Como podia acreditar que aquele sujeito de 1,90 m, olhos claros e com um nome das Arábias fosse brasileiro? Ibrahim, por sua vez, perdeu a chance de perguntar-lhe como alguém chamado Emanuel Goldenberg e nascido na Romênia podia ter se tornado o Edward G. Robinson, que ninguém suspeitaria de não ser americano.
Na verdade, nenhum dos dois sabia que a composição étnica do Brasil era muito mais rica que a dos EUA. E que o próprio Edward G. Robinson talvez tivesse parentes no Brasil --tão brasileiros quanto os de Ibrahim.
O 1,5 milhão de peregrinos no Rio para a Jornada Mundial da Juventude --incluindo chineses, croatas, letões, poloneses, angolanos, suecos, ucranianos e outras 20 nacionalidades-- devem estar surpresos com a variedade de origens, cores e compleição dos brasileiros com que estão interagindo. E, principalmente, ao constatar que nenhum grupo parece se sentir "mais brasileiro" do que os outros.
A prova é que, com tanta gente de fora no Rio, as ruas não registraram nenhuma alteração notável no aspecto dos transeuntes. Todo mundo que aqui está poderia, sem esforço, passar por brasileiro. Essa noção de unidade na diversidade talvez se constitua num dos mais belos legados da versão carioca da Jornada Mundial da Juventude.
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