O GLOBO - 27/02
A presidente Dilma Rousseff anunciou, na terça-feira da semana passada, a ampliação de benefícios do Bolsa Família para retirar 2,5 milhões de pessoas cadastradas no programa da linha abaixo da renda per-capita de R$ 70 mensais.
No dia seguinte, não por acaso, Dilma, ao lado de Lula, da cúpula do PT, parlamentares do partido, aliados e militância participaram de uma festa pelos dez anos de poder petista e 33 de existência da legenda. Foi uma moldura adequada para o lançamento prematuro da candidatura da presidente à reeleição.
A solenidade do anúncio da extensão do BF abriu a programação político-eleitoral destes dias e teve um tom indisfarçável de campanha. O mote, afinal, é irresistível para qualquer candidato: “O fim da miséria”. Partido muito competente em propaganda e marketing, o PT saberá o que fazer com esta bandeira. Não se deve, mesmo, desprezar a ajuda do Bolsa Família na redução da pobreza. O governo estima que, desde a chegada do PT ao Planalto, 36 milhões foram resgatados do pauperismo, um processo que só tem sido possível porque houve a estabilização da economia, com o lançamento do Plano Real em 1994, por Itamar Franco e Fernando Henrique. E tão importante, ou mais, que a renda em si são a exigência da frequência escolar dos filhos dos beneficiários do programa e consultas médicas periódicas, contrapartidas já exigidas na Era FH.
A esperteza política na ampliação do BF para retirar pessoas abaixo da renda de mensal de R$ 70 é que esta é a fronteira que estatisticamente define a pobreza absoluta — quem recebe R$ 71 não é considerado um “miserável”. Um ou dois reais catapultam o pobre para outra categoria social. Mas daí a alardear que “a miséria acabou”, vai grande distância.
Em artigo publicado na “Folha de S.Paulo” de segunda feira, a ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, e Marcelo Neri, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), afirmam que não desaparecerá a pobreza extrema, mas no âmbito do Bolsa Família e no conceito de renda.
O esclarecimento não deve contentar os marqueteiros petistas, sempre afiados para anunciar conquistas nunca antes realizadas. De fato, não é apenas a renda que define o estágio social de um país, por exemplo, como já ensinou o economista indiano Amartya Sen, Prêmio Nobel, idealizador do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), consagrado pela ONU como mensurador de desenvolvimento. E há carências enormes no Brasil que impedem o anúncio do “fim da miséria”. Vale lembrar: a média nacional de residências com tratamento de esgoto é de apenas 38%; só 7% das 5.568 prefeituras têm projetos de saneamento básico para suas populações; há índices deploráveis na Educação etc.
Existem inúmeras estatísticas desse tipo. Espera-se que sejam lembradas em meio ao barulho da propaganda política.
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