CORREIO BRAZILIENSE - 15/07
O Mercosul perdeu o rumo. Ignora o axioma de que o melhor caminho é o que nos leva de modo mais rápido e seguro aonde precisamos chegar. A cada reunião de cúpula, agrega nova decepção. Não se esperava que fugisse do script na semana passada, em Montevidéu. Sem nada de mais relevante em pauta, a previsão era de que ao menos resolvesse o imbróglio envolvendo a suspensão do Paraguai e a aceitação da Venezuela - à revelia da resistência do primeiro em admitir o segundo no bloco. Ou seja, que desse mais uma volta em torno de si mesmo enquanto acordos internacionais aguardam o acerto interno eternamente adiado e seguisse sendo atropelado pela - bem mais jovem - Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia, México e Peru).
Pois bem, estava acertado que o Paraguai, suspenso após a deposição relâmpago do presidente Fernando Lugo - desde 29 de junho de 2012 -, retornaria ao bloco quando o presidente eleito, Horácio Cartes, assumisse o cargo, em 15 de agosto. Com um condicionante: teria de acatar as decisões tomadas enquanto esteve afastado - ou seja, aceitaria a entrada da Venezuela. Cartes rejeitou a volta. Sem fórmula mágica para recuperar o tempo perdido com o vaivém, a cúpula perdeu mais um pouco ao prolongar o debate sobre o escândalo da espionagem dos Estados Unidos planeta afora e o episódio com o avião do presidente da Bolívia, Evo Morales.
Sem dúvida, os dois temas exigiam tomada de posição conjunta, com vigoroso e unânime repúdio. Afinal, o Brasil teria sido uma das mais visadas vítimas do big brother patrocinado pela Casa Branca. Significa que informações sigilosas sobre o próprio bloco podem estar em risco. Quanto a Morales, trata-se de chefe de Estado vizinho, que, em voo de Moscou para La Paz, teve negado o acesso ao espaço aéreo de França, Portugal, Espanha e Itália, por suspeitar-se de que levaria a bordo o ex-agente norte-americano Edward Snowden, denunciante da bisbilhotice de Washington. Fora a ameaça à segurança pessoal, o presidente boliviano foi constrangido ao pousar na Áustria e ter o avião vistoriado.
Por ser consensual, o assunto poderia ter ocupado menos tempo da cúpula. Outra decisão, a aceitação da Guiana e do Suriname como Estados associados, tampouco tem maior relevância para a formação da união aduaneira. A presidente Dilma Rousseff reconheceu a necessidade de acelerar as negociações com outros parceiros da América do Sul e a União Europeia. A cobrança, contudo, não passa de mais palavras lançadas ao vento. Ninguém tem dúvida da urgência nem da lerdeza com que se desenrolam as alianças entre Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela. O que se vê crescer com incrível rapidez, ao contrário, são as divergências de lado a lado, os protecionismos de uns contra outros. Lastimável.
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