À sombra da economia em torpor
VINÍCIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 18/08/11
"AS PERSPECTIVAS para a economia global estão ficando sombrias", diz a primeira linha do relatório bimestral da "Economist Intelligence Unit" (EIU) com data de setembro.
A EIU é a unidade de pesquisas econômicas do grupo que edita a revista "The Economist".
Que o prognóstico é sombrio a gente também sabe. A graça ou desgraça do relatório da EIU está em que eles são até bem otimistas.
Portanto, não esperam recessão nos EUA, na Europa e muito menos, pois, na economia mundial.
Em julho, a EIU previa que os Estados Unidos cresceriam 2,4% neste ano e 2,5% em 2012. Agora, as estimativas são de 1,7% e 2%, respectivamente (parte da mudança se deveu ao fato de o PIB do primeiro trimestre dos EUA ter sido brutalmente revisado para baixo, neste mês).
Para o Brasil, a previsão de crescimento baixou de 4% para 3,8%.
Os países da eurozona cresceriam apenas 1,7% em 2011 -a previsão anterior era de 2%. Mas o pessoal da EIU escrevia sem saber dos resultados horríveis dos PIBs do segundo trimestre na Europa.
Note-se de passagem que, se os países da zona do euro crescerem o estimado pela EIU neste ano, seu PIB ainda estará no nível de meados de 2007. Quatro anos de estagnação. Pode ser ainda pior.
Onde está o otimismo? "Embora seja difícil identificar fontes confiáveis de crescimento nos próximos meses, continuamos a acreditar que a desaceleração da primeira metade do ano deveu-se em parte a fatores temporários", diz o relatório (tradução deste colunista).
Ainda voltaria uma brisa de crescimento depois da calmaria causada pelos efeitos do terremoto no Japão e pela alta dos preços da comida e dos combustíveis (que subiram também devido à "especulação", favorecida pelo excesso de dinheiro barato no mundo, diz até a EIU).
O desemprego nos EUA voltaria a cair de modo "sustentável, embora decepcionante". Baixaria também o nível de endividamento dos consumidores, que então poderiam ficar mais propensos ao consumo.
"O lucro das empresas americanas como proporção do PIB está no nível mais alto em mais de meio século, indicando que as companhias têm os meios de contratar [empregados] assim que se sentirem mais confiantes em relação ao crescimento", diz o relatório da EIU.
Além do mais, como a produtividade cresceu de modo muito rápido em 2009-10, as empresas não podem mais "depender de ganhos de eficiência para sustentar seu crescimento". Ganho de produtividade, aqui, significa apenas que as empresas demitiram aos montes.
Mesmo assim, fazia 50 anos que os lucros não eram tão bons.
O que minou esses fundamentos da recuperação econômica no mundo rico, segundo a EIU, foi, em primeiro lugar, o choque causado pela nova rodada de deterioração da crise da dívida europeia (na verdade, uma "crise contínua", diz a EIU").
A seguir, o abalo maior, especialmente na moral dos agentes econômicos, foi causado pelo conflito político alucinado a respeito do aumento da dívida dos EUA.
Por fim, como resultado dessas crises, os governos cortarão ainda mais despesas, tirando mais impulso do crescimento já pífio. O que pode vir de pior? A EIU fala claramente no risco de desagregação da união monetária europeia.
A EIU é a unidade de pesquisas econômicas do grupo que edita a revista "The Economist".
Que o prognóstico é sombrio a gente também sabe. A graça ou desgraça do relatório da EIU está em que eles são até bem otimistas.
Portanto, não esperam recessão nos EUA, na Europa e muito menos, pois, na economia mundial.
Em julho, a EIU previa que os Estados Unidos cresceriam 2,4% neste ano e 2,5% em 2012. Agora, as estimativas são de 1,7% e 2%, respectivamente (parte da mudança se deveu ao fato de o PIB do primeiro trimestre dos EUA ter sido brutalmente revisado para baixo, neste mês).
Para o Brasil, a previsão de crescimento baixou de 4% para 3,8%.
Os países da eurozona cresceriam apenas 1,7% em 2011 -a previsão anterior era de 2%. Mas o pessoal da EIU escrevia sem saber dos resultados horríveis dos PIBs do segundo trimestre na Europa.
Note-se de passagem que, se os países da zona do euro crescerem o estimado pela EIU neste ano, seu PIB ainda estará no nível de meados de 2007. Quatro anos de estagnação. Pode ser ainda pior.
Onde está o otimismo? "Embora seja difícil identificar fontes confiáveis de crescimento nos próximos meses, continuamos a acreditar que a desaceleração da primeira metade do ano deveu-se em parte a fatores temporários", diz o relatório (tradução deste colunista).
Ainda voltaria uma brisa de crescimento depois da calmaria causada pelos efeitos do terremoto no Japão e pela alta dos preços da comida e dos combustíveis (que subiram também devido à "especulação", favorecida pelo excesso de dinheiro barato no mundo, diz até a EIU).
O desemprego nos EUA voltaria a cair de modo "sustentável, embora decepcionante". Baixaria também o nível de endividamento dos consumidores, que então poderiam ficar mais propensos ao consumo.
"O lucro das empresas americanas como proporção do PIB está no nível mais alto em mais de meio século, indicando que as companhias têm os meios de contratar [empregados] assim que se sentirem mais confiantes em relação ao crescimento", diz o relatório da EIU.
Além do mais, como a produtividade cresceu de modo muito rápido em 2009-10, as empresas não podem mais "depender de ganhos de eficiência para sustentar seu crescimento". Ganho de produtividade, aqui, significa apenas que as empresas demitiram aos montes.
Mesmo assim, fazia 50 anos que os lucros não eram tão bons.
O que minou esses fundamentos da recuperação econômica no mundo rico, segundo a EIU, foi, em primeiro lugar, o choque causado pela nova rodada de deterioração da crise da dívida europeia (na verdade, uma "crise contínua", diz a EIU").
A seguir, o abalo maior, especialmente na moral dos agentes econômicos, foi causado pelo conflito político alucinado a respeito do aumento da dívida dos EUA.
Por fim, como resultado dessas crises, os governos cortarão ainda mais despesas, tirando mais impulso do crescimento já pífio. O que pode vir de pior? A EIU fala claramente no risco de desagregação da união monetária europeia.
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