CORREIO BRAZILIENSE - 27/02
Depois de dois anos de muito silêncio e poucas entrevistas, têm-se a impressão de que o governo parece ter aprendido que há um fundo de razão no que dizia José Abelardo Barbosa Medeiros, o Chacrinha. Especialmente, no que se refere a comunicação e ao lema “Quem não se comunica se trumbica”, ou , no mínimo, dá aquele tropeço que, se não for socorrido a tempo vira um tombo e tanto.
Desde janeiro, vários movimentos indicam esse aprendizado. O primeiro deles foi a conversa direta da presidente Dilma Rousseff com empresários, algo que, embora ainda não tenha apresentado os resultados esperados, serviu para quebrar o gelo. Além disso, na Esplanada, é perceptível uma maior desenvoltura dos ministros em receber jornais, revistas e até equipes de tevê.
Até meados do ano passado, conversar com ministros era invariavelmente um drama. A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, por exemplo, raramente recebia jornalistas para um simples café. Quanto mais, entrevistas. Estava ali — e ainda está para essa principal função — de organizar o governo. Ela não deixou de cumprir essa missão. Mas, à atribuição central, acrescentou “vender o peixe” do Poder Executivo.
Ontem, por exemplo, Gleisi recebeu um grupo de jornalistas para falar sobre a Medida Provisória 595, a MP dos Portos. Estava acompanhada do ministro da Secretaria Especial de Portos, Leônidas Cristino, que, por sinal, passou recentemente por um treinamento de mídia. Além dos dois, compareceram ainda a ministra da Comunicação, Helena Chagas, e integrantes de sua equipe.
Logo na chegada, foi aquela coisa. A conversa seria “on ou off”, ou seja, as frases dos ministros poderiam ser reproduzidas sem problemas ou não? “É tudo on”, disse Gleisi, bem à vontade, assim como seu colega, o ministro Leônidas. Os dois têm em comum o fato de serem políticos, portanto, estão acostumados ao contato direto com a imprensa. Só não exercitavam mais esse lado.
A sensação atualmente no Planalto é a de que a nuvem de “é proibido falar” se dissipou. E um dos temas que o governo aproveita para abrir essa nova fase é a MP dos Portos, considerada a prioridade do Planalto para este primeiro semestre de trabalho do Poder Legislativo. Também parece que está disseminada a ideia de que não adianta apenas acionar o Cabo Canaveral (o lançamento do programa com o discurso de Dilma Rousseff) e deixar que tudo o mais corra solto, ao sabor dos ventos, para que, lá na frente, quando o governo finalmente estiver no dia da votação, correr atrás de uma batalha de comunicação que já foi perdida.
O governo parece ter tomado consciência de que a batalha da comunicação é fundamental. Afinal, se os integrantes do Poder Executivo não chamam os jornalistas para expor suas posições com clareza e franqueza, como fizeram ontem os ministros Gleisi, Leônidas e Helena, outra versão ocupará os jornais.
Enquanto isso, no calendário…
Essa mudança de comportamento não deve ser apenas para felicidade geral da nação, ou melhor, de nós, jornalistas, sempre ávidos por informações. Tem aí um quê eleitoral. Afinal, a campanha de 2014 está para lá de antecipada e a presidente Dilma Rousseff é candidata à reeleição e precisa que a população, especialmente, aquela parcela que forma opinião, esteja ciente de seus projetos e capaz de reproduzir fielmente as posições do governo — ainda que, às vezes, discorde do que é colocado pelo Poder Executivo. Como disse a ministra: “Não estamos aqui para impedir nada. Apenas para expor corretamente o que representa a medida provisória”.
No caso específico da MP dos Portos, o governo conta com o fato de que existe uma percepção grande no ar de que o Poder Executivo está certo e tem tudo para conquistar maioria capaz de aprovar o texto. Afinal, nada mais obscuro no país do que os custos portuários. Em Cingapura, por exemplo, o movimento de um contêiner custa US$ 197; em Roterdã, US$ 245; em Hamburgo, US$ 273; e, em Santos US$ 360. O que se espera, entretanto, é que este não seja o único tema a reunir ministros para uma conversa com jornalistas. Afinal, quem não se comunica se trumbica.
E no parlamento…
O PSB tem hoje uma reunião de bancada que promete se tornar um ato de solidariedade ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Além das declarações de Ciro Gomes sobre a ausência de programa para o país dentro do PSB e de outros partidos, o líder Beto Albuquerque identifica movimentos petistas no sentido de isolar o PSB. “Há sinais de interferência. Não vamos aceitar. Quanto maior a tentativa de isolar o PSB, mais coesão o partido terá em torno de Eduardo. O PSB não está dividido, está unificado. Uma palavra ou outra destoante não interferirá na nossa decisão. O PT escolheu Aécio porque gosta da disputa fácil. Está querendo nos espremer”, comenta ele.
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