A inflação de abril, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), baliza do sistema de metas, voltou a surpreender, negativamente, em abril. O resultado divulgado pelo IBGE mostrou aceleração em relação a março, embora tenha recuado, no acumulado em 12 meses, o mínimo suficiente para voltar ao limite do intervalo, que tinha sido ultrapassado, no mês anterior.
Para resumir, mês após mês, a alta de preços tem resistido, teimosamente, nos andares mais altos do intervalo da meta. Conhecido o número de abril, mesmo assim, as projeções continuam apontando para uma tendência mais moderada em 2013, depois do repique previsto em junho, com a absorção dos aumentos previstos para a tarifas de transporte público em grandes cidades. A expectativa é de que a safra recorde de grãos e a estabilização da oferta de produtos "in natura", deem, afinal, o ar da graça, permitindo ao IPCA fechar o ano com variação acumulada entre 5,5% e 5,7%.
Em meio ao vaivém dos preços, chamou atenção a magnitude do desvio entre o valor encontrado para o IPCA de abril (0,55%) e a mediana das projeções do mercado para o mesmo índice (0,48%). A distância entre a previsão e a realidade, de acordo com a explicação mais utilizada, ocorreu, especialmente, em razão de elevações de preços inesperadas no item saúde e cuidados pessoais.
Mais do que indicar que, no setor de serviços, a inflação se mantém animada, refletindo as excelentes condições de emprego na área, e o fato de que o segmento passa ao largo da concorrência com importados, é o caso de levantar uma sobrancelha para os riscos de que médicos, cabeleireiros e afins já estejam treinando para o jogo de indexar seus preços às altas de seus custos.
Vale mencionar que os medicamentos, parte do item que escapou das previsões do IPCA e formou o time dos vilões da inflação de abril, têm preços indexados. Mas também não se pode esquecer que o processo, no caso, é de outra natureza, resquício de uma "velha" indexação, que continua a alcançar um terço do total dos componentes do IPCA. Além disso, o processo, se já ocorre, está longe de ser generalizado, tanto que o recuo recente nas vendas do comércio varejista e da busca de crédito se deve, na visão de analistas, a efeitos de uma inflação mais elevada.
Em tempos de ressurgimento da ideia de aplicar gatilhos salariais automáticos, ainda que seu lançamento tenha obedecido apenas a um cálculo político, não custa, de todo modo, vigiar para impedir que o velho esporte nacional volte a campo.
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